Essas são nossas notas baseadas nos capítulos 1 e 2 do livro “Horizoned by Christ”, de T. Austin-Sparks, disponível para leitura no site www.austin-sparks.net. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento. Recomendamos fortemente àqueles que leem em inglês e se sentirem movidos pelo Espírito Santo a irem direto à fonte, pois certamente receberão ainda mais edificação ali.
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“E nos mandou pregar ao povo e testificar que Ele é Quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos” (Atos 10:42).
“Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um Varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-O dentre os mortos” (Atos 17:31).
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Cristo, o Horizonte de Deus
No Livro de Atos há uma palavra que não foi traduzida literalmente na versão por nós utilizada, ficando oculta ali. Essa palavra foi repetida nas duas passagens acima, e foi traduzida como “constituído” e “destinou”. Na língua original, que é o Grego, a palavra utilizada é ‘horizo’, de onde é derivada a palavra “horizonte” em nosso idioma. Portanto, temos uma dupla afirmação oculta por trás das palavras “constituído” ou “destinou”: que Deus tornou Seu Filho, Jesus Cristo, no Horizonte de todos os Seus interesses e atividades.
[O horizonte (do grego ὁρίζω) é a linha aparente ao longo da qual, em lugares abertos e planos, observamos que o céu parece tocar a terra ou o mar. No sentido figurado se relaciona ao espaço que a vista abrange: um vasto horizonte. Também pode ser traduzido como a extensão de uma ação, atividade: por exemplo, o horizonte dos conhecimentos humanos. Também pode ser usado figuradamente como perspectiva do futuro. Portanto, podemos traduzir horizonte como: perspectiva, âmbito, panorama].
Por hora, iremos nos ocupar com Cristo como o Horizonte de Deus, pois tudo é balizado por Ele. Todos sabemos o que horizonte representa o ponto mais distante de visão, a esfera mais afastada e extensa das coisas. Onde quer que formos nesse mundo, em qualquer que seja o lugar, ainda seremos confrontados com o horizonte, que limita e inclui tudo dentro em si.
Aqui, em uma linguagem muito precisa, aprendemos que, assim como o horizonte é para a terra o máximo limite e esfera possíveis, da mesma forma, Deus considera Seu Filho dentro de Seus conselhos eternos. Cristo é a esfera plena de Deus, o limite máximo e o conteúdo completo de tudo que existe.
Apesar da palavra grega ‘horizo’ só aparecer duas vezes no Novo Testamento, seu sentido pode ser encontrado em tudo mais. Um fragmento muito impressionante que indica isso está na carta aos Colossenses, no capítulo 1, nos versos 16 e 17, “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste”. Nessa citação do apóstolo Paulo, vemos Cristo como o horizonte, a área, o escopo, a esfera e a plenitude de todas as coisas. Este é Cristo.
O Filho de Deus, o Senhor Jesus, foi estabelecido por Deus, o Pai, como a norma, o representante de tudo que eventualmente será universal. No futuro, o universo será uma expressão do Filho de Deus. Tudo, dentro do horizonte universal, tomará o Seu caráter. Ele, portanto, deve ser muito grandioso, pois será um Cristo universal, além de Quem nada mais haverá, porque Ele é o horizonte.
Sabemos muito bem que se pararmos em um determinado ponto e olharmos para o horizonte, independente de quão longe e de quanto tempo tenhamos avançado em direção à ele, podem ser mil quilômetros, ele ainda estará adiante de nós, e na mesma distância. Não conseguiremos ultrapassar o horizonte nessa terra, nesse mundo, nessa criação.
Portanto, quando Deus finalmente obtiver as coisas como Ele idealizou, toda a esfera será uma expressão do Seu filho, uma manifestação Dele. Ele estará em toda as coisas, para ter a proeminência. Ele deverá encher todas as coisas e todas as coisas deverão ser agregadas à Ele. Ele é a soma daquilo que Deus deseja. Quão grande é Aquele que chamamos ‘nosso Senhor Jesus’!
A Grandeza do Nosso Cristo
Como dissemos, o Senhor Jesus é a norma, o representante do que eventualmente será universal. Vou usar seu nome “Jesus” da mesma forma que o Novo Testamento o usa – com referência à Sua vida e obra terrena – Sua humanidade. Jesus tem dentro de Si, de Sua Pessoa e Sua obra, todas as características e fatores que serão eventualmente universais.
Sempre que você O toca, não está tocando em algo limitado, confinado, mas está tocando no que se expandirá para todas as dimensões das eras e condições eternas. Você já tentou qualificar Jesus em qualquer uma das categorias humanas conhecidas? (pode ser uma ocupação útil tentar fazer isso, mas vou de antemão adiantar que será fadado ao fracasso e desespero). Conhecemos as várias categorias humanas nas quais a raça humana é dividida. Podem ser categoria de disposição, temperamento, sexo, nacionalidade, raça, idioma e assim por diante. Você já tentou restringir Jesus a alguma delas? Tente!
Certamente diríamos que uma pessoa que viveu em um determinado período da história deste mundo, certamente não se encaixaria no modo e condições de vida dos nossos dias. Tal pessoa estava bem no seu tempo, mas simplesmente não se encaixaria no nosso tempo atual. De igual maneira, as pessoas do nosso tempo não se encaixariam confortavelmente nas situações de séculos atrás. Essa é a categoria de tempo. Será que podemos incluir Jesus nela? Digo que fracassaremos totalmente.
A coisa mais notável a respeito dEle é que Jesus traz um apelo semelhante tanto à homens quanto à mulheres. Ele demonstra por um lado a força, e por outro, a ternura. A coragem e a sensibilidade. Nós poderemos continuar indefinidamente… Ele superou todas as idades e gerações! Ele é maior do que qualquer era da história deste mundo. Ele não é apenas diferente, mas superior a todo tipo de ser humano. Isso é igualmente verdade, tanto para leste, oeste, norte e sul. Ele tanto se encaixa no Oriente quanto no Ocidente. Há algo sobre Ele que é único, e não existe em nenhuma outra pessoa criada.
Ele é único e está acima de todas as categorias, no entanto, Ele se encaixa e se adequa em todas elas. Ele é amigo dos analfabetos, ignorantes e incultos, assim como o é dos instruídos. É essa abrangência de Cristo em caráter, que O torna o horizonte de Deus para toda a criação – O Representante Universal.
A raça hebraica foi tomada dentre as nações deste mundo, e todo esse processo se iniciou com Abraão “o hebreu” ou “o homem do além”. Os tratos de Deus com aquela nação aconteceram por meio da disciplina: primeiramente com Abraão, então com Isaque, Jacó, José, Moisés, Davi e todos os seus demais representantes. Tal disciplina profunda e drástica de Deus para com eles tinha um objetivo em vista: tornar aquela nação Seu povo servo em meio a essa ordem da criação. Eles seriam Seus servos e instrumentos para mostrar como Ele era, trazendo-O para este mundo; tornando-O conhecido em Seu caráter e estabelecendo esse caráter como base de governo dos homens.
Abraão, o hebreu, o homem do além, foi um estrangeiro, um peregrino, todos os dias de sua vida. Ele não foi apenas alguém que veio de fora, mas ele permaneceu nessa condição todos os seus dias. Dentro, mas sempre ‘fora’. Essa era a sua carreira. Israel, um povo estrangeiro e peregrino, “não reputado entre as nações” (Nm 23:9). Não ser considerado entre as nações foi um caminho de alto preço para eles, e era um meio para quebrar todo o seu senso de notoriedade, auto-suficiência, arrogância e orgulho. Eles foram um povo desprezado e rejeitado.
Jeremias clamou em relação a Israel, em primeiro lugar (mesmo que isso tivesse um conteúdo profético em relação ao Senhor Jesus): “Não vos comove isto, a todos vós que passais pelo caminho? Considerai e vede se há dor igual à minha, que veio sobre mim” (Lm 1:12). Por que todo esse sofrimento? Tudo visava a destruição de algo, para que somente Deus estivesse em vista – a ruína do homem, de toda a sua auto-suficiência, conduzindo-o ao pleno esvaziamento. Os tempos mais perigosos e desastrosos da história de Israel foram quando eles se tornaram em alguém, ficando cheios de auto-suficiência, superioridade e orgulho. Aqueles foram os dias do seu desastre; fosse isso verdade em relação a seus reis e líderes representativos ou em relação ao próprio povo.
Vamos nos apegar a isso, porque isso nos conduz à Cristo. Ele é a soma e o propósito de toda a disciplina de Israel. Ele era da semente de Abraão e pertenceu por nascimento e genealogia à essa raça. Isso não contradiz o que dissemos sobre o fato dEle estar acima da raça, pois Ele entrou nela, assumiu sobre Si mesmo todo aquele propósito de Deus para servir ao longo da linha da disciplina.
Me pergunto se já perceberam que a vida do Senhor Jesus foi uma vida de disciplina do começo ao fim, uma disciplina profunda e terrível. Ele tocou a nota mais profunda do aspecto da fraqueza humana, ao dizer: “O Filho nada pode fazer de si mesmo” (Jo 5:19). Que contradição e contraste com a natureza humana, como a conhecemos, que sempre se afirma dizendo: ‘Posso fazer, o farei, sou bom nisso’. Vemos sempre o orgulho e a ambição do homem, na busca pelo poder para fazer as coisas, ser por si mesmo. Mas, no próprio Filho de Deus, vemos uma tremenda negação de todo esse princípio, pois o Filho não pôde fazer nada de Si mesmo. Precisamos realmente entender isso: Jesus é a soma de todo esse propósito de Deus através da disciplina que vimos em Israel do início ao fim.
Veja o objeto dessa disciplina de Deus em sua forma consumada no Seu Filho, Jesus. Ele produziu o servo de Deus, o verdadeiro serviço.
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Essas são nossas notas baseadas nos capítulos 1 e 2 do livro “Horizoned by Christ”, de T. Austin-Sparks, disponível para leitura no site www.austin-sparks.net. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento. Recomendamos fortemente àqueles que leem em inglês e se sentirem movidos pelo Espírito Santo a irem direto à fonte, pois certamente receberão ainda mais edificação ali.
T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.
“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).