Participante de Cristo
“Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniqüidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida” (Habacuque 1:2-4).
“Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa” (Habacuque 2:1).
“O SENHOR me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé” (Habacuque 2:2-4).
Habacuque viveu num tempo de perplexidade. Ele clamava a Deus e aparentemente não via uma resposta, o que o deixava ainda mais atribulado. As injustiças que ele via no próprio povo de Deus o incomodavam, e ele insistentemente buscava a Deus. Ao se posicionar em uma torre de vigia, ou seja, aguardar uma resposta do Senhor, Deus lhe respondeu de forma maravilhosa. Deus lhe mostrou como iria trabalhar no Seu povo. O panorama foi ainda mais sombrio do que ele imaginou. Deus disse a Habacuque: escreve a visão! Grava a visão! Ela se cumprirá no seu tempo… e então vemos aquela frase tão enigmática: ela se apressa, mas se tardar, espera, ela virá. Na ótica de Deus é rápido, mas na nossa pode parecer demorado. Deus nunca julga apressadamente, como nós fazemos.
Na parábola do juiz iníquo, registrada em Lucas 18:1-8, Jesus usou palavras muito bonitas, que nos remetem ao texto de Habacuque, em uma maravilhosa alusão ao Seu retorno. Difícil não relacionar os dois textos nos dias em que vivemos! Dias de perplexidade, quando a Igreja vem, a cada dia, perdendo sua pureza e testemunho no mundo, e quando vemos claramente, pela Palavra, a aproximação dos dias de julgamento.
Nas palavras do Grande Profeta, vemos um adversário e uma viúva. O adversário importuna a viúva e o juiz é apresentado de forma totalmente contraditória a Deus, para trazer esse contraste ao máximo e nos confrontar com a nossa própria incredulidade. O juiz retratado não deseja julgar a causa, o que é totalmente contrário ao Deus revelado em Habacuque, que espera para julgar, mas que certamente julgará. Entretanto, a viúva importuna o juiz, assim como Habacuque, e pede que ele julgue sua causa. O nome adversário é muito instrutivo, por ser tão direto ao se tratar da raiz do conflito cósmico no qual nos encontramos. Jesus diz que, se o juiz fosse péssimo, ainda assim julgaria, quanto mais um juiz bom, não é mesmo?
Então temos as célebres palavras:
“Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18:6-8).
O elemento “depressa, embora pareça demorado” entra em cena aqui, assim como em Habacuque temos o mesmo elemento: “apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o”. Deus fará justiça. Ele é justo sim. Ele é bom.
Hoje precisamos do elemento essencial que nos leva a ter esse contato com o celestial e eterno, a fé, que nos permite seguir adiante, independente das aparentes ambiguidades e contradições diante de nós. A fé se apoia na Palavra de Deus e se alegra no Senhor. O mais impressionante é que o cântico de Habacuque, que encerra o seu livro (Hc 3), é um cântico de julgamento, extremamente sombrio, trazendo esperança à Israel de que o povo, que seria o agente do seu julgamento, seria ainda julgado no futuro.
Ao final de todo aquele panorama negativo, é como se Habacuque dissesse: “bem, apesar de tudo, escolho então me apegar ao próprio Deus. Ele é o motivo de alegria. Ele irá me capacitar para viver e exultar Nele, mesmo nessas circunstâncias. Como as corças, trilharei esses caminhos, porque Ele transformará meus pés”. Esse é um cântico de fé.
Sabemos que existe outro cântico em Apocalipse, que é reservado para os 144.000 (que é um número tipológico, representativo), e ali é dito que só eles poderiam aprender essa canção. Aqueles 144.000 são os seguidores do Cordeiro aonde quer que Ele for. Provavelmente, ao longo dessa caminhada, no caminho da cruz, eles aprenderam algo especial, e aquilo se tornou sua canção.
Esse seria o Cântico dos Cânticos deles, a canção da Noiva, reservada apenas para aqueles que escolheram seguir o Cordeiro Monte Sião acima, a despeito das dificuldades e renúncias. Estar ali é reservado para aqueles que escolheram abrir mão de suas vidas (Apocalipse 12:11). Que possamos ter os olhos abertos e não desanimar com as circunstâncias diante de nós. Que possamos, pela fé, exultar em Deus, na Sua beleza e justiça. Então, nem mesmo os panoramas de juízo iminente, que sabemos que virão, nos deixarão perturbados e aflitos.
Só poderemos cantar o cântico de Habacuque e dos 144.000 se escolhermos o caminho da Cruz, se nos esquecermos de nós mesmos e seguirmos o Cordeiro aonde quer que Ele for.
“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente. Ao mestre de canto. Para instrumentos de cordas” (Habacuque 3:17-19).