A. B. Simpson
“Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia” (Hebreus 11:8).
Abraão tem sido chamado “o Colombo da Fé”. Não que ele tenha sido o único que atravessou os grandes e vastos vazios, mas porque foi o primeiro. Além disso, tão amplo e abrangente foi o alcance da sua fé, das suas provações e triunfos, que ele foi chamado pelo próprio Deus de “o pai de todos os que crêem” [Rm 4:11]. Sua fé resplandece em sete tons diferentes e brilho glorioso.
1. FÉ OBEDECENDO OS MANDAMENTOS DE DEUS
“Pela fé Abraão, quando chamado, OBEDECEU” [Hb 11:8]. A fé, portanto, nos encontra logo no início, como um ato de obediência, e assim, Deus a considera e a ordena. Não é uma opção para nós se devemos crer na palavra de Deus ou não. “Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome de seu Filho” [1 Jo 3:23]. Isso torna o ato de fé mais imperativo, e ainda mais simples e fácil. Imperativo, porque Ele ordenou, não temos escolha; fácil, porque se Ele ordenou, Ele é responsável por nos conduzir e cumprir Sua promessa para nós. Deus está tão ligado à Sua palavra quanto nós. Portanto, sempre que a fé puder saber claramente que Ele falou, tudo o que ela tem a fazer é depositar toda a responsabilidade sobre Ele e seguir em frente. “Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” [Nm 23:29].
2. FÉ CONFIANDO EM DEUS NO ESCURO
“Partiu sem saber para onde ia” [Hb 11:8]. Esse é o próximo estágio. É a fé sem visão. Quando podemos ver, isso não é fé, mas raciocínio. Ao cruzar o Atlântico, não vemos caminho no mar ou sinal da costa. Entretanto, dia a dia, estamos marcando nosso caminho no mapa, como se seguíssemos uma grande linha de giz sobre o mar. Quando chegamos à distância de vinte milhas da terra, sabemos exatamente onde estamos, como se tivéssemos visto todos os três mil quilômetros à frente. Como medimos e marcamos nosso curso? Dia a dia nosso capitão toma seus instrumentos, olha para o céu e fixa seu curso ao sol. Ele está navegando pelo cálculo inato, pelas luzes celestiais, não pelas terrenas. Assim, a fé olha para cima e navega, pelo grande Sol de Deus, não vendo uma linha de costa, farol ou caminho terrestre no percurso. Muitas vezes, Seus passos parecem levar à incerteza absoluta e até mesmo à escuridão e ao desastre. Mas Ele abre o caminho, e muitas vezes faz com que essas horas da meia-noite sejam as próprias portas do dia.
3. FÉ ACREDITANDO NA PROMESSA DEFINIDA DE DEUS
Por um tempo, conforme prosseguia dia após dia, Abraão tinha apenas a promessa geral de orientação de Deus. Mas logo, a promessa se tornou mais específica, e finalmente, mais clara e simples, como uma estrela de magnitude fixa no céu de seu futuro – a promessa de uma herança e uma criança. A fé agora muda de uma simples confiança em Sua sabedoria e amor, para uma expectativa específica. Aqui ele deveria permanecer, crer e esperar que Deus a cumprisse. Aqui nós também devemos segui-lo. Nisso Abraão é o nosso grande precursor, e nossa parte é seguir os passos de nosso pai Abraão, e à medida que seguirmos, vamos descobrir que todos os seus passos foram passos de fé.
Mas a fé de Abraão ainda não estava aperfeiçoada. Deus tinha de lhe dar uma lição objetiva e surpreendente do que realmente significava crer em Deus. Assim, Ele faz muito mais do que falar com Abraão, mas exige que Abraão O encontre e responda com ações de fé. Então, nos versos a seguir, vemos o quadro mais dramático dos passos da fé que podem ser encontrados na Bíblia.
Primeiro, Deus dá a Abraão a promessa de futuras bênçãos: “Farei uma aliança entre mim e ti” [Gn 17:2]. Abraão recebe essa promessa e curva-se sobre o seu rosto diante de Deus para reivindicá-la. Em seguida, vemos o próximo tempo da fé, que é o tempo presente. “Quanto a mim, eis que meu concerto contigo é” [Gn 17:4 – ARC]. O que Deus faria, Ele agora faz. Aquilo que Abraão esperava, agora aceita e toma como um fato presente. O futuro se tornou no tempo presente e a fé se tornou ação. Mas ainda há um terceiro passo de fé. “Abrão já não será o teu nome, e sim Abraão; porque por pai de numerosas nações te constituí” [Gn 17:5]. Agora temos o tempo perfeito. Aquilo que foi prometido foi feito e está terminado. A ação se transformou em transação e passou além do tempo presente. Assim, Abraão deveria assumir a posição de alguém que passou por todos esses estágios e recebeu sua bênção inédita. Ele deveria mudar seu nome, se posicionar diante do público, ser ridicularizado, chamado de tolo, um homem velho em sua senilidade, um sonhador – quando seus vizinhos lhe perguntassem o motivo da estranha diferença em seu nome, ele deveria lhes responder que Deus fez dele o pai de muitas nações. A fé deve ser selada por um testemunho, e o testemunho deve ser mergulhado na prova, na vergonha e em muitas horas de espera e confiança ainda estando no escuro.
Mas, finalmente chegou o dia de vindicação, quando o riso se voltou para eles, pois o pequeno menino foi chamado de Isaque, que quer dizer “Riso”, por Deus ter feito Abraão rir em vez daqueles que desprezavam sua fé. Essa é a maneira pela qual devemos nos encontrar com El-Shaddai. Não devemos apenas tomar a promessa para o futuro, mas devemos trazê-la para o presente e reivindicá-la como um fato cumprido neste momento de nossas vidas. Então, devemos traduzi-la para o passado e tomar a posição de que é um fato consumado, e chamá-la assim, nunca nos envergonhando de que os homens saibam que acreditamos no nosso Deus, e nos aventuramos a chamar as coisas que não são como se já existissem. Este é o compromisso da fé. Este é o lugar onde muitos deixam de entrar, mas esta é a própria escada de bênçãos descrita no Salmo 37, onde Davi diz: “Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará. Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia. Descansa no SENHOR e espera nele” [Sl 37:5-7].
4. FÉ NÃO APENAS ACREDITANDO, MAS CONFESSANDO SUA CONFIANÇA
Abraão não acreditou na promessa de sua semente antes que tivesse que mudar seu nome, como já vimos. Diante de todos os homens, ele logo assumiu um nome que literalmente significava sua grande e estupenda reivindicação. Cristo sempre nos pergunta: “quem dizeis que Eu sou?” A fé deve sempre estabelecer seu selo de que Deus é verdadeiro e “Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio” [Hb 13:6]. A fé morrerá sem confissão; mas um verdadeiro e humilde reconhecimento a confirma e se compromete com ela. Não devemos meramente crer, mas devemos até mesmo CHAMAR as coisas que não são como se fossem, e tomar o testemunho de Deus em relação a tudo aquilo para o qual Ele nos chamou.
5. FÉ ABRINDO MÃO DO MUNDO POR TER UMA HERANÇA MELHOR
Não demorou muito para que Ló, com seu espírito terreno, começasse a lutar pelo melhor da terra. Abraão deixou que ele o tivesse, e naquela mesma noite, Deus apareceu a ele e lhe disse que era tudo seu, tanto a porção de Ló como também o resto, e não demorou muito até que Ló precisasse olhar para Abraão para o defender, até mesmo na porção que ele escolheu. O homem de fé pode deixar o mundo atual ir, porque sabe que tem um melhor; mas mesmo quando ele deixa tudo ir, Deus diz a ele que todas as coisas são dele, porque ele é de Cristo.
6. FÉ BATALHANDO CONTRA O DIABO POR SUA HERANÇA TOTAL
Abraão não lutou contra Ló pelos melhores pastos, mas quando os reis do Oriente invadiram Canaã e puseram os pés em sua herança, ele ressurgiu no poder da fé divina e na mais cavalheiresca façanha dos tempos antigos, os derrotou e os expulsou da terra, resgatando Ló e sua família. A fé pode tanto lutar, quanto se render, mas sempre luta contra os inimigos de Deus, não contra os Seus servos. Deus quer que nós conheçamos e usemos a autoridade da fé e digamos a esse monte: “Ergue-te e lança-te no mar” [Mc 11:23], e ele obedecerá.
7. A FÉ SUPORTANDO O TESTE SUPREMO, E ENTÃO ENTRANDO NA VIDA DO REPOUSO E RESSURREIÇÃO
Por fim, a promessa que ele recebeu, reivindicou e confessou pareceu ser desafiada. Isaque, o elo de toda a promessa, deveria ser abandonado. Seria então um erro que em Isaque toda a descendência estaria por vir? Não, nem por um segundo ele questionou. Isaque poderia até morrer, mas Deus não poderia quebrar a Sua palavra. Tudo deve acontecer, mesmo que Isaque tenha que ser ressuscitado dos mortos. Isso foi realmente o que Abraham buscou. Foi sua fé, portanto, não apenas sua obediência e amor que foram testados. Porque acreditava que Deus lhe daria Isaque de volta, ele foi capaz de desistir dele. Nas horas mais difíceis, Deus quer que permaneçamos sabendo que Ele não pode mentir e confiando plenamente Nele. Assim, nós entregaremos nossas próprias bênçãos às Suas mãos, e as próprias promessas à Sua guarda, sabendo que Aquele que prometeu é fiel. Tais provações apenas trazem uma maior preciosidade e a superação do poder da fé. No deserto há uma flor que só floresce quando os ventos sopram. Então, em meio às mais ferozes explosões, aparece em cada haste uma pequena flor estrelada. A fé floresce quando os ventos da provação sopram mais ferozes, e encontram seu próprio solo, se alimentando das dificuldades e provações da vida. Que o Senhor nos encha com a fé de Abraão e que Deus não apenas possa nos dar, mas que possa devolver em nós os Isaques de Seu amor, nos conduzindo ao descanso, plenitude e frutos da vida de fé que fez de Abraão digno de ser chamado de “o amigo de Deus”.
Extratos do Capítulo 5 do livro “Standing on Faith”, de A. B. Simpson.