A grandeza do Filho

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“A Grandeza do Filho” é um artigo baseado em meditações no texto de Hebreus 1:7-9.

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“Ainda, quanto aos anjos, diz: Aquele que a seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo; mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de eqüidade é o cetro do seu reino. Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros.” (Hebreus 1:7-9).

Vamos falar de três princípios essenciais acerca da grandeza do Filho que foram destacados no trecho acima:

  1. Ele é o Rei eterno: “O teu trono, ó Deus, é para todo sempre”.
  2. Que tipo de Rei Ele é? O Justo: “Cetro de equidade é o cetro do seu reino”.
  3. Por que Ele é esse Rei Único? “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade”.

1) O Rei Eterno

“O teu trono, ó Deus, é para todo sempre”.

Ele é o Rei eterno. Sabemos que quando o Senhor voltar, será manifestado a todo olho esse fato, então teremos o reino MANIFESTADO do Senhor Jesus. O que está encoberto hoje do mundo, será manifestado – todo olho verá, toda língua confessará e todo joelho se dobrará diante desse Rei Maravilhoso.

“Diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus” (Rm 14:11).

“Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:10,11).

Se TODA criatura, nos céus e na terra, se renderá a esse fato quando o Senhor Se manifestar em glória, HOJE, quando esse fato está oculto aos olhos dos homens, o Senhor o revela ao Seu povo – estamos hoje vivendo na esfera do reino de Deus. Temos que nos render a esse reino eterno.

Deus está nessa dispensação nos revelando o Seu reino para Seu povo, ainda que esteja oculto para o resto do mundo. Ele está nos ensinando a deixarmos o governo das nossas vidas e nos submetermos à Ele. Ele é o Rei eterno.

Como filhos de Deus, esse é o primeiro princípio que temos que aprender – Somos súditos do Seu reino. Ele reina. Ele governa.

Esse é o cumprimento do propósito eterno de Deus na Igreja. Ele vai encher todo esse universo de Cristo. Mas agora, na Igreja, Ele está nos levando a nos rendermos ao Seu governo, para que possamos ser cheios de Cristo.

Cristo é a expressão exata de Deus (Hb 1:3). Então, quando o povo de Deus deixa de se auto governar e se rende ao governo do Rei eterno, então esse povo pode, como Corpo de Cristo, expressar Deus, porque Cristo estará Se expressando por meio da Igreja.

É importante percebermos que a Epístola aos Hebreus trata de assuntos espirituais profundos, e foi escrita para aqueles irmãos de origem judaica, que, diante de tantas perseguições e lutas, estavam deixando alguns fundamentos e voltando para as suas tradições.

Mas, antes de entrar nos assuntos mais profundos, por assim dizer, o escritor dessa epístola traz alguns princípios fundamentais, sem os quais não seria possível seguir adiante na revelação. E, um dos primeiros princípios trazidos, logo neste primeiro capítulo, é este: Ele é o Rei eterno.

Isso quer dizer que esta é a base para prosseguirmos naquilo que o Senhor quer nos falar e fazer através de nós. Não podemos prosseguir se não tivermos por certo este princípio primordial.

Isso é para cada um de nós individualmente, e também coletivamente, como Corpo do Senhor.

O Reino de Deus no homem

Para nós, a palavra “Senhor” pode ser uma palavra banal, devido ao seu uso comum. Nós a usamos frequentemente para expressar algum respeito pelas pessoas mais velhas, e infelizmente, esse sentido acaba se transferindo para quando nos referimos também ao Senhor Jesus. Fica aquele sentimento ou sentido de apenas respeito pelo Senhor.

Mas no Velho Testamento, a palavra “Senhor” é a tradução da palavra hebraica Adonai. Essa palavra representava aquele Rei, que era Senhor e o dono de tudo, de todas as propriedades e pessoas dentro do seu domínio.

Trazendo isso para nossa realidade, o Senhor é nosso dono. Tudo o que desfrutamos hoje é dEle. Ele é o Adonai. Apesar de Ele ser o nosso irmão mais velho, o Deus de amor, o nosso Amigo, não podemos nos esquecer que Ele é Senhor, o dono de tudo, e isso quer dizer que Ele é nosso dono e nós somos Seus súditos (palavra que traz o sentido de escravos).

Em Êxodo 21, nos versos 1 a 11, vemos o relato a respeito do servo ou escravo, que decide voluntariamente permanecer em sua condição de escravo, por amor ao seu Senhor, apesar de poder desfrutar da liberdade:

“Porém, se o escravo expressamente disser: Eu amo meu senhor, minha mulher e meus filhos, não quero sair forro. Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.” (vs 5 e 6). 

O Senhor Jesus foi esse escravo de amor. Ele era o Filho de Deus, mas renunciou Sua glória e Se dispôs a Se tornar homem para, dessa forma, fazer a vontade do Pai e cumprir todo o Seu propósito.

“Sacrifícios e ofertas não quiseste; abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres. Então, eu disse: eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito; agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei” (Sl 40:6-8).

A expressão “abriste os meus ouvidos”, no original hebraico traz a ideia de “furastes as minhas orelhas”, como uma referência clara ao servo de amor de Êx 21.

Esse foi o caminho do Filho até o trono; este será o único caminho para nós, se quisermos seguir cumprindo o propósito de Deus.

Quando Adão comeu aquela fruta lá no Jardim do Éden, ele quis o governo da sua vida para si mesmo.

Assim disse a Serpente à Eva: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:5).

E depois, após comerem da fruta proibida, Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal” (Gn 3:22).

Sendo conhecedor do bem e do mal, o homem tomou para si o governo de sua vida. Ele agora decidiria o que era certo ou errado, bem ou mal, para si mesmo. Não precisaria mais de Deus para o governar e guiar. Essa foi a terrível tragédia humana – o homem se afastou de Deus.

Então, quando voltamos para Deus e somos salvos pela Sua maravilhosa graça, o primeiro princípio que precisa ser estabelecido é o GOVERNO DE DEUS sobre nossas vidas, individualmente. Esse princípio que foi quebrado por Adão e por toda a humanidade depois dele.

Nada pode ser estabelecido fora desse princípio. Não vamos entender o coletivo, entender o que é de fato a Igreja do Senhor Jesus, se primeiro não entendermos que estávamos fora do governo de Deus, e que agora, pela Sua maravilhosa graça, o Senhor veio habitar em nós, para nos ensinar a nos submeter ao Seu governo eterno.

Jesus, habitando como homem comum aqui na terra, disse:

“Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou” (Jo 5:30).

Todo o esforço humano, toda estratégia humana, todo o “bem” do homem é lixo diante da grandeza e majestade desse Rei e Seu reino.

Paulo viu isso, quando havia alcançado o que o homem daquela época achava ser o “ápice do bem”. Diante de tudo isso, ele declarou:

“Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo” (Fp 3:4-8).

Somos os mais pobres e miseráveis dos homens quando, mesmo tendo sido regenerados pelo sangue do Senhor Jesus, achamos que podemos governar as nossas vidas, que temos boas estratégias, conhecemos o que é bom e mau, o que é certo e errado.

“Ah, se eu fizer isso ou aquilo…. se eu me juntar ao fulano… se executarmos essa estratégia… ah, como tudo seria muito melhor”. Pobre miserável, não sabe você que está caminhando para a morte? Desista de você mesmo e renda-se ao Senhorio de Cristo. Só Ele é capaz de gerar vida onde há somente morte.

“Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte” (Pv 14:12).

Você quer viver a vida cristã? Você quer agradar a Deus? Você quer fazer parte da obra de Deus? Esse primeiro princípio essencial acerca do Filho deve ficar claro para você. Desista de você mesmo! Esta é a primeira lição. Desista das suas estratégias. Reconheça a sua total incapacidade e se renda ao Senhorio de Cristo. Ele é o Rei eterno.

O que você quer fazer? O que você quer fazer “para Deus”? Foi você que idealizou essa estratégia? Você achou mesmo que isso poderia ser muito bom e útil para a Igreja, com base no seu próprio conhecimento do que você acha ser o que é bom e o que é mau? Isso não serve para Deus. Isso é obra morta e leva à morte. Somente aquilo que Deus disse, aquilo que Ele falou e conduziu, essa obra que não é nossa, mas é Dele, é que conduz à Vida. Como Paulo, considere todo o resto como perda, refugo, para ganhar Cristo.

Alma agitada, descanse no Senhor. Aprenda primeiro a ouvir a Sua voz, a discernir o que é dEle e o que é da sua própria vontade, das suas emoções, das suas habilidades, da sua carne. Enquanto você não aprender a ouvir e saber o que é a voz de Deus, aquiete-se e deixe Ele te ensinar e te mostrar que Ele é o Rei Eterno, Ele é o Senhor e dono de todas as coisas. Ele não precisa de mim ou de você para realizar a obra Dele, mas Ele, por Sua misericórdia e graça, escolheu nos incluir em Seus planos. Mas nunca se esqueça: Ele é o Senhor. Ele está no comando.

O escritor de Hebreus tentava chamar de volta os irmãos na direção do caminho pleno do senhorio de Cristo. Essa é uma das primeiras lições que o escritor traz à luz. Esse princípio básico que deve governar nossa vida. 

O Reino de Deus na Igreja

Dentre os princípios essenciais citados em Hebreus 1, aprendemos ainda mais sobre a grandeza do Senhor. Ele é o Rei Eterno e esse senhorio deve ser reconhecido e entendido primeiramente por cada um de nós, individualmente, como falamos antes.

Mas, esse mesmo princípio deve governar O Homem Coletivo, a Igreja do Senhor Jesus, o Corpo de Cristo.

Quando a nossa visão da Igreja é de um amontoado de gente, espalhada por aí, temos uma visão distorcida do Corpo de Cristo. 

Como pode um corpo se manter vivo se ele está com seus membros espalhados por toda a parte – braços, pernas, dedos, tudo embaralhado e espalhado. Não há expressão de vida nisso, mas de morte.

Então o homem, com sua mente caída e canal pensa: “a igreja tem que ser um corpo em unidade. A Bíblia diz isso”. Tudo bem, isso é verdade. Mas a mente humana não para por aí, ela passa a criar estratégias para dar uma “ajudinha” a Deus e promover essa unidade. Assim, ele pensa: “E se todos os filhos de Deus congregarem ou se reunirem no mesmo formato que eu acredito ser o melhor? Nesse caso teríamos “unidade”. Vamos então criar uma espécie de ‘franquia da NOSSA igreja’ e aí vamos convidar todos os irmãos para dentro dela”. 

Mas, como o Senhor vê tudo isso? Como Ele concilia essas duas coisas? Como Ele pode fazer de um povo espalhado por todo o mundo, com todas as diferenças culturais, de língua, de entendimento, de conhecimento da Palavra de Deus, em um corpo coeso, harmônico, cheio de vida?

O segredo está no fato de que o Corpo de Cristo tem uma Cabeça e, para que haja vida e que essa vida flua por todo o corpo, esse corpo deve estar bem ligado ao Cabeça.

Quando falamos “a igreja somos nós”, normalmente nos esquecemos de incluir nisso tudo a Cabeça. Pensamos como Pedro no monte da transfiguração:

“Então, disse Pedro a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés, outra para Elias” (Mt 17:4).

Nós também, pensamos que somos a igreja, então basta a gente juntar um grupo de irmãos – “vamos fazer uma tenda para nós e ficar todo mundo juntinho, pensando igual, tendo companheirismo uns com os outros”. Quanta infantilidade! No monte da transfiguração, depois dessa sugestão infantil de Pedro, o céu responde:

“Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os envolveu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi. Ouvindo-a os discípulos, caíram de bruços, tomados de grande medo. Aproximando-se deles, tocou-lhes Jesus, dizendo: Erguei-vos e não temais! Então, eles, levantando os olhos, a ninguém viram, senão Jesus” (Mt 17:5-8).

Nós precisamos ver apenas Jesus. Jesus na igreja, Jesus na comunhão com os irmãos, Jesus nas reuniões, Jesus… só Ele. Enquanto ainda vemos um monte de Moisés, de Elias, de Joãozinhos, de Mariazinhas, não vimos ainda o corpo de Cristo.

Quando você contempla a Igreja com os olhos da fé, o que você vê? Um monte de gente amontoada? Um monte de gente que faz tudo igual? Ou você vê o corpo de Cristo, ou melhor, o Cristo (com cabeça e corpo), um corpo que responde diretamente às ordens da Cabeça?

Em Colossenses, os irmãos estavam sendo julgados pelo seu modo de vida, por causa de alguns costumes exteriores (comida, bebida, festas, etc.). Paulo, então, diz para eles:

“Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo. Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal, e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus” (Cl 2:16-19). 

Esse é um exemplo do que acontece quando a mente carnal está no comando da Igreja. Paulo adverte, dizendo que isso estava acontecendo porque aquelas pessoas não estavam RETENDO A CABEÇA, e continua dizendo que, é somente retendo o Cabeça que o corpo poderá ser SUPRIDO E BEM VINCULADO, e assim poderá CRESCER O CRESCIMENTO QUE PROCEDE DE DEUS.

Que tipo de crescimento a igreja tem tido? Ou melhor, que tipo de crescimento a nossa mente carnal e caída acha que a igreja pode crescer?

Esse é o segredo do corpo de Cristo – tudo o que se inicia na carne é carne e leva para a morte. Tudo que se inicia em Cristo, realiza-se por Cristo e volta-se para Cristo, suprindo o corpo e dando vida a ele.

Quanta infantilidade nossa, quanta carnalidade, quando achamos que podemos, com as nossas estratégias e habilidades, trazer crescimento para o corpo de Cristo. Mesmo nas melhores intenções, o fruto sempre será morte. 

Jesus disse: “Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18).

De quem é a igreja, o Corpo? É de Cristo. Quem edifica? Quem é o Único que pode fazer isso? Cristo. Esse é um princípio essencial acerca do Filho.

Temos que reconhecer e deixar a nossa carnalidade quando tentamos edificar o corpo de Cristo. Temos que descansar no fato de que Ele edifica a Sua Igreja, o Seu Corpo.

O que Ele quer de nós é que nos enchemos Dele (individual e coletivamente), para que em mim e em nós, através de mim e de nós, ELE possa realizar a obra DELE.

“Pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, a saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho; do qual fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo a força operante do seu poder. A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef 3:4-11).

A multiforme sabedoria de Deus será conhecida dos principados e potestades, através da Igreja, quando ela estiver retendo o Cabeça, sendo suprida por esse Cabeça, segundo o eterno propósito que Deus estabeleceu em Cristo Jesus – Cristo enchendo de Si mesmo o Seu povo, e o povo esvaziando cada dia mais de si mesmo.

“Ele [Cristo], que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1:3). 

“O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1:14).

Somente Cristo pode expressar Deus. Ele é a expressão exata de Deus. Ele também expressa toda a glória de Deus. Nós não podemos expressar a Deus, mas Cristo expressa plenamente a Deus. Se estamos cheios de Cristo, Ele pode expressar a Deus através de nós.

A Igreja só pode expressar Deus, quando olhamos e vemos Cristo. Por isso ela é o Corpo de Cristo, o Filho de Deus, e deve expressar Sua grandeza. Se estou olhando para o corpo de Cristo, estou olhando para Cristo, que tem uma cabeça e um corpo.

Portanto, quanto mais cedo aprendermos a desistir de tentar edificar a Igreja com nossas habilidades e estratégias, melhor será. Ao invés disso, nossa missão é nos encher mais e mais de Cristo, retendo a preciosa Cabeça.

As expressões da Igreja

A revelação do Senhor sempre nos concede vida. Tudo que provém dEle nunca fica velho, é sempre fresco e renovador para nós. 

Falamos da essência do que é a Igreja. Não há como enxergá-la ou explicá-la com a nossa razão e mente. Dizer que ela é formada por todos os salvos pela graça de Cristo é verdade, mas ainda é pouco. Dizer que a igreja somos nós é verdade, mas também é pouco. A igreja é tudo isso, mas a sua essência é que ela é Cristo. Ela é o corpo de Cristo.

Como é possível entender e explicar isso?

Somente quando temos nossos olhos abertos pelo Espírito Santo, podemos ver a Igreja com os nossos olhos espirituais. Ela não está limitada a um grupinho, a um lugar, mas ela é universal e espiritual. Ela é o corpo de Cristo. Ela é Cristo em cada um de nós e em todos nós.

Entretanto, para que possamos entender um pouco desse Corpo completo, essa igreja universal e espiritual, precisamos entender que a Igreja tem expressões em cada localidade. Deixa-me dar um exemplo muito imperfeito, mas apenas tentando explicar em palavras o que só pode ser explicado no nosso espírito.

Quando perguntamos a uma mãe ou a um pai o que é ser mãe ou pai, normalmente recebemos a resposta de que é algo muito elevado, que não dá para explicar. Mas, logo depois, começa a tentativa de uma explicação. Então ouvimos muitas coisas como:

  • Ser pai ou mãe é estar presente em todas as horas do filho.
  • É ensinar e educar o filho.
  • É correr para o médico quando o filho passa mal.
  • É ficar acordado a noite quando o filho não quer dormir e fica chorando.

Todas essas frases e muitas outras fazem parte da experiência de ser mãe ou pai, mas o que elas dizem é muito pouco para expressar o que realmente é ser um pai ou mãe.

Existe algo muito maior, que não pode ser expressado com palavras ou ações, para explicar o que é ser um pai ou uma mãe. Mas, ao mesmo tempo, a paternidade e maternidade se expressam nessas ações, na expressão de amor do pai e da mãe, no tempo gasto educando o filho, no cuidado com o filho, etc.. Ainda assim, isso jamais poderá explicar o que é de fato ser um pai ou uma mãe.

Essa é uma pequena comparação imperfeita com o que é a Igreja. Vimos a grandeza do que é o Corpo de Cristo, e como é impossível explicá-lo com palavras. Mas, ao mesmo tempo, vemos que esse corpo se expressa, ainda que limitadamente, em ações visíveis em todos os lugares. 

“Saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles [de Áquila e Priscila]… Saudai Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os irmãos que se reúnem com eles. Saudai Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã, Olimpas e todos os santos que se reúnem com eles. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Todas as igrejas de Cristo vos saúdam” (Rm 16:5,14-16).

Quantas igrejas havia em Roma? Apenas uma, a mesma que está em toda a terra: O corpo de Cristo. Mas quantas expressões diferentes da Igreja havia em Roma? Muitas (pelo menos três mostradas nesses versículos). Nenhuma delas poderia expressar plenamente tudo o que é o Corpo de Cristo, mas, de alguma forma, em todas elas era possível ver uma manifestação, como que relances do que é o Corpo de Cristo.

“A fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus” (Ef 3:18-19).

Toda a plenitude de Deus só pode ser vista COM TODOS OS SANTOS. Essa plenitude é vista em Apocalipse 21, quando a Nova Jerusalém se manifestará.

“Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles… e me transportou, em espírito, até a uma grande e elevada montanha e me mostrou a santa cidade, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, a qual tem a glória de Deus…” (Ap 21:2,3,10,11).

Temos variadas expressões daquilo que é muito maior e mais completo – o corpo de Cristo. Mas, o princípio continua o mesmo – Ele é o Rei Eterno…

“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18:20).

“Em meu nome” equivale a uma representação do Senhor. Como uma procuração que recebemos para representar a vontade de alguém. Ali o Senhor está. Ali é uma expressão da igreja.

Qual é então o padrão de expressão? Não há padrão. Há sim um princípio – em nome Dele, Ele sendo o Rei eterno, Ele governando, Ele Se expressando. Esse é o princípio. O que Ele vai fazer quando esses dois ou três estiverem reunidos só Ele pode dizer. 

Então, não tente colocar tudo numa “caixinha padronizada”. Não tente “enlatar” a expressão da igreja. Não queira criar uma franquia da igreja do Senhor. A igreja não é um McDonalds, onde vamos encontrar o mesmo sanduíche em qualquer lugar do mundo. Não! Em todo o lugar vamos ver diferentes expressões, mostrando a grandeza do Senhor, evidenciando que nunca teremos a expressão plena dEle isoladamente, mas com todos os santos. 

Nenhuma dessas expressões poderá equivaler plenamente ao todo. Mas isso não quer dizer que o todo não exista. Sim, o todo do Corpo de Cristo existe e está sendo formado e adornado. “Na casa de meu Pai há muitas moradas”. Podemos hoje enxergar esse todo com os olhos espirituais, mas um dia, quando o corpo tiver sido plenamente adornado, preparado como noiva para o Noivo, então, esse corpo pleno e completo descerá do céu como noiva, como a Nova Jerusalém, cujo material de que é formada corresponde as mesmas pedras preciosas descritas em Apocalipse 4, quando fala do trono de Deus. Ou seja, o material que forma a Nova Jerusalém é o próprio Deus. Esse corpo é cheio de Deus em Cristo.

Tanto nas expressões limitadas e visíveis, como na expressão espiritual que contemplamos pelos olhos da fé, assim também acontece na expressão máxima da Nova Jerusalém, Cristo é o Rei Eterno.

Portanto, nem mesmo nas menores expressões da igreja há espaço para o agir do homem, para as estratégias humanas.

Alma, descanse nisso. Não force a barra para expressar o que não é uma expressão de Cristo. Não tente dar uma mãozinha para Cristo na edificação de Sua Igreja. Não podemos fazer aquilo que não fomos comissionados pelo Senhor para fazer. 

O princípio da religião é esse: o homem construindo, não com pedras vivas, mas com tijolos, a imitação humana das pedras, tentando chegar até Deus, como aconteceu na Babilônia (torre de Babel). 

Sabemos qual é o fim da Babilônia em Apocalipse. Se compararmos a Babilônia com a Igreja em Filadélfia, veremos que de Filadélfia, o Senhor diz: “tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome” (Ap 3:8). Já a Babilônia diz de si mesma: “Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver!” (Ap 18:7).

Vemos isso ilustrado na vida de Moisés, que inicialmente era poderoso em palavras (At 7:22), mas depois de ter passado um longo período no deserto de Midiã, pôde afirmar a Deus, quando o chamou, que era pesado de língua (Êx 4:10). Como reconciliar essa contradição? Como Moisés se via? Ele se sentia incapaz, não acreditava que tinha condições de corresponder ao chamado de Deus. Se seguirmos confiando na nossa força, não iremos muito longe.

Na nossa vida espiritual, tudo é pela graça do Senhor. Dependemos dEle a cada dia, e Ele mesmo nos levará a convicção de nossa incapacidade. No final diremos que nada veio de nós, que nada poderia ter sido feito por nós. O Senhor é o Rei eterno dentro da Igreja. 

2) O Rei justo

“Cetro de equidade é o cetro do seu reino”. Que tipo de Rei é o Senhor? Ele é justo. Ele não é apenas UM Rei justo, mas Ele é A PRÓPRIA JUSTIÇA. 

“Cristo é um rei justo: Ele é Melquisedeque, o Rei de Justiça. Em seu reino, tudo é justiça e santidade. Ali “reina graça por meio da justiça”. É o Reino dos Céus: nele, a vontade de Deus é feita na terra assim como nos céus” (Andrew Murray, O santo dos Santos: Uma Exposição da Epístola aos Hebreus, Editora doze Cestos).

Ele é a justiça em pessoa. Ele é o Rei de justiça mencionado em Salmos 72. 

Seremos fartos no futuro, se tivermos agora fome e sede de justiça (Mt 5:6). Quando seremos fartos da justiça perfeita? Quando o Rei Se manifestar. Essa profecia do Salmo 72 se refere à manifestação do reino do Senhor Jesus na terra. Para nós, que temos o Senhor Jesus, a Sua presença já está no nosso interior. Ele já nos conduz à justiça, que é Sua Pessoa, a uma manifestação de Sua pessoa. Para que o Senhor possa fazer essas coisas através de nós, precisamos ter um coração rendido ao Senhor.

Por isso é tão importante estar rendido a Ele. O servo precisa conhecer o Senhor, saber o que Ele ordena. 

3) O único Rei

Em Hebreus 1 vimos dois princípios essenciais acerca do Filho, agora vamos meditar no terceiro deles, que Ele é o Rei Único? Porque “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade”.

Apesar de termos tido bons governantes na história da humanidade, nunca tivemos e nunca encontraremos nenhum que seja como o Senhor Jesus, que ama plenamente a JUSTIÇA e odeia a INIQUIDADE. O Senhor é incomparável. Ele é único. 

“Somos lembrados de que a justiça pertence ao Senhor Jesus não somente como um atributo divino, mas também como o fruto de sua vida na terra. Na terra, Ele foi testado, provado e aperfeiçoado, e foi encontrado digno de, como homem, assentar-Se no trono de Deus. 

Ele teve de obter como Filho do Homem o trono que lhe pertencia como Filho de Deus e herdeiro de todas as coisas. Agora Ele reina sobre Seu povo, ensina-lhe por meio de Seu exemplo, capacita-o por meio de Seu Espírito a cumprir toda a justiça. E, como Rei de Justiça, Ele governa sobre um povo justo.

‘Por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros’ [vs 9]. Ele é um Rei ungido com óleo de alegria. Porque Jesus amou a justiça e odiou a iniquidade, Deus o ungiu.

Quando o Senhor Jesus subiu aos céus e assentou-Se à direita do trono, Ele recebeu do Pai, de forma nova e em medida plena, como Filho do Homem, o dom do Espírito Santo para conceder ao Seu povo (At 2:33). Aquele Espírito era para Ele o óleo de alegria; ‘a alegria que lhe estava proposta’, a alegria do dia de sua coroação, dia em que Ele viu o fruto do penoso trabalho de Sua alma. O óleo sempre remete ao Espírito Santo, Se o Senhor não tivesse executado a obra na cruz, não teríamos recebido o Espírito Santo. Por isso em Jo 14 o Senhor disse que os discípulos precisariam se alegrar porque Ele iria deixá-los. 

Uma unção ‘como a nenhum de seus companheiros’, porque nenhum havia como Ele; Deus lhe concedeu o Espírito sem medida. E, como cabeça, o Senhor fez de Seus companheiros, de Seus redimidos, membros de Seu corpo. Eles se tornaram participantes de Sua unção e alegria.

‘Amaste a justiça e odiaste a iniquidade, por isso…’ Esse foi o caminho do Filho até o trono; este é o único caminho para nós: viver e praticar a justiça, e odiar o pecado” (Andrew Murray, O santo dos Santos: Uma Exposição da Epístola aos Hebreus, Editora doze Cestos).

Devemos nos lembrar que Jesus se humilhou, se fez homem e conquistou o trono. Ele passou por todas as provações que nós passamos, e finalmente triunfou absolutamente. O Senhor abriu mão de expressar a Sua própria vontade para expressar a vontade do Pai. O Senhor expressou a justiça, odiando a iniquidade. Finalmente Ele foi exaltado, como vemos em Apocalipse. Ele conquistou o trono que já Lhe pertencia como Filho de Deus. Hoje temos um HOMEM ASSENTADO no trono. Ele é 100% Deus e 100% homem. Ele é um Homem que sabe tudo que estamos passando, pode se compadecer, sentir o que sentimos. 

Esse é o nosso Senhor Jesus – a tônica foi: Amaste a justiça e odiaste a iniquidade.

“Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24).

“Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Fp 3:11).

Para que sigamos nesse caminho, o Senhor, em toda a Sua maravilhosa graça, trabalha em nós, nos levando ao fim de nós mesmos, da nossa justiça própria, até que possamos, junto com nosso Irmão mais velho, o Senhor Jesus, chegarmos ao trono. 

Para chegarmos ao trono, temos um caminho a seguir. O fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o achar que sei o que é certo e errado deve ser levado para a cruz. 

Podemos ver isso em muitas passagens da Palavra de Deus:

  • Como figura, como aconteceu com o povo de Deus desde a saída do Egito (que representa a nossa conversão) até o trono de Davi (o reino). Quantos processos, quanto trabalhar de Deus naquele povo, quantas circunstâncias difíceis foram enfrentadas, quantas caídas, recaídas, mas sempre vemos a mão do Senhor os conduzindo. Eles precisaram conhecer de forma prática o Rei, para depois tê-lo fisicamente no trono. 
  • Em realidade, vemos o nosso Senhor Jesus aqui na terra, nascido como uma criança indefesa, crescendo como um homem provado em todas as coisas, perseguido, humilhado, desprezado, mas seguindo firme em unidade com o Pai, e então recebendo o trono do Seu Reino.

“O que o Cordeiro de Deus significa? Total rendição à vontade de Deus. Não havia martelo, pregos ou soldados romanos poderosos o suficiente para colocar o Senhor Jesus naquela cruz. Foi a vontade de Deus que O colocou ali. Nenhuma legião romana poderia ter colocado Cristo na cruz. Jamais! “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?” [Mt 26:53]. Ao lembrar do que um anjo fez ao exército de Senaqueribe, podemos imaginar o que doze legiões poderiam fazer! Não havia poder neste universo capaz de colocar Jesus Cristo na cruz. Apenas A VONTADE DE DEUS poderia fazer isso. Esse é o Cordeiro – alguém absolutamente entregue à vontade de Deus” (T. Austin-Sparks, The Throne of God and the Lamb).

Se foi assim para o Senhor – a total rendição à vontade do Pai, seria diferente para nós? 

Gostou do artigo “A Grandeza do Filho? Continue lendo mais estudos do livro de Hebreus aqui.
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