Os Vales em Gênesis 

Print Friendly, PDF & Email

Os Vales em Gênesis é um esboço de um estudo da ocorrência da palavra Vale em Gênesis na busca de compreender a chave de seu sentido original. O que os vales representam dentro da concepção original de Deus? Por que devemos passar por eles?

***

“Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados, o qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial” (Sl 84:5,6).

“Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o mar Salgado)….Após voltar Abrão de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma no vale de Savé, que é o vale do Rei. Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos.” (Gênesis 14:3; 17-23).

“Então, Isaque saiu dali e se acampou no vale de Gerar, onde habitou. E tornou Isaque a abrir os poços que se cavaram nos dias de Abraão, seu pai (porque os filisteus os haviam entulhado depois da morte de Abraão), e lhes deu os mesmos nomes que já seu pai lhes havia posto. Cavaram os servos de Isaque no vale e acharam um poço de água nascente. Mas os pastores de Gerar contenderam com os pastores de Isaque, dizendo: Esta água é nossa. Por isso, chamou o poço de Eseque, porque contenderam com ele” (Gênesis 26:17-20).

“Disse-lhe Israel: Vai, agora, e vê se vão bem teus irmãos e o rebanho; e traze-me notícias. Assim, o enviou do vale de Hebrom, e ele foi a Siquém…Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós (Gênesis 37:14; 45:5).

Em nossas notas, vamos meditar nas três primeiras menções da palavra VALE nas Escrituras e tentar receber luz do que eles representam.

“O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol” (Ec 1:9). 

As três menções são relacionadas à três patriarcas: Abrão, Isaque e José. Os três vales são o Vale de Sidim, o Vale de Gerar e o Vale de Hebrom. O que podemos aprender com a vida desses três homens, que lições estão escondidas na experiência espiritual de cada um deles?

A primeira menção: o VALE DE SIDIM, o VALE DO REI

Leitura: Gênesis 14 (esp. vs 3, 10, 17).

A primeira menção da palavra vale nas Escrituras faz referência à rebelião de 5 reis contra outros 4 que os subjugavam. O rei de Sodoma, cidade onde Ló habitava, estava entre eles. 

Temos a indicação de que esses reis serviram Quedorlaomer por 12 anos, e no 13º se rebelaram. [Essa é a primeira menção do número 13 na Bíblia, trazendo uma conexão entre ele e a rebelião, a apostasia, a corrupção, a desintegração e a revolução – BULLINGER, E. W.].

Aquele vale é o vale do Mar Morto, ou Mar Salgado (que é o ponto mais baixo de terra seca do planeta). Ao longo do registro de Gênesis 14, esse lugar também é denominado de Vale do Rei. 

Sabemos que Ló foi levado cativo nesse combate, e Abrão saiu com 318 homens para buscar seu sobrinho de volta. Depois que Abrão recuperou Ló em segurança, trouxe com ele os demais cativos com o despojo. Ali ele se encontrou com o rei de Sodoma. 

Nesse mesmo local Melquisedeque, o Rei de Paz, ofereceu a Abrão, carne e vinho, o abençoando. Essa também é a primeira menção de Jerusalém (ou Salém).

Podemos tirar muitas lições espirituais de Gênesis, e nesse episódio podemos perceber um paradoxo muito claro. Aquele era um vale de escravidão, vemos o cativeiro do pecado e da carne. A localização também nos ajuda muito, pois tudo ocorreu no ponto mais baixo do nosso planeta refletindo a condição daqueles povos, que haviam decaído profundamente do propósito original de Deus. Apesar daqueles reis terem tentado se libertar da escravidão por si mesmos, aquilo foi absolutamente inútil. Vemos que apesar de Sodoma ter tido sua oportunidade, posteriormente ainda persistiu em sua vida de pecado, trazendo julgamento e destruição a todos que ali viviam, conforme podemos ver no relato de Gênesis 18.

Só que aquele lugar de morte não contaminou o pai da fé. Em um contexto de escravidão do pecado, quem poderia proporcionar libertação, vencer aquele inimigo? Abrão foi a chave. Ele escolheu a vida de altar e tenda, se afastou totalmente daquele estilo de vida e trilhou o caminho determinado por Deus para ele. Para o pai da fé aquele vale de morte, de escravidão tornou-se num vale de comunhão. 

Recebendo luz do apóstolo Paulo

“Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação. Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça. Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte. Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna; porque o salário do pecado é a morte (Gn 18), mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. (Rm 6:17-23)

Descobrimos nessa primeira menção que aquele vale representa o fruto do pecado, reflete a decadência de nossa natureza. Se vivermos pela carne, o resultado será escravidão e dela nunca sairemos por nossas próprias forças. Só a fé no Deus Altíssimo e Sua capacidade de nos salvar pode nos tirar dessa situação. Nesse caso, o vale será uma provação, mas trará a manifestação da VITÓRIA do Senhor, e ali receberemos REVELAÇÃO e COMUNHÃO diretamente com o Pai. Mas a separação é fundamental para permanecer nessa posição de vitória, o que Abrão fez questão de fazer, e Ló negligenciou. 

O aspecto duplo

Temos duas perspectivas, duas experiências e dois resultados.

O Vale de Sidim, ou vale do Mar Morto representa morte para aqueles que estão mortos, e vida para aqueles que estão VIVOS EM CRISTO. Cristo venceu a morte, e pela fé também a venceremos. 

Abraão, o Pai da fé, desfrutou de comunhão com Deus e vitória ali, bem no meio do vale da morte. Essa também é a nossa experiência espiritual. Precisamos aprender que o Senhor é o ponto fundamental, e que nEle poderemos ser conduzidos em triunfo. Ele nos proporcionou liberdade da escravidão do pecado (Jo 8).

“Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2Co 2:14-16).

A Segunda menção: o VALE DE GERAR

Leitura: Gênesis 26.

“Sobrevindo fome à terra, além da primeira havida nos dias de Abraão, foi Isaque a Gerar, avistar-se com Abimeleque, rei dos filisteus. Apareceu-lhe o SENHOR e disse: Não desças ao Egito. Fica na terra que eu te disser; habita nela, e serei contigo e te abençoarei; porque a ti e a tua descendência darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a Abraão, teu pai… Isaque, pois, ficou em Gerar…. Semeou Isaque naquela terra e, no mesmo ano, recolheu cento por um, porque o SENHOR o abençoava. Enriqueceu-se o homem, prosperou, ficou riquíssimo; possuía ovelhas e bois e grande número de servos, de maneira que os filisteus lhe tinham inveja. E, por isso, lhe entulharam todos os poços que os servos de seu pai haviam cavado, nos dias de Abraão, enchendo-os de terra. Disse Abimeleque a Isaque: Aparta-te de nós, porque já és muito mais poderoso do que nós.

Então, Isaque saiu dali e se acampou no VALE DE GERAR, onde habitou. E tornou Isaque a abrir os poços que se cavaram nos dias de Abraão, seu pai (porque os filisteus os haviam entulhado depois da morte de Abraão), e lhes deu os mesmos nomes que já seu pai lhes havia posto. Cavaram os servos de Isaque no vale e acharam um poço de água nascente. Mas os pastores de Gerar contenderam com os pastores de Isaque, dizendo: Esta água é nossa. Por isso, chamou o poço de Eseque, porque contenderam com ele. Então, cavaram outro poço e também por causa desse contenderam. Por isso, recebeu o nome de Sitna. Partindo dali, cavou ainda outro poço; e, como por esse não contenderam, chamou-lhe Reobote e disse: Porque agora nos deu lugar o SENHOR, e prosperaremos na terra. Dali subiu para Berseba. Na mesma noite, lhe apareceu o SENHOR e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai. Não temas, porque eu sou contigo; abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência por amor de Abraão, meu servo. Então, levantou ali um altar e, tendo invocado o nome do SENHOR, armou a sua tenda; e os servos de Isaque abriram ali um poço… Ao poço, chamou-lhe Seba; por isso, Berseba é o nome daquela cidade até ao dia de hoje.” (Gênesis 26:1-3; 6; 12-25;33).

Isaque e o Caminho de Volta para Berseba

A segunda menção da palavra Vale se relaciona à Isaque. Quando ocorreu fome na terra de Canaã, ele viveu temporariamente entre os filisteus em Gerar. Esse foi um período probatório, e Isaque precisou trilhar um caminho de volta para BERSEBA. 

No período de sua permanência entre os filisteus, Isaque aprendeu uma valiosa lição espiritual.

Abraão renunciou ao mundo na primeira menção, Isaque renunciou à religião na segunda.

Isaque e os filisteus* 

“Sobrevindo fome à terra, além da primeira havida nos dias de Abraão, foi Isaque a Gerar, avistar-se com Abimeleque, rei dos filisteus. Apareceu-lhe o SENHOR e disse: Não desças ao Egito. Fica na terra que eu te disser; habita nela, e serei contigo e te abençoarei; porque a ti e a tua descendência darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a Abraão, teu pai” (Gn 26:1,2).

Nesse capítulo encontramos Isaque habitando em Gerar. Inicialmente, Isaque vivia em Beer-la-Roi – o poço do Deus vivo que Se revela, desfrutando do frescor da vida espiritual que vem pelo desfrute dos benefícios da revelação de Deus. 

Isaque, habitando ali perto daquele maravilhoso poço é uma representação do lugar normal de habitação dos santos. Mas esse capítulo traz à luz outro momento da vida de Isaque, quando ele viveu entre os Filisteus.

Deus o advertiu a não ir ao Egito, e o encorajou a permanecer em Canaã, reforçando Suas promessas. Infelizmente, Isaque não manteve seu testemunho firme entre os filisteus, repetindo o mesmo erro de seu pai com Sara, dizendo que Rebeca era sua irmã (vs 7-9). Finalmente, Deus permitiu que os filisteus percebessem que Deus estava com ele.

Os filisteus tipificam as pessoas que ocupam posições espirituais sem a correspondente experiência de fé. Seriam cristãos nominais, que nunca receberam o chamado Divino (o Deus da glória nunca lhes apareceu) e eles não viviam na tenda, nem possuíam o altar. Assim, essas pessoas não tinham um elo com o testemunho de Deus.

[Eles são denominados incircuncisos (1Sm 14:6; 17:36; 31:4) na Palavra de Deus. A circuncisão é um tipo claro da CRUZ (Cl 2:11), então aquele povo pode ser uma referência à essa religião onde o Velho Homem tem preeminência, quando a carne não é submetida à cruz].

Esse capítulo evidencia o exercício de um santo em meio a essas pessoas, que é infelizmente algo muito comum no meio cristão. As escrituras dizem em 2 Timóteo 3:5 que devemos nos afastar dessas pessoas, e veremos que foi exatamente isso que aconteceu com Isaque. Se não nos posicionarmos adequadamente com a profissão cristã ao nosso redor, como iremos desfrutar da porção indicada por Deus a nós?

Vemos que Deus ter lhe reforçado as promessas foi um supremo encorajamento ante a prova que Isaque estava prestes a enfrentar. Ele disse, “serei contigo” (vs 3). Isso deveria encorajá-lo, levando-o a não temer os filisteus.

Por que Isaque temia os filisteus?

Isso aconteceu no momento em que Isaque começou a pensar em como as coisas lhe afetariam, pensando de forma egocêntrica. Ali ele deu lugar ao medo, sem base nenhuma para isso. Criamos muitos medos em relação a nós mesmos que são desnecessários. Davi disse que Jeová o livrou de muitas tribulações; mas disse também que Jeová o “livrou de todos os seus temores” (Sl 34:4,6). Temores frequentemente tiram de nós o santo privilégio de experimentar a presença de Deus conosco.

No final do capítulo, os filisteus constatam: “Vimos claramente que o SENHOR é contigo” (vs 28). Isso não foi ouvido quando Isaque mentiu a respeito de seu relacionamento com Rebeca.

Nossas fraquezas nos levam a perder nossos poços, que são as nossas fontes de renovo espiritual. Se não formos fiéis ao testemunho, seremos grandes perdedores: não somente do testemunho, mas dos poços também.

O caminho de volta para casa

Mas esse capítulo leva o santo de volta para sua posição celestial: Isaque retorna à Berseba. Ali ele tem seu altar e sua tenda, e vemos também seu poço que representa os benefícios do Espírito.

Precisamos aprender a escapar da influência dos filisteus. Quando tememos ser desprezados, temos vergonha de nosso testemunho, perdendo assim nossa posição. Essas pessoas se tornam fontes de influência moral, e alguns cristãos podem acabar por ficar envergonhados do seu testemunho por causa deles, perdendo fontes de renovo espiritual. 

O objetivo dos filisteus é sempre tomar os nossos poços.

No verso 21 os filisteus tomaram um poço de Isaque violentamente. Penso que essa é uma recusa de permitir que os santos se reúnam com liberdade.

O cavar dos poços no tempo de Abraão corresponde à fé e amor nos primeiros dias da Igreja, deixando fontes de frescor Divino, como aquelas que os apóstolos e muitos outros cavaram para nós. Mas o entulhar desses poços começou muito cedo na história da igreja.

Depois que Isaque acertou sua situação com Rebeca, vemos a mão Divina novamente reavivando sua vida. Vemos Deus o abençoando a 100 por cento. A bênção era manifesta, e isso provocou inveja dos filisteus, que começaram a entulhar seus poços. 

Os filisteus sempre tentarão tomar o poço de renovo espiritual que foi cavado na energia da fé. A bênção de 100 por cento foi da parte de Deus, mas isso deu a Isaque a energia para reabrir os poços entulhados. 

O cavar dos poços é o avivamento da parte dos santos, como resultado de um despertar e como fruto do alimento estar disponível.

Isaque sabia que Abraão tinha cavado os poços, mas ele precisava reabri-los. Isso demandou um profundo exercício espiritual, discernimento dos elementos que o obstruíam, e o desejo de ficar livre deles. Isso traz frescor para a alma. Cavar implica em diligência por parte da alma, e reconhecimento do que aconteceu no passado.

O ministério nos fala do que existe, como um poste indicativo, mas você precisa seguir cada passo do caminho por você mesmo. Precisa haver movimento e exercício espiritual.

Abraão representa o exercício da fé no início, e Isaque no fim. 

Isaque aprende que em Gerar tudo era fonte de contenda. 

Se você deseja frescor espiritual, precisa sair de Gerar, porque cada poço será ocasião de uma guerra. Quando ele chegou em Berseba o Senhor lhe apareceu (vs 23,24), garantindo a Isaque aquele poço. Isaque no final do capítulo poderia ser comparado ao avivamento da Igreja de Filadélfia. Ele foi reavivado, recebendo o frescor do Espírito.

Qual seria a próxima lição contida na terceira menção?

A Terceira Menção: o VALE DE HEBROM e o Caminho do Trono e da Soberania de Deus

Leitura: Gênesis 37 – 50.

“Disse-lhe Israel: Vai, agora, e vê se vão bem teus irmãos e o rebanho; e traze-me notícias. Assim, o enviou do vale de Hebrom, e ele foi a Siquém. E um homem encontrou a José, que andava errante pelo campo, e lhe perguntou: Que procuras? Respondeu: Procuro meus irmãos; dize-me: Onde apascentam eles o rebanho? Disse-lhe o homem: Foram-se daqui, pois ouvi-os dizer: Vamos a Dotã. Então, seguiu José atrás dos irmãos e os achou em Dotã (dois poços). De longe o viram e, antes que chegasse, conspiraram contra ele para o matar.” (Gênesis 37:14-18)

“Logo que chegou José a seus irmãos, despiram-no da túnica, a túnica talar de mangas compridas que trazia. E, tomando-o, o lançaram na cisterna, vazia, sem água…Então, disse Judá a seus irmãos: De que nos aproveita matar o nosso irmão e esconder-lhe o sangue? Vinde, vendamo-lo aos ismaelitas; não ponhamos sobre ele a mão, pois é nosso irmão e nossa carne. Seus irmãos concordaram. E, passando os mercadores midianitas, os irmãos de José o alçaram, e o tiraram da cisterna, e o venderam por vinte siclos de prata aos ismaelitas; estes levaram José ao Egito” (vs 23,24; 26-28).

“Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós… Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus, que me pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito” (Gn 45:5-8).

“Respondeu-lhes José: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida” (Gn 50:19,20).

Hebrom é uma cidade na região montanhosa de Judá. Ali Abraão enterrou Sara, e depois ele e os outros patriarcas também foram enterrados. Curioso que a Palavra mencione que José foi buscar seus irmãos no “vale de Hebrom”.

Pelo próprio relato bíblico, o foco a partir de Gênesis 37 passa a ser a história de José, e nos é indicado como o Senhor trabalhou no seu servo para cumprir tudo aquilo que estava disposto a seu respeito. 

Impressionante que ao ter sido enviado do vale de Hebrom para buscar notícia dos seus irmãos, José tenha enfrentado o ódio feroz deles, ao ponto de conspirarem para lhe tirar a vida. Seus irmãos tiraram suas vestes de honra, o jogaram em uma cisterna, vendendo-o como escravo… e a partir daí vemos uma longa história de aprisionamento, limitação, espera, e ao mesmo tempo, prosperidade, uma manifestação do selo do Altíssimo onde quer que ele estivesse: Deus era com José.

Como isso é possível? O vale de Hebrom ter sido o ponto de partida por nos indicar algo da vida interior de José. Hebrom fala de comunhão, e essa comunhão entre José e o Senhor sustentou e nutriu a vida interior dele em meio ao ódio, prisão, esquecimento que sucederiam nos próximos episódios de sua história espiritual. José não abriu mão de sua fidelidade ao Seu Deus. 

Como podemos saber disso? “O Senhor era com Jose” (39:2), “o Senhor abençoou a casa do egípcio por amor de José” (39:5), “como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus? (39:9 – em relação a esposa de Potifar); “O Senhor, porém, era com José” (39:21); “porquanto o Senhor era com ele” (39:23); “porventura, não pertencem a Deus as interpretações?” (40:8); “não está isso em mim; mas Deus dará resposta favorável a Faraó” (41:16); “Deus manifestou a Faraó o que Ele há de fazer” (vs 28).

Se observarmos as entrelinhas do relato do tempo em que José viveu no Egito, veremos que ele estava sempre diante de Deus. Ele O temia, buscava dEle respostas, tentava ser-Lhe agradável. Deus, por outro lado, estava trabalhando em direção ao Seu propósito.

Daquele vale de Hebrom, José foi levado ao Egito, para longe de todos que amava, foi tornado escravo, mas assim como aconteceu com a escrava de Naamã (2Rs 5:1,2). Tudo aquilo tinha um papel importante dentro dos planos de Deus. Aquele vale se tornou em um manancial de vida não somente para ele, mas para toda a humanidade (Sl 84:5-7).

José terminou todo o seu processo de cruz bendizendo, abençoando, perdoando os que o perseguiram. José compreendeu o processo de Deus! Essa revelação só foi possível devido à atitude de seu coração, que permitiu a comunhão contínua entre ele e Deus ao longo do seu processo de cruz. Enquanto no Egito, ele dependeu do Senhor, continuou O amando, esperando nEle. No tempo propício, o Senhor mudou sua sorte, mas seu coração sempre esteve em Suas mãos.

O vale de Hebrom é o vale da riqueza. Seguindo os passos de José aprenderemos que além de sermos libertos do pecado, da religião, também precisaremos do caminho da Cruz para sentar no trono, para gerar vida e alimento para o mundo que perece. Isso só será possível se mantivermos HEBROM em nosso coração. José nunca saiu de lá.

Que possamos ver os tratos de Deus conosco assim, sem nos complicar com as circunstâncias e pessoas que são usadas para nos levar à essa intimidade com Ele. Que a prisão do rei se torne num palácio, um recanto de comunhão. Que possamos desfrutar do vale de Hebrom, o vale da comunhão, porque a fé crê na palavra, independente de ver.

José morreu crendo, e seus ossos aguardam a ressurreição em Canaã, declarando sua fé. Mesmo morto, José ainda fala.

Que essa trajetória de três patriarcas possa nos animar, sabendo que deixando o mundo e a religião encontraremos a plena comunhão com o Pai, e que essa comunhão profunda nos levará à comunhão dos Seus sofrimentos, para que no momento certo, possamos ter a RESPOSTA, ALIMENTO para um mundo que perece: “Ide a José…” (Gn 41:55). 

* Notes on Genesis, C. A. Coates.

Post anterior
A importância da primeira menção
Próximo post
Vivendo no Espírito

2 Comentários. Deixe novo

  • aparecida Lucélia nato magalhaes
    10 de março de 2024 13:41

    só um lembrete, os irmãos de José não estava no vale de Hebrom e sim José foi mandado por Jacó do vale de Hebrom ate onde os seus irmãos estava que estava em dotam, vale do Hebrom estáva Jacó que foi onde ele recebeu a triste notícia da suposta morte de seu filho, que vale de dor.

    Responder
    • Muito obrigada pela ajuda! Já fiz a correção no post e até achei que fez mais sentido. O que vc acha? Deus abençoe vc, minha irmã!

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.