Ofertas Voluntárias

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Lance Lambert (1931-2015)

“O Senhor é Deus, nos concede luz: atai o sacrifício com cordas – até os chifres do altar” (Salmo 118:27).

“Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder; com santos ornamentos, como o orvalho emergindo da aurora, serão os teus jovens” (Salmo 110:3).

“O sacrifício é nosso serviço consagrado a Deus, e as cordas que nos amarram ao altar são as motivações e impulsos que nos constrangem à uma devoção mais zelosa e plena à Cristo e Sua obra. Deus deseja que nos entreguemos como sacrifícios vivos pelas Suas misericórdias, nos sentindo amarrados por mil cordas ao Seu altar – cordas estas que não cortaríamos, nem mesmo se pudéssemos fazê-lo” (A. B. Simpson, Service for the King).

Percebemos que ocorre uma mudança drástica ao longo do Salmo 110. No versos 1 temos uma referência muito citada no Novo Testamento, com clara referência ao Senhor Jesus. Em uma linguagem muito simples, nos é dito que Ele se assentou à destra de Deus, aguardando que o Pai faça dos inimigos estrado para os Seus pés. É muito claro que Ele venceu! A obra da nossa salvação já foi realizada de forma completa, sem necessidade de nada mais.

“A obra completa do Cordeiro se tornou a base, não apenas para a salvação de todos que depositam nEle sua confiança, mas também para suas próprias vidas cristãs – o serviço, transformação, edificação e consumação da Igreja. Essa obra consumada de Cristo também é a única base sobre a qual o Propósito Eterno de Deus se estabelece.” (LAMBERT, pag 69).

O verso 2 do Salmo 110 é tão claro quanto o primeiro. É uma declaração do Pai de que “enviará de Sião o cetro do seu poder, dizendo: Domina entre os teus inimigos”. Essa é uma referência indiscutível à autoridade soberana e poder que o Pai concedeu ao Filho.

Mas no verso 3, percebemos a entrada em cena de outros personagens: “Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo”.

“Aqui não vemos uma vasta multidão dos redimidos, mas um certo remanescente dentre eles. Essas pessoas são descritas como aqueles que se apresentam voluntariamente”.

Isso tudo acontece no dia do Seu poder. A palavra hebraica “Hayil”, é traduzida por “poder”, “força”, “riqueza” ou “exército”. A ascensão e glorificação do Senhor Jesus foi certamente o Dia do Seu poder, da Sua riqueza e do Seu exército. Marque cuidadosamente isso em sua bíblia em Apocalipse, nos capítulos 4 e 5. Essas são exatamente as palavras usadas pelas incontáveis hostes de anjos, ao louvarem o Cordeiro entronizado: “Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor.” Isso é seguido pelas palavras de todas as criaturas do universo: “Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Ap 5:12, 13). Está razoavelmente claro que existe uma relação viva entre essas primícias, ou remanescente dentre os redimidos, o Messias entronizado e a obra do Pai (LAMBERT, pag. 69).

Seu Povo se Oferece Voluntariamente

“Ao lermos diversas traduções desse Salmo, fica aparente que alguns desses versos apresentaram dificuldades para os tradutores. Eles combateram nas obscuridades do original hebraico, especialmente no verso 3. Temos diversas traduções possíveis para a palavra hebraica “nedabot”. Ela é traduzida no verso por uma variedade de palavras: “voluntários”, “voluntariamente”, “livremente”, “com vontade”.

A versão que provavelmente adotou a melhor tradução é a “New American Standard Bible”: “Seu povo se apresentará voluntariamente no dia do Seu poder”.  A palavra hebraica “nedabot” [traduzido por voluntariamente na versão ARA] é muito interessante, porque é usada ao longo de todo o Antigo Testamento com “oferta voluntária”. Tais ofertas voluntárias são descritas em Êxodo 35 e 1 Crônicas 29. Uma tradução um pouco estranha, mas bastante literal, seria: “Seu povo é uma oferta voluntária no dia do Seu poder”. Percebe que não é dito aqui que “o Seu povo ou faz uma oferta voluntária”, mas “o Seu povo é uma oferta voluntária”. Isso faz uma enorme diferença!

O que são as ofertas voluntárias? A oferta queimada, a oferta pelo pecado, a oferta pela culpa, a oferta pacífica e as muitas outras ofertas são demandas da Lei de Deus, entregue por meio de Moisés. Não podemos nos aproximar de Deus se não as oferecermos. Não estaremos em um relacionamento com Ele. Uma oferta voluntária, entretanto, é algo que você faz de sua própria vontade, acima e além daquilo que lhe é demandado pela Lei.

Se alguém deseja ser salvo, precisa conhecer Cristo como a oferta queimada, a oferta pelo pecado, a oferta pela culpa, a oferta pacífica e a oferta de manjares de Deus.

Pode ser que isso ainda não esteja claro para alguns, mas se reformularmos essa frase, talvez seja mais fácil de compreender:

A única maneira de um ser humano ser salvo é conhecendo Cristo como a única oferta aceitável a Deus, de uma vez por todas. Ele conquistou nossa salvação ao oferecer a Si mesmo na Cruz. No momento em que nos apoiamos no fundamento de Jesus Cristo e Este crucificado, não importa quão pecador e depravado fomos, quão indignos, amarrados a hábitos malignos e caminhos pecaminosos, ainda assim, Deus nos aceitará, porque “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21).

Se continuarmos a conhecer a plenitude da nossa salvação, a plenitude da vida de Cristo, e a plenitude do Seu poder para o serviço, então estaremos fazendo isso tendo como única base a obra concluída de Cristo. Essa é a única necessidade. Mas, se desejamos ver a cidade de Deus edificada como o centro eterno do Seu governo; se desejarmos ser parte da Noiva, a esposa do Cordeiro, precisaremos ser uma oferta voluntária.” (LAMBERT, pag. 71).

Não podemos deixar de lembrar que, seguindo esse mesmo princípio, o tabernáculo, que foi a habitação de Deus no deserto, foi todo edificado com ofertas voluntárias do povo de Deus. Sim, eles nunca teriam se aproximado do Senhor, se não fosse pela Páscoa. Foi o Cordeiro que venceu e os redimiu para Deus pelo Seu sangue, libertando-os de seus pecados. Mas se eles desejassem que Deus habitasse entre eles, os materiais da edificação, tanto do Tabernáculo, como do Templo, deveriam ser ofertas voluntárias.

A Edificação da Casa de Deus por meio de Ofertas Voluntárias

O mesmo princípio está, de forma muito clara, no texto de Êxodo 35, quando percebemos que tudo que foi usado para edificação do tabernáculo foi fruto de ofertas voluntárias. Será uma coincidência que, na construção do Templo por Salomão, quatrocentos anos depois, exatamente a mesma coisa tenha ocorrido? Foi por meio das ofertas voluntárias de Davi, dos seus capitães, líderes e do povo de Deus, que o Templo foi edificado.

“Aqui temos uma das mais preciosas verdades de que o que recebemos gratuitamente de Deus nos é provido por meio da obra concluída do nosso Senhor Jesus Cristo. Mas, o que Ele recebe de nós está na casa de Deus. Ganhamos toda a Sua salvação – essa é a nossa herança. Ele ganha a nós – essa é a Sua herança. Ele ganha a nós como Sua Noiva, Sua Esposa, Sua Sião, a Nova Jerusalém”. (LAMBERT, pag. 72).

As ofertas eram obrigatórias, e somente por meio delas os filhos de Israel podiam se aproximar de Deus, entrar em Sua presença, ouvi-Lo e ser ouvidos por Ele. No entanto, para que a Casa de Deus fosse edificada, se faziam necessárias ofertas voluntárias.

Podemos ser salvos e ainda assim não fazer ofertas voluntárias; não oferecer nenhum brinco, bracelete, nada para a edificação da casa de Deus! Podemos nos apegar a tudo que é nosso, e ainda assim desfrutar da nossa salvação e ter um relacionamento com o Deus vivo, fazendo parte do Seu povo da aliança. Tudo isso sem ter nenhuma participação na edificação da Casa de Deus.

Foram somente as pessoas que tiveram o espírito incomodado para doar ofertas livre e completamente para o Senhor, que edificaram a Casa de Deus. Para nos tornarmos Sua habitação, conhecermos Sua autoridade e vida, e exercitarmos aquela autoridade Divina no Nome do Senhor Jesus, o Messias, precisaremos nos tornar ofertas voluntárias.

Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder”. Isso significa que essas pessoas se entregarão gratuitamente, sem pensar em seu prazer e satisfação pessoais. A partir de tal devoção ao Senhor, do negar a si mesmos e da entrega de seus direitos, a Casa do Senhor será edificada. Tais crentes se tornarão escravos do Senhor Jesus! Existe uma grande diferença entre um servo contratado e um escravo. Um servo contratado tem horas específicas de trabalho, tem um contrato de pagamento, etc. O escravo foi comprado, 24 horas por dia, por todas as semanas e anos!” (LAMBERT, pag. 73).

Na Beleza da Santidade

Essas pessoas marcadas como ofertas voluntárias também são descritas como estando vestidas com “santos ornamentos”. Nunca devemos nos esquecer que quando o Sumo Sacerdote ou os demais sacerdotes se aproximavam da Presença do Senhor, deveriam se vestir de acordo (Êxodo 28). Eles não apareceriam diante do Senhor sem aquelas vestes, nem deveriam decidir como seriam suas roupas. Aquelas eram vestes de justiça, beleza e majestade.

Como o Orvalho Emergindo da Aurora, serão os Teu Jovens

“Também encontramos a mesma dificuldade de tradução na afirmação do verso 3, porque temos diversas traduções. O hebraico é ambíguo e dá margem a isso. O verso pode ser traduzido: “desde o ventre da manhã, tens o orvalho da tua mocidade”. Assim, alguns estudiosos acreditaram que essa seria uma referência ao Senhor Jesus e o Novo Dia que alvoreceu com o Seu nascimento. Na tradução da “New American Standard Bible” está assim: “desde o ventre do amanhecer, a tua juventude é para ti como o orvalho”, é uma outra tradução possível do hebraico, e sustenta o sentido espiritual do Salmo.

Além da referência ao Senhor Jesus, esse verso também pode fazer referência àqueles que são ofertas voluntárias no dia do Seu poder. Esses são aqueles que são nascidos de Deus e são devotados à Ele, que estão preparados para segui-Lo até o fim, e reconheceram e compreenderam o sentido real do nascimento do Senhor Jesus. Eles compreenderam que com o Seu nascimento, uma nova criação veio à luz. Uma nova era, um novo dia, um novo homem alvoreceu em Sua vinda, e isso culminará com a Nova Jerusalém descendo do céu, tendo a glória de Deus, e num novo céu e uma nova terra onde habita justiça.

Tais crentes que, por meio do poder do Espírito Santo e pela graça de Deus, estão preparados para segui-Lo completamente não importando o preço, se tornaram sacrifícios vivos para o Senhor Jesus, tornando-se “um copo de água no deserto” para Ele. Aqueles nascidos do Espírito, por meio da obra do Senhor Jesus, são essa Nova Criação e esse Novo Homem. Eles são permanentemente jovens, através da grandeza do poder da ressurreição de Jesus. Como o orvalho, eles se tornam um renovo para o Senhor Jesus.

O orvalho é um fenômeno extraordinário! Ele é silencioso, porque ninguém o ouve cair! Calmamente vem e refresca o solo cansado, quente e desgastado. Em Israel, olhamos para os carros e parece que choveu, mas não choveu. Não chove por um período de 5 meses na época de seca. É o orvalho! Nos tempos antigos, antes da prática da irrigação, todas as frutas como pêssegos, nectarinas, uvas, tâmaras e romãs amadureciam com o orvalho. Essa é uma figura da obra contínua e calma do Espírito Santo, nos mantendo vivos e frutíferos. Os redimidos, que são ofertas voluntárias do dia do Seu poder, estão experimentando, pelo Espírito de vida em Cristo Jesus, o silencioso e regular refrescar do Senhor.

Por outro lado, eles se tornam um refrigério para o Senhor Jesus. Eles têm um ministério para com Ele que é único. Como nascidos de novo, ouvimos o tempo todo sobre o ministério de Cristo para a Igreja, para os crentes, para o mundo não salvo, mas raramente ouvimos falar de um ministério para o Senhor. Esse é o ministério que significa tudo para o Senhor Jesus” (LAMBERT, pgs. 75,76).

Existiu uma certa mulher que veio até o Senhor com um vaso de alabastro, cheio de um nardo, que era um óleo extremamente caro. Ela quebrou esse vaso sobre a Sua cabeça. As pessoas que tinham boas condições financeiras usavam aquele aroma para ungir seu corpo no leito de morte. Os discípulos se escandalizaram pelo desperdício de dinheiro daquele ato, dizendo que aquilo poderia ter sido dado aos pobres. Jesus, no entanto, disse: “Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou boa ação para comigo… Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir-me para a sepultura” (Mc 14:6, 8). Aquele foi um ministério para com Ele, que nenhum dos discípulos realizou. O ato daquela mulher foi tão significativo para Jesus, que Ele disse: “Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua” (verso 9).

“Esses que são as ofertas voluntárias! Aqueles que amam tanto o Senhor, que ao ministra-Lo, não poupam despesas. O Senhor Jesus disse algo sobre esse ato dessa mulher, que raramente é mencionado ou até mesmo percebido. Ele relacionou isso ao Evangelho, como se tivesse chegado ao cerne da situação. Ela esbanjou nEle o item mais precioso que tinha, porque compreendeu que Ele estava a caminho de Sua morte. O quanto ela viu, não sabemos; mas foi provavelmente muito mais do que acredito ter compreendido. Esse ato de amor sacrificial significou muito para o Senhor Jesus. Aqueles que são ofertas voluntárias para o Senhor são os que compreenderam algo do mais amplo sentido de Sua morte e ressurreição. Para eles, o Evangelho não apenas conduziu à conversão e discipulado; mas os conduziu a serem gastos e esbanjados nEle. Tais discípulos se tornaram como orvalho para Ele!

De fato, é digno de relembrar que o Evangelho de João não é muito bem uma história do Senhor Jesus, mas uma notável interpretação de Sua vida e obra; e aquele Evangelho termina com o Senhor ressurreto perguntando ao líder da Igreja que iria nascer: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros?” (Jo 21:15). Um ministério para o Senhor Jesus é o chamado mais elevado e essencial para um filho de Deus, ou um servo do Senhor. O apascentar dos cordeiros e pastorear ovelhas resulta do amor e ministério a Ele.

Foi por essa razão que o Senhor Jesus estava prestes a remover o candeeiro da Igreja de Éfeso, provavelmente a mais impressionante dentre as sete mencionadas em Apocalipse 2 e 3. Eles eram perseverantes, tinham discernimento, foram bem ensinados, eram pacientes e tinham grande entendimento. Faltava-lhes uma coisa: “Abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas” (Ap 2:4-5).

Nessas ocasiões, quando o Senhor fala aos Seus, nos tornamos conscientes do fato simples de que o ministério para Ele, que flui do amor sacrificial, representa mais do que qualquer coisa que podemos descrever com meras palavras.

Aqueles que Amam o Senhor Jesus

Aqueles que se tornaram ofertas voluntárias no dia do Seu poder não são um povo naturalmente superior. Eles não são uma elite, se considerando com mais autoridade ou poder do que deveriam. Para eles, “o Cordeiro é toda a glória” na terra.

Colocando isso de forma simples, estes são aqueles que estão possuindo e se apropriando daquilo que foi conquistado para eles na “tão grande salvação”. O Cordeiro entronizado é para eles o Alfa e o Ômega na linguagem de Deus. Ele é o primeiro e o último, o início e o fim, o Amém de Deus. Aqueles que são ofertas voluntárias no dia do Seu poder são simplesmente aqueles que amam o Senhor Jesus acima de tudo” (LAMBERT, pgs 76,77).

Notas baseadas no Capítulo 5 do livro “In The Day of Thy Power“, de Lance Lambert.

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