Rio da graça

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Rio da Graça é um resumo do capítulo 5 do livro “Rivers of Living Water”, de T. Austin-Sparks. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento. 

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T. Austin-Sparks (1888-1971)

“Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas. Fartam-se da abundância da tua casa, e na torrente das tuas delícias lhes dás de beber” (Salmos 36:7,8).

“Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (João 4:14).

“No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (João7:37,38).

“Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro” (Apocalipse 22:1).

“O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Apocalipse 22:17).

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Os textos acima citados remetem maravilhosamente ao rio da vida! Eles refletem o que a vida cristã deveria ser. Mas o que torna a vida cristã em algo assim, essa vida abundante, que transborda em satisfação? As Escrituras relatam que Deus nos concedeu Seu Espírito Santo, e que esse Espírito é a água da vida. Esse Espírito não é dispensado a nós em gotas, mas em rios transbordantes, como Jesus afirmou: 

“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”  – essa vida é abundante! Na linguagem do apóstolo Paulo, essa é a plenitude de Deus (Ef 4:19).

Mas qual é a base que permite que esse rio nos seja concedido? Por que Deus nos proveu dessa abundância? A resposta se resume em uma única palavra: graça. 

Esse rio, afinal, é o rio da graça de Deus. Quando João escreveu sua epístola ele já era um homem idoso, ainda assim relatou as seguintes palavras de João Batista: “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (Jo 1:16). Que rio caudaloso! João afirmou que todos receberam dessa graça. Tomando a linguagem do apóstolo Paulo: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5:20). 

Bem conhecemos as inundações, como elas acontecem chegando e varrendo tudo em seu caminho, todos os obstáculos, tomando todo o espaço. Sim, o pecado abundou, mas a graça muito mais.

Efésios – a carta da Graça

Efésios é um livro de plenitude e sua linguagem reflete muitos desses superlativos. Percebemos que o apóstolo teve até certa dificuldade de expressar aquilo que via. Algumas das expressões usadas por ele refletem esses superlativos: “infinitamente mais do que pedimos ou pensamos” (3:20),  “a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo” (3:18,19). Efésios é a carta da plenitude Divina para o povo de Deus.

Vemos isso apresentado de formas variadas e nessa epístola temos a apresentação de um entendimento jamais visto em qualquer outro lugar da Bíblia. Vemos o pensamento de Deus para Seu povo antes da existência do tempo: sua eleição, sua escolha, tudo relacionado a um grandioso propósito. Deus, a partir da eternidade, nos encontra, nos eleva para fora do tempo e nos conduz à eternidade, tudo isso atrelado à pensamentos, planos, intenções e propósitos notáveis!

Muitas vezes percebemos que quando respondemos ao chamado de Jesus Cristo e à graça de Deus, somos capturados por algo tremendo, imenso, que não conseguimos descrever ou compreender. Aqui a figura do rio de Ezequiel nos ajuda muito, pois esse rio brota a partir do limiar do templo, fluindo e ganhando profundidade.

Que maravilha! O rio da graça Divina é mais do que somos capazes de compreender ou dominar com nossa tão limitada capacidade! Esse rio está além de nós, e sempre estará. Você já se desesperou de si mesmo ao ponto de acreditar que a graça de Deus não poderia mais te ajudar? Com o passar to tempo você descobrirá que o rio sempre estará mais adiante.

O chamado da graça é tremendo, e suas extensões são tão grandiosas quanto a eternidade.

Em Efésios percebemos como são maravilhosas as referências à GRAÇA de Deus! Que bela descrição do nosso precioso Rio da Graça. Podemos resumir essas referências em 6 pontos:

  1. Graça, a base de tudo – Ef 2:4-6
  2. Graça, o alvo supremo – Ef 2:7,8
  3. Graça, poder para proclamar a Cristo – Ef 3:2,7,8
  4. A Provisão da Graça – Ef 4:7
  5. A Influência da Graça – Ef 4:29
  6. A Bênção da Graça – Ef 6:24

3. Graça, a base de tudo

“Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2:4-6).

Deus nos salvou quando estávamos mortos em nossos pecados, Ele nos vivificou! Isso tudo foi pela graça. Essa é a base de tudo. Estávamos perdidos, e o Senhor nos salvou!

2. Graça, o alvo supremo

“Para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef 2:7).

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé” (Ef 2:8).

Temos diante de nós um alvo, que segundo Efésios, será manifestado nos séculos vindouros! Debaixo da iluminação e direção do Espírito Santo, que sabia de tudo antes que o homem existisse, vemos um relance desse grandioso propósito.

A base de tudo é a graça, mas essa mesma graça também é o objetivo final. Entramos no curso desse rio quando fomos chamados e salvos pela graça. Então seguimos a direção e o alvo desse rio que é nos conduzir para as eras que virão, nos tornando nos próprios vasos de demonstração das “riquezas da sua graça”. Quão grandiosa é a graça de Deus!

3. Graça, poder para proclamar a Cristo

“Se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros… do qual fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo a força operante do seu poder. A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3:2, 7, 8).

Aqui temos a graça elegendo para o serviço. Paulo pensou, “que maravilhoso chamado esse para o qual Deus me encarregou! Que imenso privilégio, essa oportunidade, do Senhor ter me escolhido – eu, o menos dos santos! Pensar que poderia ser escolhido para isso! Graça!”

Sabemos que não estamos na mesma categoria de Paulo, mas temos a mesma mensagem e a mesma bendita comissão. Todos fomos chamados a proclamar as riquezas da Sua graça para as nações.

Que graça extraordinária reside no fato de termos sido chamados a esse ministério.

Essa é uma graça na eleição, soberana!

A graça olha para os mais desvalidos e incapazes e diz: “é possível, até mesmo para você, conhecer Minha graça em tal medida, que você poderá falar honestamente a respeito dela sem estar numa posição falsa, sem contradições.”

4. A Provisão da Graça

“E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo” (Ef 4:7).

Aqui vemos outra ação da graça. Ela nos chama, traz-nos aos grandes propósitos de Deus e Seus pensamentos, em linha direta com Seu alvo nas eras que virão que é manifestar “a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus”. Então, uma vez dentro desse propósito supremo, a graça nos dirige à ação – um serviço, uma mensagem – nos sustentando e concedendo-nos provisão plena para isso. A graça é a provisão maravilhosa para realizar tudo aquilo que Deus nos chama para fazer, e para tudo aquilo que Ele tem em vista.

Como o Apóstolo Paulo considerava essa provisão! Em 2Co 12:7 vemos a história do seu espinho na carne, e como ele aprendeu a depender dessa graça para livrá-lo do orgulho. O orgulho destrói mais a nossa utilidade para Deus, do que uma doença ou os “mensageiros de Satanás”. Devemos ser extremamente cuidadosos com isso, qualquer que seja o preço, confiando no suprimento da graça que garantirá que aquilo que Deus deseja se cumprirá e se realizará em nós.

5. A Influência da Graça

“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.” (Ef 4:29)

O efeito da graça em nossas vidas é nos levar a um comportamento adequado, um falar correto, trazendo uma manifestação exterior de sua ação no interior em nosso comportamento. Plenos de graça seremos também graciosos, diremos coisas que ministrarão graça aos demais. Assim, os outros, devido a obra da graça em nós, também ficarão gratos, e tocados pela graça de Deus. Aqui está o efeito ou influência da graça em nossas vidas. A graça de Deus em nós deve influenciar outros, para que eles também se posicionem debaixo de sua influência e se tornem diferentes.

Seremos diferentes no nosso falar, mas esse não é o fim. A nossa presença fará os outros se sentirem mal ao falarem certas coisas, até mesmo os ímpios. A graça de Deus na nossa vida estabelece uma restrição sobre eles, uma influência. Graça é algo efetivo, não se trata de algo passivo.

6. A Bênção da Graça

“A graça seja com todos os que amam sinceramente a nosso Senhor Jesus Cristo.” (Ef 6:24).

Essa é parte de uma bênção, logo depois que o apóstolo diz: “Paz seja com os irmãos e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo”.

Vemos uma bênção de graça! Ela não é uma mera fórmula a ser pronunciada no final de um encontro, quando abençoamos. O homem que encerrou essa carta dessa maneira não estava meramente usando uma linguagem piedosa para encerrar a carta de forma agradável. Ele mesmo era a personificação dessa bênção. Nós adentramos nessa bênção da graça de Deus por meio desse homem, Paulo. Hoje temos a mesma oportunidade, e não devemos apenas pronunciar bênção para os outros, mas ser essa bênção.

A graça de Deus é algo muito grandioso, ela é poderosa para salvar, sustentar, e nos tornar numa bênção.

Quando respondemos à Graça de Deus nos encontramos envolvidos em algo grandioso – algo que nunca poderá ser compensado por nada que poderíamos ter. Por isso o Apóstolo estava preocupado, e orava para que os crentes não caíssem dessa graça de Deus. Esse favor é gratuito, e não pede por nada além de aceitá-la pela fé para agir. Isso é tudo.

Se questionarmos que não somos bons o suficiente, colocamos a graça para fora da equação, porque a graça é o que é exatamente porque não somos bons o suficiente.

Posso até mesmo dizer que sua ação demanda que não sejamos bons o suficiente! Não haveria graça se fôssemos bons, porque ela pressupõe que somos insuficientes e incapazes de fazer qualquer coisa para melhorar nossa condição na nossa própria natureza.

Você pode dizer: “Se começar, posso não conseguir ir até o fim”- e assim você tira a graça de cena novamente, porque nenhum de nós conseguiu viver nenhum dia sequer sem a graça de Deus, como bem sabemos.

A graça é o elemento que nos sustenta na jornada. Você pode argumentar: “Não sou útil ao Senhor, não posso pensar nessa hipótese de servir ao Senhor”. Pensando assim, você sai da esfera da graça novamente! Pergunte às pessoas mais usadas por Deus – pergunte à Paulo, que foi tão poderosamente usado. Ele não foi usado porque era educado, inteligente, intelectual! Ele te diria: “Certamente que não, nada disso me levaria adiante, nada além da graça de Deus me levou à cumprir meu ministério”.

Você pode argumentar que esse chamado é muito elevado para você. Pode ser para outros, mas não para você. Se você disser algo assim, certamente está estabelecendo limites para a graça, porque ela pode levar-nos até o fim. Foi a graça que escreveu nosso nome no livro da vida do Cordeiro, e o que ela começou, ela aperfeiçoará.

Tudo é pela graça. Se lance nessa poderosa graça de Deus. Tenho certeza que alguns de nós conhece o Senhor tempo suficiente para saber que essa é a única coisa a se fazer. Reforçando isso: apenas mergulhe no rio da graça, e deixe que ele te conduza – o rio de Sua graça.


“Quando os homens são abatidos, então você dirá: Há exaltação” (Jó 22:29 – tradução KJV).

“O povo de Deus nunca deveria ficar abatido, sucumbir diante das dificuldades, isso não deveria ser necessário, mas ainda assim nosso Pai sabe que somos severamente tentados nesse sentido, “pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó” (Sl 103:14). Podemos observar que, em cada era, o Senhor apontou alguns de seus vasos para afirmar: “Há exaltação”. Suas vidas expressam isso. Eles não permanecem aprisionados e limitados pelas circunstâncias, não são subjugados pelo poder dessas coisas. Eles vivem no mundo, são afligidos por seus ventos, mas não são por eles derrubados. Sua presença, a luz de seus olhos, o tom de sua voz declaram: “Há exaltação”. Que Deus nos torne em pessoas assim”. (Amy Carmichael, Edges of His Ways, dia 5 de março). 

Leia outro artigo sobre o mesmo assunto aqui.


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.

“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).

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