T. Austin-Sparks (1888-1971)
“E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica” (2 Coríntios 3:4-6).
Precisamos conhecer a grandeza das mudanças que ocorreram a partir da vinda do Espírito Santo, no dia de Pentecostes. Ali, aconteceram as condições necessárias para a mudança de dispensação.
Tomando por base o capítulo 3 da Segunda Epístola aos Coríntios, vemos a encarnação de algo grandioso e importante relacionado à essa transição de Moisés para Cristo, ministrado no poder do Espírito Santo.
A diferença é enfatizada pela repetição da palavra “Glória” ao longo de todo o capítulo. Tente sublinha-la: no verso 7, três vezes, no verso 8, uma vez, no verso 9, duas vezes, no verso 10, uma vez, no verso 11, duas vezes, e no verso 18, três vezes. Em dezoito versículos, essa palavra ocorre doze vezes, indicando uma forte ênfase.
Observe a palavra “Espírito”. Descobriremos que esse é o assunto predominante: “O Espírito e a Glória”. Esse é exatamente o argumento do apostolo: havia uma glória que se desvanecia, vinda da Antiga Dispensação. Então, podemos utilizar qualquer palavra para resumir aquele tempo, menos a palavra glória. Mas, a partir da vinda do Espírito, a dispensação da Glória chegou, e essa é uma Glória que nunca existiu anteriormente, pois é nova, plena e com um novo sentido.
Podemos dizer que o tema de nosso estudo seja “Glória”.
- O transmissor da glória é o Espírito. Isto está claramente evidenciado nesse capítulo, quando Ele é denominado como o Espírito da Glória.
- O Instrumento da Glória é a Palavra de Deus. A Palavra de Deus se torna viva por meio dEsse Espírito e produz glória.
- A totalidade da Glória é Cristo. “Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado” (2 Co 3:16). A Glória se manifesta, e se formos um pouco adiante na epístola de 2 Coríntios, veremos que o apóstolo disse também: “Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2 Co 4:6). A totalidade da Glória é Cristo.
- O lugar da Glória é no coração do crente – “resplandeceu em nosso coração”, “mas pelo Espírito do Deus vivente… em tábuas de carne, isto é, nos corações” (2 Co 4:6; 3:3).
- O efeito da Glória no coração é a transformação. “Contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória” (2 Co 3:18).
- O poder da Glória é liberdade. “Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co 3:17).
Esse é um resumo, uma síntese do capítulo.
O ponto importante no momento é que, com a vinda do Espírito Santo, o caminho da glória foi aberto diante de nós, e a Glória chegou.
Podemos, entretanto notar através do capítulo, que Paulo menciona contrastes fundamentais. Eles são de extrema importância para nós, uma vez que a nossa grande necessidade, como Cristãos, é que nosso Cristianismo seja glorioso.
Deveríamos ser cristãos gloriosos, no sentido e estrito da palavra. Entretanto, não é apenas necessário reconhecer a importância dessa Glória, mas também precisamos experimentar o benefício dela. Vimos o contraste entre a Lei dada por Moisés e a Revelação dada em Jesus Cristo. Temos o contraste entre as pedras e os corações de carne… Mas bem no centro desses contrastes, temos: “a letra mata, mas o espírito vivifica” (2 Co 3:6). Não acredito, nem por um segundo, que a Palavra de Deus traga morte. Precisamos entender o que o apóstolo está tentando dizer aqui. A questão aqui é entre o legalismo em relação à letra, ou Palavra de Deus, e a vida que vem pela ação do Espírito Santo sobre essa Palavra. O Apóstolo fala disso plenamente em outras partes de seus escritos.
É como se ele estivesse dizendo: “Veja, por causa do estado em que se encontram as pessoas, seus corações foram endurecidos”. Devido ao estado das pessoas, a Palavra é recebida como um estatuto legal de ‘faça isso, não faça aquilo’. É como algo imposto sobre elas. Se torna algo pesado. É uma opressão: ‘você deve fazer isso, não deve fazer aquilo…’. Então, pode ser a Palavra de Deus, mas devido à condição interior daqueles que a leem, se torna algo simplesmente legalista, e consequentemente um grilhão. É a mesma Palavra, a Palavra de Deus, mas o que muda é o efeito que ela tem sobre nós. Tudo depende do estado de quem a lê.
Tradução de trechos coletados do capítulo 3 do livro “The Cross and the Eternal Glory” (A Cruz e a Eterna Glória), de T.Austin-Sparks, publicado e distribuído gratuitamente por Emmanuel Church.