O artigo “Não mais sede” é composto por extratos selecionados do capítulo 15 do livro “O Segredo Espiritual de Hudson Taylor”, de Howard Taylor (esgotado).
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Hudson Taylor (1832-1905)
“Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (João 4:13,14).
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Quando Hudson Taylor experimentou da suficiência de Cristo como sua fonte de águas vivas, essa experiência resistia às mais duras provações, à medida que os meses e os anos se passavam. Nunca mais ele voltou aos velhos dias de insatisfação; nunca mais sua alma necessitada se viu separada da plenitude de Cristo. Vinham as provações, mais profundas e penetrantes do que as anteriores, mas em todas elas o Sr. Taylor desfrutava ininterruptamente do gozo da presença do próprio Senhor. Hudson Taylor descobriu o segredo do repouso da alma. Dessa experiência lhe veio não só uma apreensão mais perfeita do próprio Senhor Jesus e de tudo que Ele é para nós, como também uma rendição mais completa de si mesmo – sim, uma entrega total de si mesmo ao Senhor.
“Agora já não estou mais ansioso sobre coisa alguma (escreveu), pois Ele, estou certo, é em tudo capaz de realizar a Sua vontade, e a Sua vontade é a minha. Não importa onde Ele me colocar, nem como. Isso é mais para Ele do que para eu considerar; pois no lugar mais fácil Ele precisará me dar da Sua graça, e no lugar mais difícil, a Sua graça ainda me bastará.
Para o meu servo, por exemplo, não fará diferença se o mandar sair para comprar algumas coisas de pequeno valor ou artigos caros. Em qualquer instância, ele me procurará para dar-lhe o dinheiro e para trazer-me as compras.
Assim, se Deus me colocar em sérias perplexidades, não precisará dar-me muita direção? Se me estabelecer em posições de grande dificuldade, não me concederá Ele abundante graça? Em circunstâncias que envolvem fortes pressões e provas, não proverá grande força?
E não existe o perigo de que os Seus recursos sejam insuficientes para qualquer emergência! E os Seus recursos são os meus, pois Ele é meu, está comigo, e habita em mim”.
Já fazia tempo que Hudson Taylor conhecia o que era entregar-se a Cristo, mas isso era algo mais. Tratava-se de uma nova submissão, uma entrega total de si mesmo e de tudo o que possuía, com alegria e sem reservas. Não era uma questão de dar isto ou aquilo, se o Senhor assim demandasse, mas era aceitar leal e amorosamente toda a Sua vontade, nas pequenas e nas grandes coisas, e compreender que essa era a melhor maneira de viver, o melhor que poderia existir para os Seus amados.
O prazer que o Sr. Taylor passou a sentir na sua experiência espiritual parece não ter se aprofundado, e não se enfraquecido com as exigências das circunstâncias. Seu registro de cartas revela não tanto a pressão das dificuldades e problemas, mas a abundância das bênçãos que o sustentou através de todas as adversidades:
“Tenho a passagem exata para você… João 7:37-39 – ‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba’. Quem não tem sede? Quem não tem sede intelectual, sede afetiva, sede espiritual ou sede física? Seja qual for, ou até mesmo se tivermos todas elas: “Venha a mim e” continue com sede? Ah, não! “Venha a mim e beba”.
Por quê? Será que Jesus pode satisfazer o meu anseio? Sim, e faz além do que apenas me satisfazer. Por mais completo que seja o meu caminho, por mais difícil que seja o meu serviço, por mais triste que eu esteja com a perda do ente querido, por mais longe que se encontrem meus filhinhos e família amada; por mais incapaz que eu seja de agir sozinho, e por mais profundos que sejam os anelos de minha alma – tudo, tudo Jesus pode resolver. Ele não me promete apenas o descanso – e como seria bom, mesmo se fosse só isso, tudo o que essa palavra envolve! Ele não promete apenas a água para saciar a sede. Não, é melhor ainda! “Quem crer em Mim nesse assunto (quem cré em Minha pessoa, que confia no que Eu digo) do seu interior fluirão…”
Será verdade? Será que aquele que sente sede e sequidão poderá não somente ser saciado – o solo árido umedecido, os lugares desertos abrandados – mas também ser uma terra tão saturada de água ao pronto de brotarem fontes e jorrarem torrentes de águas vivas? Pois é assim! E não serão somente torrentes serranas pluviais que secam, se esgotam logo ao cessarem as chuvas. Não… “do seu interior fluirão rios”- rios como o poderoso, e caudaloso Yangtsé, sempre profundos e transbordantes. Nas estações de estio os ribeirões podem falhar, e muitas vezes falham mesmo, os canais podem ser aproveitados até a última gota, se as bombas de irrigação os esvaziarem, mas o Yangtsé, jamais se secará. Sempre será um grande rio, sempre correrá com suas águas profundas e irresistíveis”.
“Venha a mim e beba” (escreveu ele em outra carta no mesmo mês). Não é venha a mim e tome um pouquinho de água apressadamente; não é venha e alivie parcialmente sua sede, ou mate a sede temporariamente. Não! É “beba” ou “esteja bebendo” constante e habitualmente. A causa de sua sede pode ser irremediável. Vir só uma vez, e beber só uma vez pode aliviar e consolar, mas a ordem é para virmos sempre, bebermos sempre. E não haverá o perigo de esvaziar-se a fonte ou secar-se o rio”.
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James Hudson Taylor (1832-1905) foi um médico inglês grandemente usado pelo Senhor para disseminar o Evangelho no interior da China. Seu grande segredo era cultivar o hábito simples de buscar constantemente o Senhor para o suprimento de todas as suas necessidades temporais e espirituais.
Seu filho Howard Taylor escreve em sua biografia que, apesar de sua pequena estatura e limitações físicas que o deixava com pouca energia, Hudson Taylor era um médico muito eficiente e um homem muito ativo em suas tarefas cotidianas – sabia cuidar de um bebê, preparar refeições, cuidar das finanças e consolar doentes e aflitos – tudo isso com a mesma segurança que se lançava em grandes empreendimentos. Ele foi um pai de família, com grandes responsabilidades e era um homem muito prático, vivendo uma vida que sofria constantes mudanças.
Acima de tudo, Taylor soube pôr as promessas de Deus à prova, atestando que era possível viver uma vida espiritual íntegra, em um nível muito elevado. Dezenas de milhares de almas foram ganhas para Cristo em muitas províncias chinesas que, até então, nunca tinham sequer conhecido um missionário. Cerca de mil e duzentos homens e mulheres trabalhavam em sua Missão para o Interior da China, dependendo somente de Deus para suprir todas as suas necessidades, pois viviam sem compromisso fixo de salário. Ele andava com Deus numa progressão contínua.
“Nunca fiz um sacrifício”, disse Hudson Taylor, recordando sua vida. De fato, se conhecermos seu testemunho, descobriremos que esse foi um elemento marcante em toda a sua trajetória. No entanto, Taylor entedia que as compensações de cada renúncia eram reais e duradouras, e que quando tratamos com Deus “de coração para coração”, negar-se a si mesmo sempre significa RECEBER.
Seu livro “Cântico dos Cânticos – União e comunhão pessoal com Cristo” retrata muito o seu coração, e foi um maravilhoso legado deixado pelo Senhor para a Igreja.