T. Austin-Sparks (1888-1971)
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28).
O propósito é o aspecto positivo e governante da salvação. É para isto que fomos chamados. É claro que não seria completamente certo dizer que, o ponto a partir de onde fomos chamados seria o aspecto negativo da salvação, mas seria negativo se comparado com o outro. Não é “de onde”, mas “para onde” fomos chamados que é o lado positivo da salvação.
Estagnação não tem lugar, nem mesmo na criação não caída. Deus não apenas criou tudo e estabeleceu o homem no governo, fixando os limites para as possibilidades do homem e da criação. As potencialidades eram imensas. Quando Adão falhou, ele não apenas perdeu aquilo que era, mas também aquilo que poderia vir a ser.
Adão “prefigurava aquele que havia de vir” (Rm 5:14). As figuras são sempre inferiores àquilo que elas representam. Adão deveria ser muito mais do que ele foi. Cristo é aquele algo mais – infinitamente mais – e quando Cristo nos redimiu, Ele não apenas redimiu a criação que existia antes do pecado de Adão, mas também possibilitou a nós aquilo que Adão nunca possuiu, apesar de ser intencionalmente proposto para ele.
Um supremo propósito governou a criação, e nós sabemos a partir do evangelho que o propósito de Deus foi perdido por Adão e toda a sua raça. Ainda, sabemos que o pleno propósito de Deus não será possuído e experimentado instantaneamente no momento que nascemos de novo.
Mencionei que estagnação não é uma característica da criação de Deus, mesmo a não caída. Alguns nascem de novo e começam a conhecer as bênçãos da redenção, e então falham em reconhecer que foram salvos não apenas “de” algo, mas “para” algo imenso. Infelizmente isso significa que a estagnação já se introduziu, pois eles estão sempre registrando tudo a partir do passado. Aqueles que apreendem o propósito de Deus estão sempre ocupados com o futuro, com algo à frente.
O Soberano propósito, como dizemos, é o fator positivo e governante da salvação. Podemos ter ouvido isto muitas vezes, mas talvez não tenhamos compreendido ainda. Existem muitos Cristãos que se satisfazem em apenas serem Cristãos. Eles conhecem Cristo como seu Salvador e buscam dia a dia viver como Cristãos; mas não tem consciência de nenhum grande, poderoso, dominante motivo para sua salvação. Eles não são trazidos para uma visão alargada e uma apreensão deste soberano propósito.
Mas para Paulo o Senhor disse: “Não te apareci apenas para salvar-te, nem para livrar-te da perdição e para escapares do julgamento, mas tenho uma grande revelação para conceder-te DAQUILO PARA O QUAL te salvei” [referência à Atos 26:16]. Este foi o efeito das palavras do Senhor para Paulo, e elas são verdadeiras para nós também, como Paulo deixa claro em suas cartas.
Precisamos ter certeza de que fomos capturados em nosso homem interior por esta consciência, por esse senso de ser apreendido por e para um propósito supremo, para que isto possa dominar nossa vida. Isso elimina o elemento de tempo, para que não estejamos limitados à ideia de viver apenas uma boa vida Cristã até morrer.
Extraído do texto “Por que os estranhos caminhos de Deus?”, de T.Austin-Sparks, publicado no site www.austin-sparks.net.
T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.
“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).