“Na Arena da Fé – parte 2” é parte da tradução do capítulo 5 do livro “In the arena of faith”, de Erich Sauer.
Erich Sauer (1898-1959)
“Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe” (Hebreus 12:6a).
No post anterior, o autor considera como Deus, em Sua infinita sabedoria, coloca obstáculos em nosso caminho. Na verdade, esses impedimento que aparentemente nos bloqueiam, são planejados pelo Divino Juiz, e são vistos dentro da ótica da eternidade. Sem esse ponto de vista, não poderemos apreciá-los e reconhecê-los durante o fogo da provação.
Além disso, também fomos convidados a meditar em 7 características da fé provada pelas adversidades. Tais traços serão desenvolvidos na arena da fé. No post anterior vimos o primeiro ponto, e agora veremos o segundo item dessa lista.
A Verdadeira Fé considera as aflições e provas como caminhos do amor de Deus
Sofrimentos provam que Deus está interessado em nós, que Ele está nos moldando, Ele nos ama.
“Na verdade, amas os povos; todos os teus santos estão na tua mão; eles se colocam a teus pés e aprendem das tuas palavras” (Dt 33:3).
Que fato mais impressionante! O Deus poderoso está interessado em nossa vida infinitamente pequena! Isso deveria ser suficiente para nós!
Tudo o que envolve o amor do Pai se relaciona ao avanço de nossa santificação e em nos abençoar no nosso caminho através da eternidade.
O coração de Deus nos “ama” – Somos Seus eleitos.
A Mão de Deus nos “sustenta” – Estamos debaixo de Sua proteção.
A boca de Deus nos “ensina” – Possuímos Sua palavra Viva.
A descansamos aos Seu pés – Desfrutamos Sua paz.
Assim, cada filho do Pai celestial deve estar confiante, mesmo em meio ao sofrimento, sabendo que “nada pode nos separar do amor de Deus” (Rm 8:38,39). E ainda mais, todas as coisas, especialmente as dificuldades, são uma prova de Seu amor.
Assim o participante da corrida não deve se desencorajar pelos obstáculos. Ele confia no amor de Deus e pressiona para o alvo, sem se deixar oprimir por preocupações e pesares.
Preocupações são uma contradição com nossa posição como Filhos de Deus. No sermão do Monte, o Senhor Jesus nos adverte enfaticamente contra todo medo e ansiedade, ao ponto de alguns chamarem essa parte de Seu discurso de uma campanha real contra o espírito de preocupação.
7 razões para o cristão evitar se preocupar
(1) Preocupações e ansiedade são inúteis
Com todas as suas preocupações, você não pode acrescentar um centímetro sequer à duração da sua peregrinação aqui na terra. Nossa peregrinação terrena é, por assim dizer, de milhares de quilômetros de comprimento, e não poderemos acrescentar um centímetro sequer a ela (Mt 6:27).
A tradução “estatura” não é clara no texto de Mateus, porque pode trazer a ideia de que se refere ao tamanho do corpo. Mas o Senhor deseja indicar que não podemos realizar nem mesmo as menores coisas. Se, entretanto, pudéssemos acrescentar um centímetro à nossa estatura, esse seria um fato notável. Ainda assim, esse centímetro seria algo muito pequeno.
Não podemos alongar nossa vida nem por alguns minutos, independente de quanto tempo gastamos pensando ou nos preocupando com ela.
(2) Preocupações e ansiedade são injuriosas
As preocupações são obstáculos tolos e desnecessários. Se alguém se preocupa, experimenta a dificuldade de forma dupla: pela primeira vez na imaginação, e pela segunda vez na realidade.
A primeira vez é o sofrimento da expectativa, e o segunda é o resultado do verdadeiro sofrimento.
Mas apenas um seria necessário! “Basta ao dia o seu próprio mal” (Mt 6:34). Assim: “Nunca se preocupe até que aquilo que te aflige seja real. Nunca se aflija antecipadamente”.
(3) Preocupações e ansiedade são indignas
Os lírios do campo e aves do céu não se preocupam, e ainda assim são cuidadas pelo Pai. Você não é melhor do que elas?
As figuras usadas pelo Senhor são muito adequadas, como por exemplo comida e roupas, que são os principais objetos de preocupação. As aves são usadas como referência à comida e representam o mundo animal, os lírios se referem às vestes representam o mundo vegetal. Plantar e colher eram tarefa do homem, enquanto costurar eram funções especialmente da mulher.
Então todas essas questões: do comer e vestir, representados pelo mundo animal e vegetal, e plantar, colher, costurar, representados pela esfera de trabalho do homem e da mulher – são parte de uma impressionante e harmoniosa demanda: “não andeis ansiosos pela vossa vida” (Mt 6:25).
Preocupação é uma contradição da nobreza do homem, pois ele é melhor que uma flor e um animal. Ele é a coroa da criação e foi destinado para o reino.
Toda a preocupação é indigna. Aquele que se preocupa está se esquecendo de seu supremo chamado, assim como do fato da vontade e poder de ajudar do nosso grandioso Deus. Ele está se esquecendo da plena suficiência e perfeita sabedoria de Deus, além do Seu eterno amor.
(4) Preocupações e ansiedade não refletem a posição de um filho
Se dentro do ponto de vista da criação o homem é mais elevado do que as plantas e animais, quanto mais verdadeiro isso é sob o ponto de vista da salvação!
Um filho do Pai celestial pode, de forma alegre e agradecida, confiar que: “Vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas [essas coisas]” (Mt 6:32).
O espírito de preocupação em um filho de Deus representa, portanto, que ele está desconsiderando sua posição celestial.
Poder confiar alegremente em nosso Pai, faz parte dos privilégios e obrigações práticos de nossa posição como filhos de Deus.
(5) Preocupações e ansiedade são terrenas
As preocupações direcionam muito nossos questionamentos e pensamentos para as coisas daqui de baixo (comida e vestes); enquanto que a atitude da mente do crente deveria ser direcionada para as coisas celestiais:
“Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6:33).
(6) Preocupações e ansiedade são idólatras
As coisas que nos afligem se relacionam muito ao fato de ter ou não ter coisas terrenas. Isso é um serviço a “Mamon”. No texto do Sermão do Monte, não temos o artigo definido antes da palavra “riquezas” (em grego – mammonas), tratando isso propositadamente como um nome.
“Mamon” seria, por assim dizer, o nome de um Deus, assim como Apolo ou Diana eram nomes de divindades ímpias.
“Ninguém pode servir a dois senhores (dois deuses). Não podeis servir a Deus (Jeová) e o falso deus “Mamon” (Mt 6:24).
(7) Preocupações e ansiedade são ímpias
“Porque os gentios é que procuram todas estas coisas” (Mt 6:32). O espírito da preocupação representa uma atitude mental que é estranha ao reino de Deus. Ela rebaixa o pensamento dos redimidos ao padrão dos não-redimidos, de forma que apesar de viver no reino da graça, se comporta como alguém fora dele, como um ímpio.
Por todas essas razões, preocupações e ansiedade devem ser evitadas pelo Cristão.
“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pe 5:7).
Lutero certa vez disse de forma enérgica: “oh, que nós possamos aprender esse lançar! Mas quem não o aprender, permanecerá abatido, excluído, deixado para trás, rejeitado”.
Por outro lado, viver pela fé é um reconhecer da verdade dita por outro grande Reformador:
Contar com dinheiro em uma bolsa vazia,
Cozinhar o pão a partir das nuvens,
Essa é uma arte peculiar ao próprio Deus.
Ele faz as coisas do nada,
E Ele o faz diariamente.
Duas passagens das Escrituras expressam de forma impressionante aspectos opostos da verdade. Ambas se referem enfaticamente à questão de provisão para a vida exterior.
A segunda é dada em um capítulo imediatamente subsequente a Hebreus 12, e dessa forma tem uma conexão indireta com o nosso capítulo (em Hb 13:5).
A primeira passagem é mais positiva, e a outra é a frase com teor mais negativo do Novo Testamento. Em um espaço muito pequeno, a primeira passagem contém 5 afirmações e a segunda contém 5 negações:
“Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra” (2 Co 9:8).
No Grego a raiz da palavra “TUDO” ocorre 5 vezes nessa passagem (pas, pantote, pas, pas, pas).
Na outra passagem temos:
“De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13:5).
Em ambos os casos, é muito difícil dar um sentido literal para as palavras do texto original, especialmente na segunda passagem.
A primeira parte da frase contém uma dupla negação e a segunda parte uma tripla negação. Assim a frase contém uma negação quíntupla. Se pudesse, resumiria assim: ‘Não vou falhar com você! Nunca, mais nunca, e de maneira alguma te abandonarei’
Assim, esses dois trechos das Escrituras mostram um contraste harmônico, positivo e negativo, expressando a mesma preciosa mensagem:
Será que Deus me dará todas as coisas boas e necessárias? – Sim! Cinco vezes sim! – “Toda graça! Em todas as coisas! Sempre! Ampla suficiência! Em toda boa obra!”
Deus pode algum dia me abandonar? – Não! Cinco vezes não! “Nunca! Jamais! De maneira nenhuma! Em nenhuma circunstância!”
Portanto: “Tenha fé em Deus!”
Seu amor e Sua fidelidade governam sua vida. Os obstáculos na corrida são apontados e permitidos por Sua perfeita sabedoria Divina.
Todos os arranjos nessa corrida são feitos por Ele mesmo, que é o sábio Justo Juiz, e nosso amado Pai.
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