“Nas pegadas do Cordeiro – 2” é uma tradução do livreto “In the footprints of the Lamb”, de Georg Steinberger, publicado em 1915.
Georg Steinberger (1865 – 1904)
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“São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá”. (Apocalipse 14:4).
Esse caminho é chamado: Nas pegadas do Cordeiro. Ao trilhá-lo, assimilamos o sentido da Cruz, compreendermos mais o seu poder e aprendemos a andar debaixo de sua sombra… O sentido mais profundo da Cruz é desistir de si mesmo.
Introdução
O Caminho do Cordeiro
A Luz do Caminho
O Alvo (em andamento)
Aquele que vem (em andamento)
A Luz do Caminho
“O Cordeiro é a sua lâmpada” (Apocalipse 22:23).
Que o Cordeiro seja nossa luz hoje, pois “na Tua luz, vemos a luz” [Sl 36:9]. A partir de hoje vamos ingressar em Sua escola; pois o lugar que Deus indicou aos Seus santos é aos pés de Jesus (Dt. 33:3). Os “santos” são aqueles que foram dados a Deus e que se entregaram a Ele. Vamos nos aproximar dEle como tal, aprender com Ele e andar em Seu caminho.
- O Cordeiro nos ensina a amar
- O Cordeiro nos ensina a servir
- O Cordeiro nos ensina a “tudo suportar”
- O Cordeiro nos ensina a ser humildes
- O Cordeiro nos ensina a negar a nós mesmos
- O Cordeiro nos conduz à quietude
- O Cordeiro nos ensina a sofrer
- O Cordeiro nos ensina a obediência
- O Cordeiro nos ensina a ter fé
- O Cordeiro nos ensina a trabalhar
1. O Cordeiro nos ensina a amar
“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13:1).
Como Ele amou? Esse é realmente o “amor de Cristo”: Ele amou os seus mais do que a si mesmo. O amor natural ama de acordo com sua própria inclinação; o amor que a Lei ordena ama porque Deus assim demanda. Ama por dever e ama o próximo como a si mesmo (Lc 10:27). Mas o amor de Cristo ama os outros mais do que a si mesmo.
Quão longe ainda estamos disso! Muitas vezes começamos a amar, mas logo ficamos cansados e nos mostramos infiéis à essa sagrada tarefa. Somente na escola de Cristo aprenderemos o verdadeiro significado do amor, amar à maneira de Deus, com aquele amor que está no Seu coração. Não há lugar onde o pecado se insinue com mais frequência do que na esfera das afeições. Uma pessoa causa menos dano com o ódio do que com o falso amor. Frequentemente, nossos inimigos não nos ferem tanto quanto nossos “bons amigos”.
Se desejamos que nosso homem interior cresça e prospere, façamos uma investigação completa de nós mesmos, permitindo que nosso coração seja purificado de toda impureza. No grande capítulo sobre o amor, somos informados de que o amor “se regozija com a verdade” (1Co 13:6).
O amor é a verdade!
O amor busca constantemente o eterno em seu próximo, e aponta para isso com delicadeza e seriedade, e mesmo, se necessário, com insistência inabalável. O amor carnal é cego, mas o amor Divino tem olhos abertos para a verdade. O amor carnal ama para ser amado. O verdadeiro amor ama sem esperar qualquer gratidão. Não considera o que pode realizar para si, mas, antes, o que pode ser produzido para o Senhor. O verdadeiro amor busca de Jesus apenas Sua Pessoa; e dos homens, não o seu reconhecimento, muito menos o seu dinheiro, mas apenas sua alma imortal.
O amor se doa!
Ele ama até a morte, mesmo que seja levado à cruz com o Mestre. O amor carnal também ama até a morte, mas até a morte espiritual, não até a morte de Cristo. Infelizmente, muitas amizades levam a isso! Trazem consigo feridas que não podem ser curadas nem mesmo ao longo de uma vida inteira. Outrora, eles conversavam sobre todas as coisas. Eles não poderiam viver se não se vissem todos os dias. Mas então, depois de alguns anos, o amor ardente se transformou em amargo ódio. O amor carnal sempre termina em ódio. Por amor carnal não me refiro a um amor sensual, mas um falso amor entre os piedosos.
Deus, em Sua graça, permite até mesmo que uma torrente de repreensões amargas e injustas, e que um vento gelado e sem amor atinjam o edifício do amor. A casa mal edificada desaba, produzindo um estrondo que se ouve ao longe. Onde alguém cessa de amar com o amor de Cristo, o resultado inevitável é a injustiça, a confusão e a morte. E amar à maneira de Deus só pode ser aprendido na escola do Cordeiro.
Amor é obediência.
Quando e como amamos à maneira de Deus? Para muitos, esta é uma questão pungente. Em 1 João 5:2, recebemos uma resposta surpreendente: “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos“.
Aquele que ama a Deus pode, por intermédio de Seu amor, ligar os homens a Deus, não a si mesmo. João se alegrou quando seus discípulos o deixaram e seguiram Jesus, porque ele amava Jesus. Aquele que guarda os mandamentos de Deus, ama; pois por sua obediência conduz seus irmãos ao Caminho de Deus, e este é o verdadeiro amor. Esse amor finalmente vence e é compreendido, ainda que durante toda a sua vida possa ter sido considerado como aspereza. Toda amizade que não se baseia neste fundamento é inimizade.
No geral, essa questão de cultivar amizade é um ponto difícil. Requer muita graça e verdade do alto. Muito poucos podem dizer o que o antigo Pai da Igreja disse sobre ele e seu amigo: “Conhecíamos apenas dois caminhos, um para a Igreja e outro para os mestres da Igreja; falávamos apenas de duas coisas, de Deus e de Sua Palavra.”
Amor é vida!
Sem amor não podemos viver. Assim como nosso espírito foi criado para saber, nosso coração foi criado para amar. Nosso coração é criado para o amor, assim como o pássaro é destinado a voar. O amor é o começo e o fim da nossa vida, é a luz da alma e sua fonte de calor. Aquele que peca contra o amor ataca sua própria vida. O amor é o maior poder. Vivemos apenas enquanto amamos.
Onde o amor desperta, o escuro tirano do ego morre. O amor é o vínculo da perfeição; abrange tudo, até mesmo Deus. O amor é o único mandamento que o Senhor deu aos Seus seguidores.
O amor é a marca do novo nascimento e a prova de que nossa fé é genuína. É fruto do Espírito Santo e traz consigo a presença do próprio Jesus. Por que os filhos de Deus têm tão pouco amor? Porque eles têm muito pouco do Espírito Santo. Como então obteremos mais do Espírito? Começando a amar mais. Então, o Deus Triúno se colocará ao nosso lado, pois Ele é, acima de tudo, o Deus de amor.
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia” (Cl 3:12).
Reveste-te de compaixão e será como se estivesse ‘usando vestes festivas, como se tivesses bebido o vinho da alegria e recebesse o frescor da paz do céu, como se tivesses pés de corça e braços tão fortes quanto os de Sansão.’
Você acha que o Bom Samaritano era um homem feliz ou infeliz? Quem estava mais cansado naquela noite, o sacerdote ou o samaritano? Quem você acha que foi o mais feliz, aquele que deu seu dinheiro ou aquele que o guardou no bolso? Oh, pobres filhos de Deus, que permanecem esperando pelo poder do alto, que buscam uma paz mais profunda e uma alegria mais rica! Comece a amar e você começará a viver! Os coríntios desejavam fazer algo extraordinário. Mas Paulo mostrou-lhes um caminho mais excelente (1Co 13), o caminho onde:
“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”(vs 6,7).
Não apenas em algumas coisas, mas em todas as coisas. Ninguém pode negar que esse tipo de amor é algo extraordinário. No entanto, a oportunidade de experimentá-lo está disponível a todos. A fé é o começo e o amor o objetivo da nossa vida [1Jo 4:8; 16]. Ambos vêm de Deus e levam a Deus. Deus nos deu uma oportunidade tão rica de alcançar alegria na vida, simplesmente porque Ele nos deu uma vasta oportunidade de amar. Tudo aquilo que convoca o serviço do amor apenas aumentará nossa felicidade. Vinde, aprendamos do Cordeiro, para que vejamos o que é o amor! Que Ele seja nossa luz, Aquele que amou até a morte! O amor leva ao sofrimento. O amor de Cristo o levou à cruz. Só Ele é capaz de amar, portanto, é capaz de sofrer. Enquanto esperamos por gratidão como retribuição ao nosso amor, não estaremos amamos com um coração puro.
2. O Cordeiro no ensina a servir
Somente aquele que está consciente de sua nobreza em Cristo é apto a servir. Jesus sabia que Ele havia saído de Deus e que para Ele retornava quando colocou Suas vestes de lado, pegou uma toalha, cingiu-se e serviu Seus discípulos. Desse modo, Ele concedeu um toque Divino a todo serviço.
O princípio fundamental em Sua vida era: “Não… para ser servido, mas para servir” (Mt 20:28)! Aquele que é nascido de Deus tem a mente de Deus, e aquele que deseja um dia estar ao Seu lado anda nos Seus caminhos. Somente na escola do Cordeiro se aprende a servir, e isso é reservado aos humildes. Portanto, os pais da Igreja chamavam a humildade de espírito de servo.
Qual a finalidade de nos convertermos? “Para servir”, explica Paulo (1Ts 1:9). Como você deve usar suas possessões? Para servir! Oxalá todas as pessoas convertidas soubessem disso! Então, nossas pobres sociedades missionárias não passariam tanta necessidade. A Bíblia mostra-nos Jesus principalmente de duas formas: a de Servo e a do Cordeiro. “Meu Servo” é o nome favorito de Deus para Ele no Antigo Testamento.
Ele nos serviu com Sua Palavra.
Ele podia renovar os cansados, confortar os tristes, desconcertar os confiantes, punir os hipócritas e aconselhar os que se extraviaram. “Ele tinha palavras de vida eterna”, disse Pedro.
Como você fala? Você pode, depois de ter conversado com alguém, levantar seus olhos e dizer: “Pai, plante o que disse no fundo de seu coração, para que cresça e dê frutos”. Ou talvez você deva dizer: “Perdoe-me, Pai, apague o que falei!” Que tipo de palavras você usa? Elas destroem ou concedem de vida? Nenhuma de suas palavras se perde; elas retornam, de uma forma ou de outra, para você ou para outras pessoas.
Miriã falou com Aarão sobre seu irmão Moisés, e depois os dois juntos falaram contra ele. Primeiro se fala do vizinho, depois contra ele. Miriã envenenou a alma de Arão e o levou a pecar. Oh, essa paixão pela fofoca! É um fogo que consome e uma doença prevalente entre o povo de Deus.
Quando você fala com seu irmão a respeito de outras pessoas, você joga um veneno em sua alma, do qual ele não escapará facilmente? As faltas dos outros são cobertas pelo seu silêncio ou são expostas pela sua fala? Você contribui para que seus irmãos e irmãs sejam salvos, ou os pecados e as paixões de outras pessoas são despertados e nutridos por suas palavras? Você também é colportor do diabo?
Muitos não conseguem controlar a língua e Deus opta por não amarrá-la, impondo frequentemente um fardo pesado sobre ela. E esse fardo de Deus pesa muito sobre a alma, como logo se perceberá. Miriã ficou leprosa. Assim, Deus mostra claramente que considera a calúnia uma doença abominável e fedorenta.
Aqui está a razão secreta pela qual tantos dos filhos de Deus vivem uma vida cristã fraca ou morta. O veneno da fofoca e a prática de julgar os outros os matou. Tornamo-nos participantes da culpa dos outros com muito mais frequência do que imaginamos, porque não aprendemos a lidar de maneira santa com sua falta de santidade. Mas se frequentarmos a escola dAquele que chamou Judas de “amigo” e que curou a orelha de Malco, aprenderemos a agir da mesma forma [Mt 26:50; Jo 18:10].
Jesus nos serviu com Sua vida santa.
Ele deixou um exemplo aos discípulos (Jo 13). Os apóstolos e os mártires nunca teriam morrido por causa do Evangelho, se seu Senhor não tivesse morrido em primeiro lugar. Ninguém teria suportado tantos sofrimentos por causa do Evangelho, se o próprio Senhor não tivesse primeiro suportado o maior de todos. O que é que rouba o nosso cristianismo atual de seu esplendor e convincente poder? Sem dúvida, é o fato de haver tão pouca diferença entre um filho de Deus e um filho do mundo, no que diz respeito ao amor, paciência e abnegação. A vida, não a conversa, é a luz dos homens. Um bom exemplo concede valor à vida. Paulo nunca falou com maior autoridade do que quando disse: “Sede meus imitadores!”
Deus usa dois meios para trazer os homens à luz: Sua Santa Palavra e homens e mulheres santos, que vivem de acordo com a Sua Palavra. Quando a Palavra se torna carne, ou seja, assume forma humana, contemplamos a luz da glória (Jo 1:14). Em nações cristãs, a Palavra de Deus é encontrada em quase todas as casas, mas em muitos lugares está praticamente morta. Ela só é vivificada quando é liberada para produzir uma personalidade santa.
Paulo certamente teria se esquecido das palavras proferidas por Estevão na escola dos judeus helenistas. Mas o rosto transfigurado de Estêvão na hora da sua morte, a alegria que ele revelou quando desistiu desta vida e a sua oração por seus inimigos, foram todos indelevelmente impressos na alma de Paulo. Estes se revelaram como um poder triunfante de Deus nas perseguições, que o próprio Paulo enfrentou depois.
3. O Cordeiro nos ensina a “tudo suportar”
“Ele suportou!” nós lemos e vemos isso repetidamente em Sua vida. Mas isso não representa o momento em que o Senhor, como o Cordeiro do sacrifício, levou os pecados dos homens sobre Si e os carregou na cruz.
Antes em tudo, pensamos aqui no Seu poder de perseverar revelado na Sua vida diária. De acordo com Seu próprio testemunho, Seu poder consistia na capacidade de entregar de Sua vida (Jo 10:17) – não em falar como ninguém havia falado antes, nem em alimentar cinco mil com cinco pães e dois peixinhos, nem mesmo em ressuscitar dos mortos. Tudo isso indicava poder, mas Seu poder de perseverar não se revelou apenas na cruz.
Sua vida na terra consistia em uma constante entrega. Em todas as suas dificuldades diárias, Ele se ofereceu a Deus, movido pelo Espírito Santo. Assim, Ele foi preparado para oferecer o grande sacrifício na cruz. Ser rejeitado por Seu próprio povo, ser mal compreendido por Seus discípulos, ser declarado louco por Sua família, ser rotulado como um fanático perigoso pelos líderes da nação – tudo isso demandava por um grande poder de resistência. “Segundo ele é, também nós somos neste mundo” (1Jo 4:17).
Ele diz, portanto, em Apocalipse 3:12: “Ao vencedor… fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus”. O propósito da coluna não é decoração, mas suportar peso. Pessoas que desejam ser admiradas não são pilares; eles entram em colapso assim que recebem uma carga pesada para suportar. Pessoas sensíveis não são pilares, pois sensibilidade é exatamente o oposto da resistência.
Muitas vezes, quando estou na estação ferroviária e vejo os vagões à minha frente, meus olhos se fixam naquele canto do vagão onde está escrito que ele tem capacidade para suportar tantos e tantos milhares de quilos.
A grande pergunta é: Quão grande é a sua capacidade de suportar? Precisamos de pessoas que tenham essa qualidade, especialmente em nossas congregações cristãs, onde o espírito de sensibilidade e facção tantas vezes impõem seu caminho.
Na casa de Deus, o princípio é permanecer debaixo do seu fardo, assim como uma coluna. Em outras palavras, seja paciente. Jesus venceu como um Cordeiro. O que é que caracteriza o cordeiro? O Antigo e o Novo Testamentos nos informam que Ele resistiu até o fim! Aqueles que seguem o Cordeiro são aqueles que são capazes de perseverar. Quem não tem o Espírito Santo não tem essa capacidade.
Alguém pode ferir a rocha e ela produzirá água viva. Quando eles feriram Cristo, a Rocha – até a morte – nada fluiu dEle exceto amor e vida. Quando somos atingidos, o que flui de nós? Agua viva ou a amargura de Mara? [Êx 15:22-27]. Quando Estêvão foi apedrejado por seus concidadãos, ele clamou com o rosto transfigurado: “Senhor, não lhes imputes este pecado!” [At 7:60]. E quando Paulo foi rejeitado por seu povo, ele pôde dizer: “Eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne” (Rm 9:3). Esse é o poder de resistir! Assim é o Cristianismo! Essa é a graça na prática!
A Bíblia fala não apenas do perdão, da graça restauradora, mas também da graça prática. Se perguntarmos a Pedro o que é graça, ele responderá: “Porque isto é grato [charis – graça], que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus” (1Pe 2:19). As duas epístolas de Pedro tratam dessa graça.
Pergunte ao inspetor que entra na estação e bate em cada roda do trem com seu martelo: “Por que você faz isso?” e ele responderá: “Para ver se a roda está em boas condições”; então você pergunta:“Mas como saber quando tudo está em ordem?”, e ele replica: “Quando o som está claro.”
Permitir-se ser golpeado e, ao mesmo tempo, permanecer imperturbado é resistir ao teste. Assim proclamamos a luz maravilhosa do Evangelho ao mundo; mostramos ao mundo o nosso Mestre.
Um ministro que foi severamente ofendido disse à sua esposa, com amargura: “Vou mostrar-lhe quem é o mestre.” “Qual mestre?”, sua esposa perguntou a ele, gentilmente. O ministro ficou surpreso e disse, envergonhado: “Desta vez, teria mostrado a ele a mim mesmo, não o Mestre”. Mostrar aos outros o caminho certo só pode ser feito andando nas pegadas do Cordeiro, seguindo-O com amor, humildade e fidelidade.
4. O Cordeiro nos ensina a ser humildes
“Sou humilde de coração”, disse Ele; “Aprendei de Mim!” (Mt 11:29). Alguém disse: “Se nós recebemos nosso orgulho de outra pessoa; devemos derivar nossa humildade de Outra também”.
Por natureza, nada é mais estranho e incompreensível para nós do que a humildade; portanto, carecemos muito dela. Podemos ter mais certeza de que somos humildes quando não procurarmos mais evitar situações que nos humilham, e podemos até mesmo encontrar alegria e ser gratos por elas.
As palavras de Paulo, “gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza“, também trazem consigo essa implicação: ‘me alegro em tudo aquilo que me humilha.’ Ainda não cheguei a esse ponto, mas me recordo com muita clareza de um momento, não faz muito tempo, quando, pela primeira vez, pude agradecer pelas pessoas que me humilharam. Anteriormente, só havia recebido e suportado essas humilhações porque eram inevitáveis. Mas Paulo encontrou alegria em tudo o que o humilhava, e Pedro disse que Deus concede graça aos humildes.
Cada vez que evitamos uma experiência de humilhação, perdemos uma experiência de graça. Pedro diz mais: “cingi-vos de humildade” (1Pe 5:5). A humildade é o manto que nos protege do frio espalhado pelos outros.
O que é humildade? A humildade não é uma virtude, mas o solo onde todas as outras virtudes prosperam. Nenhuma virtude tem valor, se não cresceu ali. Portanto, Jesus diz a todos os que vem a Ele que, antes de mais nada, aprendam com Ele a humildade! A humildade é o poder para se colocar em uma posição inferior. “Ele se humilhou”, disse Paulo a Seu respeito em Filipenses 2:8. A humildade nos leva a convicção que nada somos, mas que Deus é tudo.
Essa virtude não busca sua própria glória, mas dirige tudo para longe de si mesma. Foi com esse espírito que um Missionário inglês conhecido, depois que um bispo o elogiou em uma grande reunião, simplesmente recitou a pequena estrofe:
“Aqui caio eu, meu Salvador,
Mereço o Teu lugar;
Olhe para mim com Teu favor,
Conceda-me Tua graça”.
A humildade é a capacidade de minimizar, em vez de magnificar, aquilo que se faz. É não desejar atrair atenção e criar entusiasmo em torno de si mesmo. Por que, podemos supor, Jesus, no despertar da filha de Jairo, disse: “Ela não está morta, mas dorme”? Ele não queria atrair atenção para Si.
Para começar, normalmente damos a impressão que algo é muito preto para que, quando terminarmos nosso trabalho, ela pareça muito mais branca. Tornamos o objeto muito pequeno, para que depois pareça muito maior. A humildade não sabe nada a respeito de si mesma. Nem sabe que é humilde. É um poder que nada pode fazer por si mesmo, só é capaz de se humilhar e ser dependente.
Jesus disse repetidamente: “o Filho nada pode fazer de si mesmo” [Jo 5:19]. “Meu Pai… é maior do que tudo“, Ele disse em João 10:29. Em Apocalipse 1:1, João nos mostra como o Senhor ainda depende do Pai, mesmo depois de ter sido exaltado para sentar-se à destra da Majestade nas alturas e ter recebido todo o poder no céu e na terra: “A Revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe deu.” [Ap 1:1].
Vemos uma humildade maior no próprio Deus Triúno. O Pai e o Filho prepararam o caminho para o “Reino do Espírito” no qual vivemos; o Espírito e a Noiva dizem: ‘Vem, Senhor Jesus, vem sem demora’, preparando o caminho para o Reino do Filho, o Reino Milenar. O Filho, o Espírito e a Noiva trarão o “Reino do Pai”, onde Deus será tudo em todos, onde Ele será o verdadeiro Pai de todos os que são chamados de filhos no céu e na terra (Ef 3:15, 1Co 15:28).
O verdadeiro significado da humildade, portanto, só poderemos aprender de Cristo, que nos revelou Deus. Aquele que está enraizado e fundamentado no amor pela fé em Cristo aprende a ser “humilde de coração”.
Esse amor é, na verdade, humildade. Portanto, nos é dito a respeito de Jesus: “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13:1).
A humildade é um poder que nos capacita a tratar de forma igual com todos irmãos. Jesus não tinha vergonha de chamar seus discípulos de irmãos, embora eles tivessem fugido na hora da provação, e até mesmo O negarem, como Pedro o fez.
A humildade é a força para tolerar as deficiências dos outros. Como Aquele que é humilde se considera o mais indigno, ele não nutre dúvidas a respeito dos outros. A humildade é uma das características mais belas do Cordeiro de Deus.
Ah, não busque nenhuma outra beleza! A humildade é o poder que pode mostrar uma amizade especial para com quem lhe fez mal, assim como o Salvador fez com Pedro: “Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro” (Mc 16:7). Não ajudamos os outros a tornarem-se humildes afastando-nos deles, mas amando-os e seguindo-os, como Jesus fez com Pedro, e mostrando-lhes assim o caminho que devem seguir para aprender a humildade.
5. O Cordeiro nos ensina a negar a nós mesmos
Lemos em Filipenses 2:6 que o Senhor Jesus não se apegou ao fato de ser igual a Deus. O significado mais profundo da cruz é negar a própria vida. Paulo expressou assim: “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos” (2Co 5:15). Compreendemos o significado da cruz e experimentamos seu poder somente quando podemos dizer, com Paulo: “Nenhum de nós vive para si mesmo” (Rm 14:7).
Nossos primeiros pais caíram por terem se tornado no centro de suas vidas. A alma que faz isso hoje experimentará as seguintes consequências: trevas espirituais, morte, separação e inimizade com Deus. O poder de Satanás está ativo em tudo o que é egoísta. No coração egoísta arde o fogo oculto do inferno.
Enquanto valorizarmos nossas próprias vidas, nos manteremos debaixo da maldição de Deus; pois na cruz Deus amaldiçoou tudo aquilo que é egoísta. “Viver para si mesmo” é ser contra Deus.
Nosso próprio “eu” é sinônimo de “carne” e “o pendor da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8:7). A carne é geradora do egoísmo. O egoísta deseja ter todas as coisas para si, deseja ser o centro de todas as coisas; e quando isso não é possível, recua profundamente magoado.
A Sagrada Escritura nos mostra nosso próprio “eu”, ou o ego, em seis perspectivas, a saber: a autoconfiança, o desejo de salvarmos a nós mesmos, o egoísmo, a obstinação, o hedonismo e a auto exaltação. Todos esses juntos podem ser chamados de “monstro de mil cabeças”, a “mãe de todo pecado e miséria”, o “tirano escuro”. Vamos considerar cada uma dessas seis formas separadamente.
A. Autoconfiança
Não é suficiente nos comprometermos com Deus; Ele também deve ser capaz de confiar em nós.
Em João 2:24, somos informados de que “Jesus não se confiava a eles, porque os conhecia a todos”. Jesus não pode confiar a Si mesmo àqueles que desejam apenas ver e receber. Maravilha não é o mesmo que fé. Quando Jacó viu a escada para o céu, ficou maravilhado com a bondade e santidade de Deus, mas ainda não acreditava nelas.
Com quem Jesus pode se comprometer? Com aqueles que não confiam em si mesmos. Ele Se compromete com aqueles que O seguem até a cruz, que se colocam debaixo da cruz, e que não buscam mais dons e bênçãos, mas apenas Sua pessoa. João foi o único discípulo que seguiu Jesus até a cruz, e foi a ele o Mestre moribundo confiou a pessoa mais querida que Ele tinha na terra, Sua mãe.
Não percebemos como a autoconfiança está profundamente enraizada em nossos corações, até que aquilo em que consciente ou inconscientemente confiamos seja tirado de nós. Você sabe por que Deus conduziu o povo de Israel para o deserto? Para que aprendessem a olhar para cima e a esperar todas as coisas do alto.
Em Gósen, eles receberam o que precisavam da terra; mas agora eles estavam no deserto com a areia quente e seca sob seus pés, e eles precisavam afirmar: “Se vamos receber ajuda, deve vir de cima”. E, na verdade, do alto vieram pão, carne e até água. Moisés feriu a rocha e a água jorrou abundantemente.
Assim, Deus tira todas as coisas de debaixo de nossos pés, até que não tenhamos mais nada além dEle. Deus sempre tem o objetivo mais elevado em vista, a saber, nos levar à renúncia. Tudo que nos acontece tem esse propósito, nos ensinar a confiarmos em Suas mãos.
Portanto, devemos sofrer derrotas frequentes… Você luta com todas as suas forças contra o pecado e se encontra cercado pelo inimigo. Você ora com fervor e sinceridade: “Ó Deus, ajuda-me e fica comigo”. Mas parece que Deus não ouve… Você chora ainda mais fervorosamente clamando por ajuda, mas Ele parece não se importar com você. Seria Ele tão impiedoso? Não! Exatamente por ser misericordioso, Ele não pode ajudá-lo. Se o fizesse, você não estaria livre de sua autoconfiança; você não aprenderia a combater o bom combate da fé e assim obter a vitória que o Mestre conquistou; você não aprenderia a dizer “somente Jesus!”, mas ainda continuaria a dizer “Jesus e eu”.
Pedro, o autoconfiante, não pôde ser salvo, em última análise, exceto por meio de uma queda. Então o Senhor o conduziu ao lugar onde outro o cingiu, onde ele se deixou ser conduzido e onde estendeu as mãos em direção às mãos fortes, fiéis e gentis de seu Pastor e Mestre. É comumente dito a respeito de Jacó que ele lutou com Deus; mas, ao ler Gênesis 32, descobrimos que um homem lutou com ele. E quando Jacó se deitou no chão com uma coxa tensa, gritou: “Não te deixarei ir, a menos que me abençoes!” Anteriormente, ele sempre providenciava suas próprias bênçãos. Depois que Paulo ficou cego e indefeso, ele foi capaz de dizer: “Posso todas as coisas”. Quando ele não podia fazer nada mais, passou a ser capaz de fazer qualquer coisa.
b. O desejo de salvar a nós mesmos
Outra manifestação do nosso ego é o desejo de se salvar. Nada parece ser mais difícil para nossa natureza do que ficar em silêncio e esperar; parece muito mais fácil para nós agirmos, mesmo isso possa nos colocar em sérias dificuldades. “Devo golpear com a espada?” dizemos com Pedo. “Devemos chamar o fogo do céu?” perguntamos com Tiago e João. A queda de Saul começou com sua falha em aguardar até que Deus viesse a ele. Apenas mais algumas horas e o Senhor estabeleceria seu reino para sempre. Até mesmo Abraão, que na escola de Deus aprendeu a esperar como ninguém, tornou-se culpado deste pecado quando permitiu que Sara lhe desse a serva egípcia Agar como concubina, a fim de receber por meio dela a semente que Deus lhe havia prometido. Como resultado, Deus ficou em silêncio por treze anos. Ele tomou a direção das mãos do Senhor.
Na crença de que ele tinha que ajudar Deus, tentou encurtar o tempo de espera. Não temos dúvida que não somos melhores do que Abraão! Inúmeras vezes temos ajudado, ou pelo menos pretendido ajudar a nós mesmos, envolvendo-nos em graves dificuldades e entristecendo a Deus.
No Salmo 37, encontramos três tipos de respostas à oração:
1. Deleite-se no Senhor; e Ele te concederá os desejos do teu coração.
2. Entrega o teu caminho ao Senhor; confie Nele!
3. Fique quieto diante de Jeová e espere-O com paciência!
Às vezes pedimos algo hoje, e amanhã Deus nos concede a resposta. Existem coisas que entregamos a Deus e imediatamente percebemos que Ele está ativo em nosso favor; mas também há momentos em que é necessário acalmar nossas almas e dizer: “Aquiete-se e espere por Ele.”
Das três coisas, dar, se comprometer e se entregar a Deus, certamente a última é a mais difícil. Só quem deu sua vida a Deus pode se comprometer com Ele, e só quem se comprometeu com Ele pode se entregar completamente em Suas mãos. Damos nossas vidas a Deus apenas uma vez, mas nos comprometemos com Ele conscientemente, dia a dia, e assim aprendemos a nos entregarmos a Deus também nos dias maus.
Primeiro precisamos exercitar nossa fé, para que Deus possa nos provar nessa questão. Em Gênesis 15, lemos a respeito de Abraão, de como Deus provou sua fé fazendo-o esperar por Ele enquanto oferecia seu sacrifício.
Procurar evitar dificuldades é outra característica de nosso desejo de prover salvação para nós mesmos. Procuramos sempre cortar ou aplainar a cruz que Deus nos deu, para que seja mais leve e mais fácil de carregar. Jesus não fez isso. Ele carregou Sua cruz. Seus seguidores devem ser conhecidos pela cruz. Quando você corta pedaço após pedaço dela, finalmente nada mais resta, e nada permanece do Salvador.
Você diz que alguém deve se mudar porque torna a vida desagradável para você. O que é isso senão cortar da cruz? Você se retira porque diz que não é compreendido. O que é isso senão reduzir sua cruz? Embora os judeus quisessem apedrejar Jesus, Ele retornou a eles. E quando Seus discípulos perguntaram surpresos: “Mestre, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e voltas para lá?” Ele respondeu: “Se alguém andar de dia, não tropeça” (Jo 11: 8-9). Não se livre das mãos ásperas. Deus as usará para torná-lo perfeito. A respeito de Jesus, lemos: “Os soldados, tendo tecido uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça” (Jo 19:2). Ele deu as costas aos golpeadores e não escondeu o rosto da vergonha e das cuspidas (Is 50:6). Ele tinha poder para se salvar, mas nunca o usou.
c. Egoísmo
Um lado extremamente repulsivo de nosso ego é o egoísmo, que é o oposto do auto-sacrifício. A alma egoísta é um ladrão, pois rouba de Deus o que Lhe pertence e toma para si o que pertence aos outros.
O egoísmo não continua sua obra diabólica apenas no mundo, mas também nas reuniões de pessoas religiosas, na casa dos justos, até mesmo no coração daqueles que desejam seguir o altruísta Jesus.
É egoísmo quando desejamos parecer mais piedosos do que os outros, quando desejamos orar de forma mais bela, e quando desejamos sempre obter vantagens pessoais. Mas as Escrituras dizem: “Pois maldito seja o enganador” (Ml 1:14). Muitas das divisões entre os filhos de Deus são o resultado da busca egoísta – desse tenebroso tirano da alma. O céu já estaria na terra se o egoísmo fosse deposto de seu trono.
“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio”, disse Salomão (Pv 6:6). A formiga exemplifica o altruísmo. O mesmo acontece com a videira, que só se torna fecunda quando dá, de forma altruísta, sua seiva ao ramo que dá o fruto.
Quantos poderes e dons não são usados… quanta graça se perde por causa do egoísmo! Quanto trabalho ainda está por fazer por causa disso! Quantas almas estão perdidas! Quantos dormem novamente, porque seus líderes têm sido egoístas!
O egoísmo busca apenas as coisas grandes e só terá expectativa de resultados de pessoas importantes. Seu lema é: “Sinto que sou auto-suficiente. Tudo deve existir para mim, do contrário não tem valor ”.
Mas quando o amor desperta dentro de nós, o egoísmo morre; então a lei da carne não mais governa, mas a lei do espírito. Então, não mais nos perguntamos: “O que mais devo abandonar por causa de Jesus?” mas “Quanto posso renunciar por Aquele que me amou e se entregou por mim?”
O interesse pessoal é o oposto da entrega. Alguém disse: “A verdadeira entrega de si mesmo constantemente busca permissão para se dar mais e considera todas as coisas que não podem ser abandonadas por amor a Jesus como perdas”.
O desejo egoísta deseja despertar a simpatia dos homens, é facilmente insultado, espera a gratidão das pessoas e não se permite ser servido. O ego egoísta e precioso cuida para que todos os olhos o vejam e todos os ouvidos o ouçam, “o paciente sofredor”, e não compreende por que nem todos têm simpatia por ele. O sinal mais claro de interesse próprio é reclamar dos outros.
O segredo e o lema da vida de Abraão estavam contidos nestas quatro palavras: “Nada tomarei” (Gn 14:23). Sabemos bem como ele praticou isso em sua vida. Aí tambémtemos a solução para o segredo de por que Deus disse a ele: “Abençoar-te-ei… Em ti todas as famílias da terra serão abençoadas… Dar-te-ei a ti e à tua descendência a terra das tuas peregrinações…” Deus pôde fazer isso porque Abraão não buscou nada para si mesmo.
Abraão havia abandonado a si mesmo, e isso é certamente o fruto mais precioso da fé. Grande era sua fé, mas ainda maior foi seu altruísmo. Altruísmo é amor; pois o amor está preocupado, como sabemos, não com “eu”, mas com “você”.
Quando Paulo escreve o grande Capítulo do Amor, 1 Coríntios 13, parece que ele está esboçando a figura de Abraão sem mencionar seu nome. Resumindo algumas características do amor que tudo suporta, tudo crê,
Tudo espera, tudo suporta, não estaríamos descrevendo sua pessoa?
Esse bem poderia ser o lema de sua vida e da nossa também. Devemos receber nesse momento uma bênção que produz frutos imediatos e práticos.
d. Obstinação
O melhor que podemos dar a Deus é nossa própria vontade. “Dei a Deus minhas forças, mas ainda é difícil dar-Lhe minha vontade”, me disse recentemente um obreiro do Reino de Deus. Respondi: “Se você ainda tem sua própria vontade, então não deu a Deus suas forças”. O maior sacrifício que uma pessoa pode oferecer a Deus é a sua vontade. Deus não tem prazer em nenhum outro sacrifício, enquanto nos apegarmos à nossa vontade.
“Não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb 10:6-7).
Deus não deseja receber nossas ofertas, mas nossa vontade. A primeira pergunta que Paulo fez a Jesus foi: “que farei, Senhor?” [At 22:10]. A verdadeira conversão certamente não consiste nada além da firme resolução de desistir da própria vontade de uma vez por todas, e de fazer a vontade de Deus em todas as coisas. Nossa principal tarefa não consiste em fazer ou dar isso ou aquilo para Deus, mas sim de fazer a Sua vontade.
Existe muita obstinação em nosso trabalho para o Senhor, inclusive em nossas orações! Nós fazemos planos, os colocamos diante de Deus e dizemos: ‘Querido Senhor, ficaria feliz em fazer isso para Ti. Assine em baixo!’ Não! Em vez disso, deixe Deus fazer os planos e deixe-se guiar pelo Espírito de Deus nos caminhos de Deus.
O Sermão do Monte trata de uma “limpeza mais profunda” e também ensina-nos a respeito da purificação de orações falsas. Lá, recebemos um padrão de oração que diz: “Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” [Mt 6:10].
Tiago não disse “se o Senhor permitir”, mas “se o Senhor quiser” (Tg 4:15). Há uma grande diferença entre permitir e querer.
Também existem diferenças entre me sujeitar à vontade de Deus e me entregar a ela, fazendo isso com alegria. O Cordeiro nos ensina a fazer a vontade de Deus com alegria. Ele nos mostra que é apenas com o propósito de fazer a vontade de Deus que recebemos uma vontade. O Getsêmani é o ponto mais profundo e o mais alto da vida do Salvador, e lá Ele disse: “Pai, não a minha vontade.” “Em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz” (Hb 12:2). Foi porque Seu Pai assim o quis. Em todas as coisas Ele disse: “Sim, Pai, pois assim é agradável aos teus olhos.” Ele desejou o que Deus desejou. Ele nunca teve um pensamento ou desejo que não estivesse em perfeito acordo com a vontade de Deus.
e. Hedonismo
Outra forma de manifestação do nosso ego pode ser vista no hedonismo, que é a busca incessante por prazeres e satisfação. Em Romanos 15:1-3 está escrito: “Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos…. Porque também Cristo não se agradou a si mesmo”.
De acordo com essas palavras, a busca pela satisfação pessoal tem suas raízes em nossa imaginação de que podemos de fazer todas as coisas. Pedro desistiu de pescar e poderia dizer: “Abandonamos tudo!” Mas ele ainda não havia negado a si mesmo, nem seu poder. Ele aprendeu isso somente depois de sua queda.
Alguém disse: “Da mesma forma que nossa justiça própria é envergonhada em nossa conversão e recebemos a justiça de Cristo, também seremos envergonhados em nossa própria força, mais cedo ou mais tarde, para que o poder de Cristo possa permanecer em nós.”
Compreendam, filhos de Deus, que sua própria força é um de seus piores inimigos! Os obreiros do reino de Deus poderiam ver que seu próprio poder é o maior obstáculo para darem frutos para Deus! O poder de Deus nunca pode ser aperfeiçoado, exceto por meio de nossa fraqueza (2Co 12:9).
O poder de Deus pode, até certo ponto, trabalhar ao lado e junto com o nosso, mas não será aperfeiçoado em nós até que sejamos fracos em Deus (1Co 1:25). Disse Davi: “Secou-se o meu vigor, como um caco de barro” (Sl 22:15), mas: “De força me cingiste para o combate” (Sl 18:39). Deus sempre conduz aqueles que deseja usar à Sua fraqueza. Seu Servo mais perfeito foi conduzido à maior fraqueza. Ninguém pôde descer mais fundo do que a cruz, e para lá Deus conduziu Seu Filho.
Podemos ver claramente que Cristo estava livre de toda satisfação própria, se compararmos Hebreus 1:3 e Isaías 53:3: “O resplendor da glória” e “era desprezado”. O poder que Deus deu a Seu Filho consistia em torná-Lo no mais desprezado, e o mandamento que Deus lhe deus foi que entregasse Sua vida (Jo 10:17,18).
Aqui temos uma explicação prática das palavras tão conhecidas de João 1:12: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder”. O poder de sacrificar a vida é o “poder” do Cordeiro. Só Ele é vitorioso. Portanto, ser “levado mais longe” significa nada menos do que ser “levado mais fundo”, e quando oramos: “Senhor, fortalece-me”, o Espírito Santo intercede por nós e diz: “Senhor, leva-o a prostrar!”
O hedonismo deriva sempre do sentimento de autossuficiência e de superioridade. Onde há impotência, não há espaço para a auto-satisfação. Por que você julga seu irmão? Por que você desiste e reclama dele? Por que você busca reconhecimento? Por que você faz exigências? Por que você tem vergonha de um trabalho humilde? Porque você está satisfeito consigo mesmo. Por que você gosta de falar sobre si mesmo? Você tem um alto conceito a respeito de si mesmo.
Um criminoso precisa ser forçado a falar de si mesmo. Somos o que além de criminosos perdoados? Pode-se falar sobre qualquer outra coisa com menos perigo do que sobre si mesmo. Jesus disse a respeito de Satanás: “Quando ele profere mentiras, fala do que lhe é próprio” [Jo 8:44]. Corremos grave perigo de mentir facilmente quando falamos sobre os nossos. José encarou presunção em sua casa e entre seus irmãos e ele falou sobre suas próprias vantagens, e ele não são totalmente injustificado. Mas ele precisava se libertar dessa satisfação própria antes que Deus pudesse lhe dar o lugar que Ele queria que ele ocupasse. Ele foi colocado na prisão, e lá Deus o purificou e limpou de toda a vaidade.
f. Exaltação própria
A exaltação própria é a sexta manifestação de nosso ego. “Não busco minha própria glória”, disse o Senhor. Sansão usou a força concedida por Deus a seu favor, em vez de usá-la para Deus. Ele puxou os postes do portão de Gaza e os carregou para a montanha. Com sua força, ele deveria ter salvado Israel, mas em vez disso, mostrou suas próprias proezas. Da mesma forma, quantas vezes nos enfeitamos e nos vestimos, usando aquilo que pertence a Deus e que deve ser depositado no Seu santuário! Acã deveria ter consagrado o manto babilônico e a cunha de ouro ao Senhor, mas ele os guardou para seus propósitos pessoais.
Nós também frequentemente usamos nosso raciocínio claro e nossa língua eloquente para demonstrar nossa inteligência. Por quê? Porque ainda não sabemos o que é glória. A glória de Deus está sempre velada e é visível apenas para aquele cujos olhos foram abertos por Deus. Ele permitiu que Seu Filho assumisse a forma de servo. O maná estava coberto de geada, e sobre a arca da aliança foi posta uma feia pele de texugo.
“Toda formosura é a filha do Rei no interior do palácio” (Salmo 45:13).
A glória do homem é sempre algo exterior. A glória de Deus está dentro, no lugar secreto. “Vimos Sua glória”, diz João. Essa glória ele viu na humildade do Filho de Deus. João viu a glória do Senhor em Sua humilhação; portanto ele pôde segui-Lo até a cruz, mesmo quando os demais discípulos fugiram. Quando esta glória brilha em nossos corações, entendemos as palavras de Paulo em Gálatas 6:14: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”. Não buscaremos outra glória senão a do Cordeiro.
Pedro gostava de se comparar com os outros. Ele disse: “Abandonamos tudo” e “quantas vezes devo perdoar meu irmão?” Em todos os lugares, sua exaltação própria brilhava. Portanto, Jesus também fez uso de comparações naquele estranho encontro à beira do lago, quando lhe perguntou: “Amas-me mais do que estes?” – mais! Mas Pedro não consentiu. Ele aprendeu a não se comparar com os outros. Ele ficaria feliz em poder dizer a seu Mestre: “Tu o sabes!”.
Tudo o que era dele se desvaneceu, pois o Espírito do Senhor soprou sobre ele (Is 40:7). Quando o coração é aberto para a bênção do Espírito de Deus, como descrita em Ezequiel 36, o Espírito nos permite primeiro ver nossa impureza e depois nos limpa dela. O que Deus diz na conclusão desse capítulo torna-se então verdade: “Tereis nojo de vós mesmos.” [Ez 20:43; 36:31]. Esse é o extremo oposto de exaltação própria.
Continua no próximo post.