Entendendo suas provações é a tradução dos capítulo 1 e 2 da coletânea “Way of the Cross” de Miguel de Molinos do livro “100 Days n the Secret Place”, de Gene Edwards. Esse livro é uma coletânea do autor de diversos artigos selecionados de Madame Guyon, François Fénelon e Miguel de Molinos.
***
Miguel de Molinos (1628-1696)
Tentações
“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tiago 1:2,3).
Diria que a maior das tentações é a ausência delas. A pior arremetida que pode ser desferida contra nós é a ausência de ataques e lutas. Por isso, fique contente quando sofrer investidas e provações. Com resignação, paz e consistência… permaneça. Ande e viva ali, nas regiões interiores do seu ser.
Devemos palmilhar o caminho da tentação. Não será necessário andar muito nessa estrada para descobrir que nossas partes mais interiores (pelo menos as que percebemos) estão dispersas. Elas estão espalhadas e ativas, se movendo para lá e para cá. Existe muita coisa acontecendo lá dentro!
Será que podemos conciliar essas coisas tão divergentes e numerosas que estão acontecendo dentro de nós?
Nosso Senhor as reconcilia pela fé e pelo silêncio, na presença de Deus. Apresente-se diante dEle com um propósito e intento: amá-Lo. Venha a Ele como alguém que se entrega. Contemple-O no recôndito mais profundo do seu espírito. Não empregue a imaginação. Descanse em amor e venha até Ele no amplo caminho do amor e fé, sem clamor específico, demanda ou desejo.
Dois tipos de trevas
“Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia” (Gênesis 1:5).
Vamos falar de dois tipos de trevas, as trevas infelizes e as trevas do contentamento. A primeira delas é aquela que advém do pecado. Essas trevas são tomadas com infelicidade, e conduzem o Cristão à morte. O segundo tipo de trevas é algo permitido pelo Senhor em nossas partes interiores para estabelecer a virtude. São trevas de contentamento, porque iluminam o espírito, fortalecem-no e concedem um acréscimo de luz.
Consequentemente, não devemos ficar amargurados e angustiados quando nosso caminho é obscuro e somos cercados de trevas. Tampouco devemos supor que essa condição indique a ausência da presença de Deus, de que Ele nos abandonou e não nos ama. Mais adiante, quando aquele estado inicial tiver deixado de existir, não devemos considerar aquela luz outrora possuída numa grande perda, assim como o nível de relacionamento que desfrutávamos com o Senhor – independente de quão abençoado ele fosse. De fato não é.
Devemos considerar esses momentos de trevas como trevas do contentamento, trevas essas nas quais devemos perseverar em nossa busca interior. É um sinal manifesto de que Deus, em Sua infinita misericórdia, está nos conduzindo para o caminho interior. Que grandiosos serão os resultados, caro amigo, se você simplesmente abraçar esses momentos com paz e resignação! Esses momentos visam seu bem espiritual. Esses momentos de trevas não atrasam sua jornada na direção do Senhor! Eles podem até parecer fazê-lo, mas em verdade eles aceleram nosso caminho na direção do objetivo de nossa jornada.
Miguel de Molinos (1628-1696) foi um sacerdote católico espanhol, cuja obra teve enorme influência antes de ser proibida pelo chamado Santo Ofício (1688). A partir daí, ele entrou no esquecimento. Seus principais livros são o “Guia Espiritual”, publicado pela primeira vez em italiano, e “Defesa da Contemplação”. Molinos adquiriu tal reputação, ao ponto de seu nome e suas idéias começarem a chamar a atenção de certos segmentos do clero, principalmente de alguns Jesuítas e Dominicanos que, temendo um crescimento ainda maior de sua popularidade, resolveram pôr um fim em sua crescente fama, evitando assim a possibilidade de um novo cisma dentro da Igreja. Miguel de Molinos foi preso e morreu na prisão, em dezembro de 1697, trazendo constante perseguição àqueles que ainda seguiam os seus ensinamentos.