Para a Glória de Deus é um texto baseado em extratos selecionados do artigo homônimo “For the Glory of God”, de T. Austin-Sparks. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, mas da nossa compreensão daquilo que o autor escreveu, podendo conter divergências em relação ao entendimento original do autor.
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“Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado.” (João 11:4).
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Essa afirmação é a explicação e a interpretação do Senhor sobre a tão misteriosa providência de Deus, que eleva as coisas que podemos considerar acontecimentos comuns da nossa vida a um outro nível, revestindo-as de glória e majestade.
Se tomarmos o texto base de nossa meditação, que retrata a morte e ressurreição de Lázaro, podemos pensar… bem, a enfermidade e morte de um homem não é uma coisa de caráter incomum. Absolutamente! Todos os dias presenciamos acontecimentos como esses.
Mas nesse incidente de João 11, o Senhor Jesus interpretou a enfermidade de Lázaro de forma especial, à luz da soberania de Deus. Se atentarmos para isso, podemos repensar e reavaliar alguns “incidentes naturais” de nossas vidas.
Quando Deus, em Sua soberania, se move com direção ao Seu grande objetivo – Sua própria glória em Seu Filho – Ele pode intervir em situações, permitindo até mesmo uma enfermidade, e essa mesma providência pode recuar enquanto é possível reverter essa situação, não impedindo o desenvolvimento natural de uma doença, culminando, finalmente, em morte.
No incidente de João 11 temos todas essas características de uma tragédia humana: luto, tristeza e desgosto. Mas Deus está envolvido nessa situação de uma maneira notável, e nos é dado a saber que esse acontecimento foi determinado pelo próprio Deus com um tremendo objetivo em vista, o maior objetivo do coração de Deus: Sua própria glória.
Observe as possibilidades contidas nessa consideração e a extensão de sua aplicação para cada um de nós.
Será que aceitaremos o fato de que Deus pode usar as circunstâncias desagradáveis da nossa vida para manifestar Sua glória, e com isso engrandecer Seu Filho? Os acontecimentos que nos rodeiam podem ser ordenados por Deus, debaixo do Seu controle soberano, e podem ser intencionados para Lhe trazer glória e satisfação.
Isso é algo que precisamos nos ajustar, com toda diligência possível. O nosso problema pode ser uma enfermidade ou uma limitação física. Talvez seja uma vida inteira cercada de dificuldades, privações, adversidades e sofrimento. Nossa luta pode ser aquele espinho na carne, que nos fustiga e leva a clamar por livramento tantas vezes, e ainda assim o Senhor diz: ‘Não’. Oramos, pedimos, e nada acontece, não recebemos resposta, alívio ou livramento. O Senhor se cala (Mt 15:23), e pensamos: “dissipou-se, afinal, toda a esperança de salvamento” (At 27:20).
“Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos” (Jr 8:20).
É claro que devemos nos lembrar que a Palavra deixa bem claro que nem todo sofrimento glorifica a Deus, pois algumas de nossas lutas podem ser consequências de atitudes erradas de nossa parte. Que o Senhor nos conceda um coração quebrantado e ensinável para não sofrer como malfeitores… No entanto, precisamos compreender que existem alguns tipos de sofrimentos que somos chamados a experimentar e a suportar, e que trazem glória a Deus (1Pe 4:1; 12-16).
Quando passamos por situações inexplicáveis, difíceis de compreender e não encontramos uma razão plausível para esse acontecimento dentro de nossa mente natural, como é fácil nos identificarmos com Maria e Marta, tão desoladas e aturdidas! Talvez as únicas palavras que podemos dizer (ou pensar) são: “Senhor, se estiveras aqui” (Jo 11:21; 32) isso não teria acontecido…
Em momentos como esse precisamos nos apegar ao Senhor, entendendo que existe uma soberania por trás da vida daqueles que são “chamados segundo o Seu propósito”. Os fatos não acontecem ao acaso na vida daqueles que amam a Deus, e até mesmo os acontecimentos comuns de nossas vidas estão debaixo da vontade dEle e de Sua ordenação (Mt 10:29-31). Algumas coisas que nos acometem são meios indicados pelo Senhor para que Ele receba Sua glória em nossas vidas!
Sei que não é fácil ter essa atitude no momento em que passamos por severas provações – talvez seja a coisa mais difícil de se fazer; mas podemos apoiar nossa fé nessa afirmação tão concreta da Palavra de Deus:
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8:28).
Vocês que amam o Senhor devem saber que existe uma tremenda possibilidade de que a glória do Senhor esteja entesourada exatamente naquelas circunstâncias que consideramos problemáticas: o sofrimento, a adversidade, um revés ou tragédia, aquela ocorrência estranha e misteriosa da providência que reverteu nossas esperanças e expectativas.
Essas coisas podem não ter acontecido apenas dentro da permissão do Senhor, elas podem ter sido ordenadas diretamente por Ele para Sua glória.
É certo que se permanecermos firmes na fé, haverá o momento em que reconheceremos isso e não nos arrependeremos de termos passado por essas situações.
Não acho que Maria e Marta se arrependeram de tudo que passaram.
Por isso é tão importante compreender que se nossos corações estiverem postos em Sua glória, nós também seremos participantes de Seus sofrimentos (Fp 1:19; 3:10).
“Se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados.” (Rm 8:17).
Essa é uma mensagem breve, mas muito real para nós, e devemos nos apropriar dela junto com a dor e a tristeza secretas de nossos próprios corações.
O Senhor pode estar tratando você de uma maneira estranha, transtornando todos os seus planos, suspendendo suas expectativas, revertendo as suas esperanças, e pode ser que tudo pareça ter chegado ao fim, mas lembre-se: “esta enfermidade não é para morte…”.
Se Cristo, a Ressurreição e a Vida, estiver envolvido, tudo redundará em vida; não morte, e trará glória a Deus!
“Como Paulo sabia, e como nós podemos saber, que todas as coisas cooperam para o bem? A resposta é: Porque todas as coisas estão sob o controle do Soberano supremo e estão sendo reguladas por Ele, também porque Ele só tem pensamentos de amor para com os que lhe pertencem. Por isso, todas as coisas são ordenadas por Ele de tal modo que são levadas a ministrar para nosso bem final. É por essa razão que devemos sempre: “dar graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 5:20). Sim, dar graças “por tudo”, pois, conforme já se disse com muita razão “as nossas frustrações são apenas determinações de Deus”. Para quem se deleita na soberania de Deus, as nuvem não são apenas prateadas, são totalmente de prata. As sombras servem somente para ressaltar a luz.” (A. W. Pink – 1886-1952).
T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.