Encontrando Boaz na eira

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Encontrando Boaz na eira é um artigo baseado em meditações nos versículos 1 a 5 do capítulo 3 de Rute. Tomamos por referência os livros: “Estudos sobre o livro de Rute” de H. L. Heijkoop e “União com Cristo: Um vislumbre do livro de Rute” de Christian Chen.

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“Disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de eu buscar-te um lar, para que sejas feliz? Disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de eu buscar-te um lar, para que sejas feliz?Ora, pois, não é Boaz, na companhia de cujas servas estiveste, um dos nossos parentes? Eis que esta noite alimpará a cevada na eira. Banha-te, e unge-te, e põe os teus melhores vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber. Quando ele repousar, notarás o lugar em que se deita; então, chegarás, e lhe descobrirás os pés, e te deitarás; ele te dirá o que deves fazer. Respondeu-lhe Rute: Tudo quanto me disseres farei” (Rute 3:1-5).

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O processo de colher foi deixado para os servos, mas a limpeza do fruto foi feita pelo próprio Boaz. Quem vai fazer esse trabalho conosco é o Senhor. Ele não delega essa obra para os seus servos. Ele busca em nós o trigo, que é aquilo que é dEle mesmo em nós. Ele é o pão vivo que desceu dos céus. É isso que Ele busca e o que está produzindo em cada um de nós. Esse é o fruto da Sua morte. O que interessa ao nosso Boaz não é a casca exterior, mas o trigo que está sendo produzido no nosso interior. Não é a nossa casca humana, mas aquilo que é dEle e foi plantado no nosso espírito – que Cristo seja formado em nós.

A eira e a circuncisão pelo Apóstolo Paulo

Em Filipenses 3, o Apóstolo Paulo nos diz algo que pode nos trazer mais luz em relação à esse processo de união com Cristo descrito no livro de Rute. 

“Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!” (Fp 3:2).

Paulo aqui menciona a circuncisão. Já falamos da figura da travessia do Mar Vermelho, que é a obra do Senhor por nós, e da travessia do Rio Jordão, que é a minha identificação com a obra do Senhor. Logo depois de cruzar o Jordão, todos os homens do povo de Deus tiveram que ser circuncidados. Nesse texto de Filipenses 3, Paulo indica o que é a circuncisão nos termos do Novo Testamento, de maneira bem clara: 

“Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.” (Fp 3:3).

Paulo nos ensina que a circuncisão para nós é nos despojarmos da carne e não confiar nela. Essa é a circuncisão do Novo Testamento. Nossa circuncisão é de coração, deixando a carne de lado, nos gloriando em Cristo Jesus e adorando a Deus no Espírito.

Paulo continua:

“Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo” (Fp 3:4-8).

Em um dos textos mais autobiográficos do apóstolo, ele evidencia que compreendeu que devia deixar a carne de lado para ganhar a Cristo. Ficou absolutamente claro para aquele homem da lei, fariseu, hebreu de hebreus, que não seria possível ganhar a Cristo se ele insistisse em preservar a si mesmo. Paulo desconsiderou tudo refugo para ganhar a Cristo. 

Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.“ (Mt 16:24), “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe”, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14:26).

Se quisermos seguir ao Senhor, temos que abrir mão da nossa carne. Não há como ganhar mais de Cristo se ainda não desistimos de nós mesmos.

Paulo continua:

“… e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Fp 3:9).

De onde vem a justiça própria? Da lei. Quando caminho nessa esfera da lei, me encho de justiça própria e fico irado quando alguém não o faz.

“…para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos” (Fp 3:10,11).

Para Paulo, o proveito de tudo era ganhar a Cristo. Sua vontade era primeiro conhecer o Senhor, depois o poder de Sua ressurreição, a comunhão dos Seus sofrimentos e o conformar com Ele na Sua morte. Assim é a sequência do que deve acontecer conosco. 

Quando lemos a ordem do processo que Paulo descreve, nos parece que está invertida. Não seria mais adequado se fosse: “para o conhecer, a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte e o poder da sua ressurreição”? Como Paulo poderia colocar primeiro conhecer o poder da ressurreição para depois conforma-se com Cristo na Sua morte?

Mas não houve erro algum de Paulo aqui. Esse é a sequência exata do que o Senhor quer fazer conosco. Podemos ver isso exemplificado no livro de Rute. 

No capítulo 1, Rute chegou de Moabe na época da colheita. Isso indica que a Páscoa tinha acabado de passar, o que é um indicativo da morte do Cordeiro. Então, houve a colheita da cevada e do trigo. Nessa colheita, Rute conheceu Boaz e provou do alimento dos seus ricos campos. Aquele foi um desfrute maravilhoso. Rute não plantou, nem regou, nem cultivou, mas colheu abundantemente e se fartou. 

Isso é o que vemos em Filipenses: “para O conhecer, e o poder da Sua ressurreição”. Essa vida abundante, representada pelo encontro de Rute com Boaz e a colheita abundante dela, só é desfrutada por nós hoje porque fomos ressuscitados com Cristo e vivemos em novidade de vida. Tudo nos foi dado pela graça maravilhosa do Senhor. Não fizemos nada para merecer. Nossas obras provaram ser incapazes de conquistar qualquer centímetro dessa terra maravilhosa. Ele nos concedeu tudo.

Então, a sequência de Paulo está certa. Primeiro conhecemos o Senhor, e logo então desfrutamos da vida ressurreta, que é a vida em abundância pela graça do Senhor. 

Finalmente Rute entrou na eira, que se compara com a expressão de Paulo: “a comunhão dos Seus sofrimentos, conformando-me com Ele na Sua morte”. 

Mesmo aqui, ainda dependemos da graça do Senhor para irmos à eira, assim como dependemos da mesma graça para O conhecer e o poder da Sua ressureição. Só que agora, quando falamos da eira, temos que nos dispor e nos apresentar lá, onde o Senhor irá tratar conosco. Ele está lá e nós temos que ir até lá para encontrar com Ele.

Esse é o processo de seguir o Senhor que Ele falou em Mt 16:24 e Lc 14:26 – Esse é o processo de tomar a cruz e seguir ao Senhor. É deixar a própria vida pelo Senhor.

“Que o Senhor o livre de cair em um estado interior no qual a cruz não estará mais operando em você! Deus ama ao que dá com alegria (Veja 2 Coríntios 9:7). Imagine o quanto Ele deve amar aqueles que se entregam à Sua vontade de maneira alegre e completa – mesmo que isso resulte em sua crucificação!” (François Fénelon – 1651-1715).

A eira

Em seu livro “União com Cristo”, no capítulo 3, o irmão Christian Chen discorre a respeito da EIRA, explicando, de forma muito clara, como ela representa a obra da cruz em cada um de nós.

A Eira na Bíblia significa a obra da cruz. Cristo vive em nós, porém, estamos envoltos em uma casca, que é a nossa carne. Com a obra da cruz, nossa carne será tratada, e então Cristo ministrará vida para as pessoas.

Boaz estava feliz. Sua obra de colheita estava completa. Por isso ele estava comendo e bebendo. Esse quadro nos fala que nosso Senhor já consumou Sua obra sobre a cruz, já subiu aos céus, o Espírito Santo já desceu e já nos batizou em um só corpo. Toda a obra está completa e consumada.

Mas Rute deve descer à eira para ter comunhão com Boaz. Se a eira significa a obra da cruz, então a comunhão na eira significa a comunhão da cruz.

O que isso significa?

Quando pesquisamos os termos “cruz” ou “crucificado” na Bíblia, descobrimos que podemos classificar todos esses versículos em duas classes:

  •  Redenção da cruz
  • Comunhão da cruz

A primeira fala do fato histórico que aconteceu. É a obra objetiva de Cristo na cruz. A segunda fala da obra subjetiva da cruz, que acontece hoje conosco.

Por exemplo: “eu fui crucificado com Cristo”, “tome a sua cruz e sigam-me”, “A comunhão dos seus sofrimentos”,conformando-me com Ele na sua morte”, tudo isso fala da obra subjetiva da cruz, o que acontece hoje conosco. É a comunhão da cruz, que tem como base a obra consumada na cruz. 

O Espírito Santo hoje está aplicando aquela obra consumada da cruz em cada um de nós. Por causa da comunhão do Espírito Santo, podemos ver a obra da cruz em nossas vidas.

Como você pode achar seu descanso? Como pode viver uma vida vitoriosa? Como pode ter união com Cristo? Isso é apenas uma teoria ou algo prático? Tudo dependerá se você tem a comunhão da cruz. 

Naquele diálogo, Rute pôde reivindicar algo que era direito dela: ser resgatada, ter um resgatador. E essa reivindicação é feita na eira.

Quando somos trazidos até a eira, quando temos um diálogo com nosso Boaz, Ele nos dirá o que fazer. Então, com revelação e por causa da Palavra de Deus, podemos reivindicar a palavra. 

Por exemplo, “eu fui crucificado com Cristo” – é isso que a Palavra nos diz. Mas podemos não experimentar essa realidade, então reivindicamos essa palavra. Mas quando devemos fazer isso? Quando receberemos revelação? Somente quando estivermos na eira. Quando estivermos passando pela eira, teremos a comunhão da cruz.

Por meio da comunhão da cruz, acharemos nosso descanso. “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” (Mt 11:29). 

Noemi queria achar descanso para Rute – “Disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de eu buscar-te um lar, para que sejas feliz?” (Rt 3:1).

O nosso Senhor também quer achar descanso para nós. Qual é o segredo para isso? “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma”. 

O fazendeiro, para arar a terra, utiliza um carro puxado por dois bois. Um dos bois é mais velho, obediente e treinado. O outro é novo, rebelde e não está acostumado a seguir os comandos do fazendeiro. 

Então, um jugo é colocado sobre o pescoço dos dois bois, mantendo ambos ligados um ao outro. Assim, quando o boi novo quer pular e seguir fora do caminho definido pelo fazendeiro, o outro boi o segura na posição correta, até que o boi novo, com sua força e rebeldia, se renda e cumpra com sua função de obedecer ao comando do fazendeiro. Ao se render, o boi novo alcança descanso para sua alma.

O Senhor nos chama para estar no mesmo jugo com Ele, para que aprendamos com Ele. Ali Ele, que é manso e humilde de coração, nos ensinará, até que nos rendamos e então encontremos descanso para nossas almas.

Ele sabe que somos rebeldes e inquietos, Ele sabe que sempre seguimos nossa própria direção. Ele sabe que sofremos, que estamos sob a mão disciplinadora de Deus na eira, mas, pelo fato de estarmos no mesmo jugo com o nosso Senhor, quanto mais olhamos para Ele, mais aprendemos com Ele. O vemos tão manso e humilde de coração e, ao contemplá-lO, somos transformados e encontramos descanso para nossas almas.

Encontrar esse descanso simplesmente significa UNIÃO COM CRISTO, NO MESMO JUGO COM ELE.

Isso não quer dizer que vamos melhorar, melhorar, até termos união com Cristo. Não! A união com Cristo não depende do esforço humano. Já estamos unidos a Cristo. Este é um fato consumado. Entretanto, ainda precisamos experimentar essa realidade, cada vez mais profundamente, em nossa experiência pessoal. Isso acontece na comunhão com nosso Boaz.

Por essa razão, Rute precisa ir para a eira. É ali que começa essa comunhão. Na eira aprendemos a comunhão da cruz. Ali “ele te dirá o que deves fazer” (Rt 3:4). Quando estivermos no mesmo jugo com Cristo, poderemos dialogar com Ele, poderemos contemplá-lO, pois Ele é manso e humilde de coração. Aprenderemos dEle e então encontraremos descanso para nossas almas.

“O Senhor sabe o que é melhor e mais necessário para nós. Tudo o que Ele faz é para o nosso bem. Se nós soubéssemos, realmente, o quanto Ele nos ama, estaríamos sempre dispostos a receber alguma coisa dEle. Receberíamos o amargo e o doce, sem distinção. Tudo e todas as coisas seriam bem recebidas porque vieram dEle. As piores aflições e sofrimentos parecem intoleráveis somente porque nós os vemos de maneira errada. Se nos conscientizarmos que tais coisas são enviadas pelas mãos de Deus, quando sabemos que é o nosso Pai amado que nos humilha e nos angustia, então os nossos sofrimentos perderiam a sua amargura. Nossas manhãs seriam mais alegres. (Irmão Lawrence – 1614-1691).

Banha-te

“Banha-te, unge-te e põe os teus melhores vestidos” (vs 3).

Para entender o sentido espiritual disso, vamos ler Êxodo 29:4. Nesse texto, vemos a orientações de Deus a Moisés a respeito de tudo que devia estar no tabernáculo, em específico em relação à bacia de bronze. 

Então, farás que Arão e seus filhos se cheguem à porta da tenda da congregação e os lavarás com água; 5 depois, tomarás as vestes, e vestirás Arão da túnica, da sobrepeliz, da estola sacerdotal e do peitoral, e o cingirás com o cinto de obra esmerada da estola sacerdotal; 6 pôr-lhe-ás a mitra na cabeça e sobre a mitra, a coroa sagrada.” (Êx 29:4-6).

Os sacerdotes se banhavam quando passavam pelo processo de consagração, antes de começar a exercer sua função. Depois disso, só precisavam passar na bacia de bronze e lavar as mãos e pés (Êx 30:19; 21]. Eles poderiam lavar as mãos e pés diversas vezes, sempre que fossem ministrar. Pesquisando na Septuaginta, descobrimos que temos duas palavras gregas usadas para essas lavagens: louo nipto. Temos essa mesma palavra usada no texto de João 13:2-11. Nessa ocasião, o Senhor pega a bacia para lavar os pés dos discípulos, mas Pedro reage. O Senhor lhe diz que se ele não aceitasse ter seus pés lavados, não teria parte com Ele. Isso é algo sério, por isso devemos atentar seriamente para a mensagem contida ali. 

“Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, e este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés a mim? Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois. Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo. Então, Pedro lhe pediu: Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça. Declarou-lhe Jesus: Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos. Declarou-lhe Jesus: Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo” (vs 5-10). 

A palavra usada aqui para lavar são as mesmas usadas no texto de Êxodo em relação aos sacerdotes. Quando Pedro disse ao Senhor que queria que Ele lavasse as mãos e a cabeça, o Senhor disse claramente que quem já se banhou [louo] não precisa lavar [nipto] senão os pés. Quanto ao mais, está todo limpo. 

Isso quer dizer que nós fomos limpos pelo sangue de Jesus e pela Sua Palavra (Jo 15:3). Como está registrado em Hebreus 6:6, não devemos ter a expectativa de que o Senhor deva morrer novamente na cruz para limpar nossos pecados depois de já termos provado a boa palavra de Deus. Nós já estamos limpos e já estamos assentados com Cristo nas regiões celestiais. Podemos não desfrutar dessa realidade, mas o fato é que já estamos unidos com Cristo.

Voltando para os sacerdotes, Eles sacrificavam o animal no altar de bronze uma única vez naquela oferta, assim como Jesus morreu uma única vez por nós. A partir dali, se o sacerdote se sujasse, deveria ir até a bacia. Ele não começava todo o processo novamente ao se sujar. Não! Ele continuava em direção ao Santo dos santos. Bastava ele se limpar na bacia de bronze e prosseguir. 

A obra de Jesus foi completa. Eu já fui lavado por ela. Agora não mais preciso me lavar por completo, mas preciso lavar apenas meus pés, como Jesus ensinou ao lavar os pés dos discípulos. Como tocamos a terra o tempo inteiro, nossos pés ficam contaminados. As coisas do dia a dia, desta terra nos contaminam, deixando nossos pés empoeirados. Por essa razão, Jesus lavou os pés dos discípulos, não o corpo inteiro. Em João 13, Jesus disse que deveríamos fazer isso uns pelos outros. Como faremos isso? Pela Palavra. 

Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra” (Efésios 5:25,26).

Veja, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela Palavra. O verso 32 ainda nos diz: “Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja”. 

O que Paulo está nos dizendo é que Cristo lava a Sua Igreja com a água pela Palavra. Como somos lavados e podemos lavar os nossos irmãos? Pela Palavra. Não tem outra forma. A Palavra de Deus vai nos lavar, trazendo um novo sopro de vida. Quando ficamos ansiosos, começamos a nos conformar com este mundo, perceber tantas coisas erradas que acontecem nesta terra, a única forma que temos é termos nossos pés lavados pela Palavra. À medida que temos comunhão com a Palavra de Deus, de alguma forma, nosso espírito é renovado. 

Quando pensamos em ir para a comunhão com nosso Boaz na eira, a primeira recomendação que nos é feita aqui é: banha-te. Devemos banhar-nos com a Palavra. Como ter comunhão com Boaz na eira? Por meio do lavar da Palavra.

Unge-te

A próxima orientação de Noemi para Rute, para que ela se prepare para o encontro com Boaz é “unge-te”. Isso refere-se à habitação do Espírito Santo em nós. Como posso me ungir, se o Espírito Santo já habita em mim? Como vou me ungir com esse óleo?

“E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento… Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou” (1 Jo 2:20,27).

Nós possuímos a unção. Temos então que não sair da nossa posição em Cristo. Quem vai nos ensinar? A Unção. O que ela quer nos ensinar? A Permanecer em Cristo, não deixar nossa posição nas regiões celestiais.

“O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (Jo 3:8).

Aquele que é nascido do Espírito deve responder à Ele, e seguir Sua direção. O Espírito Santo precisa de liberdade de liderança. Para encontrar descanso para as nossas almas na eira, precisamos nos banhar com a Palavra e seguir a liderança da unção, do Espírito Santo de Deus. 

Pões teus melhores vestidos

Na Bíblia, vestido ou veste sempre fala de algo exterior que colocamos e como as pessoas nos veem. Existem diversos tipos de coisas que podemos apresentar para o mundo exterior. Podem ser frutos do Espírito ou obras da carne. O tipo de vestimenta que o Senhor quer para nós está definido em Efésios 1:11,12 – nós vestidos dEle. Para louvor da Sua glória. 

Como eram as vestes do Senhor, quando o Verbo se fez carne e habitou entre nós? O que as pessoas viam nEle? A glória do Pai – “e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1:14). Enquanto estivermos nEle, seremos para louvor da glória de Deus. “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes” (Gl 3:27).  Cristo é a vestimenta que o Senhor quer em nós.

Quando Adão e Eva pecaram, eles pegaram folhas para se cobrir. Mas Deus lhes fez vestes de pele de animal. Ali, o Senhor já estava apontando para a obra da Cruz, para o Cordeiro. Não adianta tentar fugir da vergonha do pecado por meio de uma capa produzida por nós, alguém terá que morrer. Nos vestimos com as peles dEle, com Sua obra. 

Deus também não aceita mistura. Em Dt 22:11 temos a advertência de que não podemos vestir estofo de lã e linho juntamente. Não devemos tentar misturar aquilo que é espiritual com aquilo que é produzido por nós. O sacerdote deveria usar um manto de linho, um calção de linho. Vemos em Ezequiel 44:17,18 que o sacerdote não deveria usar lã, pois ela produz suor, que é o reflexo do nosso esforço. 

“Quando ministramos ao Senhor, há certas condições que devem ser cumpridas. Todos que ministram ao Senhor têm que estar vestidos com roupas de linho da cabeça aos pés. (…) Nenhum algodão pode estar sobre seus corpos. A razão para isso é que quando você ministra ao Senhor, não pode haver nenhum suor. (…) O que é suor? Ele vem do corpo, é a nossa força natural. Qualquer coisa que provenha da nossa força natural é suada. E quanto da obra de Deus hoje é uma obra suada! Você precisa planejar e delinear, tem que vender, noticiar, convencer, atrair, negociar, fazer todo o tipo de coisa para que a obra funcione. Mas se você vai ministrar ao Senhor, nenhuma força natural, nada daquilo que vem de você é permitido. Sendo assim, se você veste roupas de algodão, seguramente suará. Em verdade, não há janela no lugar santo. Ele é todo fechado, e naturalmente é provável que o ar seja um tanto quente. (…) Tudo precisa ser de linho, e o linho, na Escritura, sempre fala da vida de nosso Senhor Jesus. Sua vida santa na terra foi como uma veste de linho. Sua justiça é banca e brilhante. Precisamos estar completamente vestidos de Cristo. Quando ministramos ao Senhor, ministramos Cristo a Ele, não a nós mesmos, por essa razão tudo deve ser de linho”. (Stephen Kaung – Ministério Espiritual, cap. 1).

Linho finíssimo

“Pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos” (Ap 19:8).

Agora vemos mais uma vez uma menção de linho. Esse linho finíssimo são os atos de justiça dos santos. Que atos de justiça são esses? Ap 15:4, em referência aos atos do Senhor, diz: “os teus atos de justiça se fizeram manifestos”.

Nossas vestes devem ser o próprio Cristo, porque assim, os nossos atos serão os atos dEle, e os atos dEle são de justiça. Essas são as nossas melhores roupas!

“Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7:13,14).

“Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas” (Ap 22:14).

A Palavra de Deus vai nos lavar. Quando nossos pés começam a se empoeirar neste mundo, pelas coisas que vivemos nesta terra, a única forma de sermos preservados é por meio da lavagem da Palavra. 

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A Cruz é o fim da vida Cristã, não apenas o início

“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24).

Se você esquecer tudo mais, lembre-se disso! A Cruz é o fim da vida ressurreta, assim como o seu início, “para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte” (Fp 3:10). Algumas pessoas me perguntaram por que nesse texto de Filipenses Paulo colocou a morte no final? Certamente estaria certo colocar ao contrário: “Que eu possa ser conformado com Sua morte, e Conhecê-Lo no poder da Sua ressurreição, e na comunhão dos Seus sofrimentos”. Não, não tem nenhum erro ali, a ordem foi estabelecida pelo Espírito Santo! O poder da Sua ressurreição pressupõe que houve morte, mas a própria vida de ressurreição conduz à Cruz. O Espírito Santo é o poder na vida ressurreta e está sempre nos conduzindo de volta para a Cruz, para a conformidade com a Sua morte. A própria característica da vida celestial é expulsar tudo aquilo que pertence à morte. É o próprio poder da ressurreição que nos conduz de volta ao lugar onde a morte é constantemente vencida. Aquele lugar é exatamente a Cruz do nosso Senhor Jesus Cristo, onde a vida natural é colocada de lado. 

Você Precisa de VIDA? O Senhor então, com efeito, diz: “Bem, vamos começar a tirar algumas coisas do caminho!”. E quando Ele conseguir tirar algumas dessas coisas da frente, então veremos a VIDA! É por isso que a obra da cruz está sempre nos conduzindo à morte. Um fato importante é que essa morte não nos destrói, mas abre espaço para uma maior plenitude de VIDA. O Espírito Santo sempre opera em conjunto com a Cruz, para que o poder da Sua ressurreição possa crescer em nós.

Você realmente deseja VIDA? Raramente vi pessoas que, tendo realmente se entregado ao Senhor na busca de crescimento espiritual, não tenham prontamente entrado em experiências muito amargas, e não tenham passado por períodos extremamente difíceis. Você já passou por isso? Você já se entregou para o Senhor para algo novo, ou algo mais, e então passou por provas duras, experiências escuras e difíceis logo depois? É sempre assim! Isso não está errado! O Senhor está dizendo: “É isso mesmo que você deseja? Tem sempre algo que precisa ser tirado do caminho”.  Pode ser que você deseje esse aumento da vida porque deseja ser uma pessoa mais feliz. Essa motivação tem que sair, para que você não deseje as coisas mais para você, mas para o Senhor! Quando você for passar por momentos difíceis e o elemento dominante for o ego, você pode talvez dizer: “Bem! não importa, prefiro não ter mais isso, se for assim!” Essa é a forma egoísta de ver as coisas. Mas você pode chegar ao ponto de dizer: “Não importa o preço, o Senhor precisa ter isso em minha vida!” Você chegou ao ponto de tirar o governo do Ego. O Espírito Santo sempre toca nesse ponto, porque Ele busca vida, vida abundante, e isso só pode ser obtido se Ele trouxer novamente a Cruz diante de nós. A Cruz é básica para dar vida, porque foi ali que o Senhor Jesus venceu a morte e trouxe vida para seus santos! Que o Senhor nos conduza à essa vida abundante.

Extraído do capítulo 3 do livro “The Battle for Life”, de T. Austin-Sparks.

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Referências:

Estudos sobre o livro de Rute – H. L. Heijkoop (Depósito de Literatura Cristã).
União com Cristo: Um vislumbre do livro de Rute – Christian Chen (Edições Tesouro Aberto).
The Battle for Life – T. Austin-Sparks.

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