A páscoa em relação ao propósito de Deus

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A páscoa em relação ao propósito de Deus são nossas notas baseadas capítulo 3 do livro The Lamb in The Midst of The Throne, de T. Austin-Sparks, disponível para leitura no site www.austin-sparks.net. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento. 

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“Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano” (Êxodo 12:2).

“E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento” (Lucas 14:15).

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim” (1 Coríntios 11:23,24).

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Leitura: Êx 12:2, 14; Êx 13:10; Lc 22:1,7,14-17,19-20; 1Co 11:23-26; Hb 13:20

Penso que não é necessário ficar muito tempo discutindo algo tão óbvio quanto a conexão entre a Páscoa e a Ceia do Senhor. Há pouca dúvida de que o Senhor Jesus, no cenáculo, reuniu os doze; tomou a Páscoa judaica, elevou-a para um terreno mais elevado, investiu-a do pensamento Divino e a transmitiu como algo dentro da nova ordem das coisas, isto é, algo para a Igreja. Ao fazer isso, Ele deu sentido espiritual a tudo o que foi estabelecido em tipo na Páscoa Judaica, e a primeira coisa que foi retomada e se tornou um fator primário na Igreja é o que podemos chamar de questão da data.

A Páscoa, O Início da Nossa História Espiritual

Este mês vos será o principal dos meses“, isto é, a nossa história começa a partir desse ponto. Do mesmo modo que a Páscoa se tornou uma marca do Senhor para Israel do começo de sua história espiritual, a morte do Senhor marca o início da história da Igreja, e de cada um de seus membros.

Mas há algo nesse fato que deve ser reconhecido. Em Êxodo 12, começamos por encontrar o mundo inteiro, representado pelo Egito e por Israel no Egito, julgados (mas especialmente pelo Egito). Isso porque o propósito de Deus para o mundo havia sido persistentemente recusado e rejeitado. Seu propósito tinha a ver com seu filho, seu primogênito, e seus filhos primogênitos. Eles são representados por Israel de maneira corporativa. Então, o propósito de Deus estava ligado ao Seu Filho pessoal e corporativo. Esse propósito manifestado, e repetidas vezes, o mundo o recusou.

A história espiritual começa quando nos alinhamos ao propósito de Deus e, a partir desse momento, esse propósito passa a governar e constituir a história, conferindo caráter a ela. É esse propósito em relação a Seu Filho que sempre será o terreno sobre o qual Deus está edificando uma história espiritual. Portanto, o começo de tudo tem, em um sentido mais profundo, uma unidade com o propósito de Deus. Isso pode não parecer muito importante para você, mas a menos que compreendamos a plenitude do pensamento Divino na redenção, não faremos muito progresso em nossa caminhada.

O lento e tedioso progresso de Israel no deserto foi devido ao fracasso da apreensão no coração do propósito Divino. Eles estavam o tempo todo se voltando para os seus ganhos e perdas pessoais; pensando nas vantagens e desvantagens de ter saído com o Senhor; sobre como aquilo os afetava. Assim, eles estavam o tempo todo sendo governados em seu relacionamento com o Senhor pelo efeito das coisas sobre si mesmos.

Quando as coisas estavam favoráveis, ​​eles estavam prontas para continuar até um limite. Se as coisas não estivessem agradáveis ​​todos tinham pressa de voltar atrás correndo. De acordo com a forma como as circunstâncias da vida os afetavam, eles esboçavam uma reação ou resposta. Eles não conseguiram ver que tudo isso estava atrasando o propósito de Deus. Suas bênçãos e ganhos, é claro, residiam no propósito de Deus ser realizado.

É importante que saibamos que não somos salvos apenas para sermos abençoados, levados ao céu e para sermos libertos de todos os problemas. Somos salvos para o propósito eterno de Deus, e devemos permitir que esse propósito governe nossa vida quando as coisas não estão sendo fáceis ou favoráveis, e não devemos permitir que isso nos deixe afastar do propósito. O começo da nossa história é o começo da realização do propósito de Deus.

A Redenção é Para Deus

Esse propósito está ligado à Igreja, designada em Hebreus 12, como lembramos, “a Igreja dos Primogênitos”. Este é o antítipo do que temos em Êxodo 4. “Israel é meu filho, meu primogênito … Deixa ir meu filho, para que me sirva”. Esse é o propósito, que está ligado à Igreja dos primogênitos. Assim, ao chegarmos em Êxodo 13 temos a separação ou consagração dos primogênitos ao Senhor.

No local da preparação da páscoa, o cordeiro pascal, o primogênito, era separado para Deus. Isso traz à luz esse fato muito definitivo e positivo, de que a redenção é para o próprio Deus. Você se lembrará de uma palavra sobre esse assunto em Atos 20:28: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” E em Ap 5:9, “com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação”. Comprados para Deus, redimidos para Deus – vemos a propriedade absoluta do Senhor sobre os remidos. Este é um pensamento que precisa estar mais profundamente enraizado em nossa consciência. Isso nos salvará de muitas das fraquezas de nossas vidas cristãs.

Deus derramou Seu próprio sangue para comprar para Si um povo. Se Deus fez isso, se Ele realmente nos comprou com Seu Sangue em relação a um propósito que é infinitamente precioso para Ele, então, se Lhe dermos a chance, Ele levará a bom termo esse propósito, e alcançará Seu fim, aperfeiçoando o que nos diz respeito. Isso equivale ao que o apóstolo diz: “O Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele” [Hb 13:20,21]. Se Ele tiver Sua chance, Ele alcançará Seu propósito final em Sua Igreja.

Ele comprou a Igreja por um alto preço, e não está satisfeito apenas em nos tirar do Egito, do mundo para sermos chamados por Seu nome. Ele Se entregará, até o fim, para a realização daquilo que Ele tem proposto em Seu coração e que O governou no processo de nossa redenção. Nós fomos comprados para Deus. É de enorme ajuda lembrar disso.

À medida que avançamos, temos cada vez mais consciência de nossa total inutilidade e da impossibilidade de termos qualquer valor em nós mesmos. Tornamo-nos cada vez mais conscientes do que está em nossa natureza e nos desesperaremos se nossos olhos repousarem sobre nós mesmos. Nossa libertação, nosso caminho, nossa esperança e nossa certeza estão em Deus.

Nossa esperança está nEle, e nosso fundamento é: Ele nos comprou com Seu próprio sangue, a fim de realizar uma obra sobre a qual Ele estabeleceu Seu próprio coração; e, dada a chance, Deus nunca será derrotado. Ele aperfeiçoará aquilo que Lhe diz respeito.

O livro de Apocalipse tem isso detalhado, e nos mostra o fim alcançado, a Igreja dos primogênitos, a Noiva, a esposa do Cordeiro, tornando-se conforme a imagem do Cordeiro e com Ele em glória. Tudo está feito e vemos o fim proposto por Deus atingido. Ele a comprou com um propósito, e se Lhe dermos uma chance e não nos rebelarmos como Israel, Ele aperfeiçoará Seu propósito em nós: “vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele”.

Uma História Espiritual em Formação

Se O reconhecermos, se nossos olhos estiverem totalmente abertos, deveremos ver, entre outras coisas, que Ele está fazendo isso aprofundando e fortalecendo em nós, no nosso homem interior, uma revolta contra nós mesmos.

Se fôssemos libertados de uma vez por todas deste corpo mortal, desta nossa natureza da criação antiga, e não tivéssemos mais consciência nem problemas com ela, nenhuma tentação em nossa carne, não haveria razão para nossa permanência aqui nesta terra, razão alguma. No momento em que isso ocorrer, devemos ir para a glória.

Por que, então, ainda estamos aqui? Uma das maiores realidades de nossa história espiritual é que, por um lado, estamos cada vez mais conhecendo a profundidade do pecado e da iniquidade da velha criação que nos rodeia. Ainda está conosco. Mas, por outro lado, há em nós um ódio, uma crescente repulsa contra ela, um grito cada vez mais profundo pela libertação e um amor mais profundo por algo diferente dela.

Esse é um dos principais valores de nossa história espiritual! Certamente, acharíamos que seria melhor se pudéssemos ficar livres de tudo isso de uma só vez; porque, se fôssemos perfeitos, todos os nossos desejos teriam sido atingidos. Mas é por meio desse aprofundamento e fortalecimento de uma revolta contra algo e na busca de algo mais, que o Senhor está nos instruindo e trabalhando em nós aquilo que é agradável aos Seus olhos. Ele está edificando o homem interior.

Nunca devemos esperar, enquanto estivermos aqui na terra, que estaremos menos conscientes das profundezas do pecado na velha natureza. A tragédia seria se nos rendêssemos a isso e disséssemos que deveríamos sempre triunfar, e se não reconhecêssemos que existe em nós um Espírito que é da nova criação, que está buscando santidade, e que a força de nosso ódio daquilo que encontramos em nossa carne cresce na mesma medida que obra da graça cresce em nós.

As pessoas que estão mais adiante não são as que têm menos consciência do pecado em si mesmas, em sua velha natureza, mas são aquelas que têm a maior revolta contra si mesmas.

O Coração da mensagem do Apóstolo Paulo

Creio que é isso que estava no coração do apóstolo Paulo, quando, tão tarde em sua vida, escreveu as seguintes palavras aos filipenses, registradas no terceiro capítulo: “ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé… Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição… “. [Fp 3:9,10;12]. Aqui, no final da sua vida, a consciência desse homem é que ainda existe um longo caminho a percorrer. Essa intensidade de continuar com Deus, apesar de tudo isso, é indicativo de progresso espiritual.

Tudo isso reside na capacidade de corar por nossos fracassos, de ter vergonha de nós mesmos, e nessa sensibilidade relacionada à nossa própria fraqueza espiritual e colapso moral. Isso indica crescimento e refinamento espiritual. Deus está cumprindo Seu propósito em nós, e acho que não deveríamos estar errados em dizer, se formos verdadeiramente aqueles que realmente têm seguido com Deus, que longe de sentir que somos mais santos, iremos, em nosso último suspiro, nos sentir a desesperança de nossa velha natureza e busca-Lo ansiosamente como nossa justiça.

Qual é o sentido dessa palavra? Bem, Deus tomou a iniciativa na redenção e tomou a iniciativa com propósito, pagou o maior preço que poderia ser pago para garantir um vaso para Seu propósito.

O grande objetivo de Deus

Então Ele realizará Sua obra e chegará ao fim completo, mas devemos nos lembrar que não é uma questão da vantagem que isso vai trazer para nós. Não se trata de como isso nos afeta. A pergunta que devemos nos fazer é: o que Deus está ganhando por meio da nossa experiência? Este problema, esta provação, esta aflição, esta adversidade, este sofrimento hoje, como devemos encará-lo? Devemos vê-lo como Israel, que contemplava persistentemente suas dificuldades no deserto na ótica do ego? Se o fizermos, tudo será realmente um deserto. Mas se vemos tudo à luz do propósito de Deus e apreendermos esse propósito pela fé, então, do outro lado desta provação, qualquer que ela seja, estaremos vendo que o Senhor estará obtendo mais território em nós. O Senhor ganhará algo.

Quanto mais envelhecermos, mais tempo continuaremos com o Senhor, mais seremos capazes, embora nunca suficientemente capazes, receio, de encarar nossos dias difíceis assim; para não murmurar: “Oh, mais um pouco de sofrimento!”; mas antes, que possamos assumir a posição: “o Senhor tem algo nisso”. Não vamos olhar para as coisas que se vêem. Vamos crer que do outro lado disso tudo estaremos dizendo: “Sim, o Senhor conseguiu algo com isso! Ele nos redimiu para Si mesmo, e está trabalhando o tempo todo para Seus propósitos”.

Acho que esses são os dois lados da história de Israel. Israel nunca conseguiu conquistar a terra até que o Senhor tivesse conseguido o que desejava neles. Josué e Calebe representavam homens nos quais o Senhor havia obtido um lugar completo, e a geração que se seguiu à primeira geração incrédula representou um povo no qual o Senhor havia conseguido o que buscava.

Quando o Senhor obter o que Ele está buscando em nós, poderá nos levar a desfrutar de Sua plenitude. Lembre-se de que nunca entraremos na bênção até que o Senhor tenha entrado em Sua porção. Hoje é o dia em que o Senhor está recebendo algo; e para nós ainda está escuro. Amanhã, quando o Senhor conseguir o que deseja, também obteremos algo e tudo será luz.

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Essas são nossas notas baseadas capítulo 3 do livro The Lamb in The Midst of The Throne, de T. Austin-Sparks, disponível para leitura no site www.austin-sparks.net. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento. 


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.

“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).

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