Jessie Penn-Lewis (1861 – 1927)
“Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se” (Mateus 27:42).
Salvou os outros – todos os recursos em Deus e o poder de Deus para aos outros! A Si mesmo não pode salvar-se – impotência, vacuidade, sofrimento, conflito e morte para Si mesmo.
Essa foi a marca registrada da mais elevada manifestação do espírito do Cordeiro, vista nos heróis da fé, conforme o registro de Hebreus 11; e entre esses heróis da fé, que alcançaram o lugar mais elevado nesse rol de honra, estavam mulheres que foram abatidas à morte, não aceitando o livramento, a fim de que pudessem alcançar uma melhor ressureição (Hb 11:35) [as versões em português trazem “alguns” ou “uns”, sempre no masculino]. Sim, essa é a marca registrada mais elevada do espírito do Cordeiro. Subjugar reinos, obter promessas, fechar a boca dos leões, extinguir a violência do fogo, escapar ao fio da espada, tornar-se poderoso na guerra (Hb 11:34), tudo como resultado de fé num Deus Onipotente – isso é poder; mas ser torturado e não aceitar ser resgatado (v. 35) – isso é Calvário. A escolha voluntária para sofrer e morrer, ao invés de salvar a si mesmo, é algo mais elevado do que a fé para conquistar e subjugar.
Se não estamos enganados, esse é o caminho mais elevado colocado diante de todos aqueles que avançam em direção ao alvo da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus no tempo presente.
“Nova evidência de que Deus está operando poderosamente para levantar e estabelecer um povo realmente conformado à morte de Cristo veio a mim esta manhã – um assunto muito mais sério e poderoso do que a concessão de dons”, escreveu um ministro de grande experiência e em condições de ver e conhecer de forma especial a tendência da obra do Espírito.
Sim, Deus “está operando poderosamente em minha direção”, dirão muitas almas profundamente provadas, quando pensam em seu próprio caso e nos caminhos estranhos e especiais nos quais estão sendo estranhamente conduzidas, a fim de poder conhecer o caminho da cruz e entrar no espírito do Cordeiro.
Dois caminhos parecem estar claramente abertos diante da Igreja de Deus, com uma escolha para cada membro do Corpo de Cristo, que tem resultados eternos. Por um lado, há a conformidade ao Cordeiro, que já mencionamos antes, em relação a qual necessitamos de visão divina para discernir sua beleza e glória celestiais. Por outro lado, o caminho de salvar a nós mesmo, no sentido pleno de tudo o que significa seguir o Cordeiro na Terra, com a consequente perda da glória de participar do trono do Cordeiro.
“Se com Ele sofremos, com Ele reinaremos” (2 Tm.2:12).
“Se com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados” (Rm.8:17).
O sofrimento de Cristo foi totalmente voluntário, pois Ele disse: “Eu dou a minha vida… Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou” (Jo 10:17-18). No caminho da conformidade à Sua morte, muitos, que escolheram seguir o Cordeiro onde quer que Ele vá (Ap 14:4), encontram-se no caminho da cruz, o que poderia ser evitado, se quisessem! Eles poderiam aceitar o livramento e salvar a si mesmos, mas perderiam a superior ressureição [Hb 11:35]. Isso é, na verdade, o espírito do Cordeiro morto, suprido pela graça de Deus a pecadores redimidos. Tudo o que é da terra, nas vozes dos amigos e do mundo, e da própria vida desses, clama: “Salva a Ti mesmo e a nós”. Mas o Espírito de Cristo no interior deles os conduz no caminho do Cordeiro, pois, como Ele, não podem salvar a si mesmos.
Ver um caminho de escape do sofrimento e, por sua própria livre escolha, decidir recusar-se a entrar por ele, por significar a salvação deles mesmos – isso é digno de reconhecimento diante de Deus, pois é o caminho mais próximo da semelhança com Aquele a respeito do Qual foi dito em tom de escárnio: “Salvou os outros, a Si mesmo não pode salvar-se”.
Extraído do livro “A Cruz: O Caminho Para o Reino” (Editora dos Clássicos) – Jessie Penn-Lewis