Participante de Cristo
“Não se importe o meu senhor com este homem de Belial, a saber, com Nabal; porque o que significa o seu nome ele é. Nabal é o seu nome, e a loucura está com ele; eu, porém, tua serva, não vi os moços de meu senhor, que enviaste. Agora, pois, meu senhor, tão certo como vive o SENHOR e a tua alma, foste pelo SENHOR impedido de derramar sangue e de vingar-te por tuas próprias mãos. Como Nabal, sejam os teus inimigos e os que procuram fazer mal ao meu senhor. Este é o presente que trouxe a tua serva a meu senhor; seja ele dado aos moços que seguem ao meu senhor. Perdoa a transgressão da tua serva; pois, de fato, o SENHOR te fará casa firme, porque pelejas as batalhas do SENHOR, e não se ache mal em ti por todos os teus dias. Se algum homem se levantar para te perseguir e buscar a tua vida, então, a tua vida será atada no feixe dos que vivem com o SENHOR, teu Deus; porém a vida de teus inimigos, este a arrojará como se a atirasse da cavidade de uma funda. E há de ser que, usando o SENHOR contigo segundo todo o bem que tem dito a teu respeito e te houver estabelecido príncipe sobre Israel, então, meu senhor, não te será por tropeço, nem por pesar ao coração o sangue que, sem causa, vieres a derramar e o te haveres vingado com as tuas próprias mãos; quando o SENHOR te houver feito o bem, lembrar-te-ás da tua serva. Então, Davi disse a Abigail: Bendito o SENHOR, Deus de Israel, que, hoje, te enviou ao meu encontro. Bendita seja a tua prudência, e bendita sejas tu mesma, que hoje me tolheste de derramar sangue e de que por minha própria mão me vingasse” (1 Sm 25:25-33).
Uma chave para compreender a beleza desse texto são as palavras que Abigail disse a Davi: “pelejas as batalhas do Senhor”, ou seja, não eram as suas próprias batalhas pessoais que Davi lutava. Ao longo da história de Davi, vemos que ele não tentou assumir o reino de Israel com suas próprias mãos, nem mesmo quando Saul estava a poucos metros de distância, onde ele poderia matá-lo rapidamente. Então esse extrato de sua história é muito peculiar, porque nos revela princípios importantes, se desejarmos viver uma vida que agrade o coração de Deus.
Naquele momento, Davi estava sendo levado a agir em relação a ele mesmo, movido por algo que o afrontou e indignou. Mas, nessa situação, não encontramos nenhum registro de que ele buscou uma direção do Senhor antes de agir, ao contrário do que sempre costumava fazer. Davi reconheceu que sua ação era motivada por sua “própria mão” (vs 33). É lindo ver como Davi rapidamente reconheceu que estava agindo com a motivação errada, mesmo quando sendo alertado por uma mulher. Abigail foi um canal de Deus para livrar Davi de fazer algo errado, movido pela motivação errada.
A grande diferença entre a situação de Nabal e a situação de Golias era quem estava sendo ofendido. Golias estava ofendendo a Deus, e Nabal ofendeu a Davi. Todos nós precisamos ter um relacionamento e uma dependência de Deus, que nos permitam discernir quais são AS SUAS BATALHAS. Assim, como aconteceu no Vale de Elá, quando Davi enfrentou Golias, também poderemos enfrentar qualquer situação, qualquer opositor, porque a BATALHA É DELE. O Próprio Senhor vai encarar o desafio e Ele não pode ser vencido.
Tudo está no coração – tudo estava relacionado ao ego de Davi. Certamente todos ficaram indignados com a postura de Nabal, mas o único que poderia agir era Deus. Ele mesmo tocou em Nabal em outro momento, quando a situação voltou para suas mãos.
Podemos ver o retrato do coração maduro de Davi, quando Simei o amaldiçoou, em um momento de extrema dificuldade, jogando pedras nele, entretanto DAVI NÃO LEVANTOU A SUA MÃO. Ele sabia QUEM vindicaria seu reinado, e conhecia o caminho da cruz:
“Tendo chegado o rei Davi a Baurim, eis que dali saiu um homem da família da casa de Saul, cujo nome era Simei, filho de Gera; saiu e ia amaldiçoando. Atirava pedras contra Davi e contra todos os seus servos, ainda que todo o povo e todos os valentes estavam à direita e à esquerda do rei. Amaldiçoando-o, dizia Simei: Fora daqui, fora, homem de sangue, homem de Belial; o SENHOR te deu, agora, a paga de todo o sangue da casa de Saul, cujo reino usurpaste; o SENHOR já o entregou nas mãos de teu filho Absalão; eis-te, agora, na tua desgraça, porque és homem de sangue. Então, Abisai, filho de Zeruia, disse ao rei: Por que amaldiçoaria este cão morto ao rei, meu senhor? Deixa-me passar e lhe tirarei a cabeça. Respondeu o rei: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora, deixai-o amaldiçoar; pois, se o SENHOR lhe disse: Amaldiçoa a Davi, quem diria: Por que assim fizeste? Disse mais Davi a Abisai e a todos os seus servos: Eis que meu próprio filho procura tirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o; que amaldiçoe, pois o SENHOR lhe ordenou. Talvez o SENHOR olhará para a minha aflição e o SENHOR me pagará com bem a sua maldição deste dia” (2 Sm 16:5-12).
Simei se aproveitou de um momento de fraqueza de Davi para amaldiçoá-lo. Ainda em situação de humilhação, Davi poderia facilmente se livrar daquele homem, mas decidiu descansar no Senhor.
Davi foi um homem de guerra, mas as suas muitas vitórias não eram pessoais, eram vitórias nacionais. Ele lutava pelo Senhor dos Exércitos, não pelas suas próprias mazelas, sua honra, seu nome. Vivendo assim, ele pôde deixar para nós o caminho do trono. Esse caminho foi trilhado pelo nosso Mestre, que foi chamado Filho de Davi (Mt 1:1). Jesus enfrentou muitas lutas, ofensas, desafios, mas não perdia o foco do propósito do Pai e de Sua vida:
“Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1 Pe 2:21-23).
Um de nossos maiores inimigos, como ilustrado nessa história da vida de Davi, é o nosso ego. Se tentarmos preservar nossa vida, nossa imagem, podemos perder uma grande oportunidade de dar a Deus espaço para cumprir a Sua vontade soberana em todas as situações. Quanto a nós, que possamos ser um registro da vitória do Senhor Jesus, da Sua Vida poderosa e vitoriosa em nós – mas lembrando que Ele é o príncipe do Exército do Senhor. Ele é o Senhor, e Ele luta a batalha do Senhor, não a nossa:
“Estando Josué ao pé de Jericó, levantou os olhos e olhou; eis que se achava em pé diante dele um homem que trazia na mão uma espada nua; chegou-se Josué a ele e disse-lhe: És tu dos nossos ou dos nossos adversários? Respondeu ele: Não; sou príncipe do exército do SENHOR e acabo de chegar” (Josué 5:13,14).
Para que Ele viva, Ele precisa ter espaço em nós e precisa ter o governo de nossa vida. Se tirarmos as sandálias dos nossos pés e seguirmos Sua direção, certamente experimentaremos a Sua vitória pela fé, e viveremos uma vida segundo o coração de Deus, porque Ele é O FILHO AMADO!