C. A. Coates
“Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao clangor da trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o ouviram suplicaram que não se lhes falasse mais, pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até um animal, se tocar o monte, será apedrejado. Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo! Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel” (Hebreus 12:18-24).
O Espírito Santo pode chamar os santos: “percorrei a Sião, rodeai-a toda, contai-lhe as torres; notai bem os seus baluartes, observai os seus palácios, para narrardes às gerações vindouras” (Salmos 48:12,13). Se nossos corações estiverem estabelecidos com graça, precisamos, em um sentido espiritual, “percorrer a Sião”. Precisamos notar seus baluartes, contar-lhe as torres e observar os palácios da cidade da graça.
1. “Seus baluartes”. “Temos uma cidade forte; Deus lhe põe a salvação por muros e baluartes” (Isaías 26:1). Nenhum poder maligno pode derrubar tais baluartes. A sabedoria, graça e poder de Deus estão todos comprometidos a levar em frente os propósitos do Seu amor, e tais propósitos estão atrelados com a salvação eterna e a segurança dos Seus santos. Não é a nós que o inimigo tem que levar em conta, mas a Deus. Foi Deus “que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2 Timóteo 1:9). E “pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8,9).
2. “Suas torres”. A torre é um lugar de refúgio e força. “Torre forte é o nome do SENHOR, à qual o justo se acolhe e está seguro” (Provérbios 18:10). No Salmo 20 [vs 1,2] lemos: “O SENHOR te responda no dia da tribulação; o nome do Deus de Jacó te eleve em segurança. Do seu santuário te envie socorro e desde Sião te sustenha”. A única fonte de força é a graça de Deus. Um crente que tem uma débil consciência da graça é espiritualmente fraco.
“Ao longo de toda a nossa caminhada de fé precisamos da mesma graça gratuita que salva”.
Saber que podemos sempre contar com a perfeita graça de Deus é algo grandioso. Essa é uma verdadeira fonte de estabilidade e poder. Somos exortados a “nos achegarmos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4:16). O senso de que Deus é supremo em graça é uma torre forte para a alma.
“Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do SENHOR, nosso Deus” (Salmos 20:7). Isto, na mente do Salmista, está relacionado à Sião, o que pode ser comprovado ao conectarmos este versículo com o versículo dois do mesmo Salmo: “Do seu santuário te envie socorro e desde Sião te sustenha”. Carros são invenções humanas, cavalos são figuras da força natural, e ambos são coisas vãs para segurança, enquanto “o nome do Senhor é uma torre forte”. É a autossuficiência que nos impede de provar que temos refúgio e força no “Deus de toda graça”.
3. “Seus Palácios”. “Nos palácios dela, Deus se faz conhecer como alto refúgio” (Salmos 48:3). Não existe nada tão bendito como conhecer o Senhor, e Ele tem se dado a conhecer a Si mesmo em graça. Dos antigos, poderia ser dito: “Conhecido é Deus em Judá… em Sião, a sua morada” (Salmos 76:1,2). Mas é em plena glória da graça celestial que conhecemos o Senhor agora. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1:3). Para o louvor da glória da Sua graça, Ele nos fez aceitos no Amado; e nas eras que virão, Ele mostrará a suprema riqueza da Sua graça, em Sua bondade para conosco por meio de Jesus Cristo. Bendito seja Deus! Sua graça chegou a nós, e nós chegamos a ela. “Temos chegado ao Monte Sião”. “Ali, ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para sempre” (Salmos 133:3). Você está habitando nas prisões do Sinai ou nos palácios de Sião?
“E à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial” [Hebreus 12:22]. Desde os primeiros tempos, o ideal do homem tem sido uma cidade. “Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque, o nome de seu filho” (Gênesis 4:17). “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade” (Gênesis 11:4). Uma cidade representa um governo estabelecido, permanecendo conectada com o desejo do homem caído de tomar posse da terra. Mas o homem não tem direito à terra, e, portanto, a cidade do homem deve cair. É uma marca da fé, em todas as eras, que os santos não se satisfizeram com as cidades do homem. Cada santo verdadeiro na terra buscou pelo estabelecimento do governo de Deus. Abraão “aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hebreus 11:10). Essa expectativa dos santos encontra expressão na oração “Venha o Teu reino”.
Ai de mim! Muitos crentes dos dias de hoje parecem estar ocupados com a cidade errada. A política tem a ver com a cidade do homem. É a disputa para saber quem prevalecerá no poder na ausência do legítimo Rei. Admito que o Parlamento possa fazer leis que sejam de benefício para os homens, mas todo esse sistema de coisas será muito brevemente destruído. Toda a ordem de coisas que foi estabelecida pelo homem será destronada. Deus irá colocar tudo sob o domínio de Sua cidade. O crente que toma parte na política é como um homem construindo uma catedral magnífica, mas em um lugar onde um enorme terremoto brevemente destruirá todas as pedras. Não suponho que um grande escultor iria esbanjar os recursos de sua arte em um boneco de neve. Ele iria preferir trabalhar em mármore, para que seu labor pudesse ter um valor permanente. É triste ver cristãos gastando suas vidas com política. Isso demonstra que eles, na fé de suas almas, não chegaram à “cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial”.
“A incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia” [Hebreus 12:22]. A que vastidão de coisas o Cristianismo nos leva! Algumas vezes as pessoas dizem que nós, os Cristãos, não temos uma visão ampla o suficiente — que temos uma mente muito estreita. Me aventuro a dizer que o homem do mundo é que tem a mente estreitada. O Cristão é um homem alargado. Seu círculo inclui todo o universo de Deus. Ele vê todas as coisas trazidas à cena para provar a bênção da obra de Cristo. Deus estabelecerá todo o universo — cada principado, poder e inteligência — em aptidão eterna à Ele pela obra de Cristo. Ele levará o universo a encontrar seu centro moral em Cristo. As coisas da terra e dos céus deverão ser ajustadas a uma eterna aptidão à Deus por Cristo.
Nunca mais haverá outra ruína no universo, porque tudo será assegurado pela graça e na base da redenção. As “incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia”, todos irão conhecer algo da graça de Deus como sendo aquilo pelo qual Cristo provou a morte por todas as coisas. Para que não seja mal-entendido, devo acrescentar que os seres infernais, aqueles que serão jogados no lago de fogo, estarão eternamente fora da esfera de reconciliação. Eles terão que se dobrar ao nome de Jesus, mas não serão reconciliados. Compare Filipenses 2:10,11 com Colossenses 1:20.
“E igreja dos primogênitos arrolados nos céus” [Hebreus 12:23]. O Cristão é levado a conhecer o lugar peculiar da igreja nos conselhos de Deus. De acordo com o ensino dessa epístola, ela é vista como uma companhia com um chamado e uma herança celestiais. Tipologicamente, podemos traçar esse pensamento na história da tribo de Levi. Aquela tribo foi tomada representado os primogênitos dos filhos de Israel, e eles não tinham herança na terra de Canaã. Jeová era a herança deles (Dt 18:1,2). Um homem é registrado onde tem suas possessões. A igreja dos primogênitos pertence ao céu, tendo suas possessões lá. Nossos nomes estão “arrolados nos céus”. Nossa política e nossas posses estão lá. Não tenho interesse na política daqui; sou um estrangeiro, estou de passagem. Essa é a posição do Cristão na terra; ele é um estrangeiro, está de passagem em direção ao seu país onde tem sua herança.
Alguns podem questionar o fato de que alguns Cristãos têm uma grande porção de bens mundanos. Sim; mas eles são apenas mordomos do que temos aqui – isso não pertence a eles. A nós são confiadas coisas. Somos responsáveis pela forma com a qual usamos as coisas Daquele que as confiou a nós. Nossas possessões estão nos céus. “Para uma herança incorruptível, sem mácula… reservada nos céus” (1 Pedro 1:4). E o Senhor nos ordenou que nos alegrássemos, não por termos grandes dons e poderes aqui, mas pelo fato de nossos nomes estares arrolados nos céus (Lucas 10:20). Quando Deus nos mantém olhando para as nossas possessões celestiais, não ambicionamos as coisas daqui; nossa porção é muito melhor do que qualquer coisa “debaixo do sol”.
“E a Deus, o Juiz de todos” [Hebreus 12:23]. No Cristianismo, Deus revelou-Se a Si mesmo aos Cristãos com um Deus-Salvador e como Pai, mas Ele não cessou de ser o “Juiz de todos”. O Deus Cristão mantém tudo o que é devido a Si mesmo, como Soberano Governante do universo, ao mesmo tempo que Ele se faz conhecido nas glórias da graça. Satanás tem usado uma cilada, muito bem-sucedida, ao colocar uma parte dessa revelação contra a outra, dizendo: “Deus é amor e, portanto, não pode haver julgamento eterno, Ele é misericordioso, então não há necessidade de se converter, ou ser lavado no sangue do Cordeiro”. É eternamente verdade que Deus é “Juiz de todos”.
“E aos espíritos dos justos aperfeiçoados” [Hebreus 12:23]. Os santos do Antigo Testamento não chegaram a perfeição enquanto estiveram neste mundo. A redenção não havia sido cumprida e a plena revelação de Deus não havia sido descortinada. A vontade de Deus era que, sem nós, eles não pudessem ser aperfeiçoados (Hebreus 11:40). Eles irão alcançar a perfeição conosco em ressurreição. Deve ter sido algo grandioso para os crentes hebreus serem assim assegurados da questão triunfante do caminho da fé para todos aqueles que o haviam trilhado nos tempos do Antigo Testamento.
“E a Jesus, o Mediador da nova aliança” [Hebreus 12:24]. Nós ainda não chegamos ao cumprimento pleno da nova aliança, mas já chegamos a Ele que é o seu Mediador. Tudo será cumprido à Israel, e àqueles trazidos para a bênção milenar na era por vir, por meio da mediação de Jesus.
“E ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel” [Hebreus 12:24]. Essa é a base de tudo — independente do que pensarmos a respeito da graça celestial ou das bênçãos terrenas que serão conhecidas na era por vir, tudo tem sua fundação NO SANGUE.
“Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor” [Hebreus 12:28]. As coisas das quais falei até agora constituem o “reino inabalável”. Tudo na esfera da visão é abalável e será destruído em pedaços, antes que se passe muito tempo. Mas, o reino de fé não pode ser removido. O que é invisível à visão natural não é importante para este mundo. Tem sido arruinador para a igreja, ela ter assumido que os homens teriam coisas que podem ser vistas — belos prédios, sacerdócio humano, encabeçamento visível, etc. As coisas que constituem o reino de fé não podem ser vistas. CRISTO reina hoje no reino da verdade. Ele diz: “Meu reino não é deste mundo… Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz” (João 18:36,37). Ele reina em um reino invisível; Ele reina pela verdade nos corações do Seu povo. Reinamos, se é que posso assim dizer, no reino de fé, e esse “é um reino inabalável” – um reino que está todo apoiado fora da esfera da visão natural. Nenhuma das coisas, para as quais fomos trazidos, pode ser vista com os olhos naturais. Elas serão vistas na era por vir, mas, em fé, somos trazidos a elas agora.
“Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel” [Hebreus 12:22-24].
Tradução de texto homônimo, parte do livro “The True Grace of God” (A Verdadeira Graça de Deus), de C. A. Coates.