A Fé em Alargamento pela Adversidade – Parte 4

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Veja post anterior.

T. Austin-Sparks

“Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (1 Jo 1:5).

A Plenitude de Deus como Luz

O que queremos dizer com a plenitude de Deus? É nada menos do que a natureza de Deus preenchendo todas as coisas. “Deus é luz”, diz a Escritura (1 Jo 1:5), então, onde está Deus não há trevas, não há espaço para a escuridão, e quando Deus vem em plenitude, “não há treva alguma”. É tudo “luz no Senhor” (Ef 5:8). E o Senhor está se movendo nesta linha com você e comigo. Ele está tentando nos levar completamente para fora de nossas trevas em direção à Sua luz, para nos trazer para a luz, como Ele está na luz. E quão grande fator é a fé nesta questão de se achegar à luz do Senhor para conhecê-Lo, chegar ao entendimento, ou qualquer expressão que você pode usar para a luz.

Você e eu nunca entraremos em um raio adicional de luz verdadeira – não me refiro à informação, quero dizer luz espiritual – exceto pela longa linha de testes de fé, uma fé realmente testada. Uma irmã no Senhor, que se achava muito mal-humorada, e que se irritava muito rapidamente, disse a um querido servo de Deus: “Oh, eu preciso de mais paciência. Orem por mim, para que eu possa ter mais paciência”. O servo de Deus disse: “Tudo bem, vamos voltar e orar agora”, e assim eles se ajoelharam e ele orou: “Senhor, envie mais tribulação na vida desta querida irmã”. E ela parou e disse: “Não, eu não disse que queria tribulação. Quero paciência”. “Ah”, ele respondeu: “mas a Palavra diz: ‘a tribulação produz a paciência’” (Romanos 5:3).

Sim, queremos mais do Senhor, mas não somos sempre tão prontos a seguir o caminho que Ele nos leva, a fim de ter mais dEle. Mas é assim, no caminho da tribulação – e o que é tribulação, senão o teste da fé? – nós somos colocados em situações em que apenas a fé em Deus nos permite viver e ir em frente. No lugar mais improvável do mundo. Sim, o lugar mais impossível para qualquer coisa de caráter espiritual, porque nada realmente é do Senhor, lá, mesmo neste lugar terrível, existem santos andando de vestes brancas, em comunhão viva com o Senhor. Não diga: “Ah, o lugar que eu tenho que viver e trabalhar é impossível para qualquer vida espiritual ou crescimento espiritual. Tudo está contra mim.” Lembre-se que o Senhor pode alargar você em qualquer lugar, se Ele te chama para estar lá. Nunca use o argumento do impossível. Basta pensar em Abraão e o impossível. Ele veio ao alargamento, mas não porque tudo era propício, não porque tudo se tornou tão fácil. Não, pode haver luz no lugar mais escuro, se o Senhor estiver lá.

A plenitude de Deus é luz, mesmo nas trevas; amor – porque Deus é amor – em um reino de ódio; vida em um reino da morte; e santidade em um reino de impiedade. “Que sejais cheios até a inteira plenitude de Deus.“

Deixe-me terminar com isto neste momento; o teste para saber se uma coisa é de Deus, é sempre sua medida espiritual. Não é a medida do nosso conhecimento doutrinário, nem mesmo a medida do nosso conhecimento da Bíblia como tal. Não é a precisão ou exatidão de nossa técnica no método e procedimento. É a medida de Deus. Podemos ter todas essas outras coisas, sem que haja realmente nenhuma medida de Deus. Isso é o que conta.

A Batalha da Incredulidade

A obra do inimigo não é só do lado de fora. Ela parte do interior. O inimigo tem uma posição muito forte e profunda no homem, em sua natureza. Além disso, não é pouca coisa nos ampliar até o alargamento de Deus. Há muito em nós que sempre frustra e limita Deus. Essa posição do inimigo em nós por natureza é algo que sempre se coloca no caminho dos pensamentos de Deus, como uma força positiva para resistir a Ele.

A natureza essencial desse ponto de apoio é a incredulidade. Não há nenhum de nós, não importa o quão avançado possa ser o ponto de nosso progresso espiritual, que ainda não tenha alguma batalha com a incredulidade de seu próprio coração.

O pecado que tão de perto nos assedia” (Hb.12:1), que impede, atrasa e nos prende na corrida espiritual é a incredulidade. Você sabe que esta carta aos Hebreus é toda relacionada com a perseverança – perseverar para a plenitude. Aqui, nesta metáfora da corrida – “correr com paciência a carreira que nos está proposta” – encontramos a exortação para deixar de lado esse impedimento que tão tenazmente nos assedia.

Esse impedimento é a incredulidade. No texto original, a passagem segue imediatamente (sem qualquer divisão de capítulo) para o décimo primeiro capítulo dessa carta, que é o capítulo da fé. Assim, de forma bastante geral, é muito apropriado, considerando nossa necessidade presente, falar sobre esta questão da “fé para o alargamento”, pois, como foi com Abraão, assim será com todos nós.

É claro que isso tem aplicações particulares e específicas. Podemos aplicar esse ponto à obra do Senhor a um ministério, um testemunho ou um instrumento divino. Há momentos em nossa experiência, que a direção e o curso das coisas nos indicam que tudo vai se acabar, será impedido, frustrado e trazido a um fim. Por causa disso, uma grande prova de fé surge.

Os envolvidos ​​são jogados no vórtice de um grande conflito para saber se afinal, tudo representa mesmo a vontade de Deus. Considerando as repetidas atividades frustradas, esforços limitados e incapacidade, buscam entender se não cometeram nenhum engano. Então tudo passa a ser revisado. Nessas ocasiões, o inimigo faz intensa pressão com questionamentos. É um período de severa provação da fé. E isso que é tão verdadeiro coletivamente também se repete na vida de indivíduos, de tempos em tempos.

Os Testes de Fé de Abraão

O ponto e o argumento de tudo o que vemos na Bíblia é este: o próprio teste de fé é o caminho do alargamento proposto por Deus. Novas ampliações virão por novos testes. Essa é a ordem das coisas. Isto sempre foi assim. Aqui está Abraão, com um juramento e uma aliança, Deus anunciou a ele os Seus pensamentos sobre este grande alargamento: “Farei a tua descendência como o pó da terra” (Gn.13:16). “Eu multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e como a areia que está na praia do mar” (Gn.22:17). Deus não deixou Abraão com qualquer dúvida quanto aos Seus pensamentos sobre o alargamento.

Mas olhe para os testes para os quais Abraão foi imediatamente trazido. Ele tinha, falando naturalmente, todas as razões e motivos para dizer: “Eu cometi um erro em pensar que Deus quis dizer isso. Eu não entendi o que o Senhor quis dizer, e fui pego em alguma ilusão.” Teria sido muito fácil para Abraão, sob a pressão e o teste, reagir assim. Mas o ponto é este, o que o Senhor tem feito, no que diz respeito a Abraão, é muito mais do que Abraão jamais pensou. Veja, toda aquela grande multidão que nos é apresentada no último livro da Bíblia – “uma grande multidão, que ninguém podia contar” (Ap.7:9), “dez mil vezes dez mil, e milhares de milhares” (Ap.5:1) – Paulo diz que eles são a semente de Abraão (Gl.3:29): não Judeus, mas os crentes, os filhos da fé (Gl 3:7). Todo aquele que repousou sua fé em Deus é a semente de Abraão – uma semente incontável. Tudo se realizou. Mas veja como a fé de Abraão foi progressivamente testada nesta questão de alargamento. Não foi uma batalha travada de uma vez por todas e estabelecida, mas foi algo trabalhado durante uma longa vida, até que ele tivesse cem anos de idade, em diferentes formas, em diferentes estágios e com pungência acentuada em uma e outra vez, o teste do alargamento surgiu.

Mas cada teste superado significou alguns novos alargamentos. Temos dito que esse é um caminho e uma lei do Senhor. É algo para guardar em nossos corações. O salmista disse: “Tua palavra guardo no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl.119:11). O pecado de todos os pecados, no que diz respeito a Deus, é a incredulidade, e aqui está uma palavra que devemos esconder em nossos corações para o dia da provação – o dia em que sentimos a nossa fé sendo tão testada, experimentada e pressionada pelas situações em que nos encontramos, que isso representa uma limitação – isto deve gerar uma limitação, se não um fim absoluto. A Bíblia de capa a capa argumenta o contrário: que tais testes de fé estão sempre ao lado dos pensamentos expressos e revelados de Deus, que estes testes são o caminho para a realização de Seu propósito, e que o pensamento de Deus é, em primeiro lugar, alargamento.

Leia o próximo post.

Extraído do livro “Fé em Alargamento pela Adversidade” (cap.2), de T. Austin-Sparks.

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