O artigo “Para onde estamos olhando?” é uma composição de nossas notas baseadas no artigo “Where are you looking”, de T. Austin-Sparks, disponível para leitura no site www.austin-sparks.net. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao seu entendimento. Recomendamos fortemente àqueles que leem em inglês e se sentirem movidos pelo Espírito Santo a irem direto à fonte, pois certamente receberão ainda mais edificação ali.
***
“Os teus olhos olhem direito, e as tuas pálpebras, diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos. Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal.” (Provérbios 4:25-27).
“Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (Hebreus 12:2).
***
“A direção de nosso olhar espiritual é de extrema importância. O homem sábio equiparou um percurso reto e estabelecido, com o olhar focado diretamente para a frente. A Palavra de Deus dá-nos claras advertências sobre os perigos de sair do caminho da Sua vontade, pois Deus deseja nos poupar desses obstáculos que podem atrapalhar nosso progresso” (T. Austin-Sparks).
Olhar para trás
“O Senhor Jesus foi muito enfático acerca deste assunto, quando Ele declarou que ninguém que coloca a mão no arado e fica contemplando as coisas que deixou para trás é apto para o Reino de Deus. Foi isso que Israel fez no deserto. O Egito havia ficado para trás, e deveria ter permanecido para sempre distante do campo de visão dos Israelitas mas, nas dificuldades do caminho, eles olharam para trás… (Sl 78:41). Aquela geração falhou em entrar em Canaã, que era o que Deus tinha preparado para eles, simplesmente porque cedeu à tentação de olhar para trás, que foi, e sempre será, a direção errada.” (T. Austin-Sparks).
Vemos o mesmo risco exposto pelo apóstolo Paulo em sua Epístola aos Gálatas, quando os irmãos começaram a ouvir os judaizastes, voltando os seus olhos para os procedimentos religiosos, o que consequentemente tirava o seu foco de Cristo.
“Previamente, eles estavam progredindo, como nós sempre fazemos quando mantemos nossos olhos em Cristo… Essa carta pretendia adverti-los dos perigos de olhar para trás. A carta aos Hebreus foi escrita com o mesmo propósito” (T. Austin-Sparks).
Olhar ao redor
“Quando os espias trouxeram o relatório errado da terra prometida, foi exatamente por olharem para seus arredores sem ter a perspectiva da realidade do “Deus todo-poderoso” em vista. Eles não “imaginaram” as dificuldades – não precisariam fazê-lo – pois as cidades e gigantes ao seu redor eram reais o suficiente. Seu erro, no entanto, foi terem fixado os olhos nas coisas que estavam ao seu redor, não olhando para Aquele de Quem a ajuda vem. Dessa maneira, eles ficaram desencorajados, desanimando todo o povo de Deus. Eles olharam apenas para as coisas visíveis, tirando os olhos do Senhor. Somente dois deles mantiveram seus olhos fixos na direção correta, e esses dois foram até o fim. O olhar deles estava fixo, assim seus caminhos foram estabelecidos” (T. Austin-Sparks).
Vemos isso no Novo Testamento, no Evangelho de Mateus (14:2-31). Quando Pedro, andando sobre as águas, “reparou, porém, na força do vento”, voltou seu olhar para as circunstâncias ao seu redor (Mt 14:30). Ele tinha boas razões para temer, mas não deveria ter permitido que as circunstâncias exteriores distraíssem sua atenção do Seu Senhor, que o resgatou. O único caminho para a fé está na direção do Objeto maravilhoso que a estimula e alimenta. O nosso Amado e Transcendente Senhor!
“Devemos, a todo custo, evitar olhar para as circunstâncias ao nosso redor em incredulidade, quando devemos estar olhando fixamente para o Senhor, em fé”. (T. Austin-Sparks).
Olhar míope
Paulo admoestou os Coríntios por terem sua visão limitada àquilo que estava imediatamente diante de seus olhos (2Co 10:7). Ser míope espiritualmente equivale a ter um foco apenas no que está próximo, à mão, tornando-se demasiadamente satisfeito com isso, no âmbito das coisas espirituais. É ter um horizonte pequeno e estreito, deixando de apreciar a grandeza do que está na mente de Deus.
”Na vida cristã, uma das coisas que tem maior poder para nos paralisar é assumir que não existe nada além daquilo que está na esfera limitada de nossa experiência. É possível ficar tão fechado e míope, que ficamos dando voltas e voltas, nunca erguendo nossos olhos para as novas dimensões da experiência espiritual para as quais Deus está nos está chamando. Chegamos quase à imaginar que sabemos tudo o que há para saber sobre a Palavra de Deus e Seus propósitos em Cristo. Podemos ter uma visão encurtada, se nos concentramos somente no que já temos conhecido de Cristo, falhando em apreciar o fato de que Deus tem muita mais luz e verdade para descortinar em Sua Palavra” (T. Austin-Sparks).
Olhar para baixo
Paulo disse aos Filipenses: “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu” (Fp 2:4), em outras palavras, ele disse que aqueles irmãos não deveriam ser governados por seus interesses pessoais, nem deveriam avaliar cada questão no sentido do que eles tinham a ganhar ou a perder. Esquecer-se de si mesmo é um dos segredos do progresso espiritual.
Olhar para dentro
“O último destes olhares mal direcionados é talvez o mais comum no caso dos que desejam seguir o Senhor. Existem muitas admoestações nas Escrituras no sentido de parar de olhar para dentro de nós mesmos. Talvez não exista nada mais calculado para deter o progresso espiritual dos crentes do que o olhar para dentro.
O que estamos buscando? Algo bom em nós mesmos? Nunca o encontraremos! Paulo deixa bem claro ao afirmar: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum” (Rm 7:18).
Introspecção é exatamente o oposto da fé, pois busca alguma evidência de santidade e poder de Deus em nós mesmos, em vez de se regozijar na perfeição do Salvador.
Apesar de aparentar humildade e piedade, na verdade nos leva a focar em nós mesmos, em vez de nos ocuparmos com Cristo.
Precisamos ser sensíveis ao Espírito Santo, para que Ele possa sempre nos conduzir continuamente na apropriação do poder purificador do sangue de Cristo, mas nunca devemos nos manter ocupados olhando para dentro, enquanto devemos fixar nossos olhos no nosso Substituto e Salvador.
Uma pessoa doente está sempre preocupada em tomar seu pulso e temperatura.
Salvação é saúde, a saúde dos que sabem que a justiça deles está no céu.
Fazemos bem em deixar o Senhor nos sondar, mas nós não teremos nada senão problemas, se persistirmos em olhar para dentro.
Se, ainda assim, insistimos em acreditar que é necessário olhar para dentro para evitar cair nas ciladas de Satanás, devemos nos lembrar da admoestação do salmista, ao nos assegurar que o Senhor guardará nossos pés, se nós mantivermos nossos olhos fixos nEle: “Os meus olhos se elevam continuamente ao Senhor, pois ELE me tirará os pés do laço” (Sl 25:15). Esse é mais um dos argumentos da Palavra que nos exorta à olhar para cima”. (T. Austin-Sparks)
Olhar para cima
“Já está muito claro que muita coisa na nossa vida cristã depende de nosso olhar. No final da carta aos Hebreus – que é uma epístola que nos lembra que somos chamados a ser participantes de Cristo, Seus companheiros, e nos exorta a prosseguirmos em direção à plenitude nEle – temos a admoestação para olhar fixamente para Jesus, o autor e consumador de nossa fé. Devemos desviar nosso olhar do que ficou para trás, do que está ao nosso redor, do que está ao alcance da mão, daquilo que é essencialmente egoísta, desviando também nossos olhos de nós mesmos, focando-os somente em Jesus” (T. Austin-Sparks).
Abraão, o grande homem da fé, aguardava uma cidade e um país celestial. Isso o preservou de olhar para trás ou de se estabelecer. Ele perseverou porque olhou continuamente para o alvo. Muitas vezes, Abraão foi tentado a procurar benefícios mais imediatos, algum meio-termo que fosse menor do que o melhor de Deus para ele, e o Senhor constantemente o chamava a tirar seus olhos das distrações e recompensas dessa terra, para olhar para o objetivo essencialmente espiritual e celestial do seu chamado.
A passagem de Provérbios enfatiza a importância de manter um olhar fixo adiante, e como isso resulta em um progresso claro e direto na caminhada. Abraão descobriu que desviar os olhos das coisas da terra o mantinha constantemente em movimento. Isso evitou que ele estagnasse, pois sempre buscou o que Deus lhe havia prometido.
“Se temos que decidir onde viver ou trabalhar, deveríamos ter os olhos fixos diretamente diante de nós, não escolhendo o que parece bom nesse momento, mas nos assegurando de que os valores eternos também são considerados em nossa decisão. Satanás tentou Cristo oferecendo a Ele os reinos deste mundo e sua glória, e exatamente assim ele também tentará distrair nossa atenção da vontade de Deus, oferecendo-nos vantagens aparentes aqui e agora. Sempre seremos salvos, se olharmos para cima” (T. Austin-Sparks).
Devemos ter o eterno diante de nós, a eternidade deve ser nosso foco.
Que possamos ser abençoados com esse foco claro e direto no Senhor, não em nós mesmos. Esquecer-nos de nós mesmos sempre será um segredo do progresso, da vida frutífera e da vida abundante em Cristo Jesus.
***
“O segredo de uma vida frutífera está, resumidamente, em se derramar para outros, não desejando nada para si – se entregando completamente nas mãos de Deus, sem se preocupar com o que lhe acontecerá” (Jessie Penn-Lewis, “Molded by the Cross”).
“Me ocupo em amar os outros, não em desejar ser amado” (Robert M. Chapman, “Apostle of Love”).
T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.
“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).
