Harry Foster
“Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo” (2 Coríntios 4:10).
Continuação de post anterior.
Leitura: 1 Rs 17:1; 18:10; 19:1-4; 21:20,21; 22:34-35,37-38. 2 Rs 1:8,9, 2:11; 9:30,33,36.
A Conquista da Morte
Quando falamos do momento mais difícil da vida de Elias, quando pediu que Deus tirasse sua vida, não podemos deixar de nos lembrar que temos o restante daquele capítulo. Algo maior emerge dali. Elias não estava acabado. Ele foi um homem entregue à morte; mas, apesar disso, ele nunca morreu! Isso é algo impressionante. Outros profetas morreram, mas Elias nunca viu a morte. O homem que foi caçado por meio de ataques vindos de fora e de dentro, através da fome, espada, governantes malignos e companhias humanas, teve sua vida ameaçada, mas nunca morreu! Ele foi arrebatado até os céus em um redemoinho. Esse é um bendito e maravilhoso paradoxo sobre sua vida: depois de tudo isso, ele não morreu. O Senhor não matou Elias, nem Elias se matou; ele continuou vivo. Esse é o encorajamento, o conforto diante disso tudo. Oh, não importa quão humilhados devemos ser conduzidos por Ele, o propósito do Senhor não é nos matar ou nos levar a um estado de esterilidade final. Assim como alguns de nós, muitas vezes Elias sentiu que as coisas haviam chegado ao fim, mas o Senhor nunca deseja um fim assim. Nós, que estamos sempre sendo entregues à morte por causa de Jesus, vivemos por Cristo, e a vida de Cristo reina em nós. Glória a Deus, em todo tempo essa é a Sua intenção.
Mais do que isso, o Senhor não precisa te humilhar para que você apenas viva. Todo o povo de Deus viverá. Nos dias de Elias, pelo menos sete mil viveram.
Outra característica da vida de Elias é que mesmo ele não morrendo, outros morreram. Ele matou os assassinos e tragou a própria morte. Todos os santos escaparão da morte e viverão, mas fico imaginando quantos de nós irão vencer a morte e tragá-la? Esse é o propósito de Deus.
Voltando para a vida de Elias, descobrimos que cada vez que ele superou as ameaças de morte, aquilo que iria matá-lo foi morto. O episódio mais simples e talvez o mais alegre, porque nesse caso nenhuma vida humana foi tirada, é o episódio da viúva. Não se esqueça que, quando Elias chegou à sua casa, a viúva estava preparando sua última refeição para morrer. Elias também estava prestes a morrer. Ele não tinha nenhuma migalha para comer e estava numa situação pior do que a dela; ainda assim, o fato impressionante é que não apenas Elias viveu, mas também a mulher e o seu filho. A vida veio àquela casa e a morte foi vencida.
Veja também o aspecto de combate. Acabe desejou matar Elias, mas o arco foi entesado e a flecha foi atirada ao acaso no campo de batalha, e o homem que tentou se disfarçar, que usava uma armadura e que fez tudo que seria possível para evitar a sentença Divina foi o homem atingido. O lugar vulnerável em sua armadura foi encontrado pela flecha atirada ao acaso e ele morreu. É isso que diz a Palavra do Senhor: ele morreu. Se você ler aquele pronunciamento novamente, dito na vinha de Nabote, descobrirá que foi Elias que proferiu tais palavras.
Temos também aquela ocasião quando ele estava desesperadamente quebrantado. Deus deu a ele, como dizemos, sono e depois alimento. Então mais sono e mais alimento, e, na força disso, ele chegou ao monte. Lá, o Senhor graciosamente lhe apareceu e, em outras palavras, lhe disse: “Elias, você me entregou sua demissão e está completamente quebrado, desiludido em relação a si mesmo e a seu ministério. Bem, Elias, seu verdadeiro trabalho está só começando. O fogo, o terremoto, o vento poderoso, todas essas coisas são, em certo sentido, uma preparação, uma preparação necessária, mas a voz mansa e suave é essencialmente Minha obra”. Isso veio a Elias com um propósito duplo. Ele foi lembrado de que tudo o que aconteceu teve seu valor; houve sete mil que foram sustentados pelas orações de Elias, apesar de nunca o terem conhecido, nem agradecido a ele por isso. Sete mil, é tudo o que sabemos, sustentados no coração devido àquela ousada figura pública, Elias. Isso pode muito bem ter sido parte do seu ministério, mas o resultado de tudo foi uma série de eventos. Ele deveria ungir Eliseu, e Eliseu, por sua vez, ungiria a Jeú, e o fim da sequência de eventos que emerge do quebrantamento de Elias no deserto é que Jezabel seria morta de acordo com a palavra do Senhor. Deus toma bastante tempo para agir. Tanto quanto sabemos, Elias foi para a glória muito antes de isso ter acontecido, mas aconteceu, e tudo veio por meio do seu ministério.
Será que estamos percebendo as implicações disso? O Senhor nos entrega à morte. É doloroso, uma experiência terrível, mas, por um lado, sabemos que Ele vai nos levar além. Seu fim é vida, não morte. Por outro lado, tem algo mais do que isso. Seu propósito é, por meio de nós, vencer a morte e destruí-la. Não desejamos, em nenhum momento, pensar que vamos matar pessoas. Acabe e Jezabel indicam a maldade espiritual, que tenta matar o povo de Deus. O homem que mais sente a dolorosa pressão de suas intenções assassinas é aquele que finalmente as destrói pela palavra do Senhor. Nós fomos escolhidos para fazer isso. Escapar da morte, sim, mas mais do que isso, destruir a morte, triunfar em vida por meio de Cristo.
Lembre-se dos cinquenta homens. Os discípulos mais tarde se lembraram desse incidente, e, quando algumas pessoas não receberam o Senhor, eles disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?” [Lc 9:54]. Oh, eles tinham entendido errado! Elias nunca chamou fogo do céu, nem moveu um dedo para se proteger. Eles foram movidos por um sentimento pessoal de que o Mestre tinha sido rejeitado. Sob aquela ótica pessoal, por estarem ressentidos, eles matariam outros homens. O Senhor diz: “Vós não sabeis de que espírito sois”. Oh, caros amigos, nunca pensemos em termos de vingança, nem permitamos que algo seja estimulado em nossos corações pelo que sofremos.
Aqueles cinquenta vieram e disseram: “Homem de Deus… Desce” [2 Rs 1:9]. Não foi: ‘Elias, desce’. Esses homens estão desafiando a Deus. Eles disseram: “Homem de Deus, o rei disse, desce”, e o fogo do céus desceu e consumiu-os. Por que? Porque o ataque não foi contra Elias, mas foi contra o Senhor. Na terceira ocasião, de fato, o capitão daqueles cinquenta reconheceu algo do Senhor, e ele não foi morto.
Assim, vemos que toda a atmosfera e pensamento da vida de Elias não é de que ele estava fazendo grandes coisas para justificar a si mesmo; mas que ele se tornou como que um campo de batalha pela glória de Deus, e, por meio de sua completa submissão à Cristo, a Deus, e sua devoção ao Senhor, suportando a dor da morte, provando a morte, ele triunfou sobre ela e a destruiu, até que no fim ele subiu até Deus. Ele nunca morreu. Ele foi arrebatado. Sim, mas isso ocorreu porque a vitória sobre a morte já estava sendo forjada nele. No seu próprio ser houve, por assim dizer, uma resposta ao desafio da morte, que é o fato de que não apenas a misericórdia do Senhor protege da morte, mas que Elias foi um vencedor nesse sentido: existiu um poder de vida nele que foi morte para morte.
É por isso que ele foi arrebatado, e acredito também que, no propósito de Deus, essa é a base para sermos arrebatados. Algumas vezes tremo diante das idéias fáceis que já tive sobre a vinda do Senhor e o arrebatamento. Acredito que questões muito antigas e eternas estão envolvidas nisso. Isso representa a culminação da experiência de um povo entregue à morte, mas não morrendo; e não apenas não morrendo, mas triunfando em vida, triunfando sobre a morte e a destruindo.
Que o Senhor possa fortalecer nossos corações para que, não importa quão amargo seja o gosto da morte, possamos triunfar em vida por Cristo o Senhor.
Tradução do livreto homônimo de Harry Foster, publicado por Emmanuel Church.