As Conquistas Silenciosas de Deus é a tradução do texto homônimo publicado em 1937 na revista “A Witness and A Testimony”. Seu autor é desconhecido.
Autor Desconhecido
“Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zacarias 4:6).
Quando paramos às margens de um rio agitado, podemos observar, nas proximidades da praia, os redemoinhos formados na água que corre de volta à corrente. Pode até parecer que o rio está seguindo o caminho errado, mas, ao voltarmos nossos olhos para o canal, percebemos que a corrente segue em direção ao oceano.
Essa é uma figura de como Deus atua. Em muitas coisas na igreja, na sociedade e na experiência religiosa, nos parece que Deus, nos movimentos de Sua graça e providência, está sendo derrotado, e que Seus propósitos estão seguindo na direção errada. Somente quando dirigimos nosso olhar para mais longe da costa, é que podemos realmente ver. Isso equivale a tirar os olhos do presente, e levar em consideração a corrente maior do completo governo de Deus entre os homens. O Senhor está constantemente obtendo vitórias, de forma estratégica, indireta e sossegada.
Ele trabalha de forma velada, como se estivesse usando luvas, por meio daquilo que chamamos de causas secundárias, forças espirituais, não mecânicas. Suas grandes operações em graça para conquista das almas são realizadas por meio de Seu poder invisível e por vezes quase imperceptível, manifestado por pensamentos sóbrios, um gentil anseio no coração, uma atração celestial para a oração, uma apreensão secreta do grande perigo que a alma vive sem Ele, um súbito descortinar na mente a respeito da esperança e das brilhantes possibilidades que estão adiante. Percebemos, então, uma alternância entre o senso de total impotência, e o despertar de grande coragem e determinação.
Você já percebeu que os mais rudes pecadores são normalmente capturados e conquistados da maneira mais inusitada, por meio de uma pequena e comovente circunstância, cheia de doce gentileza, de uma forma exatamente oposta ao que imaginamos que esses resultados poderiam ser possíveis?
Os infiéis não são convertidos por longos sermões, mas frequentemente pela confiança calma de algum pobre e velho servo do Senhor, ou por meio da oração sussurrada por uma pequena criança.
Qualquer coisa feita por Satanás ou pela carne tem efeito grandioso, barulhento e exibicionista, trazendo a impressão de estar perturbando todo o universo.
As Igrejas carnais laboram na mesma linha de atuação do mundo: quando planejam um movimento por reavivamento, querem ter um grande ajuntamento de igrejas, multidões de pessoas, um grande coral, trombetas e tambores, um exército de pregadores eloquentes, um espalhar de grande alarde. Quando o rebuliço e estrondo acabam, é quase impossível encontrar almas verdadeiramente convertidas a Deus.
Ao mesmo tempo, algum humilde santo, em algum beco escuro ou em um campo de milho, está silenciosamente chorando e orando pela salvação de alguém que se tornará num grande profeta ou reformador, e que, pelo poder do Espírito Santo, alcançará dez mil vezes mais resultados do que os trovões eclesiásticos do grande avivamento administrado pelo homem.
Deus trabalha por meio de pessoas, usando almas individuais, ao invés de usar comitês, bandas e grandes organizações. A maior força da terra é a alma do indivíduo. Deus conquista um coração, e através dele, o Senhor derrama Seus propósitos como um rio poderoso.
Quanto mais próximos estivermos de Deus, mais valorizaremos a alma individual. O homem afastado de Deus tem pouco valor, e, nessa condição, sua confiança é colocada nas grandes maiorias, nos exércitos armados. A torre de Babel foi construída por um comitê nacional que disse: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre”.
Mas Deus escolheu um homem, Abraão, e o chamou como peregrino e fundador da raça daqueles que tinham fé. O Rei da Síria enviou um exército para capturar Eliseu, mas aquele profeta solitário orou, o exército foi ferido de cegueira e conduzido de volta à Samaria. Esse é um exemplo da história universal.
Os homens estão sempre dependendo de exércitos, comitês e demonstrações de força. Entretanto, da maneira mais calma, simples e inesperada, Deus, gentil e secretamente, inspira uma alma que ilude o sábio, realizando os Seus propósitos de maneira inimaginável.
O Senhor confirma Seu objetivo e faz Suas conquistas, sustentando Seus santos em condições de aparente desamparo, nas formas mais variadas, para que vivam pela fé e dependam somente dEle.
Sob o ponto de vista de Deus, seria uma total prova de derrota se o Senhor concedesse a Seu povo o que os homens chamam de sucesso, como muito dinheiro e prosperidade pessoal. Deus tem êxito ao levar o homem a falhar. Leia a Bíblia e veja a vida humana, parece que Deus está sendo derrotado. Mas o que parece ser uma derrota aos nossos próprios olhos é um sucesso para o Senhor. O Deus todo Poderoso não está trabalhando de acordo com planos humanos ou julgamentos naturais. O povo que o mundo considera bem sucedido é, na realidade, a mais completa expressão da derrota.
Aqueles que são vistos como inúteis, incapazes ou arruinados estão frequentemente trilhando a vereda de Deus para serem bem sucedidos.
Nunca foi permitido aos homens de grande fé ir além do ponto onde tal fé estava sendo provada. O plano de Deus é: não deve haver nada do Ego, mas tudo deve ser Cristo. O próprio povo que realiza o máximo para Deus na salvação das almas, na obra missionária e no cuidado com os órfãos, é o mesmo povo que trabalha com curto suprimento de força, dinheiro, talento e vantagens. Sim, esses servos são mantidos numa posição que demanda viver pela fé e obter de Deus, dia a dia, os seus suprimentos tanto físicos, quanto espirituais. Esse é o caminho do sucesso de Deus, e é assim que Ele conquista Seu próprio povo, derrotando a incredulidade naqueles que dependem de Sua providência.
Nossa verdadeira conquista é formar uma aliança secreta com Deus e ficar do Seu lado contra nosso homem natural. Nós vencemos ao concordar em ser aquilo que outras pessoas intitulariam de falhas miseráveis. Obtemos tesouros ao deixarmos que estes sejam derramados nas mãos de Deus.
Conquistamos nossos inimigos amando-os. Devemos deixar que o Senhor silenciosamente os conduza, enquanto aceitamos o tratamento recebido deles como parte da vontade de Deus. Deus sempre sai adiante e por cima.
Por vezes, Ele parece dar a satanás, aos pecadores e ao velho ego toda a vantagem. Ele nos coloca em desvantagem, assim como fez com Jacó, que andou como um coxo, a pé, enquanto todo o mundo, como Esaú, andava em cavalos, fazendo grandes exibições.
Entretanto, no final da história, como aconteceu com o coxo Jacó, Deus conquista e realiza Seu propósito, de forma tão silenciosa, que mesmo quando parecia não estar fazendo nada, ainda assim operava milagres fora de nosso campo de visão, nas profundezas da terra.
“Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6).