O testemunho de filadélfia

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O testemunho de Filadélfia é um artigo baseado em meditações no capítulo 4 de Rute. Tomamos por referência o livro “Estudos sobre o livro de Rute” de H. L. Heijkoop.

“Boaz subiu à porta da cidade e assentou-se ali. Eis que o resgatador de que Boaz havia falado ia passando; então, lhe disse: Ó fulano, chega-te para aqui e assenta-te; ele se virou e se assentou. Então, Boaz tomou dez homens dos anciãos da cidade e disse: Assentai-vos aqui. E assentaram-se. Disse ao resgatador: Aquela parte da terra que foi de Elimeleque, nosso irmão, Noemi, que tornou da terra dos moabitas, a tem para venda. Resolvi, pois, informar-te disso e dizer-te: compra-a na presença destes que estão sentados aqui e na de meu povo; se queres resgatá-la, resgata-a; se não, declara-mo para que eu o saiba, pois outro não há senão tu que a resgate, e eu, depois de ti. Respondeu ele: Eu a resgatarei. Disse, porém, Boaz: No dia em que tomares a terra da mão de Noemi, também a tomarás da mão de Rute, a moabita, já viúva, para suscitar o nome do esposo falecido, sobre a herança dele. Então, disse o resgatador: Para mim não a poderei resgatar, para que não prejudique a minha; redime tu o que me cumpria resgatar, porque eu não poderei fazê-lo. Este era, outrora, o costume em Israel, quanto a resgates e permutas: o que queria confirmar qualquer negócio tirava o calçado e o dava ao seu parceiro; assim se confirmava negócio em Israel. Disse, pois, o resgatador a Boaz: Compra-a tu. E tirou o calçado. Então, Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Sois, hoje, testemunhas de que comprei da mão de Noemi tudo o que pertencia a Elimeleque, a Quiliom e a Malom; e também tomo por mulher Rute, a moabita, que foi esposa de Malom, para suscitar o nome deste sobre a sua herança, para que este nome não seja exterminado dentre seus irmãos e da porta da sua cidade; disto sois, hoje, testemunhas.” (Rute 4:1-10)

***

Vimos que Boaz chama o outro resgatador, o fulano, para conversar com testemunhas, para informar que a terra de Elimeleque (“O Senhor é Rei”) estava à venda. A soberania do Senhor estava sendo negociada. 

Nós relembramos como as epístolas às sete igrejas em Apocalipse 2 e 3 também podem ser consideradas como profecias daquilo que haveria de ocorrer com o povo de Deus no futuro. 

Dessa forma, comparamos o fato da terra de Elimeleque ter sido negociada com o que ocorreu no período na história da igreja correspondente à Tiatira. Poderíamos dizer que Tiatira indica um forte paralelo com a Igreja Papal. Para tentar estabelecer que a Igreja era uma só, eles institucionalizaram aquilo que havia iniciado como algo vivo e orgânico. O homem tomou o controle e o governo de tudo naquele tempo. A Igreja Católica determinou que eles eram a única Igreja, e que fora dali não haveria salvação.

Então, na história da Igreja, Deus trouxe a reforma protestante. Esse movimento surgiu para deixar claro que a salvação seria algo individual, pela fé, e que muitas coisas relacionadas à vida cristão também demandavam por experiências individuais, não estando condicionadas à participação em um grupo, muito menos à uma organização humana. 

Entretanto, na tentativa de combater aquilo que a Igreja católica estava fazendo anteriormente, acabou havendo uma contramedida, resultando em um sectarismo e muitas divisões na Igreja.

Também ocorreu uma institucionalização, e isso está relacionado com a Igreja de Sardes: “você tem nome de que vive, mas está morta”. A obra foi iniciada, mas parou no meio do processo.

Se olharmos para as sete Igrejas da Ásia, em Apocalipse 2 e 3, podemos ver que de Éfeso até Pérgamo, há uma unidade – A Igreja é tratada como um todo. A partir de Tiatira, vemos na história, que começou haver duas histórias que caminham paralelas – a Igreja do Senhor Jesus, um organismo vivo e espiritual, e a religião, em todas as suas formas, reivindicando ser a Igreja verdadeira. Isso deve perdurar até a volta do nosso Senhor Jesus.

Quando nos é dito que Boaz foi até o resgatador fulano, este lhe responde imediatamente que tinha condições de resgatar a terra – nos remetendo ao homem natural que é casado com a lei (Rm 7:1,2). Nessa condição, o homem natural prontamente diz: “sim, posso agradar a Deus” (Êx 19:8; 24:7; Rm 7:12-15). Quando vivemos de acordo com um conjunto de leis, julgamos a nós mesmos e ao nosso próximo também. Esse conjunto de regras acaba por ser definido como um conjunto de práticas a ser vivido. 

O problema é que o proprietário da terra está morto (Elimeleque – “O Senhor é Rei”), assim como aconteceu em Sardes, que “tinha nome de quem vive, mas estava morta”. Enquanto tentarmos viver a vida cristã com base na lei, podemos até ter fama de estar vivos, mas de fato estaremos mortos. 

Quando o fulano diz que pode resgatar a terra, Boaz diz que ele também deve tomar Rute como esposa e suscitar a ela um descendente. Diante disso, o resgatador fulano desiste.

A lei é assim. O que seria a Rute diante da lei? Uma moabita. Ela não poderia entrar na congregação do Senhor (Dt 23:3). Não era possível conciliar essas coisas de acordo com a lei. Se o fulano se casasse com ela, estaria prejudicando sua própria herança. A glória da lei estaria sendo comprometida. Sua reputação seria questionada.

Isso também acontece conosco. Vai chegar um ponto em que chegaremos à conclusão que estamos mortos, e só uma pessoa pode nos conceder vida. Não tem lei, boas práticas, conjunto de regras, nada que a gente possa fazer para experimentar a vida no contexto da morte. Só o Senhor Jesus pode fazer isso – “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2:1).

Por que Boaz, judeu, se casou com Rute, moabita? Jesus, em tese, deveria vir para os judeus e nós, os gentios, somos os Moabitas. Ali, Boaz não estava preocupado com a lei, mas assume a Rute como herdeira, apesar de sua origem. Da mesma forma que como Jesus nos recebeu diante dos fariseus e religiosos da época (Jo 1:11,12). 

Então, mesmo no tempo da lei, vemos o Senhor demonstrar os aspectos da Sua maravilhosa GRAÇA. Ele faz isso diversas vezes no Antigo Testamento, motivado por Seu imenso AMOR:

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).

Boaz viu alguma coisa em Rute quando disse que ela era virtuosa. Da mesma forma, Jesus olha para nós e vê a noiva celestial. 

Se observarmos os capítulos 2 e 3 de Apocalipse, vemos que nas três primeiras Igrejas: Éfeso, Esmirna e Pérgamo, sempre temos um chamado e então uma promessa ao vencedor. Nesse caso, se formos comparar isso com a história da Igreja, veremos que tudo que acontecia naquele período era direcionado para a Igreja como um todo. A partir de Tiatira, vemos que o chamado ao vencedor vem primeiro, e depois o chamado em geral. Então, a palavra não é mais para a Igreja como um todo, e o foco começa a ser dirigido ao testemunho. 

Vemos uma degradação cada vez maior, mas um testemunho vivo sempre presente. 

Filadélfia

“Este era, outrora, o costume em Israel, quanto a resgates e permutas: o que queria confirmar qualquer negócio tirava o calçado e o dava ao seu parceiro; assim se confirmava negócio em Israel. Disse, pois, o resgatador a Boaz: Compra-a tu. E tirou o calçado. Então, Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Sois, hoje, testemunhas de que comprei da mão de Noemi tudo o que pertencia a Elimeleque, a Quiliom e a Malom; e também tomo por mulher Rute, a moabita, que foi esposa de Malom, para suscitar o nome deste sobre a sua herança, para que este nome não seja exterminado dentre seus irmãos e da porta da sua cidade; disto sois, hoje, testemunhas” (Rute 4:7-10).

Boaz comprou tudo que pertencia a Elimeleque, Quiliom e Malom. Quiliom e Malom eram herdeiros de Elimeleque, mas por que essa menção? Vemos o cuidado do Espírito Santo em deixar isso registrado. É como se o Senhor dissesse: “Vou conquistar tudo para vocês. O preço que Eu paguei foi para adquirir tudo”. 

Quiliom e Malom estavam completamente fora dos preceitos do Senhor – antes de morrer, eles viviam em Moabe (a carne) e ali se casaram com suas residentes e então morreram (“o salário do pecado é a morte”). Mas independente de como vocês colocaram a terra a venda, Eu restaurarei, comprarei a terra de todos. Isso é o que o Senhor está fazendo com Sua Igreja. Ele está levantando e edificando um povo que Ele salvou por meio do Seu sangue. Apesar de não vermos o corpo de Cristo de forma palpável como era tão visível em Atos, o Senhor continua trabalhando. Ele chama os vencedores, que não se conformam com o estado de como as coisas estão. O Senhor chama o Seu povo. 

Agora Rute deixa de ser Moabita, uma estrangeira rebuscando nos campos, e passa a ser senhora junto com Boaz. Não somos mais aqueles gentios que estavam fora da congregação de Israel, mas fomos incluídos na família de Deus. 

“Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo” (Ef 2:11-13).

Fomos chamados a casar com o Senhor Jesus, ser herdeiros e coerdeiros com Cristo (Rm 8:17; Ef 3:6). O que é do Senhor Jesus, Ele disponibiliza para Sua companheira, Sua igreja. Que maravilhosa obra que a graça fez por nós!

Hoje temos certeza desse amor do nosso Resgatador, e podemos ter acesso com confiança ao Santo dos santos (Hb 10:19). 

A próxima Igreja citada em Apocalipse, depois de Sardes, é Filadélfia (Ap 3:7). Eles são um povo pequeno, fraco, mas o Senhor diz que eles são fortes (Ap 3:8).  

Paulo e Pedro tiveram grandiosa revelação baseada no Antigo Testamento. Mas isso não ocorreu com todos os irmãos. Os demais ainda dependiam muito do entendimento dos apóstolos, para entender o Antigo Testamento à luz da vinda de Jesus. Andando mais à frente na história, vemos que as coisas foram se perdendo, ainda não tínhamos a imprensa, e não tínhamos pleno acesso à Palavra de Deus. Mesmo com a imprensa, não era comum encontrar um grupo de irmãos que tinha toda a Bíblia disponibilizada para eles. Tudo era muito restrito. Devido à falta de acesso à Palavra de Deus, a Igreja foi se perdendo – como vemos os diversos desvios e heresias que apareceram ao longo de sua história. Na fase tipificada pela Igreja de Filadélfia, séculos XIX, vemos algo muito interessante, pois todos as pessoas começaram a ter acesso amplo à Palavra de Deus. 

Nesse período, a Palavra de Deus recebeu uma posição de centralidade nunca antes proporcionada na História da Igreja. Os irmãos se reuniam para estudar a Palavra, e assim ela foi aberta diante deles. Esse foi um período muito complicando na sociedade, quando o humanismo começou a se estabelecer. 

Os escritos dos irmãos dessa época influenciam muito a todos nós até os nossos dias. Muito do que recebemos se fundamenta nos estudos dos irmãos daquele período. O anseio pela volta do Senhor Jesus também era muito forte para aqueles irmãos. 

É claro que vamos ter a presença das igrejas de Sardes, Tiatira, Filadélfia até o momento da volta do Senhor, mas a expressão forte dessas igrejas já passou. Hoje vivemos em um período em que a expressão forte está representada pela igreja de Laodicéia (Ap 3:14-22), que se sente rica e abastada, mas o Senhor diz que ela de fato é pobre, cega e nua. O Senhor está do lado de fora batendo, ou seja, a presença viva do Senhor está excluída. Entretanto, sempre que encontrar uma pessoa desejosa de ter comunhão com Ele, o Senhor entrará e vai ceiar com essa pessoa. 

Mas como vamos ver essa Igreja gloriosa descrita pelo apóstolo Paulo em Efésios 5:27, sem mácula nem ruga? Isso nos parece uma realidade cada vez mais distante! Quando falamos de Filadélfia, pensando nos séculos XVIII e XIX, mas também podemos nos lembrar de Moisés, que libertou o povo do Egito, atravessou o deserto, mas não pôde entrar na terra de Canaã. Entretanto, ele pôde vislumbrar a terra, e contemplou pela fé toda a promessa sendo cumprida. Mesmo que estamos vivendo um tempo caracterizado majoritariamente por Laodicéia, podemos manter o espírito de Filadélfia, nos mantendo unidos com Cristo, em comunhão com Ele, assim como foi Rute e Boaz. Assim, com os olhos da fé, podemos como Moisés contemplar toda a terra, as riquezas insondáveis de Cristo e a beleza do Seu corpo. 

Leia mais sobre Rute aqui.

 

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