Nas Pegadas do Cordeiro

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“Nas pegadas do Cordeiro” é uma tradução do livreto “In the footprints of the Lamb”, de Georg Steinberger, publicado em 1915.

Georg Steinberger (1865 – 1904)

***

“São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá”.  (Apocalipse 14:4).

Esse caminho é chamado: Nas pegadas do Cordeiro. Ao trilhá-lo, assimilamos o sentido da Cruz, compreendermos mais o seu poder e aprendemos a andar debaixo de sua sombra… O sentido mais profundo da Cruz é desistir de si mesmo.

Introdução
O Caminho do Cordeiro
A Luz do Caminho
O Alvo
Aquele que vem

Introdução

As pegadas do Cordeiro de Deus marcam o único caminho por meio do qual é possível atingir o verdadeiro progresso espiritual. Esse é o caminho onde encontramos paz duradoura, vivemos uma vida frutífera, conquistamos vitórias espirituais e alcançamos o objetivo final da glória. Aquele que segue o Cordeiro por Seu caminho, finalmente chegará aonde o próprio Cordeiro está. O Cordeiro está no meio do trono [Ap 7:17]. Nenhum outro caminho conduz até lá.

Frequentemente, proclamamos o caminho da salvação plena por intermédio de Cristo – e isso devemos com fidelidade continuar a fazer – mas o caminho pelo qual tal fé salvadora pode ser concretizada em nossa vida prática diária tem sido muito menos adequadamente apresentado. Este é o Caminho do Cordeiro.

É comum não compreendermos nossa própria vida e nossos caminhos, e enquanto não tivermos aprendido a conhecer o segredo do Cordeiro e do Seu modo de vida, permaneceremos “desferindo golpes no ar”. Pedro era uma pessoa zelosa e honesta antes do Pentecostes, entretanto não compreendia que o Mestre precisava viver e morrer como um Cordeiro. Essa foi a razão pela qual Pedro O negou.

Na vida cristã, nos relacionamos com uma Pessoa, não com uma doutrina. O Senhor nos deixou um exemplo. Podemos ser desencaminhados por doutrinas*, podemos até nos cansar delas [embora devamos nos esforçar no sentido contrário], mas nunca nos cansaremos de olhar para o Cordeiro e andar em Suas pegadas. Vamos adorar o Pai por toda a eternidade porque Ele nos deu o Cordeiro como um guia e não apenas como uma oferta pelo pecado! Como isso é abençoado para nós, especialmente em nosso tempo, quando tantas vozes conflitantes afirmam: “Eis aqui o Cristo!” e “Ou: Ei-lo ali!” [Mt 24:23].

*Isso não significa que o ensino doutrinário não seja importante. A sã doutrina é vital para a vida cristã (Tt 1:9, 2:1); toda doutrina é valiosa porque nos instrui a respeito de Deus – Pai, Filho, Espírito Santo -, e acerca de nossa união com Ele. Podemos, entretanto, tornar-nos frios e indiferentes ao desassociarmos os fatos da verdade doutrinária do nosso amor pelo Deus da Verdade. Ambos devem andar juntos.

O Caminho

O Caminho do Cordeiro é, em primeiro lugar, um caminho preparado

Os pés sagrados do Salvador já o percorreram. Mesmo que esse caminho às vezes possa nos parecer velado e sombrio, ele foi aberto e preparado por Ele, e isso é suficiente para nós. O Caminho, portanto, não é desconhecido, pois quando o percorremos vemos as próprias pegadas do Mestre diante de nós. Em todas as nossas dificuldades – em casa, no mundo – por toda parte vemos as marcas de Seus pés. Ele conhece todos os nossos caminhos (Sl 139:3). “Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2:18).

Neste Caminho, a alma já não se queixa: “Não sou compreendido! Sou julgado injustamente!” Ele, nosso Sumo Sacerdote, nos entende e isso traz paz aos nossos corações. A ovelha não procura ser conhecida nem compreendida por outra pessoa além de seu pastor, basta-lhe ver Suas pegadas e ouvir Sua voz. Quando seguimos o Cordeiro, não há nada que possa atrapalhar nosso caminho ou impedir nosso progresso.

O que necessitamos para subir a Jerusalém (para o Calvário, Mt 21:1-3), isto é, o que necessitamos para trilhar o caminho da morte estará, em última análise, atrelado à nossa escolha. Se estivermos dispostos a seguir o Cordeiro, nossos caminhos estarão preparados em todos os lugares, pois em todas as estradas existem oportunidades abundantes de morrer para nós mesmos. Aquele que busca isso nunca ficará desapontado. Ele encontrará o que procura; e este é o segredo da felicidade.

Aquele que segue o Cordeiro renunciou, de uma vez por todas, à sua própria vontade e seus próprios caminhos. Agora ele não tem propósitos e interesses pessoais, permitindo que seu pastor revogue seus desejos e planos. Ele observa e compreende que nesse caminho não há mais lugar para uma vida dirigida pelo ego, julgando sua própria vida, renunciando-a. A partir daí pode facilmente ser tolerante com a vida dos outros!

Consequentemente, essa pessoa não se ofende tão facilmente. Quando tropeçamos por causa de outros, não estamos andando nas pegadas do Cordeiro; não somos filhos do dia, mas da noite (Jo 11:9-10). Dizer que certa pessoa atrapalha meu progresso é tão absurdo quanto dizer que ela poderia impedir que o sol resplandeça sobre mim.

Alguém disse, considerando este problema comum da vida cristã: “Um cristão nunca se sente incompreendido, nenhum cristão verdadeiro é ‘negligenciado’. Pelo contrário, um cristão sabe que diariamente negligencia muitas coisas ao se relacionar com os outros.” Aquele que segue o Cordeiro não pode esperar ser compreendido por todos. 

Existem caminhos pelos quais o crente deve andar sozinho com seu Deus. Isso aconteceu com Abraão, quando foi com Isaque até o Monte Moriá. Ele deixou sua esposa em casa e seus servos no sopé da montanha. Nenhum deles teria entendido o caminho que estava prestes a trilhar. Assim, ele não disse que iria realizar um sacrifício, mas que ia adorar.

E nós, o que dizemos em uma situação semelhante? Devemos ser honestos e admitir que não entendemos o Caminho do Cordeiro! Somos como as crianças na entrada de Cristo em Jerusalém, gritando: “Hosana! Hosana!” mas sem a percepção de que o Rei deveria sair pelo outro portão da cidade para morrer na cruz, e que Ele nos convida a segui-Lo, compartilhando Seu vitupério (Hb 13:13).

Os primeiros cristãos conheciam muito melhor este Caminho porque viram muitos que o percorriam, alguns que com alegria venderam os seus bens e os repartiram, outros que habitaram em cavernas e covis e renunciaram não apenas às suas posses, mas também à própria vida. Esses não desejavam estar acima do Cordeiro. 

Os ramos da videira são conhecidos por sua unidade com a própria videira. Perfure a videira ou o galho em qualquer ponto, e a mesma seiva vivificante fluirá por toda parte. O que torna nossa união com o Salvador e nossa “permanência Nele” tão difícil é que desejamos seguir por outros caminhos. Entretanto, não há caminho mais abençoado na terra do que o caminho do Cordeiro. “As tuas pegadas destilam fartura” (Sl 65:11).

O Caminho do Cordeiro nos traz paz permanente

Nesse caminho encontramos descanso. Encontraremos paz na exata medida em que seguimos o Senhor em Seu caminho. E nós reteremos essa paz enquanto estivemos em unidade com Ele.

Essa paz não é algo pelo qual devemos nos esforçar ou orar; é-nos concedida assim que tomamos Seu jugo sobre nós e O seguimos (Mt 11:29).

A Bíblia distingue a “paz com Deus” (Rm 5:1) e a “paz de Deus” (Fp 4:7). A paz com Deus, ou paz na consciência, é um presente que Deus dá ao pecador assim que Ele vem para a cruz. A paz de Deus, ou paz no coração, é uma bênção que se recebe por intermédio da obediência aos mandamentos de Deus (Is 48:18).

Jesus também estabeleceu uma distinção entre essas duas experiências em Seu conhecido convite aos cansados e sobrecarregados (Mt 11:28-29). Ele fala primeiro do descanso que dará àqueles que vêm até Ele, e depois do descanso que é encontrado por aqueles que O seguem.

No Caminho do Cordeiro encontramos uma paz permanente, porque ali aprendemos a deixá-Lo lidar não só com os nossos pecados, mas também com as nossas dificuldades, sejam estas concernentes à nossa própria pessoa, à nossa família ou seja atrelada a algum serviço que nos compete no Reino de Deus. 

Assim fez Maria. Ela permitiu que Jesus intervisse a seu favor e respondesse à reclamação de sua irmã (Lc 10:38-42). Mais tarde, quando Judas pronunciou palavras de acusação contra ela, Maria novamente permitiu que o Mestre a defendesse (Jo 12:1-5). Ser convertido a Deus e ainda estar preocupado com os cuidados desse mundo, sentido inveja ou nutrindo um espírito amargurado, é algo totalmente antinatural. A essas almas falta aquela paz de coração que não só ultrapassa todo o entendimento, mas também vence todas as provações.

Paulo escreveu aos Tessalonicenses: “Ora, o Senhor da paz, Ele mesmo, vos dê continuamente a paz em todas as circunstâncias.” (2Ts 3:16). Será que Ele pode realmente conceder paz em todas as circunstâncias? Sim, certamente! Ele pode conceder paz no amargo e no doce, na tempestade e na calmaria, na adversidade e na prosperidade. 

Nós seguimos o Senhor da paz. Enquanto buscarmos paz fora dEle, ela será facilmente perturbada ou poderemos perdê-la a qualquer momento. Mas a paz que pode ser perturbada não é uma paz real. Para o verdadeiro cristão, os anos podem ir e vir, suas condições de vida podem mudar, mas não sua paz. Ela não muda, assim como o Senhor Jesus não pode mudar. Oh, que nunca duvidemos da possibilidade de possuir tal paz, nem tenhamos medo de trilhar o Caminho onde ela se encontra!

Este Caminho é chamado: Nas pegadas do Cordeiro. Lá, entendemos o significado da cruz, compreendemos seu poder e aprendemos a caminhar debaixo de sua sombra. O sentido mais profundo da cruz é desistir do de si mesmo. Somente quando este tirano terrível for ferido até a morte, a paz imperturbável poderá governar.

Então não procuraremos mais preservar aquilo que está condenado à morte. Não desejaremos mais, como Marta, manter nossa própria autoridade; alegremente colocaremos o governo sobre os ombros dAquele é chamado de Príncipe da Paz (Is 9:6). A partir daí, nossa paz se tornará cada vez mais profunda e maior. A paz do Senhor se estende na mesma extensão do Seu governo.

Jesus não viveu para Si mesmo, mas para Seu Pai celestial. Por esta razão, Sua paz permaneceu ininterrupta mesmo quando os Seus não o receberam, estavam prontos para apedrejá-lo e até mesmo quando O pregaram na cruz da vergonha.

No Caminho do Cordeiro vivemos uma vida frutífera

Como um cordeiro

Jesus nos serviu por meio de Suas palavras e com Sua vida santa. Mas, acima de tudo, Ele nos serviu como o Cordeiro, como o grão de trigo que caiu na terra para morrer, dando muito fruto. O Senhor foi aperfeiçoado pelo sofrimento e coroado pela morte, conduzindo muitos filhos à glória (Hb 2). Como um Cordeiro moribundo, Ele se tornou um Salvador perfeito; e sem o sofrimento da morte isso nunca teria acontecido. 

Tente apenas imaginar a vida do Senhor à parte de Seu caráter de Cordeiro. O que restaria? Ele seria um profeta poderoso em palavras e obras, como disseram os discípulos de Emaús. Mas, como tal, Ele não poderia nos salvar.

Da mesma forma, tente imaginar o caráter do Cordeiro à parte de sua própria vida! O que resta do seu cristianismo? Somente como um Cordeiro, Jesus pôde servir e salvar. Somente como cordeiros, poderemos servir e ajudar nossos irmãos. Portanto, Jesus enviou Seus discípulos como cordeiros, e eles serão frutíferos porque desistem de si mesmos e se permitem ser despojados. “A ovelha é muda perante os seus tosquiadores” (conf. Is 53:7).

Fruto

Frutos são mais do que apenas resultados. O fruto se reproduz. Podemos avaliar o peso de nosso ensino e da nossa vida pelos frutos espirituais maduros gerados na vida de outras pessoas. Só onde há vida pode haver fruto; e, de acordo com João 6:47-59, a vida eterna existe apenas onde alguém desejou morrer junto com o Cordeiro. Isso porque a maior vitória de nosso Senhor acontece quando Ele encontra na terra aqueles que compartilham Sua morte com Ele. Essas pessoas ensinam, pelo exemplo visível, o tipo de ensino que todos sabemos ser o mais eficaz.

Hoje um ministro me escreveu: “Só posso ser uma bênção para minha congregação quando vivo Cristo diante de seus olhos. Acredito que este é o tipo de pregação mais eficaz. Sempre me atraiu pessoalmente e ainda continua a me atrair. Aquele que tem sede refresca-se de bom grado em uma fonte fresca e fluida. Não fomos chamados para ser ‘fontes’?” Sim, poços de água viva (Jo 4:14)!

Serviço

Não é suficiente termos vida; devemos tê-la com abundância (Jo 10:10, 7:37). Mas a vida de Cristo só pode ser revelada por aqueles que morreram e cuja “vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus” (Cl 3:3). Em Isaías 53:11 está escrito que o Cordeiro “verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito”. Vemos dores de parto ocultas e frutos visíveis. Os seguidores do Cordeiro podem servir por estarem dispostos a viver uma vida oculta e porque, como seguidores do Cordeiro, têm o coração do pastor. Quão desesperadamente precisamos de pessoas que possam realizar o trabalho secreto da alma! Isso dá força, equilíbrio e bênção a todas as nossas atividades públicas. Quando ninguém vive uma vida de oração em uma congregação, logo se percebe o efeito.

“Eu ficaria feliz em fazer algo para o Senhor”, me disse um cristão, “mas sou surdo e, portanto, não posso me associar com as pessoas”.

Respondi: “Fale com o seu Deus sobre essas almas, fale com Ele em secreto, e Ele o recompensará abertamente”.

Você sabe como o Cordeiro recebeu a semente desse poder espiritual criativo? Ele fez de Sua alma uma oferta pelo pecado (Is 53:10). Ou seja, Ele tomou sobre Si a culpa dos outros, carregou-a como se fosse Sua. O mesmo aconteceu com Esdras, Neemias e Daniel. Eles disseram: “Nós pecamos!” Esse é o Caminho do Cordeiro.

Como cordeiro, podemos fazer todo tipo de trabalho. Nenhum trabalho é humilde demais para os cordeiros, pois tudo o que fazem é feito para a glória de Deus. Muitas filhas ganhariam sua mãe mais rapidamente para Jesus se, em vez de constantemente lhe dizer que deveria se converter, lavassem a louça dela, limpassem a casa e, assim, mostrassem a ela o que realmente é a conversão. Temos gente suficiente para fazer grandes coisas; mas quem está disposto a fazer as pequenas coisas? Comece com as pequenas coisas e você não apenas encontrará serviço suficiente diante de si, mas também colherá dele uma bênção.

Abrindo mão de todos os “direitos”

Em Êxodo 12, no verso 3, lemos: “Cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família.” Cuide para que um cordeiro seja providenciado para sua casa.

Como podemos fazer isso? Quando nos alegramos no Cordeiro em casa! E quando isso é possível? Quando nós mesmos somos como cordeiros. O espírito do cordeiro é sempre atraente e sua natureza é vitoriosa acima de todos os obstáculos. Lemos em Isaías 42, no verso 4, a respeito do Cordeiro de Deus: “Não desanimará, nem se quebrará até que ponha na terra o direito”. Como Ele conseguiu isso? Não por meio de palavras, mas por meio de um sacrifício: Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós.

Como você “faz justiça” em sua própria casa? Quando você, sem murmurar, pode desistir de seus próprios direitos. Conheço uma viúva com dez filhos, todos convertidos a Deus. Sua casa é um pedaço do paraíso na terra. Ali nunca se ouvem repreensões, reclamações ou ordens imperiosas. Cada membro da casa lê o desejo do outro em seus olhos. E como essa casa se tornou assim? Não por palavras, pois a mãe nunca disse aos filhos: “Vocês devem se converter”. Isso aconteceu por meio de sua abnegação e vida altruísta, assim ela tornou o Cordeiro precioso para seus entes queridos. Visito esta casa sempre que posso – não para instruir, mas para aprender.

No Caminho do Cordeiro ganhamos a coroa de vitória

Foi como um cordeiro que nosso Salvador venceu, não foi como o Senhor do céu e da terra que “falou, e tudo se fez”, que “ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33:9). Ele enviou Seus discípulos como cordeiros para vencer um mundo que não O conhecia e realizou forte oposição a Ele – e eles o conquistaram!

Quando Jacó foi vencido, venceu e se tornou em Israel. Ser fraco não é tropeçar e cair, mas é estar desamparado e sem defesa, não ser nada em si mesmo. Então, haverá espaço para o poder de Deus. Em 1 Coríntios 1:25 Paulo diz que “fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”. Aqui a fraqueza é atribuída a Deus. “Quando estou vencido, Ele é meu ajudador”, disse Davi. Deus sempre toma o partido dos fracos.

Existe um tipo de derrota santa; podemos sofrer derrotas por amor a Deus. Maria se submeteu a sua irmã Marta. Ela permaneceu paciente quando sua irmã a repreendeu. Ana se submeteu às provocações de Penina; ela se permitiu ser abusada. Toda a vida de Jesus, desde Seu primeiro dia de vida até a morte na cruz, foi plena de submissão, mas Ele tudo suportou por amor a Deus. Passo a passo, Ele conquistou a vitória. Como “a graça de Deus estava sobre Ele” tão poderosamente, Deus foi Seu auxílio infalível [Lc 2:40]. Assim, o Senhor prosseguiu, de vitória em vitória; e quando desceu às maiores profundezas, obteve a vitória mais perfeita e gloriosa. Com mãos e pés presos por pregos mas com um coração cheio de obediência, Ele venceu o pecado, o mundo e o inferno.

No Monte Sião, onde foi desprezado e zombado, sofrendo derrota, foi visto depois por João como o Senhor da Vitória, e ao Seu lado estava o fruto de Sua morte: cento e quarenta e quatro mil, em cujas testas está escrito o nome de Seu Pai e o nome dEle [Ap 14]. Onde você hoje se permite ser “vencido” por amor a Ele, mais cedo ou mais tarde receberá os frutos da vitória.

Quando José foi enviado para a prisão, quando Daniel foi lançado na cova dos leões e quando seus amigos foram condenados à fornalha ardente, eles não pareciam ser os vencedores, ainda que o fossem. Aqui, a fraqueza de Deus era mais forte do que os homens, mais forte do que um império de cento e vinte províncias. 

E o que nos foi revelado no jardim do Getsêmani, antes do conselho dos judeus, antes do tribunal de Pilatos, dos soldados e da cruz? A fraqueza de Deus, que é mais forte do que os homens, sim, mais forte do que todo o reino da morte!

Em Hebreus 11, temos uma visão dos heróis da fé. O primeiro deu a vida porque seu irmão o odiava. A respeito dos últimos, nos é dito: “Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.” [Hb 11:37,38].

Eram esses os heróis? Sim, dentro do julgamento de Deus! Está escrito que eles “da fraqueza tiraram força” (11:34). O que isto significa? Por meio do sofrimento, eles se tornaram capazes de suportar muito sofrimento; ao perseverar, eles foram fortalecidos para perseverar ainda mais; ao serem derrotados, aprenderam a conquistar.

Jesus, por três anos inteiros, suportou Judas, até que finalmente Ele pôde clamar na cruz: “Pai, perdoa-lhes.” Por ter experimentado ser negado pelos Seus, Ele foi capacitado a suportar ser negado por todo o povo. Assim, o Cordeiro se tornou num leão.

O Caminho do Cordeiro é o único caminho para a glória

Porque Jesus se humilhou, Ele foi exaltado. O Senhor desceu quatro degraus com direção à glória. Lemos em Filipenses 2:6-9:

1. Ele desistiu do privilégio de igualdade com Deus; 
2. Ele se humilhou;
3. Ele se tornou obediente até a morte;
4. Sim, até a morte de cruz!

“Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome” (Fp 2:9). Esse foi o Seu caminho para a glória, e não será diferente para nós. Somente o caminho das pegadas do Cordeiro conduz ao trono; ser glorificado como o Cordeiro é se tornar como Ele. 

Mas não podemos nos tornar semelhantes a Ele enquanto Filho de Deus, o Rei do céu e da terra. Somos chamados a ser como Ele, semelhantes ao Cordeiro. Ele é o padrão segundo o qual Deus nos molda.

Quando Deus planejou criar o homem, Ele disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. A imagem que se assemelha a Ele, o Filho do Homem, é o ideal de Deus, e desse ideal Deus nunca desistiu. 

Em Apocalipse 19, vemos esse ideal cumprido. Lá, uma grande multidão é vista de pé ao lado do Cordeiro como Sua noiva, semelhantes a Ele. Frequentemente paramos na justificação, mas Deus não pára ali. Aqueles “a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.” (Rm 8:30). Quão glorioso é o propósito de Deus para nós: sermos “conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8:29)! 

Como podemos chegar a isso? Recebemos a resposta no mesmo capítulo: “sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28). A mão do Senhor nos guia em nosso caminho e que Ele nos conduz apenas nos caminhos necessários para nossa disciplina e crescimento. Devemos também saber que somente aqueles que se atrevem a seguir o Cordeiro estarão ao Seu lado naquele dia. 

Portanto, andemos em Seu caminho, mesmo que se diga a nosso respeito: “Fomos considerados ovelhas para o matadouro” (Rm 8:36). Não procuremos dons e bem-aventuranças; mas apenas a Ele. Como disse Asafe: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra”(Sl 73:25).

O deserto foi o caminho para a glória para o povo de Israel, mas como eles não estavam dispostos a seguir a seu Deus em dificuldades e provações, a glória se retirou deles. No momento em que a glória do povo de Deus deveria ter sido mais claramente revelada, eles murmuraram e se colocaram em oposição à Sua vontade, entristecendo o Espírito Santo.

Israel foi chamado para ser um exemplo da fidelidade e do poder de Deus para todas as gerações vindouras. Infelizmente, eles não conseguiram atingir o propósito de Deus para eles; pois não estavam dispostos a depositar sua confiança em Deus quando caminhavam nas trevas e, portanto, também não O seguiriam durante horas de tribulação. 

Deus conduziu você para o deserto? Ele tirou de debaixo de seus pés o seu suporte, aquilo que você dependia? Então, você terá uma experiência gloriosa! Atente bem se não será uma maneira pela qual Deus irá glorificá-lo! Não reclame pelo que perdeu, e não anseie por tê-lo devolvido a você, não seja como Israel que desejou retornar para o Egito. Deus irá guiá-lo ainda mais longe. Em vez das panelas de carne, Ele dá a você o Pão do céu e, em vez da água do Nilo, te proverá da água da Rocha. Mas deposite sua confiança nEle no deserto, nos dias de trevas e dificuldades. Isso só é possível àqueles que perderam sua autoconfiança no deserto, lugar de onde Deus atrai Seus filhos.

Deus não força Seus filhos nesses caminhos. Ele os atrai.Por esses caminhos, Deus não força Seus filhos. Ele os seduz. “Portanto, eis que vou atraí-la e levá-la ao deserto e falar-lhe confortavelmente. E eu lhe darei suas vinhas dali, e o vale de Acor por uma porta de esperança: e ela cantará lá, como nos dias de sua juventude, e … ela me chamará: Meu marido… e tirarei desta o arco, e a espada, e a guerra e farei o meu povo repousar em segurança.”(Os 2:14-18). 

O que Israel encontrou neste caminho? Encontrou maiores riquezas, uma viva esperança, uma alegria imperturbável, um entendimento mais profundo, uma paz mais inclusiva, uma segurança ininterrupta, uma purificação mais profunda da alma e uma comunhão mais íntima com seu Deus. 

Você chamaria isso de deserto? Certamente não é para aqueles que são como Moisés, vêem além do opróbrio, o galardão. Nem para aqueles que são como Davi, que viu o Salvador acima do sofrimento; ou para aqueles que, como Jesus, vêem além da cruz, vêem a coroa (Hb 12:2). 

O que você vê além da desgraça, além do sofrimento, além da cruz? Você vê as amplas perspectivas de glória que estão muito além de tudo isso? 

Quando Judas saiu determinado a trair Jesus, e a gota mais amarga pingou no cálice do sofrimento do Salvador, Ele pôde dizer: “Agora, foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele” (Jo 13:31). Ele foi glorificado por intermédio do sofrimento! Todo caminho tomado na tentativa de aliviar o sofrimento enviado por Deus envolve uma perda, na mesma medida, de glória. Deus concede graça aos humildes. Cada vez que nos afastamos de uma experiência de humilhação, nos afastamos de Sua graça. Quanta glória e graça já perdemos! 

Jesus não se desviou na hora das trevas, mas colocou Sua agonia nas mãos do Pai para não perder a bênção contida nela. Em João 17, Ele disse: “Pai, é chegada a hora; glorifica teu Filho.” [vs 1].

Que hora foi esta? Foi a hora amarga no Getsêmani e no Calvário. O que Ele esperava desta hora? Transfiguração, glória! Ele não ficou desapontado com essa expectativa. Que infinita glória o Getsêmani e o Gólgota trouxeram para Ele! Milhões de criaturas no céu, na terra, sob a terra e no mar cantam uma nova canção: “Digno é o Cordeiro que foi morto!” (Ap 5:12).

Você também passa por horas de trevas e de amargura? O que você espera delas? Que passem o mais rápido possível? Não é esse o propósito pelo qual elas te são concedidas, mas seu objetivo é te conduzir a uma nova glória. Essas são experiências sagradas! Portanto, tenha muito cuidado consigo mesmo e com os outros. 

Não fuja do trabalho do joalheiro celestial, pois nesses momentos a faceta do diamante atinge um novo brilho, levando-o a reluzir ainda mais. Que esplendor foi concedido a Daniel pela cova dos leões, a seus amigos pela fornalha ardente, a Ana por sua paciência com Penina, e a Maria por seu silêncio diante das afrontas! 

Em Provérbios 4:18, lemos: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”. Os degraus que José desceu com direção à prisão certamente têm um brilho maior para nós do que os degraus que subiu para chegar ao trono de um rei. 

O que torna os homens de Deus tão grandes e impressionantes não é, de maneira alguma, o que eles realizaram. Na verdade sua grandeza reside em sua capacidade, com a ajuda de Deus, de passar pelas maiores dificuldades e pelas horas mais tenebrosas; quando, como Abraão, eles dão a Deus o que tem de mais precioso; quando, como Daniel, eles enfrentam os maiores perigos; e quando como Moisés, eles suportam aquilo que é praticamente impossível. Assim, eles glorificam a Deus. 

Essa é a glória que o filho de Deus deve buscar constantemente, não deve buscar glória para si mesmo.

 

Continua no próximo post.

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