T. Austin-Sparks (1888-1971)
“Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18).
A edificação da Casa de Deus não é um ajuntamento de pessoas, mas uma edificação de caráter espiritual mediante o conflito. A economia Divina é ordenada de maneira que o inimigo ainda está aqui para que possamos lidar com ele, apesar do Senhor Jesus concentrar em Si mesmo o triunfo universal sobre ele. Ainda foi permitido ao inimigo permanecer aqui, apesar de já derrotado, para a edificação dos santos. O Senhor não expulsou nosso inimigo para fora do universo, apesar de ter já ter triunfado plenamente em Sua vitória. Devemos lidar com o inimigo baseados no triunfo do Senhor Jesus, é dessa forma que obtermos o nosso desenvolvimento moral e espiritual.
É em meio ao conflito, na batalha, no combate espiritual sinistro e terrível, que as excelências morais do nosso triunfante Cabeça serão expressas em nós.
Triunfamos na vitória já obtida pelo Senhor Jesus. Bem sabemos que a fé é testada no conflito, e é profundamente provada na batalha. Me refiro a algo mais do que apenas objetivamente tomar posse de algo, ou simplesmente crer em algo, em Cristo. O exercício da fé traz algo do Senhor Jesus para dentro de nossa alma, a força da Sua vitória. Nos tornamos moralmente unidos a Ele e ao Seu triunfo por meio das provas da fé, tão difíceis e terríveis.
Nesse combate, nada que não for de Cristo em nós será suficiente para nos levar adiante. Ele precisará ser gravado em nosso ser. Por meio do conflito a fé será fortalecida, seremos edificados espiritual e moralmente. Mas, de acordo com a ordenação Divina, isso só será possível na adversidade, por meio do exercício da fé no valor da vitória do Calvário.
Uma coisa é apropriar-se teoricamente da vitória do Calvário e dizer em uma emergência: ‘tomo posse da vitória do Calvário!’. Mas quando tomamos essa posição, e ainda assim, nada acontece, somos chamados a segurar firme, não desistir… Durante certo período será demandada uma permanência e perseverança de nossa parte, quando nossa fé estará sendo testada e a vitória do Calvário deixará de ser algo meramente objetivo, para se estabelecer no nosso interior. Por fim, a vitória estará em nós e no Senhor. Os frutos do conflito se tornarão uma qualidade moral em nosso ser, e da próxima vez que formos testados, não tentaremos mais “tomar posse” de algo, pois aquilo já estará lá, com raízes firmes dentro de nós, algo foi feito, se tornou parte de nosso ser.
Extraído do texto “Os Despojos da Batalha”, de T. Austin-Sparks, publicado no site www.austin-sparks.net.
T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.
“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).