Onde encontrar Boaz?

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“Onde está Boaz?” é um artigo baseado em meditações no capítulo 3 do livro de Rute. 

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“Disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de eu buscar-te um lar, para que sejas feliz? Disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de eu buscar-te um lar, para que sejas feliz? Ora, pois, não é Boaz, na companhia de cujas servas estiveste, um dos nossos parentes? Eis que esta noite alimpará a cevada na eira. Banha-te, e unge-te, e põe os teus melhores vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber. Quando ele repousar, notarás o lugar em que se deita; então, chegarás, e lhe descobrirás os pés, e te deitarás; ele te dirá o que deves fazer. Respondeu-lhe Rute: Tudo quanto me disseres farei.” (Rute 3:1-5).

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No capítulo 2, vimos Rute rebuscando aquilo que colheu dos campos de Boaz, aquilo que os servos deixavam para ela colher. Ela também teve a oportunidade de se assentar com ele, comer dos grãos tostados. Ela comeu, se fartou e ainda sobejou grandemente. Tudo isso foi fruto do que ela obteve dos campos de Boaz.

Esse capítulo termina indicando que Rute ficou naquele processo até que se acabou a colheita do trigo e da cevada. A partir do capítulo 3 tudo mudou. Ela passou para outra fase. A forma de adquirir alimento não é mais como visto no capítulo 2.

Se o alimento de Rute e Noemi dependia da colheita, agora que a colheita acabou, o que seria delas? Como elas iriam agora se alimentar? Uma nova fase do processo de se alimentar com o Senhor está por se iniciar.

Se no começo, os servos deixavam para Rute alimento, agora isso mudou. Se no início dependíamos tanto do alimento que os servos mais antigos deixavam para nós, ao ponto de nos fartarmos, agora o Senhor não quer que vivamos indefinidamente dependendo de comida deixada para nós pelos outros.

A partir do capítulo 3, Rute vai deixar de ser uma estrangeira que entrou nos campos de Boaz, pois seu relacionamento com Boaz começa a mudar, entrando em uma esfera muito mais íntima. É isso que o Senhor faz conosco. Assim, poderemos deixar as coisas de menino.

“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino” (1 Co 13:11). 

A mudança na mente de Noemi

“Disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de eu buscar-te um lar, para que sejas feliz?” (Rute 3:1).

“Disse-lhes Noemi: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o Senhor use convosco de benevolência, como vós usastes com os que morreram e comigo. O Senhor vos dê que sejais felizes, cada uma em casa de seu marido. E beijou-as” (Rute 1:8,9).

A primeira pessoa que entra em cena no capítulo 3 é Noemi. Sua mente, valores, propósitos foram mudados depois dessa estada em Belém, como podemos ver na grande mudança entre sua postura no verso 1, do capítulo 3, e sua primeira interação com as noras, em Rute 1:8-9. Antes ela desejava que as noras fossem felizes, se casando com homens moabitas. Agora ela mudou sua forma de pensar.

Depois de alimentar-se dos campos ricos de Boaz, algo havia acontecido. Antes ela buscava em Moabe (na carne) um caminho para Rute ser feliz. Agora ela se lembra das promessas que tinha em Israel. Ali ela sabia que tinha uma provisão de Deus, e ela podia desejar para Rute um futuro diferente do que inicialmente havia desejado.

Noemi agora diz para Rute: “não hei de eu buscar-te um lar, para que sejas feliz?”. “Um lar” denota lugar de habitação e comunhão. Rute não seria mais uma estrangeira a rebuscar em terras alheias, mas teria um lar, um lugar para habitar, onde seria feliz em comunhão com Boaz.

“Que mudança ocorreu com Noemi! No capítulo 1:9 ela queria que o Senhor desse descanso a Rute e Orfa pela união com — e na casa de — homens moabitas. Agora Noemi estava de volta a Belém, alimentando-se da cevada dos campos de Boaz. Quando comemos desses campos, não continuamos os mesmos, nem continuamos a ver as coisas como víamos antes. Noemi agora buscava descanso para Rute pela união com Boaz — a mais íntima união possível” (HEIJKOOP, HL – Estudos RUTE-Capítulo 3).

À medida em que nos alimentamos dEle, teremos nossa fé firmada em Sua Palavra. O Senhor disse que Ele era o pão vivo que desceu do céu, o pão da vida. Quem dEle se alimentasse, dEle viveria (Jo 6:35; 57). Jesus é o Verbo Vivo, então devemos buscar a Palavra para encontrar uma Pessoa. Não devemos buscar conhecimento Bíblico para alimentar nossa mente, mas a Palavra Viva para alimentar nosso espírito. A partir daí começarmos a colocar nossa esperança na Palavra do Senhor.

Onde encontrar Boaz?

É interessante perceber que Noemi sabia onde Boaz deveria estar. Como isso aconteceu? Após se alimentar dos campos de Boaz, ela começou a se lembrar e a ter seu entendimento alargado.

De certa forma, Noemi já conhecia o Senhor o suficiente, a ponto de conhecer Seus caminhos (Sl 103:7). Podemos ver isso em alguns irmãos, que têm uma intimidade a mais com o Senhor, e essas pessoas irão nos conduzir sempre mais para Cristo. Essas pessoas, que conhecem os caminhos do Senhor, não apenas Seus feitos, sabem que é o Senhor Quem deve dirigir todas as coisas. Por isso, Noemi podia instruir Rute, pois sabia quando e onde Boaz estaria.

“Noemi estava bem informada sobre o que Boaz fazia e onde estava… Entre os crentes há aqueles que desfrutam de tamanha comunhão com o Senhor que conhecem Suas ações: sabem onde Ele está, o que faz e qual é o comportamento apropriado para aquele que deseja estar em Sua presença. Tais crentes dizem: “Ele te dirá o que deves fazer”. Agora que Noemi não estava mais sob a nefasta influência de Moabe e havia lembrado de Boaz, as ordenanças de Deus voltaram à sua mente. Ela podia ter certeza de que Deus, em Sua graça e sabedoria, havia feito provisão para ela, mesmo naquelas circunstâncias peculiares (veja Lv 25, Nm 35 e Dt 25). A Palavra escrita de Deus era suficiente para esta mulher simples. Ela podia instruir Rute nos caminhos e pensamentos de Deus”. (HEIJKOOP, HL – Estudos RUTE-Capítulo 3).

O Local: a eira

“Ora, pois, não é Boaz, na companhia de cujas servas estiveste, um dos nossos parentes? Eis que esta noite alimpará a cevada na eira” (Rute 3:2).

“Para onde foi o teu amado, ó mais formosa entre as mulheres? Que rumo tomou o teu amado? E o buscaremos contigo” (Cantares 6:1).

A eira é um lugar muito significativo na Palavra de Deus. Temos uma menção especial, a Eira de Ornã, lugar onde aconteceram alguns eventos importantes, que tem um significado espiritual bastante representativo para nós:

  • Foi nessa eira que Abraão ofereceu Isaque (Monte Moriá – Gn 22:2).
  • Ali também Davi ofereceu sacrifícios ao Senhor após ter provocado a ira de Deus ao fazer o censo do povo (1Cr 21:15).
  • Essa eira também foi o local onde o templo de Salomão foi estabelecido (2Cr 3:1).

João Batista disse: “A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível”. (Mateus 3:12). 

Aqui descobrimos que é o Senhor quem faz a limpeza e separação entre o cereal e a palha, e isso acontece na eira.

Em 2 Samuel, encontramos outro evento importante que tomou lugar em uma eira:

“Quando chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e a segurou, porque os bois tropeçaram. Então, a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus”. (2 Sm 6:6,7).

A eira fala sempre do princípio de tratamento do Senhor, relacionado à Sua cruz. Esse local indica esse relacionamento, onde seremos levados ao fim de nós mesmos. É o relacionamento da cruz.

Que tem a palha com o trigo?

Em Jeremias 23:28,29: “O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? — diz o Senhor. Não é a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiúça a penha?”.

Aqui vemos que há diferença entre a palha e o trigo. Por isso a eira se faz tão necessária. Ali a palha é removida e é deixado o trigo. É na eira que o fazendeiro fere a colheita (seja por meio de carro de bois ou batendo com a vara), a fim de quebrar a casca e assim separar a palha do trigo. A palha será queimada com fogo inextinguível, mas o trigo será recolhido ao celeiro.

Noemi então diz para Rute que Boaz estaria na eira à noite. A noite também reflete um processo difícil, remetendo à momentos escuros, quando não vemos com clareza.

Mas por que Boaz estaria ali à noite? Porque é à noite que temos o vento que sopra a palha.

Em Mateus 13 o Senhor Jesus ensina a parábola do semeador. A semente que caiu em solo rochoso logo foi queimada pelo sol e secou, porque não tinha raiz. Quando explica essa parábola, o Senhor diz que “em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza” (Mt 13:6; 21).

Então, na eira à noite, temos os ventos, as condições para o trabalhar de Deus ali. Esses ventos representam as situações que o Senhor permitirá que a vida nos traga, e que serão Seus instrumentos para separar em nós o que é palha e o que é trigo. Ele deseja que fique em nós apenas o trigo – que remete à Ele, que é o pão vivo que desceu do céu. O que tem que sair é aquilo que não provém do Senhor (a palha).

A Palavra de Deus, o instrumento

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas”. (Hb 4:12,13)

No texto de Hebreus, vemos esse mesmo paralelo. A Palavra de Deus provoca essa separação, ao ponto de manifestar aquilo que é dEle e o que é nosso.

Há um processo de separação na eira! O Senhor quer nos mostrar o que é e o que não é realidade na nossa vida. Muitas coisas que aprendemos e assimilamos no nosso relacionamento com o Senhor e com os irmãos podem até ser biblicamente corretas, mas estão ainda na esfera da casca, não foram provadas pelas intempéries da vida.

Em João, o termo verdade, usado na expressão “cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14), também pode ser traduzido como realidade.

Na vida do Senhor Jesus não vimos uma teoria, um homem com belas palavras, mas Alguém que manifestava a realidade de Deus que estava dentro dEle.

O Senhor vai tentar extrair essa realidade de nós, mesmo que seja ao menos um grãozinho de trigo. Nada melhor do que passar por um processo na eira, para perceber esses elementos Divinos dentro de nós.

No texto de 1 Coríntios 3:11-15 percebemos esse mesmo elemento de separação. Existem materiais diversos a ser usados na edificação. Entretanto, toda a construção passará pela prova do fogo Divino. Alguns materiais resistirão, outros não:

“Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo”.

Boaz faz a separação

O texto de Rute também enfatiza que era Boaz quem estava trabalhando, colocando a mão na massa. Na etapa anterior, que era a da colheita, eram os servos que trabalhavam.

Agora, na etapa de separar o trigo da palha, é o próprio Boaz que executa a tarefa, não são os servos. Como Jesus disse: “meu pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5:17).

Boaz não tomou Rute e a levou para lá. Foi ela quem se dispôs e foi até ali voluntariamente. Rute foi até a eira e permitiu que o Senhor fizesse a Sua obra. Ela se deixou ser conduzida pelos tratos do Senhor.

A nossa esperança é saber que, em tudo, o Senhor tem um fim proveitoso. Também nos conforta saber que, em todo o processo da eira, estamos na companhia amorosa e misericordiosa do nosso Boaz. Não estamos sozinhos.

Tudo tem um tempo

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou” (Ec 3:1,2).

“Inclinai os ouvidos e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso. Porventura, lavra todo dia o lavrador, para semear? Ou todo dia sulca a sua terra e a esterroa? Porventura, quando já tem nivelado a superfície, não lhe espalha o endro, não semeia o cominho, não lança nela o trigo em leiras, ou cevada, no devido lugar, ou a espelta, na margem? Pois o seu Deus assim o instrui devidamente e o ensina. Porque o endro não se trilha com instrumento de trilhar, nem sobre o cominho se passa roda de carro; mas com vara se sacode o endro, e o cominho, com pau. Acaso, é esmiuçado o cereal? Não; o lavrador nem sempre o está debulhando, nem sempre está fazendo passar por cima dele a roda do seu carro e os seus cavalos. Também isso procede do SENHOR dos Exércitos; ele é maravilhoso em conselho e grande em sabedoria”. (Isaías 28: 23-29).

Um fato interessante é que esse processo de separação ocorria no final da colheita, uma vez por ano. Isso equivale a dizer que, em nossa vida cristã, não estaremos 100% do tempo sendo disciplinados pelo Senhor. O Senhor sabe quando precisa agir em nossa vida. Por isso, Ele dizia às filhas de Jerusalém: “não desperteis o amor até que este o queira” (Ct 2:7; 3:5; 8:4).

O processo pode até ser doloroso, difícil, mas o fim do Senhor é proveitoso. O Senhor deseja o fruto, a essência do trigo, que é Ele mesmo. O que cabe a nós é obedecer e nos entregarmos ao Senhor, confiando em Sua sabedoria em Seus tratos.

“Aquele, cuja voz abalou, então, a terra; agora, porém, ele promete, dizendo: Ainda uma vez por todas, farei abalar não só a terra, mas também o céu. Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas significa a remoção dessas coisas abaladas, como tinham sido feitas, para que as coisas que não são abaladas permaneçam” (Hebreus 12:26,27).

O Senhor busca aquilo que é inabalável, por isso abala todas as coisas, para que permaneça apenas o que não é abalável. O que é frágil, sem valor eterno em nossas vidas será queimado, permanecendo apenas o trigo – a vida do Senhor em nós. Isso é o que acontece na eira, e o Senhor fará isso em cada um de nós individualmente e também como igreja.

Artifícios humanos

“Quando chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e a segurou, porque os bois tropeçaram. Então, a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus”. (2 Sm 6:6,7).

Relembrando o texto citado anteriormente de 2 Samuel, é importante lembrar que Davi havia passado um tempo antes com os filisteus (1Sm 27:1): 

“Disse, porém, Davi consigo mesmo: Pode ser que algum dia venha eu a perecer nas mãos de Saul; nada há, pois, melhor para mim do que fugir para a terra dos filisteus; para que Saul perca de todo as esperanças e deixe de perseguir-me por todos os limites de Israel; assim, me livrarei da sua mão”.

Davi cogitou consigo mesmo que a melhor coisa a fazer era buscar refúgio com os filisteus. Sabemos que esses povos da terra de Canaã representam características do nosso eu. Os filisteus representam isso.

Não fazemos a mesma coisa? Nossa reação diante das batalhas e conflitos é buscar uma solução para o problema, tentando fugir dele. Foi exatamente o que fez Davi. Ao invés de confiar no Senhor, ele buscou socorro dos filisteus. Isso é inerente à nossa natureza humana, pois mesmo o homem segundo o coração de Deus assim o fez.

Foi isso também que fez a família de Noemi quando houve fome na terra, e então foram buscar socorro nas terras de Moabe.

Voltando para a situação de Uzá, por que essa arca estava sendo carregada com um carro de boi? Não era assim que Deus havia determinado que a arca devia ser conduzida.

Essa forma de condução, diferente do que Deus havia determinado, Davi aprendeu com os filisteus. Foi com eles que Davi conheceu os carros de bois e como eles os usavam para transportar as coisas. Também, quando a arca foi levada, os filisteus usaram um carro de vacas para transportá-la de volta ao povo de Israel (1Sm 6:7-11). Essa nova forma de transportar a arca não foi dada por Deus, mas pelos filisteus.

Existe um risco das coisas de Deus se tornarem tão comuns para nós, que podemos até nos esquecer que ELE TEM UM MODO DE AGIR, e então começamos a usar artifícios humanos nas coisas celestiais. O evento com Uzá aconteceu exatamente em uma eira.

Podemos até mesmo imitar irmãos em situações do mover de Deus. Nunca devemos nos esquecer que o Senhor tem os Seus meios. Ali na eira é o lugar onde o Senhor vai trazer Sua disciplina.

O Censo

Na situação do censo, vemos ali outro ponto de virada, temos a disciplina do Senhor com Davi e vemos que ele reconhece seu erro.

“O que isso significa? Davi desejou fazer um censo para dizer: “Que nação maravilhosa nós temos! Sou o rei desse povo! Olhem! Vejam que maravilha!” Você quase pode ouvir Nabucodonosor dizendo: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei” [Dn 4:30]? Também temos Satanás, se voltarmos antes dos tempos eternos, quando ele disse: “Eu exaltarei meu trono acima das nuvens!” [Is 14:13,14]. Vemos aí o orgulho da auto-exaltação, da auto-gratificação; a vanglória. 

Isso é exatamente o oposto da dependência: a humilde, mansa e consciente dependência de Deus. As coisas podem ter se tornado maiores e mais extensas, Deus pode ter abençoado grandemente, mas nunca devemos perder o profundo senso de dependência absoluta dEle. 

Satanás é a personificação da independência de Deus. Deus não vai aceitar isso. Se Ele expulsou Satanás do céu por causa disso, Ele não vai permitir que um homem na terra seja governado por esse mesmo espírito.

O templo de Salomão deveria ser edificado exatamente ali. As nossas vidas são edificadas sobre esse fundamento. A eira tipifica nossa comunhão com a cruz de Cristo. É nessa base que edificaremos nossa vida e a do povo do Senhor. Não o faremos baseados nas engenhosidades dos Filisteus, nem nas nossas ideias e nossa carne” (T. Austin-Sparks – A Eira). 

O povo é do Senhor, e Ele disse que esse povo seria incontável. Quando começamos a nos encher de orgulho, mesmo que seja na obra do Senhor, é nesse momento que o Senhor precisa nos conduzir à eira. Ele precisa nos guardar, pois tudo foi feito por Ele.

O Senhor faz essa separação e Ele mesmo nos conduz a isso.

Amar os juízos de Deus

“Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu!” (Salmo 19:12-14).

Encontramos esse mesmo princípio neste Salmo. Como Davi aqui destacou, a soberba é um ponto chave para um servo do Senhor, pois ela está oculta dentro de nós. Só o Senhor pode nos revelar essas coisas ocultas e nos limpar delas.

“O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa” (vs 9-11).

No verso 9 do mesmo Salmo, Davi destaca que os juízos do Senhor são verdadeiros e justos. Ele os desejava mais do que o ouro, e os considerava doces. Davi tinha consciência que precisava dos juízos de Deus, e que o foco não era para acabar com ele, pelo contrário.

É interessante perceber que quando Davi fala a respeito do ouro e do mel, ele se refere aos juízos, não aos testemunhos. Ele também enfatiza claramente que guardar isso era importante para qualificá-lo a receber uma recompensa.

O ponto de virada

Essa virada que encontramos entre o capítulo 2 e o capítulo 3 de Rute é muito importante. Rute saiu de um encontro pessoal com Boaz, sendo suprida pelos seus servos, para um relacionamento de comunhão e intimidade com Boaz, que representava o Senhor Jesus.

Entre esses dois tipos de relacionamento tem sua transição uma eira. É na eira que encontramos o segredo de sair do primeiro tipo de relacionamento para o segundo.

Tudo depende da nossa disposição de deixar que o Senhor quebre a casca e separe a palha do trigo. Devemos ter o coração com o de Rute: “Tudo quanto me disseres farei” (Rt 3:5). Assim deve ser a nossa caminhada.

Quanto mais o Senhor trabalhar, mais iremos progredir na nossa comunhão com Ele e com a Sua cruz, até aquele dia quando somente o trigo for revelado, e então diremos: “não sou mais eu quem vivo, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20).

Nossa esperança é que QUEM está limpando o trigo é o próprio Jesus. Ele sabe o tempo e o modo.

A eira tem um sentido importante para cada um de nós. Devemos considerar isso seriamente.

***

“Rute descobriu o segredo de como viver naquela terra. Na terra de Moabe, a forma de viver era completamente diferente. Se você quiser viver em Canaã, sempre começa do zero, sempre começa com nada. (…) Algumas vezes oramos para que sejamos nada, mas, na realidade, já o somos. Lembre-se que nosso pai é Adão, nosso avô é o pó, e nosso bisavô é o nada” (União com Cristo: Um vislumbre do livro de Rute – Christian Chen – pg 87).

“Quando você ouve alguém pronunciar muitas palavras de humildade, percebe que não é humilde. Não realizar essa obra por nós mesmos. Se tentarmos fazê-lo com as nossas próprias forças, seremos repreendidos por nossa falta de fé. Entenda que ESTAR MORTO é ainda mais baixo que SER HUMILDE. Para SER HUMILDE você primeiro tem que ter sido alguma coisa. Não há INFERIOR à MORTE, quem já ESTÁ MORTO não é NADA. NADA PODE SER INFERIOR A ISSO.” (Torrentes Espirituais, Madame Guyon, cap 15, pg 95).

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