“Treinado para reinar” é uma tradução do texto “Ruling…” de I. Lilias Trotter.
“Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mateus 25:23).
Por I. Lillias Trotter
Enquanto vislumbrava a aproximação do alvorecer, algumas palavras foram iluminadas para minha alma com tanta inspiração que senti o desejo de compartilhar, muito embora para muitos elas possam soar como um pensamento familiar. Quando essas coisas me ocorreram, me perguntei por que não tinha visto isso antes.
Vemos um propósito dúplice nas parábolas dos talentos e das minas: dar aos servos algo para fazer pelo seu Senhor enquanto eram treinados para seu trabalho futuro, na chegada do Reino.
O primeiro aspecto é bastante familiar; o segundo foi para mim, em um sentido muito vívido, uma nova revelação daquele Dia maravilhoso. Ao partir, o Rei sabia precisaria de “governantes” quando o Reino fosse Seu, e Ele passou um treinamento para seus servos, que ainda estavam inconscientes do que estava por vir, para que estivessem prontos para o governo quando Ele retornasse.
“Viveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 20:4). Essa afirmação que soava vaga e intangível para mim, agora tornou-se muito real, pois tudo naquele reinado será verdadeiramente real.
Aqui, nossa terra, com suas montanhas, desertos, bosques, nuvens e flores, exatamente como são nos dias de hoje, com as mesmas raças, nações e línguas, será conquistada para um rei. Pense nisso! A glória de vê-Lo ter, finalmente, Sua glória; a alegria indescritível de trazer molho após molho desses frutos por nós recolhidos e colocá-los aos Seus pés, considerando que nos nossos dias a semente produz apenas algumas lâminas esparsas.
“Entra no gozo do teu senhor” [Mt 25:21] – “A alegria lhe aumentaste”; “como se alegram na ceifa e como exultam quando repartem os despojos” [Is 9:3]. Pense em ver a alegria do Senhor pelo trabalho penoso de Sua alma – na alegria de alegrar a Deus. Pense nisso até que essa maravilhosa alegria alvoreça em seu coração.
Pense nas terras, onde alguns de nós tanto trabalhou, com tão poucos frutos visíveis, brotando com a repentina glória dourada da colheita.
A semente lançada nas águas, em tantas jornadas, é encontrada depois de muitos dias. Terras desertas, que havíamos deixado com o coração partido pelas queridas almas que só tiveram aquela oportunidade de ouvir, desabrochando como a rosa.
Pense em lugares ainda além daqueles pelos quais nossos corações ansiavam, mas onde a porta nunca se abriu.
Não seria como o se Senhor, a quem estamos aprendendo a conhecer, só nos permitisse ir até lá quando o Seu Reino vier, com corpos ressurretos que não murcharão ou falharão nas variadas estações, com o poder do Senhor triunfando gloriosamente, em vez de fazê-lo nesse combate extenuante de hoje? Então teremos mil anos para fazer nosso trabalho, em vez desses pobres dez, vinte ou trinta que consideramos tão pesarosamente curtos quando olhamos ao nosso redor e vemos que nosso esforços mal tocam nas orlas do ainda resta a se fazer.
Pense na comunhão da obra – os trabalhadores solitários espalhados hoje, desfrutando de um pouco da comunhão dos santos aqui embaixo. Pense em trabalhar ao lado de Rutherford, Terstegen, Fletcher e todos os adoráveis santos de todas as eras e nações, para não falar da boa comunhão dos apóstolos e do nobre exército de mártires.
E pense em toda autoridade, quanto estaremos do lado de Jesus. Alguns de nós trabalham hoje contra a maré – mas, no futuro, Ele será reconhecido em toda a terra, Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Agora, tire os olhos desta vista maravilhosa, descendo novamente para os marrons e cinzas desse “mundo do presente”.
Não houve um relance de luz sobre alguns de seus mistérios?
E se a Ele aprouver enviar alguns de Seus servos para terras pagãs, apenas para morrer em um ou dois anos? Não estaríamos julgando essas questões como se elas fossem limitadas pelo horizonte estreito e baixo desta vida? Esses servos tiveram um pouco de treinamento e já estão preparados para o trabalho, isso é tudo.
E aqueles cujo coração está no campo estrangeiro, mas que por questões de saúde ou circunstâncias não puderam ir? Não importa, você estará lá algum dia, e o treinamento está acontecendo hoje.
A resposta será infinitamente mais abundante do que tudo que você imaginou ou pensou, será tão maravilhoso como a resposta à oração de Moisés, quando seus pés estiveram com Jesus no Monte da Transfiguração. Ele pisou naquela bela montanha cujo topo ele vislumbrou a partir de Pisga.
As respostas de Deus não perdem seu valor por serem preservadas na eternidade, e você que sente que seus poderes começam a falhar, percebendo que a tristeza está se apoderando de você quando contempla o fim da bem-aventurança de uma vida dedicada a Jesus, oh! levante os olhos, estamos chegando ao fim de nosso treinamento e veremos que aqueles que semearam em lágrimas colherão seus frutos com alegria.
Pode ser que seja por meio da comunhão de lágrimas com Ele que você esteja recebendo um treinamento para ser capaz de suportar a alegria daquele dia. Mas oh! seja fiel hoje! Infinito é o ganho que será transportado para a eternidade, assim como pode ser eterna a perda. “Tua mina rendeu dez.” [Lc 19:16]. Qual seria o múltiplo desse poder frutificador contido nesses dons e nas provações que Deus nos concede? Certamente não é o fruto da labuta e do esforço humano, nem mesmo do espírito de fidelidade, mas do Espírito Santo, o Senhor e Doador da Vida.
Oh, entrar na vida eterna, com cada fibra de caráter, cérebro e capacidade “vivos para Deus”, por meio Dele. Só assim Sua mina pode render dez. Mas muitos de nós estamos vivendo em um misto de carne e Espírito – muito é ouro, prata e pedras preciosas e muito é madeira, feno e palha. Antes que Seu Reino seja estabelecido na terra, o fogo deve provar o tipo de obra de cada um. Deus nos permita julgar a nós mesmos agora, para que não sejamos julgados pelo Senhor no futuro.
“A terra é o ensaio para o céu. O eterno do além é o eterno aqui. A vida nas ruas, a vida doméstica, a vida empresarial, a vida urbana em todas as suas diversas esferas de atuação, são apenas um aprendizado para a Cidade de Deus ”. – Drummond.
Isabella Lilias Trotter (1853-1928) era uma amante da beleza e de Deus, e isso foi demonstrado em sua vida como artista, autora e missionária. Nascida em 1853 em uma família rica de Londres, seu talento foi notado pelo famoso crítico de arte John Ruskin. No entanto, em vez de seguir uma carreira artística, sentiu-se comissionada para ir à Argélia como missionária. Após ter sido rejeitada por uma sociedade missionária, seguiu para aquele país de forma independente, junto com outras duas mulheres solteiras. Ali viveu até sua morte, em 1928. A mensagem do livro “The Parables of the Cross” é simples e, ainda assim, de grande profundidade espiritual. Todas as imagens anexadas aos posts são de sua autoria. Mas a grande contribuição de Lilias Trotter não se resumiu em fazer belas ilustrações, mas principalmente pela capacidade de ilustrar verdades espirituais profundas que lhe eram percebidas a partir da natureza e da vida ao seu redor.
Mais informações sobre sua vida podem ser lidas na Wikipedia e em outros sítios na Internet, também em diversos livros escritos sobre sua vida.