Conformidade com Cristo Forjada nas Provações

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T. Austin-Sparks (1888-1971)

“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28).

Voltemos até o ponto onde, por ora, o Senhor nos estabeleceu e nos chamou para viver e realizar nosso trabalho. Devemos permanecer ali, em meio à todas as provas, dificuldades e sofrimentos, sem nos esforçar para sair de onde Ele nos colocou. Não perca o valor daquilo que está vivendo agora, mantendo a mente sempre focada no livramento, mas reconheça que se você é do Senhor, se ama a Deus e é chamado de acordo com o Seu propósito, Ele está buscando fazer algo ‘com’ e ‘em’ você por meio das condições da presente situação. Você só frustrará o propósito de Deus se tentar sair dela, falhando em reconhecer e aceitar o que Ele está tentando fazer.

Existem poucas coisas mais lamentáveis e dolorosas do que olhar para trás em algum momento da nossa vida e dizer: “Poderia ter cumprido um grande propósito de Deus naquele período em que vivi, se apenas tivesse tido outra atitude em relação a certa situação. Estava desgastado, impaciente, o tempo todo buscando um ponto para escapar; fui rebelde, vivendo em outro mundo mental da minha própria autoria, no qual faria ‘isso’ e seria ‘isso’ ou ‘aquilo’. Com isso, perdi de vista todo o propósito de Deus naquele tempo”. Acredito que existam poucas coisas mais lamentáveis do que essa.

Então, precisamos retornar para a esfera e condições onde o Senhor nos estabeleceu, com a seguinte atitude: Deus tem um propósito a meu respeito como um dos Seus; e esse propósito é que, em meio às condições e sofrimentos da minha vida, Ele possa desenvolver em mim as características do Seu Filho.

Por um lado, na medida que reconheço as características da antiga criação em mim mesmo, elas podem parecer ainda mais terríveis; mas por outro lado, Deus está fazendo algo que é diferente de mim, e nada tem a ver comigo. Ele está trazendo outra Pessoa à luz: Seu Filho. Lentamente, bem devagar, não obstante, algo está acontecendo. Essa filiação [huiosthesia], esse ser conformado à imagem do Filho não está manifesto ainda, mas será no futuro. O que Deus está fazendo será trazido à luz, a conformidade com a imagem do Seu Filho, “a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 8:29].

O que Deus está fazendo com Seu povo? Ele está usando todas essas coisas que estão acontecendo, primeiramente para trazer Seu povo à conformidade com a imagem de Seu Filho. Deus nos predestinou para isso.

Como você ora pelo povo de Deus em momentos de dificuldade? É claro, somos todos tentados a orar por libertação, a clamar para que o Senhor possa dar a eles um escape dessa situação. Pode ser correto orar assim, mas suponha que o Senhor não liberte? Ele nem sempre liberta de uma vez. Por vezes, Ele permite que a situação continue e se torne muito prolongada. Quando isso ocorre, o inimigo se acampa ao redor desse fato e traz a sua própria interpretação: ’Deus não está fazendo nada, mas deixou Seu povo, está parado e não se preocupa com vocês’. Podemos não ter uma voz de resposta, a menor indicação de que o Senhor está levando as coisas em consideração. Isso acontece com muita frequência e se torna um verdadeiro playground para inimigo. Deus aparentemente não responde.

Como seremos salvos da destruição num momento desses, sob tais condições? Apenas nos apegando a uma nova forma de pensar a respeito de Deus; e então começar a orar por outros caminhos. Se Deus não age para libertar Seu povo, então existe um pensamento e propósito mais profundo e elevado do que a libertação, e Ele está agindo com base nisso. Ele está trabalhando profundamente e reproduzindo nas pessoas a paciência, a longanimidade e a perseverança de Jesus Cristo.

Vamos nos lembrar que o próprio Filho de Deus foi aperfeiçoado por meio de sofrimentos, e então ler os Evangelhos novamente e compreender que Ele é completamente diferente dos padrões do homem. Então, veremos o que Deus está fazendo com Seu povo! Mansidão e gentileza – essas são características alheias à nossa natureza. Em condições de stress, adversidade e debaixo da mão cruel de homens tiranos, somos incapazes de dizer: “Pai, perdoa!” [Lucas 23:34]. O Senhor, no entanto, podia dizer: ”Sou manso e humilde de coração” [Mateus 11:29]. Essa é a imagem do Filho.

Tais condições que nos provam são terríveis e desafiam nossa disposição natural. Toda a nossa natureza se revolta contra a mansidão e a gentileza, e deseja se levantar e se impor contra todo mundo para não ficar para trás, ou até mesmo para dominar a situação. Nossa natureza não se deleita na oposição, no antagonismo, na frustração, na perseguição e todas essas coisas.

Mas pense, veja como Cristo reagiu diante de Pilatos e do Sumo Sacerdote. Espancado, escarnecido, atacado e degradado de todas as maneiras possíveis. Sendo Ele o Deus Altíssimo encarnado, pelo abrir de Seus lábios ou com o silencioso erguer de Suas mãos, poderia ter destruído toda aquela multidão! O centurião estava certo ao ver o que aconteceu, se enchendo de temor e dizendo: “Verdadeiramente este era o Filho de Deus“ [Mt 27:54].

Vemos pessoas rapidamente descobrindo o terrível erro que cometeram. Pense no choque que aqueles que O trataram sofrerão quando O verem novamente. Você pode compreender um pouco do que Saulo de Tarso sentiu quando O viu (porque ele sabia de tudo o que tinha acontecido em Jerusalém) – “Eu Sou Jesus”- e O viu em uma luz mais brilhante do que o sol do meio dia.

Mas vamos nos lembrar que nosso Senhor aceitou, suportou tudo isso até o seu doloroso final, permitindo que os pregos fossem cravados em Suas mãos e pés, e que Ele fosse fixado na Cruz, com todo aquele escárnio que a acompanhou: “Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se… Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus” [Mt 27:42,43]. Ele não moveu um dedo ou disse uma palavra sequer, apesar das doze legiões de anjos que estavam ali prontas para O ajudar (se um anjo pôde destruir o exército de Senaqueribe, o que 12 legiões de anjos poderiam fazer?).

Isso é a mansidão e humildade do coração, e é isso que Deus está tentando gerar em nós. Essa é a vontade de Deus; isso traduzirá a glória de Deus no universo e tornará o mundo habitável, um universo de natureza suportável para nossa habitação. Deus trabalha assim em nós.

“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8:18).

Extratos do artigo “Conformed to the Image of His Son”, publicado no site http://www.austin-sparks.net/english/001589.html

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