T. Austin-Sparks
“Então, lhe veio a palavra do SENHOR, dizendo: Dispõe-te, e vai a Sarepta, que pertence a Sidom, e demora-te ali, onde ordenei a uma mulher viúva que te dê comida” (1 Rs 17:8,9).
Continuação do Post anterior.
Leitura: 1 Reis 17.
Ajustabilidade
O servo do Senhor também deve ser encontrado sempre no lugar onde ele é flexível, onde o Senhor pode obter uma resposta pronta e imediata dele. O servo não tem um programa a seguir, portanto não há nada a aborrecer. Ele não tem curso definido, portanto, o Senhor não tem nada a quebrar. Ele está se movendo com Deus ou permanecendo com Ele, exatamente como o Senhor o orientar. Ele deve ser maleável nas mãos do Senhor, isto é, capaz de ser movido a qualquer momento, de qualquer maneira, sem sentir que tudo está sendo quebrado ou despedaçado.
“Retira-te daqui… esconde-te junto à torrente de Querite, … passados dias, a torrente secou” [1 Rs 17:3, 7]. O Senhor não disse que o riacho não secaria, e o fato de o Senhor ter dito a Elias que fosse ao ribeiro de Querite, não significava que Ele o preservaria da seca para sempre. Aquele foi um passo, e o Senhor disse: “Esse é o próximo passo. Não prometo que você vai ficar lá para sempre. Não estou dizendo que esse é o seu último lugar de permanência e que você poderá se estabelecer lá. Esse é o seu próximo passo: vá até lá e esteja pronto para qualquer outra coisa que eu desejar”.
Esta é uma condição espiritual, é claro. Ninguém vai tomar isso literalmente. Se começarmos a aplicar isso literalmente aos nossos negócios aqui na Terra, poderemos ficar confusos. Entretanto, devemos estar prontos, em espírito, para o Senhor fazer qualquer coisa que desejar e nunca devemos sentir que existe alguma contradição quando o Senhor, tendo nos dirigido por um caminho, agora nos dirige para outro. É uma questão de estar nas mãos do Senhor sem ter uma opinião formada por nós mesmos, embora o caminho seja escondido de nosso próprio raciocínio, nossa própria vontade e nossos próprios sentimentos – seja oculto de toda aquela vida da alma – que o Senhor tenha um caminho livre conosco.
O riacho secou! Bem, você depende do riacho? Se assim for, você está então em um estado de total confusão quando o riacho secar. Você depende do Senhor? Muito bem, deixe que todos os riachos se sequem e estará tudo bem. Dependência do Senhor é uma lei governante e permanente do verdadeiro poder espiritual. Elias foi chamado e descrito como o profeta do poder. Se isso é verdade, de alguma maneira especial, ele certamente foi o profeta da dependência.
Esse relacionamento com o Senhor tornou possível que o Senhor fizesse outras coisas e o conduzisse a novos domínios de revelação e experiência. Oh, essa questão da ajustabilidade! Se não formos ajustáveis, impedimos que o Senhor nos conduza à Sua plena revelação e propósito.
Aqueles discípulos de João Batista foram ajustáveis, e foi por causa disso que eles conheceram o Senhor Jesus. Você se lembra de que havia discípulos de João que seguiram a Jesus e disseram: “Mestre, onde assistes?”, e Ele disse: “Vinde e vede” [Jo 1:38,39]. Se eles tivessem permanecido fixados e estabelecidos em si mesmos, dizendo: ‘Somos discípulos de João e devemos estar ao lado dele; devemos ficar com João e nos mover com ele; deixe que Jesus tenha Seus próprios discípulos, mas ficaremos ao lado de João’, eles teriam perdido muito. Mas eles estavam abertos e ajustáveis, podendo ir além de João.
Aqueles discípulos de João, encontrados pelo apóstolo Paulo em Éfeso, muitos anos depois, a quem ele disse: “Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes?“, eram ajustáveis. Quando ouviram o que Paulo disse, eles foram batizados no Nome do Senhor Jesus. Eles estavam prontos para seguir de João à Cristo, e assim eles entraram em uma plenitude maior (Atos 19).
A menos que sejamos ajustáveis, perderemos muito. Elias era ajustável e assim Deus pôde levá-lo adiante. O Senhor permitiu que o riacho secasse, porque Ele tinha algo mais para o Seu servo aprender, algo mais para fazer através dele. Assim, Ele disse: “Dispõe-te, e vai a Sarepta… onde ordenei a uma mulher viúva que te dê comida” [1 Rs 17:9]. Ele foi para Sarepta e se tornou uma bênção por sua obediência.
Experiência da Ressurreição
Então, por meio de seu novo movimento de obediência e fé, Elias foi levado para um novo exercício, uma nova perplexidade, um novo julgamento; porque o filho daquela mulher morreu. A mulher era uma viúva com um filho. A morte do filho significou para ela a perda de tudo. Isso aconteceu enquanto Elias estava lá, sendo cuidado por aquela mulher, em obediência ao Senhor. Ele havia feito tudo em obediência ao Senhor e agora, nessa linha de obediência e de fé Nele, Ele permitiu que essa catástrofe acontecesse na própria casa para a qual Ele havia enviado o Seu servo. Isso claramente deve ter levantado uma grande questão no coração de Elias. ‘Deus me enviou aqui, eu sei disso! Deus me levantou e me comissionou, e no cumprimento da minha comissão, Ele me trouxe a esta situação! Não há dúvida de que o Senhor me guiou por este caminho, agora aqui estou. Tendo feito o que Ele me disse, tendo tomado o rumo que Ele indicou, tudo levou à morte e à confusão; há uma terrível contradição aqui!’
Todos os tipos de questionamentos podem surgir quando você assume uma posição dessas. Você pode começar rever suas direções e levantar questões sobre se, afinal, você foi guiado ou se cometeu um erro em seu direcionamento. Faça isso e você só estará mais e mais afundando no lamaçal. O que é tudo isso? Deus tem uma revelação para Elias, além de qualquer coisa que ele já recebeu. Ele ia trazê-lo para algo que era além do que ele já sabia. Ele iria mostrar ao Seu servo que Ele é o Deus da ressurreição; e isso tem que ser trabalhado de maneira profunda no próprio ser de Seu servo, através da provação, da perplexidade, do desnorteamento. Assim, o Senhor permite que o filho da viúva morra, a casa fique cheia de consternação e todos preocupados em fazer grandes perguntas.
O profeta sobe e traz a situação diante do Senhor, se apega a Deus e se relaciona a esta situação como se ele e a situação fossem um, e a ressurreição do menino como sendo a ressurreição do profeta. Há uma identificação do profeta com a situação da morte e da ressurreição.
O poderoso significado do poder de Sua ressurreição, com uma nova experiência desse poder para o servo de Deus, foi uma lição essencial. Isso era preciso para que Sua autoridade fosse sustentada e esse ministério funcionasse até o seu significado final, na derrota dos poderes da morte, que estavam operando destruição naquele momento. O servo de Deus deveria passar por tudo isso em seu próprio coração.
Essa disciplina de Sarepta foi relativa a todo o ministério do profeta. Sarepta significa testar e refinar, e, na verdade, ali houve um fogo de refino. Mas Elias e os demais saíram dali para um novo lugar na ressurreição.
Que o Senhor escreva essas coisas em nossos corações e nos mostre como elas ainda permanecem como valores espirituais relacionados com o alcance e o cumprimento do propósito de Deus.
Primeiramente publicado na revista “Uma Testemunha e Um Testemunho”, em Set-Out 1938, Vol.16-5. Veja o texto original em inglês em https://www.austin-sparks.net/english/000494.html