T. Austin-Sparks (1888-1971)
“Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso” (João 12:31).
“Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim” (João 14:30).
“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder… porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6:10,12).
“Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos. Então, ouvi grande voz do céu, proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus” (Apocalipse 12:7-12).
Duas Criações sob Autoridades Rivais
As Escrituras que acabamos de ler abrangem esse assunto da espiritualidade. Primeiramente, existem duas criações ativas, uma velha e uma nova, que representam dois tipos de homem. No Novo Testamento elas são chamadas de homem natural (ou almático) e homem do espírito (ou espiritual). “O homem da alma” – é o sentido literal da frase traduzida como “o homem natural” em 1 Coríntios 2:14 – “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus”.
O que está em vista é a imagem após a qual o ser é constituído. Sabemos o significado da palavra “ícone” (no grego eikon). Um ícone é uma imagem, uma semelhança, uma figura. No Novo Testamento existem três termos gregos derivados da palavra eikon ou da variação ikos, que implica em “levar a semelhança de”:
- A palavra psukikos, que significa semelhante à alma, segundo a sua imagem. É a isso que o texto de 1 Coríntios 2 se refere: “Ora, o homem-da-alma, ou o homem que é constituído segundo a alma, não aceita as coisas do Espírito de Deus”. Em 1 Coríntios 15:45 há uma referência a esse homem: “O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente”, o homem psukikos.
- A palavra é sarkikos (sarx significa carne). Esse é o homem que é constituído inteiramente sobre o principio da carne.
- A outra palavra, que também é frequentemente usada, é pneumatikos. Este é o homem cuja imagem é do espírito – o homem espiritual. As passagens da Bíblia que utilizam esse termo, referem-se à esse homem como “o que é espiritual”; “o último Adão, porém, é espírito vivificante”.
Há então uma ordem: psukikos (da alma) e pneumatikos (do espírito). Estas são as características ou naturezas das duas criações – da velha criação e da nova criação em Cristo Jesus. Estamos dizendo, então, que existem duas criações representando duas ordens de homem, que estão muito ativas. Sabemos muito bem que isso é verdade. Existe em nós uma ordem ativa da velha criação ou vida da alma e existe um outro Homem ativo também, se formos nascido de novo, e os dois não convivem bem juntos. Isso é a raiz e a causa de todos os nossos problemas.
Também devemos nos lembrar que existem dois senhores sobre essas duas criações. De um lado está aquele sobre quem já lemos, o príncipe deste mundo, das trevas, com suas hostes, legiões de espíritos malignos – Satanás, o dragão, o diabo e seus anjos que atuam sobre a velha criação, governando-a. Por outro lado, temos o Senhor Jesus, que é Senhor da nova criação.
Duas Esferas em Conflito
Em terceiro lugar, embora possamos nem sempre perceber isso dentro de nós, existe de fato, a partir do ponto de vista de Deus e de Seus propósitos, uma absoluta divisão entre estas duas criações. Elas são separadas por nada menos do que a Cruz de Cristo, que é imensa. A Cruz estabelece as coisas em duas esferas inteiramente segregadas. Deixar isso claro era o objetivo do apóstolo Paulo ao escrever aos coríntios. No começo da sua primeira carta, ele disse: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (2:1-2). Seu objetivo nessa deliberada proposição foi dividir os dois mundos em Corinto. Ali esses mundos estavam muito próximos e interferiam um com o outro. Tudo estava subvertido por causa disso – a esfera do natural (veja o quanto Paulo fala sobre isso) e a esfera do espiritual. Nunca chegaremos a lugar algum até que esta confusão tenha sido resolvida. Assim, ele disse com efeito, que havia se determinado colocar a Cruz ali entre os dois mundos, os dividiu por completo. A Cruz estabelece a grande divisão entre estas duas criações e naturezas: a alma e espírito.
Outro ponto é que o meio usado pelo príncipe deste mundo na velha criação é a alma do homem. Essa é a sua linha de ação, sua base de operação. Por outro lado, o meio, a base, o instrumento usado pelo Senhor Jesus na nova criação é o espírito do homem renovado pelo novo nascimento, vivificado e unido ao Senhor em um espírito, como habitação do Espírito Santo. O espírito do Homem é o vaso onde Ele estabelece Suas atividades. Assim, descobrimos que existe um conflito contínuo entre alma e espírito no indivíduo.
Satanás Sempre Opera Através da Alma
Todas as atividades satânicas são segundo a alma. Essa é a chave para abrir e entender muitas coisas na esfera espiritual. As atividades de Satanás são todas de acordo com a alma. Foi assim desde o princípio. Sabemos o que é a alma – mente, coração, vontade: razão, emoção e volição. Satanás veio argumentando e assim alcançou a mente do homem. Ele apelou para o coração do homem e assim o seduziu, o conduziu e forçou sua vontade. Assim, ele tomou a criação movida pela alma em suas mãos, e desde então, todas as suas atividades têm sido dirigidas por ela.
Ele é um espírito maligno, mas opera por meio da alma. Este mundo inteiro é dirigido por Satanás na base psicológica. Nos anos recentes, temos assistido a maior exibição jamais dada desse fato neste mundo. Mais do que qualquer outra coisa, tudo tem sido travado no combate psicológico. Podemos chamar de “guerra dos nervos”. Que seria isso, senão uma guerra psicológica? Mas, além das guerras, este mundo é dirigido sobre essa base psicológica. Todo o comercial é psicológico; é aí que existem todos os segredos para bons negócios. Nunca teremos nenhum sucesso em negócios se não soubermos o momento e o método psicológico correto a adotar. Todos os segredos do bom método de ensino estão ali – em sua perspicácia para saber usar a psicologia da criança. O mundo todo se encontra nesse nível.
Será que temos notado que as atividades do diabo são sempre assim – de alguma maneira provocando a alma? Quando há algum interesse do Senhor em vista – uma conferência chegando ou algo que envolve valores espirituais – podemos notar que um pouco antes dela, com frequência, surge aquele impulso na alma para nos provocar, trazendo mal humor ou qualquer coisa que deixe a alma agitada. Quando isso acontece, somos tirados de nossa posição, e então precisaremos nos tranquilizar com o Senhor e deixar aquele fervilhar interior se acalmar. É extraordinário como isso acontece; surgindo do nada; muitas vezes sem a menor explicação.
Assumimos provocações que não existem, interpretamos olhares e palavras de uma forma nunca pretendida, percebemos fantasmas ao nosso redor o tempo todo mexendo com nossa alma. Muito frequentemente, as coisas não se originam em nada que possamos identificar diretamente – não é ninguém em específico, nada foi dito – mas de algum modo, nossa alma está sendo estimulada e estamos sendo tirados da nossa posição espiritual. O fervilhar da alma, como um fermento, transborda nosso espirito e destrói nosso equilíbrio, força e firmeza.
Às vezes, o método usado pelo inimigo é a tentativa de nos deprimir. Nos sentimos terrivelmente depressivos. Não podemos explicar, mas algo acontece na atmosfera ao nosso redor e sobre nós, deprimindo nosso espirito. Sim, já passamos por isso. Davi conhecia isso muito bem, ao dizer: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei” (Sl 42:5). Às vezes, precisamos falar com a nossa alma dessa maneira. Conhecemos a depressão da alma, que vem para minar nossas forças, extrair e esgotar nossa vitalidade espiritual.
Em outras ocasiões, o método do inimigo é trazer a alma à escuridão. Que ataques violentos nessa linha o diabo fez sobre Martinho Lutero, trazendo-o às trevas da acusação e condenação, onde sua convicção de justificação e salvação era minada e enfraquecida! Muitos do povo do Senhor conhecem bastante acerca disso, da escuridão, do obscurecimento, quando parece que a alma está num calabouço escuro.
Outro meio de ataque do diabo, que tem muito sucesso, é o inflar da alma! Nabucodonosor foi a própria personificação desse princípio como um todo, na vida da alma. “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para glória da minha majestade?” (Dn 4:30). Esse é o espírito do Anticristo inflando a alma. A palavra do Senhor é: “se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada (realmente não é nada sob a perspectiva de Deus) a si mesmo se engana” (Gl 6:3). Quantas pessoas são enganadas ao se considerarem importantes! Sabemos como este mundo atua neste quesito. Mas a maior tragédia é que o próprio campo das coisas de Deus, a Sua obra, tem se tornado playground para esse tipo de coisa – pessoas se exibindo em suas vanglórias e trazendo a si mesmas à proeminência – tudo em uma expressão de uma vida da alma inflada. Não encontramos absolutamente nada disso no Senhor Jesus quando esteve aqui, mas exatamente o oposto – “Sou manso e humilde de coração” (Mt 11:29). “Porquanto derramou a sua alma na morte” (Is 53:12).
Bem, existem muitas outras maneiras pelas quais o inimigo opera na alma do homem. Às vezes, ele procura assustar! Quantas vezes ele tenta nos deixar assustados, como fez nos dias de Neemias, ou como nos dias de Ezequias, quando Senaqueribe chegou e começou sua manifestação ao redor de Jerusalém.
A Resposta a Satanás Através do Espírito
Por outro lado, todas as atividades de Cristo são segundo o espírito, como podemos ver pela ampla gama de passagens bíblicas: ser “nascido do Espírito” (Jo 3:8), “vos renoveis no espírito…” (Ef 4:23), ser “fortalecidos com poder, mediante o Seu Espírito no homem interior” (Ef 3:16), e tocando o assunto do entendimento espiritual, ter “iluminados os olhos do teu coração” (Ef 1:18). Assim, observando as escrituras, elas recaem sobre esta atividade de Cristo segundo o espírito. Este espírito vivificado, renovado, energizado e residente está em oposição à nossa alma e o seu mundo.
Quando falamos de batalha espiritual, não vamos pensar em termos abstratos. “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro”. O que isso significa para você? Que eles eram pessoas que tinham uma fraseologia de impacto acerca do sangue e começaram a proferi-la para o diabo? Bem, fraseologia, ainda que seja acerca do Sangue, não tem efeito algum contra ele.
“Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro”. A quem eles venceram? Ao acusador dos irmãos, que os acusava dia e noite. Como você vence um acusador? Somente tendo um argumento melhor do que o dele diante do juiz. O Sangue do Cordeiro representa isso de uma forma poderosa! Nossa posição legal, devido ao Sangue do Cordeiro, coloca o inimigo para fora do tribunal, se apenas a nossa fé se apegar a isso.
Não devemos pensar em termos geográficos, como se satanás estivesse sendo expulso de algum lugar elevado e caindo para a terra. Essa é uma batalha espiritual. Temos que ter este sentido e ideia espiritual das coisas. Nossa mentalidade almática está sempre imaginando lugares, posições, espaços, mas temos que entender que isto é um assunto espiritual, e que satanás pode, com efeito, ser expulso das mais elevadas alturas até as mais baixas profundidades, sem que nenhum fator geográfico esteja envolvido.
Podemos ter uma pessoa fazendo uma acusação contra nós na nossa porta, pensando ter em mãos um caso muito sólido. Mas temos uma resposta que refuta aquela acusação, rasgando-a em pedaços, e aquele acusador cai diante de nós em total colapso. Ele vem de uma tremenda altura da alma para uma profundidade muito grande. Isso não é algo geográfico, mas espiritual. Essa é uma batalha espiritual, não geográfica. “Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne” (Ef 6:12), não está de forma nenhuma na esfera do físico e geográfico. É espiritual – e podemos chamar de moral se quisermos – e o Sangue representa o argumento legal. Satanás pode ser expulso do céu inúmeras vezes em um só dia. Não podemos fazer isso literalmente: isso só pode ser entendido espiritualmente. Um milhão de pessoas sobre esta terra podem expulsá-lo dali em um dia, em momentos diferentes. Assim que eles se posicionarem pela fé sobre a questão que o Sangue provê, terão uma resposta poderosa e triunfante. É assim que funciona essa batalha espiritual. Cristo opera segundo o espírito. A alma não pode expulsar a alma, nem expulsar o diabo, porque o diabo já a tem em suas mãos. Satanás obteve uma base em nossas almas, mas não tem lugar em nosso espírito renovado e nascido de novo. O espírito maligno por trás de tudo só pode ser vencido pelo espírito fortalecido com poder pelo Espírito de Deus, e isso ocorre por uma sujeição da alma ao espírito.
A Sujeição da Alma ao Espírito
Temos um outro importante aspecto. O Senhor falou figuradamente quando disse que nós devemos tomar nossa cruz, negar a nós mesmos; e depois, Ele prosseguiu com uma explicação um pouco mais completa quando disse: “quem quiser salvar sua alma” – essa é a palavra usada ali – “perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará” (Lucas 9:24).
Toda a vida da alma, a vida natural, deve ser trazida em sujeição ao nosso espirito renovado, antes que o inimigo possa ser expulso. Se somos influenciados por interesses pessoais ou da alma, não teremos poder contra o diabo; ele terá uma base. O inimigo poderá ser derrotado somente quando nossos arrazoamentos, desejos, sentimentos e vontades forem trazidos em sujeição ao Espírito de Cristo em nosso espírito, por nossa determinada e deliberada escolha. O inimigo pode fazer um estrago numa vida vivida no nível da alma, assim como ele fez em Corinto, ainda que essa seja a vida de um crente.
A medida da influência que a nossa vida natural tem sobre nós será o grau em que seremos fracos diante do inimigo, e, permita-me reiterar, é nessa esfera que as coisas realmente importam. A questão real da vida está na esfera espiritual. Nossa responsabilidade, nosso mérito e nosso valor são medidos pelo grau que contamos ali. Não importa o que somos aqui neste mundo natural. Podemos ser pessoas importantes aqui naturalmente, mas depois desses anos passageiros, será Sic transit gloria mundi – assim passa a glória do mundo. É o quanto contamos nas coisas espirituais que traduz nosso real valor.
Ascendência Espiritual demanda Fé
As coisas que se veem, que acontecem ao nosso redor, não estão sozinhas, mas estão atreladas à fatores espirituais por detrás delas. Os jovens devem tentar apreender isto. Peçam ao Senhor para ajudá-los a receber isto realmente no coração, não como parte de uma informação ou educação religiosa, mas como um principio que realmente opera em suas vidas.
As suas situações difíceis, adiamentos e frustrações não são fatos isolados. Se somos filhos de Deus, existe um fator e inteligência espiritual por trás de tudo que nos acontece, e nunca conseguiremos seguir adiante, até que possamos conseguir ver e lidar com o fator espiritual por trás das coisas. Até que você saiba como lidar com o inimigo, as coisas não serão resolvidas. A resposta do Senhor a estes desafios pode não ser sempre da mesma maneira, mas sempre será baseada em um certo principio.
Paulo disse: “Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho” (Fp 1:12). Essa é a maneira que o Senhor responde ao inimigo – soberanamente Ele usa a obra do diabo para Sua própria glória, e cumpre exatamente aquilo que o diabo pretendia evitar.
A resposta do Senhor não é sempre expulsar o diabo de forma direta, nem é uma repreensão direta que anula a obra do inimigo ou que impede sua operação. O Senhor frequentemente permite que ele opere, mas responde a ele de muitas formas, e a questão, o argumento final, é com o Senhor, não com o diabo.
O Senhor opera sempre por um princípio, e este princípio é a nossa fé. Paulo enfrentou a situação; viu e sentiu as coisas que estavam acontecendo. Você acha que em seu coração Paulo se rendeu a Satanás e disse: ‘o diabo tem as coisas em suas mãos, é inútil tentar fazer alguma coisa?’ Nem um pouco! A atitude de Paulo foi: ‘o diabo vê que estamos tendo sucesso e está trabalhando; está aparentemente fazendo muito mal, mas o desenlace disto ficará com o Senhor, não com o diabo’.
Dessa forma, por causa de uma atitude como essa, o Senhor estava constantemente, de diferentes formas, respondendo ao diabo e tomando o assunto de Paulo em Suas próprias mãos. Mas o instrumento do Senhor para derrotar e derrubar o diabo foi o espírito do servo de Deus permanecendo fortemente firme – e podemos nos maravilhar de quão forte o espírito de Paulo permaneceu. Ainda que o diabo parecia muitas vezes conseguir as coisas de seu jeito, no final, o Senhor sempre triunfou.
Ascendência Espiritual Através da Disciplina
Temos sentimentos de dor sobre a perda de impacto do Evangelho, da Igreja e da vida cristã em geral; mas onde esse impacto tem início? Ele não se inicia realmente sobre homens, nem sobre coisas, nem sobre o mundo. Tudo começa sobre as forças espirituais que estão por trás, e se você não tiver força espiritual, todas as suas ofensivas e empreendimentos serão em vão. Você está na obra do Senhor? A menos que possa tocar os fatores e forças espirituais que estão por trás das pessoas e coisas, não permanecerá firme por muito tempo. Não irá, no longo prazo, ter muito que mostrar de todas as tuas labutas. Você está tratando, em última instancia, com coisas espirituais.
Se você está se envolvendo na a obra do Senhor, lembre-se de que não consegue este equipamento por mero estudo bíblico ou por qualquer tipo de treinamento da alma. Somente poderá conseguir isto ao longo da linha da disciplina da alma e fortalecimento do espírito, e é por isso que deve haver um elemento predominante de vida prática, em todo treinamento para a obra do Senhor. Todos devemos, por exemplo, aprender a viver triunfantes no espírito com pessoas difíceis. Nunca iremos enfrentar o poder do inimigo por trás deste mundo, a não ser que tenhamos aprendido como enfrentá-lo no nosso próprio espírito e sob disciplina. Por isso o Senhor nos faz passar por situações severas, antes que Ele realmente confie em nossas mãos uma responsabilidade espiritual.
Deixe-me clarificar que a alma não deve ser aniquilada. Não estamos errados em ter almas; nossas almas devem ser conquistadas, dominadas e trazidas ao controle do espírito, de modo que o elemento do ego seja eliminado e a alma sirva ao espírito e ao Senhor, não a nós mesmos.
Perceba a natureza dessa batalha espiritual e veja a esfera na qual as coisas são mais importantes. Que o Senhor possa usar esta meditação para assegurar para Si o instrumento que Ele precisa para expulsar o príncipe deste mundo, estabelecer e estender Seu verdadeiro reino espiritual.
Tradução do capítulo 2 do livro “He That is Spiritual”, de T. Austin-Sparks, publicado no site www.austin-sparks.net.
T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.
“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).