As Coisas que se não Veem

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T. Austin-Sparks (1888-1971)

“Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 João 5:4).

Fé é a vitória que vence o mundo, “a convicção de fatos que se não veem” [Hb 11:1]. Se essa é uma verdade, então o segredo da vitória reside na capacidade e persistência deliberada em não olhar para as coisas visíveis, mas focar a visão nas coisas que “se não veem”.

Vemos esse princípio na história e experiência do povo de Deus. Paralisia, derrota e desastre eram o consequente juízo da visão segundo os olhos naturais. Por outro lado, a vitória seria o resultado encontrado, mais cedo ou mais tarde, por aqueles que confiavam nos recursos Divinos e realidades ocultas por trás das coisas visíveis.

Quando alguém focava seus olhos interiores no “CONTEMPLAR” durante suas caminhadas íntimas com Deus, uma libertação sempre ocorria, e àquela pessoa era concedida ascendência espiritual e moral, pois se recusava a ceder à tirania dos olhos exteriores.

Portanto, quando um mar profundo estiver adiante de nós, atrás de nós vislumbrarmos um Faraó tremendamente endurecido com suas hostes, e de cada lado se erguerem cumes intransponíveis – um retrato de uma situação humanamente impossível – vamos nos lembrar que a atitude salvadora é: “Não para as coisas que se veem, MAS…para as que se não veem”. Esse é um grandioso “mas”!

Logo à frente temos uma terra de promessa, de realização, a entrada no propósito, depois de uma longa e dolorosa preparação.

Mas, como acontece muitas vezes, o desafio final da espiritualidade fica entre o êxodo (a saída) e o ‘eisodus’ (a entrada). Será necessário aos sentidos naturais encarar dificuldades gigantescas, enquanto Deus permanece esperando no escuro, invisível.

Resta o desafio: vamos seguir ou retroceder? Isso vai depender de uma capacidade para apreender esse Supremo Recurso… devemos ouvir a exortação: “NÃO PARA AS COISAS QUE SE VEEM”.

Deus é muito bom em ocultar a Si mesmo de nossos sentidos naturais, para ser buscado em espírito e verdade. Se a Igreja é um corpo celestial que tem a fé como lei de sua vida, e se a peregrinação da fé implica na transição daquilo que é terreno em direção ao celestial, do natural para o espiritual, então, certamente poderemos esperar que quanto mais perto a Igreja chegar do fim de sua jornada, mais aguda se tornará a demanda por visão, discernimento e percepção espirituais.

O servo do profeta, que dependia da percepção espiritual de outro (pois não tinha nenhuma visão espiritual própria), via somente as forças humanas que lhes ameaçavam, e que o deixaram petrificado de medo e paralisado. O profeta, no entanto, que desfrutava de uma comunhão de primeira mão com Deus, via as montanhas ao redor “cheias de cavalos e carros de fogo” [2Rs 6:14-17 – conforme ilustrado na história de Eliseu e seu servo].

Satanás trabalha na linha dos sentidos do corpo e da alma, e muitos filhos sinceros de Deus são desviados por meio destes apelos. Deus busca alcançar Seus propósitos em e através do espírito do homem, que é mais profundo do que os sentimentos ou a visão, mais profundo do que as sensações, emoções ou a razão. Satanás, por outro lado, é especialista em demonstrações.

Quanto mais Satanás buscar sucesso por meio de enganos no terreno dos sentidos, mais o Senhor tornará Sua verdadeira vida em algo espiritual, separado daquilo que é terreno como, por exemplo, evidências e gratificação, conduzindo nossa vida à pura essência da fé, que é olhar “não para as coisas que se veem”.

Esse é o espírito da nossa peregrinação, quando nos tornamos “estrangeiros e peregrinos na terra”. Esse senso da estranheza e distanciamento do plano terrestre deve necessariamente aumentar, até atingirmos uma agonia e desejo intenso pela pátria e as coisas celestiais.

Extraído do texto “O Visível e o Invisível”, de T. Austin-Sparks, publicado no site www.austin-sparks.net.


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.

“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).

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