O Espírito Santo, o Transmissor da Glória

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T.Austin-Sparks

“Se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito! Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça” (2 Co 3:7-9).

Algo grandioso aconteceu no dia de Pentecostes, com a vinda do Espírito Santo. Houve uma mudança de dispensação. A partir daquele dia, condições necessárias para a troca de dispensação aconteceram. Acredito que precisamos conhecer a grandeza das mudanças que ocorreram com a vinda do Espírito Santo.

Tomando por base o capítulo 3 da segunda epístola aos Coríntios, vemos a encarnação de algo grandioso e importante relacionado à essa mudança de Moisés para Cristo, ministrado no poder do Espírito Santo. A diferença é enfatizada pela repetição da palavra “Glória” por todo o capítulo. Tente sublinha-la: no verso 7, três vezes, no verso 8, uma vez, no verso 9, duas vezes, no verso 10, uma vez, no verso 11, duas vezes, e no verso 18, três vezes. Em dezoito versículos, essa palavra ocorreu doze vezes, indicando uma ênfase. Observe a palavra “Espírito”. Você vai descobrir que esse é um assunto predominante: “O Espírito e a Glória”. O argumento do apostolo é exatamente esse: havia uma glória que se desvanecia junto com o fim da Antiga Dispensação e, a partir daí, podemos definir essa Antiga Dispensação de diversas maneiras, menos por glória. Mas pela vinda do Espírito, a dispensação da Glória chegou, e uma Glória nunca existente, uma nova e plena Glória, com um novo sentido.

O transmissor da glória é o Espírito. Isto está claramente colocado nesse capítulo, como o Espírito da Glória.

O Instrumento da Glória é a Palavra de Deus. A Palavra de Deus se torna viva pelo Espírito e produz glória.

Então vemos que a totalidade da Glória é Cristo – “Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado” (2 Co 3:16). A Glória se manifesta, e se formos um pouco à frente na epístola de 2 Coríntios, veremos: “Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2 Co 4:6). A totalidade da Glória é Cristo.

O lugar da Glória é o coração do crente – “resplandeceu em nosso coração”, “mas pelo Espírito do Deus vivente… em tábuas de carne, isto é, nos corações” (2 Co 4:6; 3:3).

O efeito da Glória no coração é a transformação. À medida que contemplamos “como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória” (2 Co 3:18).

O poder da Glória é liberdade. “Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co 3:17).

Esse é um resumo, uma síntese do capítulo 3 de 2 Coríntios. O ponto importante no momento é que com a vinda do Espírito Santo o caminho da glória foi aberto diante de nós, e a Glória chegou.

Podemos, entretanto, notar através do capítulo, que Paulo menciona contrastes fundamentais. Eles são de extrema importância para nós, uma vez que a nossa grande necessidade, como Cristãos, é que nosso Cristianismo seja glorioso. Deveríamos ser cristãos gloriosos, no sentido correto da palavra. Entretanto, não é apenas necessário reconhecer a importância disso, mas experimentar o bom disso. Vemos o contraste entre a Lei dada por Moisés e a Revelação dada em Jesus Cristo. Temos o contraste entre as pedras e os corações de carne … Mas bem no centro desses contrastes, temos: “a letra mata, mas o espírito vivifica” (vv.6). Não acredito, nem por um segundo, que que a Palavra de Deus traz morte. Precisamos entender o que o apóstolo está tentando dizer aqui. A questão é entre o legalismo em relação à letra, ou a Palavra de Deus, e a vida que vem pela ação do Espírito Santo sobre essa Palavra. O Apóstolo fala plenamente sobre isso em outras partes de seus escritos.

Ele está dizendo: “Veja, por causa do estado em que se encontram as pessoas, seu coração foi endurecido”. Por causa desse estado nas pessoas, a Palavra chega a eles como um estatuto legal de “faça isso, não faça aquilo”. É como algo imposto sobre eles. Se torna algo pesado. É uma questão de opressão: “você deve fazer isso, não deve fazer aquilo…”. Então, devido ao estado daqueles que leem, a Palavra de Deus se torna algo simplesmente legalista, e consequentemente um grilhão. É a mesma Palavra, a Palavra de Deus, mas o que muda é o efeito que ela tem sobre nós. Tudo depende do estado de quem lê.

No início da primeira carta aos Coríntios, o apóstolo teve muito a dizer a esse respeito. Vamos nos lembrar daquela parte no capítulo dois, que ele fala “da sabedoria deste mundo”. Ali ele está escrevendo para Cristãos, falando da “sabedoria do mundo”, e a total inabilidade de entender as coisas do Espírito de Deus usando a razão do conhecimento natural. Você pode ter todo o conhecimento dos filósofos, todo o conhecimento do mundo Grego e seu império, e ainda assim ser totalmente incapaz de compreender aquilo que diz respeito as coisas do Espirito. O conhecimento natural não tem nenhuma utilidade! Não tem a menor utilidade se aproximar das coisas de Deus, da Palavra de Deus, com o mais completo intelecto natural, independente de você ter nascido com ele, ou tê-lo desenvolvido ao longo de sua vida. Você pode trazer a maior erudição, educação, o cérebro mais astuto para a Palavra de Deus, e ainda não terá vida. Está morto. Se você tomar a Palavra de Deus dessa forma, nunca comunicará vida a ninguém.

Podemos ter um abrangente conhecimento da Bíblia, ser capazes de analisar livro a livro, ter em nossa cabeça tudo de forma clara, e podemos falar a qualquer momento com qualquer um sobre o que está neste ou naquele Livro ou capítulo. Podemos ter tudo isso e ainda estar usando nossa mente natural, e nenhuma mudança vai acontecer em nós, nem naqueles para quem falamos. E pior ainda, isso pode nos incapacitar inteiramente para entender as coisas espirituais. Podemos estar em um reino completamente diferente daquele do entendimento espiritual.

Precisamos entender, queridos, que não é uma questão de conhecimento Bíblico, apesar de isso ser tão importante. Não é uma questão de inteligência, intelecto ou erudição. O que importa é que Deus tenha iluminado nossos corações, nos dando conhecimento, um outro tipo de conhecimento pelo iluminar interior.

Eu diria que esse conhecimento natural, essa sabedoria humana, é aquilo que o apóstolo chama de “tábuas de pedra”. Afinal “tábuas de pedra” são coisas frias e mortas. Não importa quão habilidosos sejamos, a diferença entre isso e o Espírito revelar Cristo na Sua palavra em nossos corações é total. São dois mundos diferentes.

É muito difícil explicar isso, veja os mandamentos escritos em tábuas de pedra, como eles te afetam? Tome qualquer um deles, por exemplo “não roubarás”, você se sente mal com isso? (Ex 20:15). Como um Cristão, você se sente mal ao ouvi-lo? Essa é uma terrível repreensão para nós, uma advertência terrível; você não deve fazer isso, mas existem dez mil formas de fazê-lo. Como você vê isso? O que isso diz a você? “Não roubarás”? Um mandamento frio, impondo algo sobre você. Será que o Espírito Santo tomou esse mandamento, junto com todos os outros e disse: “Veja, aqui está Cristo. Cristo, ao invés de tomar para Ele mesmo – tanto aquilo que Lhe era de direito, como aquilo que pertencia a outras pessoas e não pertencia a Ele – Ele simplesmente estava sempre pensando como poderia dar, ao invés de como obter”. Esse é o princípio. Roubar incorpora um princípio. Significa que você está trazendo para você, deseja ter para si – e quer obter aquilo porque deseja ter. É um espírito, um princípio. Legalmente ou ilegalmente, roubar é ilegal, mas quando você traz isso ao reino espiritual, você vê algo infinitamente mais do que justo.

Devemos ver o que está por trás da Natureza e Disposição de Deus. Devemos ver cada mandamento dessa forma, devemos ver a Disposição de Deus, a Natureza de Deus. Uma vida realmente governada pelo Espírito Santo não deseja receber a todo o tempo, mesmo quando é algo que é seu por direito. É exatamente o contrário. Uma pessoa governada pelo Espírito Santo não precisa ficar sob um horrível peso de condenação quando é dito: “Não roubarás”. O Espírito interiormente lidou com tudo, de forma tranquila e plena, e mudou a disposição, mudou o desejo. Mas precisamos que algo seja feito interiormente, caso contrário “a letra mata”, traz morte. Mas a mesma “letra” iluminada pelo Espírito Santo traz Vida (2 Co 3:6).

Devo te dizer: o Espírito Santo veio, Ele veio para tomar a Palavra de Deus, e transforma-la de um livro de mandamentos para uma nova esfera, tornando-a um Livro da Vida. Então realmente “viveremos por toda palavra que sai da boca do Senhor”. Sua Palavra será tornada vida para nós pelo Espírito Santo. A vida é algo que nos transforma. O teste, então, para saber se temos a Palavra de Deus no terreno legal, intelectual, ou se temos na esfera do Espírito é o efeito dela em nossas vidas, o efeito transformador. Tudo pode ser resumido na palavra: Glória. Você já experimentou conhecer o Espírito Santo como seu mestre, seu iluminador, e perceber que você passou da esfera intelectual naquilo que diz respeito à Palavra de Deus, e passou para a esfera onde os Céus são abertos e a palavra de Deus vive por você? Essa é uma questão dispensacional, e traz uma enorme diferença entender em que esfera vivemos.

Estou dizendo que o maior tesouro que um Cristão pode ter é a Palavra de Deus iluminada pelo Espírito Santo. Isso faz uma enorme diferença. Isso não quer dizer que saberemos de tudo instantaneamente, porque estamos em um reino vasto, cheio de plenitude e nunca o esgotaremos. Mas é algo vivo, muito vivo.

A questão é saber se compreendemos o grande significado do Pentecostes. A dispensação mudou naquele dia. Você pode ter isso, é seu direito de nascimento nessa dispensação.

Oh, que hajam mais filhos de Deus que experimentam esse ensino e habitação do Espírito Santo, que saibam claramente o que é deles por direito nessa dispensação, quando temos o Espírito Santo dentro de nós. Não se trata apenas de crer em uma verdade, uma doutrina, uma afirmação, mas desfrutar isso, saber que é verdade: O Espírito Santo está em mim, e o Espírito Santo está me ensinando, está me mostrando o que Deus quer dizer em Sua Palavra. É um relacionamento vivo com o Espírito. Você pode ser salvo, e ainda assim ter um domo sobre a sua cabeça. Um domo de bronze naquilo que diz respeito à Palavra de Deus. Você pode ter esse domo removido, e o Espírito pode fazer iluminar no seu espírito, tornando tudo iluminado. É a mesma Palavra, mas são duas dispensações diferentes.

Extraído do Livro “The Cross and the Eternal Glory” (A Cruz e a Eterna Glória) – cap.3

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1 Comentário. Deixe novo

  • Heloisa Coimbra
    26 de outubro de 2019 20:24

    Maravilhosa esplanação! Sempre li II Co 4.6 com êxtase! Mas hoje pude aprofundar na Glória do Espírito da Palavra ! A liberdade do Espírito; poucos são os que a compreendem. Conhecem a bíblia de capa a capa, mas ainda se mantém aquele comportamento de subjugar o seu próximo, usando a Palavra, porque não entenderam a liberdade que a mesma propõe em Cristo.

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