“A importância da primeira menção” são meditações sobre um princípio básico e fundamental de interpretação da Palavra de Deus, o princípio da primeira menção.
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“O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida…” (1 João 1:1).
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João escreveu durante a última hora: “Filhinhos, já é a última hora …” (1Jo 2:18) e trouxe consigo esse princípio primordial: “O que era desde o princípio…” ( 1Jo 1:1). Mas ainda que João estivesse refletindo sobre as marcas que haviam sido deixadas pelo tempo, seu foco estava naquilo que é atemporal.
Percebemos que a referência inicial dessa “última hora” é relacionada àquilo que não perece, mas permanece eternamente.
“Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2:17).
Portanto, aqui temos a menção do início, da última hora e do eterno.
O fim é governado pelo começo
Vejamos essa primeira cláusula: “O que era desde o início”. Devemos ter muito cuidado para reconhecer que o fim é governado pelo começo.
É muito importante levar isso em consideração e manter isso em mente quando nos achegamos às Escrituras. Quando chegamos à última hora, aquilo que era desde o início é trazido à tona em uma apresentação completa.
Tudo o que João tem a dizer em sua epístola é repassar aquilo que era no início, para que isso fosse encontrado intacto no povo do Senhor no final. Ao ser levado a seguir esse curso, ele está, na verdade, dizendo: Vamos ser julgados, tudo será julgado no final de acordo com o que havia no início. Nós, no final, devemos estar à altura disso.
O começo continua sendo o padrão governante até o fim
“Deus nunca se afasta de sua posição inicial e original. Deus nunca aceita nada menos que isso. Ele não se desvia, Ele não desiste, Ele não perde ou sacrifica uma vírgula sequer de Sua posição e intenção originais. Isso continua a ser o padrão pelo qual Deus governa tudo até o fim, e no final Deus trabalhará soberanamente em relação ao Seu início” (T. Austin-Sparks).
Se tivéssemos percepção espiritual suficiente, veríamos que essa lei está sendo aplicada hoje de uma maneira impressionante. Tudo que está sendo testado hoje; tudo que atende pelo nome do Senhor: Seu povo, aquilo que é denominado como obra Sua; tudo isso será provado.
Haverá provações nas nações, severos testes por meio do fogo das condições nacionais, internacionais e mundiais; provas por meio das forças do mal.
“Tudo que está vindo à luz agora de uma maneira nova e talvez mais intensa do ocorria antes é um teste: e os testes de Deus, por qualquer meio que Ele use, são todos balizados pela Sua posição original, à luz “daquilo era desde o início” (T. Austin-Sparks).
João na verdade, diz: Por meio dessas provas veremos como isso se posiciona à luz do padrão original. Isso significa que Deus está decidido a ter no final o que Ele tinha no início, e Ele está trabalhando soberanamente nessa conexão.
Não podemos escapar disso. O julgamento começa pela Casa de Deus. O julgamento do mundo, do pecador e dos ímpios se seguirá, será subsequente.
Qual é a base do julgamento Divino começando na Casa de Deus?
É baseado “naquilo que existia desde o início”. Portanto, será necessário que saibamos o que isso é. A primeira coisa que notamos é que o princípio permanece o padrão governante até o fim, e no fim Deus agirá soberanamente em relação a ele.
O que era desde o início
João curiosamente inicia seu evangelho e sua primeira epístola usando essa linguagem:
“O que era desde o princípio…” (1Jo 1:1).
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1:1).
Em seu evangelho, João tem como objeto Jesus Cristo, o Filho de Deus, que estava desde o início com Deus. No outro ele se refere à Pessoa e tudo que foi fruto de Sua encarnação.
Temos dois começos: o evangelho de João nos leva de volta aos tempos eternos, em 1 João ele se refere a um novo começo, que aconteceu na encarnação – pois ele diz: “o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam”.
Algo saiu da esfera da eternidade para a o tempo, foi um novo movimento de Deus.
Cristo é o começo de Deus
“E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras… A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras” (Lc 24:27; 44,45).
Então seguramente podemos concluir que Cristo é o começo de Deus; o plano original.
Somos privilegiados por viver na dispensação em que o Espírito Santo habita em nós, e nos conduz a esse conhecimento por revelação, quando esse Cristo pode ser claramente experimentado em nossa vida.
Devemos nos lembrar que nossas vidas devem ser governadas pelo propósito original, por aquilo que veio com e em Cristo. Tudo nessa dispensação até o fim, será governado de acordo com Cristo, Sua obra, Suas riquezas.
Cristo é a grande realidade governante desta dispensação, e nossa Bíblia fala dEle. Ele é a explicação para tudo, Ele é a chave.
O Testemunho de Deus na Palavra
“Admiráveis são os teus testemunhos; por isso, a minha alma os observa” (Sl 119:129).
“A estrutura complexa e caráter composto da Palavra de Deus são um sinal e prova de que sua autoria parte de uma única mente, e que a verdade é descortinada de acordo com um plano claramente definido. Encontramos unidade em toda a sua diversidade e variedade, além de um progresso da doutrina por meio de um ensino consecutivo. Tudo isso em medida superior à que seria possível esperar de um só escritor, registrando tudo em um mesmo período. Tudo isso é absolutamente impossível para nossa condição humana. Esse é um dos fatos mais notáveis que o estudo das escrituras traz à luz” (A. T. Pierson).
Considerando que Deus é o verdadeiro autor de Sua palavra, e o Espírito Santo foi o agente que inspirou aqueles que a registraram, sabemos que Ele deixou chaves ali para que possamos compreender o sentido original que o Autor tinha em mente em relação a qualquer pessoa, lugar, palavra importante ou assunto.
Quando aquilo for referido pela primeira vez nas Escrituras, torna-se num prognóstico ou chave para a adequada compreensão de todas as ocorrências subsequentes. É como se fosse um relance que indica sua relação com o todo do testemunho ou ensino das Escrituras.
O Espírito de Deus supre com essa primeira menção a chave para tudo que se segue no mesmo assunto.
“Essa é a lei que percebemos e que nunca vimos falhar. A primeira ocorrência de uma Palavra, expressão ou afirmação é a chave para seu uso e sentido subsequentes, sendo um guia para a verdade essencial nela contida”. (E. W. Bullinger, “How to Enjoy the Bible”).
Referências:
“That which was from the Beginning”, cap 1.
T. Austin-Sparks
Knowing the Scriptures: Rules and Methods of Bible Study, cap 30.
A. T. Pierson