“Nas pegadas do Cordeiro – 3” é uma tradução do livreto “In the footprints of the Lamb”, de Georg Steinberger, publicado em 1915.
Georg Steinberger (1865 – 1904)
***
“São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá”. (Apocalipse 14:4).
Esse caminho é chamado: Nas pegadas do Cordeiro. Ao trilhá-lo, assimilamos o sentido da Cruz, compreendermos mais o seu poder e aprendemos a andar debaixo de sua sombra… O sentido mais profundo da Cruz é desistir de si mesmo.
Introdução
O Caminho do Cordeiro
A Luz do Caminho
O Alvo (em andamento)
Aquele que vem (em andamento)
A Luz do Caminho (continuação)
“O Cordeiro é a sua lâmpada” (Apocalipse 22:23).
- O Cordeiro nos ensina a amar
- O Cordeiro nos ensina a servir
- O Cordeiro nos ensina a “tudo suportar”
- O Cordeiro nos ensina a ser humildes
- O Cordeiro nos ensina a negar a nós mesmos
- O Cordeiro nos conduz à quietude
- O Cordeiro nos ensina a sofrer
- O Cordeiro nos ensina a obediência
- O Cordeiro nos ensina a ter fé
- O Cordeiro nos ensina a trabalhar
No post anterior, começamos a meditar na escola do Cordeiro. Com Ele aprendemos a amar, servir, “tudo suportar”, a humildade e aprendemos a negar a nós mesmos. Prosseguimos contemplando Aquele que é a luz do nosso caminho.
6. O Cordeiro nos conduz à quietude
“Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca” (Is 53:7). A primeira coisa que se aprende na escola do Cordeiro é tomar o Seu jugo e ficar quieto (Mt 11:29). As Escrituras falam sobre nos aquietarmos diante de Deus, esperando no Senhor e quietos nEle.
Antes de falarmos com Deus, devemos nos calar diante dEle. Quando Abraão caiu sobre seu rosto e ficou em silêncio, Deus falou com ele (Gn 17). Nos capítulos 15 e 16 vemos como Abraão falou e agiu, enquanto Deus permaneceu em silêncio – por treze anos inteiros. Lemos no capítulo 16: “Era Abrão de oitenta e seis anos, quando Agar lhe deu à luz Ismael”. E no capítulo 17:1: “Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR.” Foi muito tempo, sem dúvida foi o tempo mais difícil de sua vida; pois não há nada mais difícil para um filho de Deus do que o silêncio do Senhor. Então Abraão ficou em silêncio e permitiu que Deus falasse.
Ao ficar quieto diante de Deus, o homem se torna quieto na esperança em Deus. “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa”, diz Davi no Salmo 62. Isso já é um degrau mais alto. É confiar tudo a Ele, esperar todas as coisas dEle, receber todas as coisas de Suas mãos; e, ver o Pai por trás de tudo. Jesus disse, em João 6:37: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim”. Em outras palavras, recebo tudo o que Ele planejou para mim. Quando Ele quer que o sol brilhe para mim, ninguém poderá ficar no meu caminho.
Assim era Maria, que aprendera a ficar quieta, esperando em Deus. Não foi em vão que ela se sentou aos pés de Jesus. Ela tinha aprendido uma das mais difíceis lições: ficar em silêncio. Quando Marta reclamou dela, Maria ficou quieta até que seu Mestre se interpôs em sua defesa. Se Ele não pudesse justificá-la, ela também não o faria. Ela compreendia o Mestre melhor do que qualquer um de Seus discípulos, o que pode ser percebido quando ela O ungiu para Seu sepultamento (Jo 12). Ela sabia que seu Senhor deveria morrer; Ele deveria ser oferecido para a salvação do mundo – incluindo a dela. Seu Senhor, como o grão de trigo, deveria ser posto na terra e deveria morrer – caso contrário, haveria apenas um único grão.
Ao ungi-Lo, ela O fortaleceu nesta convicção como se dissesse: “Senhor, entendo o Teu caminho. Assim como toda a casa está agora cheia do odor do unguento, Tua morte será um “sabor da vida” para o mundo; assim como te dei o melhor que eu tinha, assim também, em um grau muito mais elevado, tu me darás o Teu melhor. Assim como agora derramo o nardo perfumado sobre Ti, muitos outros virão e farão o mesmo, quando Tu, por Tua morte, tiveres preparado o caminho para eles.”
Assim, ser compreendido e encorajado no caminho para Sua morte foi muito revigorante para nosso Senhor.
Mas o que Judas faz? Ele exigiu: “Para que esse desperdício?” (Mt 26:8). Desperdício? Isso foi um desperdício? Em resposta, Maria permanece em silêncio e aguarda a resposta do Mestre. Ele a defende, dizendo: “Ela praticou boa ação para comigo… Em verdade vos digo: Onde for pregado em todo o mundo este evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua” (Mt 26:10,13). E ela é digna de ser lembrada e podemos aprender com ela hoje o que é estar “quieto, tendo esperança em Deus”.
No entanto, ninguém ficou tão perfeitamente quieto quanto o Cordeiro. Ele estava quieto quando não tinha onde reclinar a cabeça, quieto quando havia um “Judas” entre Seus discípulos, quieto no jardim do Getsêmani, quieto na cruz, quieto em Deus!
Um grande progresso é alcançado quando nossa vontade, nossos anseios e nossos desejos estão totalmente em harmonia com os de Deus, quando Ele cria nossas expectativas dentro de nós, conforme lemos no Salmo 62:5: “dele vem a minha esperança”. A partir desse ponto, a alma entrou no descanso sabático, o descanso em Deus. Ela se alimenta de uma quietude que, como as profundezas do mar, não pode ser alcançada ou perturbada por nenhuma tempestade.
“Bebemos água do Lago da Constância”, disse-me recentemente um amigo. “Mesmo quando fica lamacento?”, lhe perguntei. “Ele nunca fica lamacento na profundidade de cinquenta metros e nosso encanamento principal é muito profundo”, respondeu ele. Oh, vamos nos esforçar para entrar profundamente em comunhão com Jesus, e desfrutaremos “repouso e segurança, para sempre” (Is 32:17).
7. O Cordeiro nos ensina a sofrer
Ele foi aperfeiçoado pelo sofrimento, afirma a Epístola dos Hebreus [Hb 5:8,9]. Isto é, através do sofrimento Ele se tornou num Salvador perfeito. Ele não seria esse Salvador por meio de Suas palavras, atos e milagres, mas tornou-se assim por meio do sofrimento. Pedro disse que nós também somos chamados a sofrer [1Pe 2:21]. Há feridas que só podem ser curadas por feridas. Li recentemente sobre um jovem em Baden que permitiu que um grande pedaço de pele fosse retirado de seu corpo para que as queimaduras de sua irmã pudessem ser curadas.
“Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça” [Rm 12:20]. Permita-se ser ferido pelo seu inimigo, e suas feridas curarão as dele. A respeito de Jesus, lemos: “Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” [Hb 2:18]. Aquele que sofreu pode ajudar outros sofredores (Sl 105:17-22).
Os homens da Bíblia passaram por sua escola de sofrimento – um esperando silenciosamente, outro na prisão, um no exílio entre montanhas e cavernas, outro no deserto. Alguém disse: “Somos feridos para que possamos aprender com o grande Médico como curar feridas e ajudar. Deus nos visita com provações para nos ensinar a carregar os fardos dos outros. Nós mesmos devemos primeiro ir à escola, antes de podermos ser professores de outros”. Nós também devemos suportar o jugo do sofrimento e provar das suas águas amargas para sermos aperfeiçoados através do sofrimento.
Um dos equipamentos do discípulo não é apenas ter um ouvido aberto e conhecer a “língua dos eruditos”, mas também ter costas que se deixam ferir e um rosto que não se esconde de receber afronta e ser cuspido (Is 50:4-6).
O diabo abomina aqueles que estão dispostos a sofrer. Ele sabe muito melhor do que nós o que as bênçãos extraídas do sofrimento podem trazer para nós e para os outros. Jesus teve Sua batalha mais feroz com o inimigo no Getsêmani, onde Ele tomou a decisão de prosseguir em direção à morte.
Quando examinamos nossa vida com esse pensamento em mente, descobriremos que os ataques de Satanás desferidos contra nós foram mais ferozes quando decidimos ficar em silêncio e sofrer. Em João 15:2 Jesus diz: “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa”. E o Pai, o Agricultor, limpa com frequência através do sofrimento. Muito frequentemente Sua tesoura de poda é a dor.
A Bíblia fala de quatro tipos de sofrimento: o sofrimento da disciplina, o sofrimento da provação, o sofrimento da purificação e o sofrimento por causa de Cristo.
A lepra de Miriam foi uma disciplina, cujo objetivo era libertá-la de um espírito de julgamento.
A peregrinação de Israel no deserto foi uma provação; dirigida para revelar o que estava em seus corações. As provações devem conduzir à perseverança na provação, para revelar se o coração é honesto, se a alma se apega ao Senhor – se realmente somos ou apenas parecemos ser.
O sofrimento de José na prisão e a permanência de Daniel na cova dos leões não foram tentações para eles. O sofrimento deles foi um fogo purificador. Deus conduz Seus filhos mais queridos por esse caminho. Somente aquele que suporta a prova pode ser purificado. A fidelidade de José e de Daniel foi a causa desse sofrimento ter sido ordenado a eles. Foi a fidelidade que levou José à prisão e Daniel à cova dos leões.
Se uma forma de sofrimento após a outra sobrevier ao seu irmão, não seja rápido ao dizer: “Ele deve ter cometido um grande erro”. Talvez você ainda não possa suportar sofrimentos; portanto, Deus esteja o poupando deles.
É dito a respeito do melhor e mais perfeito dos filhos dos homens que: “ao SENHOR agradou moê-lo” (Is 53:10).
O principal ponto relacionado a resposta à oração não é ser capaz de dizer que oramos por isso ou por aquilo. É poder dizer que Deus respondeu às nossas perguntas, incluindo esta: “Por que estou sofrendo? Qual é o significado desse sofrimento para mim?”
O sofrimento alarga o coração na medida em que gera compaixão; isso sim é sofrer por causa de Cristo. Ninguém tem tanta compaixão pelos pobres quanto aquele que foi pobre. Ninguém tem compaixão tão profunda pelos doentes do que aquele que abriu mão do precioso benefício da boa saúde. Diz-se que o pior de todos os males é um coração insensível.
Por compaixão não se entende meramente sentir ou expressar alguma empatia pelo próximo; mas é antes uma participação profunda e sincera nos seus sofrimentos, ao ponto de sentir o fardo e a necessidade do outro como se fosse propriamente seu.
Moisés, Esdras e Neemias tiveram esse tipo de compaixão. Eles não se colocaram acima das necessidades de seu povo, mas colocaram-se debaixo do seu fardo. Eles tomaram a culpa do povo sobre si e a apresentaram diante de Deus.
Essas almas muitas vezes sustentam uma congregação inteira, que de outra forma não poderia sobreviver. Eles são pilares na casa de Deus, e estão sempre em seus lugares. Não falam alto na sala de reuniões, mas oram. Eles oram por cada pessoa que entra pela porta, e a alegria enche seus corações na entrada dos fiéis ao Senhor. Uma profunda compaixão os acomete quando chega alguém que recentemente caiu, que se afastou de Deus.
8. O Cordeiro nos ensina a obediência
“Ele foi obediente” (Fp 2:8). Nestas três palavras o Espírito Santo resume toda a vida do Salvador. Elas marcam o ponto mais alto em toda a história de Sua vida. Seus milagres foram grandes, Sua Palavra nunca passará, mas ainda maior do que tudo isso foi Sua obediência. Seu alimento era fazer a vontade do Pai. Jesus revelou ao mundo Sua obediência ao Pai. Não possuiremos um dom melhor ou um sermão mais eficaz. Se pudermos mostrar ao próximo nossa obediência a Deus, estaremos lhe dando o melhor.
“Qual é o resultado da santificação?” um irmão perguntou recentemente. Qual foi o resultado na vida do Cordeiro? Encontramo-lo nestas palavras: “A si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2:8). Deus podia exigir dEle o que era mais difícil, e Ele o fazia com alegria. A santificação nada mais é do que obediência (Gn 22:2).
A falsa santificação leva a pessoa a um alto conceito de si mesma; levando-a a falar de sua experiência, do seu progresso, e assim por diante.
A santificação bíblica reduz a pessoa ao pó, aniquila toda a “graça da alma” e incita apenas um desejo: agradar a Deus.
Quando Jesus alcançou as maiores profundezas, diante da cruz, Ele falou de santificação: “E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade” [Jo 17:19].
Quando nos santificamos assim até a cruz, para o sacrifício, e quando junto com nosso Salvador descemos ao lugar mais baixo, então aqueles que nos rodeiam “serão santificados na verdade”. Mesmo que não possamos ser nada além de exemplos de obediência para nossos semelhantes, isso em si é extremamente valioso. Nada atrai os homens e os leva tanto à reflexão do que conviver com uma pessoa que anda em obediência.
A obediência concede poder. A fonte da vitória de Cristo, o segredo do Seu poder e do nosso, está na obediência. Aí encontramos nossa maior liberdade. Somente aquele que é livre pode ser o servo de todos. Ele também pode ajudar os outros a encontrar a liberdade.
Num coração obediente existe um caminho preparado para Deus. Há muitos cristãos que sempre buscam o próprio prazer e satisfação. Estes ainda não aprenderam que apenas crianças obedientes são crianças felizes. Aquilo que na verdade traz felicidade permanente nada mais é do que obediência a Deus.
Para uma alma saudável, só é necessário uma coisa conta: ser obediente. “Fazer a vontade de Deus” nos fortalece e se torna nosso “alimento” – muito mais do que desvendar os enigmas da Palavra de Deus, na tentativa de compreendê-la.
Por que tantos cordeirinhos de Deus têm tão pouca certeza de salvação? Por que suas almas não estão satisfeitas com a paz de Deus? Deus nos dá a resposta em Isaías 48:18: “Ah! Se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos! Então, seria a tua paz como um rio, e a tua justiça, como as ondas do mar”.
As pessoas dizem: “Careço de fé. Tenho pouca fé; portanto, não tenho certeza de salvação, nem paz”. Mas na maioria dos casos não é a fé que está faltando, pois mesmo com a mão trêmula e fraca podemos receber os presentes mais caros. É antes a obediência que está faltando. Há algo em suas vidas que eles não abrem mão, e isso impede o Espírito Santo de lhes dar a certeza de que são filhos de Deus.
Conheci um homem que por nove meses inteiros não pôde acreditar na expiação de Cristo, pela simples razão de não estar disposto a perdoar. Ele teria orado por mais nove anos ou até mesmo por noventa, se não tivesse cuidado desse assunto. Há uma diferença entre fazer um esforço para acreditar que estou salvo e ter o testemunho do Espírito Santo de que estou salvo. Ninguém que é desobediente a Deus pode ter confiança nEle. A confiança é o resultado da obediência. Para Jesus era inteiramente natural ter confiança em Deus, pois a obediência era uma questão natural para Ele.
Não é suficiente acreditar que estou salvo. Também devo andar de tal maneira que a salvação da qual me apropriei na fé possa ser percebida. Este é o caminho da obediência.
Recentemente, um amigo me escreveu mais ou menos o seguinte: “Parece-me que um dos maiores obstáculos à nossa caminhada consistente com Jesus reside no fato de falarmos constantemente sobre atos de fé e pouco sobre o contínuo crescimento da vida cristã. Falamos da plenitude do Espírito como um ato, do batismo como um ato de obediência, de ser mantido em comunhão com Deus, depois de ter se rendido totalmente a Ele, como um ato, e assim por diante. Isso é um grande erro. Nossa vida com o Senhor consiste em diversos atos individuais, como juntas, que servem apenas para fixar novas peças. Tememos a experiência contínua do caminho e, portanto, falamos dos atos individuais. Assim não negamos a nós mesmos, não morremos, não batalhamos, e permanecemos na carne”.
No vigésimo quinto Salmo, Davi ora por três coisas:
1. “Faze-me, SENHOR, conhecer os teus caminhos”.
2. “Guia-me na tua verdade e ensina-me”.
3. “Ensina-me as tuas veredas.”
Não é suficiente conhecer o caminho; devemos também andar nele passo a passo, e de vez em quando devemos ser instruídos pelo Senhor para estarmos certos de que trilhamos o caminho correto.
9. O Cordeiro nos ensina a ter fé
“Confiou em Deus” [Mt 27:43], clamaram Seus inimigos. Jesus manteve Sua fé em Deus até a Sua morte na cruz. Na mais profunda escuridão, Ele confiou em Seu Pai. Quando Ele desceu ao Jordão [no Seu batismo] e se apresentou como participante da culpa dos pecados do homem, e quando no Monte Tabor [da transfiguração] decidiu beber o cálice do sofrimento até a última gota, os céus se abriram e o deleite de Deus reluziu visivelmente sobre Ele.
No entanto, quando o Senhor chegou ao fim do Seu Caminho de Amor e executou a vontade de Deus na cruz, o céu tornou-se escuro e impenetrável. No Getsêmani havia apenas um anjo consigo, e junto à cruz apenas um discípulo e algumas mulheres o acompanharam.
Seus inimigos, em aparente verdade, afirmaram: “Veja o quanto a confiança em Deus O ajudou!” Assim, é possível que quando mais intensamente buscamos fazer a vontade de Deus, tenhamos uma menor percepção sensorial de Seu agrado. Pense em Daniel e seus amigos! Nessas ocasiões se torna visível se buscamos o Senhor ou se buscamos Seus dons.
Colocar a confiança em Deus em dias difíceis e sombrios é bem diferente de segui-lo em dias de sol. Lemos em Gênesis 15: “Ele [Abraão] creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça”. Mas chegou um momento de teste.
Abraão buscava a luz, mas as trevas o cobriram; ele buscou a face de Deus, e o terror recaiu sobre ele. Ele trouxe a Deus a oferta que Deus lhe havia ordenado, esperando que Ele viesse e a recebesse; mas em vez disso, as aves de rapina desceram sobre ela. Somente quando escureceu, Deus apareceu. Então veio a resposta: “Tua posteridade será peregrina em terra alheia… E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice” [Gn 15:13,15). Foi uma prova difícil, mas Abraão não se abalou em sua confiança em Deus. Ele descansou na certeza de que Deus era fiel.
Já passamos por experiências semelhantes, não é? Quando acreditávamos estar perto do alvo que havíamos estabelecido para nós mesmos, Deus subitamente o arrebatou para bem longe de nós. Quando esperávamos ter superado a prova mais difícil, surgiu outra ainda mais difícil. Talvez você tenha entregado seu corpo doente a Deus para cura. Desejava colocar sua confiança nEle e dar somente a Ele a glória. Você trouxe sua oferta hoje, esperando melhoras amanhã, mas as coisas só pioraram. Em vez do Senhor receber sua oferta e estabelecer Sua aliança com você, surgem dúvidas que o levam a tomar sua oferta de volta. Nesse momento parece que Deus não se importa se você depende dEle ou não.
Mas apenas espere! Se você persistir pacientemente, obterá uma grande vitória, tanto para você quanto para os outros. Você sabe por que o ladrão penitente se tornou numa figura tão atraente e se tornou num guia de luz e paz para tantos milhares de pessoas? Porque ele creu justamente na hora em que tudo ao redor de seu Deus estava obscuro. É difícil acreditarmos quando tudo está escuro ao nosso redor; mas o ladrão acreditou, apesar da escuridão. Certamente não foi fácil para ele ver o Filho de Deus naquele Jesus moribundo e chamar aquele homem desprezado de seu Senhor. Somente o Cordeiro ao seu lado lhe deu essa confiança. Ele não ensina confiança às pessoas, mas a dá, assim como não se ensina conforto, mas se concede. Deus concedeu esse tipo de confiança que aquele ladrão recebeu à centenas de milhares de corações.
Vá até um leito de morte onde um ser humano ainda combate nas agonias do pecado e da morte. Exponha o plano de salvação para ele da forma mais clara possível. Isso não tocará seu coração. Mas diga: “Lembre-se do ladrão da cruz”, e eis que a luz brilhará em sua alma e a confiança e o conforto começarão a habitar ali.
Não se desespere, portanto, se houver trevas ao seu redor, pois o Senhor também habita “nas trevas” (1Rs 8:12).
Honre a Deus com sua confiança.
“Confiou em Deus” significa também que o Senhor tinha Sua suficiência em Deus. Se tivéssemos aprendido isso, estaríamos livres de centenas de tristezas, de cuidados e de muito medo.
Deus tudo; Eu nada! Do que mais preciso eu? O que pode me prejudicar ou me perturbar?
10. O Cordeiro nos ensina a trabalhar
“Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito”, lemos a respeito do Senhor em Isaías 53. Existe um trabalho da alma, e esse foi o que o Cordeiro mais praticou. Deus pode permitir-nos ver coisas que provocam lágrimas amargas; pois quando tomamos sobre nós o jugo de Cristo, descobrimos que cada alma tem valor eterno.
Oh, como somos duros e antipáticos! Quantas vezes esquecemos que o nosso trabalho diz respeito às almas imortais, que é um trabalho de valor eterno! Enquanto milhares de almas correm para a morte eterna com suas cadeias eternas e aflição sem fim, permanecemos indiferentes, impotentes e sem coração, porque só buscamos aquilo que nos diz respeito.
São poucos os que podem dizer, como Jeremias falou quando seu povo, quando rejeitaram a lei do Senhor: “Os meus olhos choram, não cessam, e não há descanso” (Lm 3:49). Jesus chorou por Jerusalém e se entristeceu pelo povo. Por essa razão, as pessoas também fluíam em direção a Ele. Somente um coração compassivo conquista corações. Há uma compaixão à qual nenhum pecador, afinal, pode fechar os olhos, uma compaixão que é mais forte do que palavras. Vamos aprender com Ele.
O sexto capítulo de 2 Coríntios, onde Paulo fala de seu trabalho, começa com as seguintes palavras: “cooperadores”. Com quem? Com Deus! E como Deus trabalha? Paulo dá a resposta no capítulo 5:21: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”.
Nós nunca poderemos entender o que isso envolve, mas você pode sentir isso? Deus fez Seu Filho se tornar pecado! Você pode sentir o que representou para o Filho ser feito pecado por nós… por seus inimigos! Dessa forma Deus opera!
Paulo disse: “Eu trabalho da mesma forma que o Senhor, dou o que tenho de mais precioso; assim como Ele fez, e também não tenho medo de dar a minha vida”.
Leia 2 Coríntios 6 e veja até que ponto Paulo condescendeu, quão completamente ele se ofereceu, que vida de entrega ele viveu. Não seja tão rápido em afirmar que você é um cooperador no Reino de Deus. Você pode dizer: sou cooperador de Deus? Você é constrangido pelo amor ou pelo dever? Você trabalha para perder sua vida ou para encontrá-la?
A Bíblia geralmente nos mostra nosso Mestre sob dois aspectos: como Servo e como Cordeiro. Ele veio para servir, mas Seu serviço foi se tornando cada vez mais um processo de suportar.
Da forma de servo foi originada a forma de Cordeiro. Observamos os marcos no Seu caminho de serviço, e vemos que depois de cada um deles o caminho se tornava mais íngreme e estreito. O círculo de discípulos tornava-se menor, porque a meta se tornava mais definida.
E quando Ele voltou Seu rosto para a cruz, Ele foi seguido por apenas um discípulo, todos os outros O abandonaram.
Eles provavelmente compreenderam que Ele deveria ser um Servo, mas não haviam compreendido que Ele deveria ser um Cordeiro. O Espírito Santo O conduziu adiante, passo a passo, e a cada passo Ele descia mais baixo – até a morte na cruz.
Quanto mais se aproximava da cruz, mais clara a cruz brilhava diante dEle, e mais claramente a forma do Cordeiro podia ser vista na forma do Servo.
Dessa mesma maneira o Senhor conduz Seus seguidores. Seu serviço torna-se cada vez mais num serviço de suporte. Ele os conduz passo a passo do pátio externo para o santuário onde resta somente Deus.