“Todos esperam de ti que lhes dês de comer a seu tempo. Se lhes dás, eles o recolhem; se abres a mão, eles se fartam de bens” (Salmo 104:27).
O Salmo 104, em louvor ao Criador, fala de pássaros e animais da floresta, de leõezinhos, do homem indo trabalhar, do grande mar onde vivem inúmeras criaturas, pequenas e grandes.
Tudo isso resume o relacionamento de toda a criação com seu Criador, e a sua contínua e universal dependência dEle, como o salmo diz: “todos esperam em Ti”. Da mesma maneira que foi uma obra de Deus criar, é também a de sustentar. Assim como é difícil para a criatura criar a si mesma, também o é prover para si. Toda a criação é governada por essa lei inalterável: esperar em Deus!
A palavra é a simples expressão da causa pela qual a criatura foi trazida à existência, a base da sua constituição. Uma razão para a qual Deus deu vida às criaturas foi para que Ele pudesse provar e demonstrar Sua sabedoria, poder e bondade, e que Nele, a cada momento, está a alegria e vida da criação, sendo derramadas as riquezas de Sua bondade e poder sobre cada um, de acordo com a sua capacidade de receber. Assim como é o papel e natureza de Deus ser o supridor incessante de toda a necessidade da criatura, o papel e natureza da criatura não é nada além de esperar em Deus e receber Dele o que SOMENTE ELE pode dar, o que Ele Se deleita em conceder.
Devemos compreender que essa tarefa não é um mandamento arbitrário. Devemos ver como isso não é apenas necessário por causa do nosso pecado e incapacidade, mas é simples e verdadeiramente a restauração do nosso destino original e da nossa maior nobreza, nosso verdadeiro papel e glória de sermos criaturas dependentes de forma abençoada do Deus Todo-Glorioso.
Se pelo menos uma vez nossos olhos fossem abertos a essa preciosa verdade, toda a Natureza se tornaria um pregador, nos lembrando de que esse relacionamento que foi fundado na criação é agora recebido em graça. À medida que lemos esse Salmo, e aprendemos ao olhar para toda a vida da Natureza como continuamente sustentada por Deus, perceberemos que esperar nEle é a grande necessidade do nosso ser. Quando pensamos nos leõezinhos e corvos clamando a Ele, dos pássaros e peixes e todo o inseto esperando Nele, até que Ele lhes conceda alimento na estação própria, veremos que essa é a verdadeira natureza de Deus, e que Ele é um Deus pelo qual devemos esperar.
“Esses esperam em Ti que lhes dê de comer a seu tempo” (Sl 104:27). É o Senhor que sustenta a todos: deixemos que essa convicção penetre profundamente em nossos corações. Esperar em Deus, incessantemente, em total dependência Dele, é o céu na terra e a única verdadeira religião. Essa é a única inalterável e abrangente expressão do verdadeiro relacionamento com Aquele pelo qual vivemos.
Que possamos decidir, de uma vez por todas, que essa será a característica da nossa vida e do nosso louvor: a contínua, humilde e confiante espera em Deus. Que possamos descansar seguros de que Ele nos fez para Si mesmo, e que Ele Se dará a Si mesmo a nós e em nós, e Ele nunca nos desapontará. Em esperar nEle encontraremos descanso, alegria, força e o suprimento de toda e qualquer necessidade.
“No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo 7:37).
“Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6:35).
Cristo é a expressão viva do Pai, e Ele é a realidade – a expressão viva para a qual toda a criação aponta. Ele é a nossa verdadeira comida e bebida, o sustentador do universo (Hb 1:3). Que possamos diariamente clamar pela verdadeira comida e bebida, e possamos entregar nossa vida à Ele, ouvindo Sua voz e dependendo do Seu guiar em nosso homem interior!
Adaptado do texto “O Verdadeiro lugar da Criatura”, do livro “Waiting on God“, de Andrew Murray.