T.Austin-Sparks
“Prosseguiu Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem se tornem cegos” (Jo 9:39).
Temos uma grande pergunta que sempre nos confronta: por que alguns saltam para a luz e prosseguem e outros não, mas ficam sempre atrás e parece que nunca mais conseguem ver?
Será que há uma escolha da parte de Deus, uma espécie de eleitos entre os eleitos? Teria o Senhor favoritos? Penso que não. Creio que grande parte da resposta a essa pergunta se resume em que Deus precisa tratar com aquilo que Ele encontra, dependendo dos obstáculos que se interpõem à Sua ação como: a seriedade das pessoas para com Seus propósitos e a obtenção de um caminho claro e um terreno livre para Ele.
Não creio que as pessoas possam vir a falhar em receber toda a luz que o Senhor propõe que elas tenham, se realmente levarem Deus a sério. O Espírito Santo nos conhece. Ele olha direto para nossos corações e conhece a nossa condição. Ele vê exatamente aquilo que O limita e quão longe pode ir.
O Senhor não coagirá ninguém. Se estamos voltados para nós mesmos, ocupados e girando ao nosso redor, centralizados em nosso ego, então o Espírito Santo não tem chance. Temos que chegar ao fim de nós mesmos. Esta é uma dificuldade de muitas pessoas: estabeleceram uma obsessão consigo mesmas e o tempo todo andam em círculos, retornando incessantemente ao mesmo ponto onde começaram. Tudo gira em torno delas, e o resultado é o esgotamento. Em pouco tempo terão um choque terrível que envolve tudo o que supostamente defendem e representam pelo Senhor, e tudo ruirá isso com elas.
O Espírito Santo não tem um caminho livre. Temos que sair do caminho, no que diz respeito a essa ocupação do ego, se desejamos prosseguir reto e avante. Ele sabe exatamente onde estamos, se estamos amarrados a coisas, religiosidade, tradições, etc. Se estivermos amarrados a essas coisas ao ponto de não estamos abertos para o Senhor, não teremos perspectiva de receber qualquer luz dEle. ‘Já temos tudo’ ou então o povo com o qual estamos associados ‘já tem tudo’, e somos parte disso! Você sabe a que me refiro.
O Espírito Santo também sabe. Ele nos conhece muito mais do que nós mesmos nos conhecemos. Podemos ter pensado que levávamos as coisas a sério e oramos muito por um longo tempo, clamando ao Senhor para fazer algo, mas o Espírito Santo sabe muito bem que ainda não chegamos ao fim de nós mesmos e dos nossos interesses.
Tomando como exemplo o povo de Israel, Deus tentou o tempo todo, persistentemente, levá-los a ocupar e permanecer no terreno da ressurreição, onde tudo o que provém do terreno da natureza é cortado. Entretanto, a incredulidade incorrigível deles tinha como componente básico o apego ao terreno da natureza, ao invés do terreno da ressurreição.
Mas o que seria o terreno da natureza? Observe Israel e você verá claramente o que é. O terreno da natureza é a constante busca de coisas para si mesmo, a interpretação de tudo a luz de si mesmos e de como elas afetam o ego… Quantas vezes eles murmuraram! Por quê? Porque ocuparam o terreno carnal, o terreno natural, que em outras palavras significa: “Como isso me afeta!”. Esse é o terreno natural e nele sempre surgirá a incredulidade.
A força da incredulidade se baseia simplesmente nos interesses e considerações naturais e pessoais, vendo as coisas à luz da vantagens ou desvantagens que isso nos traz. Dê lugar a essas coisas por um momento que seja e logo começará a questionar, duvidar e será encontrado em incredulidade, pois a essência da fé é exatamente o oposto disso.
Quando as coisas estão indo de encontro aos seus interesses, você está perdendo sua vida e tudo o que tem, e ainda assim você crê em Deus, confia nEle, isso é realmente fé; isso é a essência da fé.
A fé, todavia, não é real quando cremos em Deus apenas quando o sol brilha e tudo vai bem.
Israel ocupou o terreno natural tão fortemente, que era mais frequente serem encontrados na incredulidade do que na fé. Foi isso que os cegou. Quando chegamos a analisar a incredulidade cega, vemos que representa simplesmente a ocupação de um terreno que não é o terreno de ressurreição.
Em outras palavras, isso representa que estamos ocupando um terreno que Deus colocou debaixo de maldição, que Deus proibiu, sobre o qual Deus escreveu a seguinte advertência aos que crêem: Afastem-se! Se apenas pudéssemos ver em nossos corações esses avisos de Deus, que estão espalhados por todo o território de nossos próprios interesses e considerações mundanas, seríamos livrados de muita miséria que invade nossa vida.
A vida total da natureza é algo cego, e à medida que somos governados pela natureza é a medida de nossa cegueira. “O homem natural“, diz o Espírito de Deus, “não aceita as coisas do Espírito de Deus… não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” ou “são discernidas pelos espirituais” (1Co 2:14). A vida total da natureza é cega. Deus estava procurando tirar Israel desse terreno para os conduzir para o terreno da ressurreição. Ali eles não mais seriam governados pela natureza, mas pelo Espírito. E, ser governado pelo Espírito, significa andar na luz, ter luz e ver.
Extratos dos capítulos 4 e 5 do livro “Spiritual Sight” (Visão Espiritual), de T. Austin-Sparks.
1 Comentário. Deixe novo
Excelente reflexão.
Quantas e quantas vezes permitimos que o homem natural sobressaía ao espiritual ?
O Senhor Jesus Cristo tenha misericórdia de nós. E que nós possamos ser dominados pelo Seu Espírito Santo.