Josué – Um Andar mais Próximo com Deus

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Harry Foster

Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus” (Miquéias 6:8).

“Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu prometi a Moisés” (Josué 1:3).

Josué. Andando em Combate

Provavelmente Moisés foi o homem mais notável a andar com Deus. Houve momentos em que ele parecia estar andando em círculos, mas, no caso dele, os círculos estavam sempre subindo – como uma escada em espiral – para que Moisés estivesse cada vez mais perto do que seu salmo descreve como nossa eterna morada em Deus (Sl 90:1).

O relato terreno de sua vida pode dar ao leitor a impressão de que, afinal, ele nunca chegou ao seu alvo final, mas estou confiante de que Moisés teve uma vida plena. Esse cumprimento mais evidente, porém, foi por meio de seu sucessor, Josué, por isso proponho deixar Moisés em sua majestosa solidão e dedicar este último artigo a Josué, o homem que caminhou diretamente para dentro da terra prometida para a possuir. Significativamente, os versículos iniciais de Josué retomam o que Moisés havia dito sobre possuir todos os lugares pisados pelas solas dos pés do povo (Dt 11:24) e aplicam isso de maneira mais pessoal a Josué (Js 1:3). Os seus pés deveriam ser os primeiros a avançar para essa possessão, enquanto as pessoas o seguiriam na direção da herança. Progredimos na vida espiritual, pisando os nossos pés sobre aquilo que já é nosso em Cristo. Mas esse caminho será ferozmente contestado, até o fim.

A palavra nos informa em Êxodo 15, no verso 3 que: “O Senhor é homem de guerra”, portanto, não é de se surpreender que o homem que anda com Ele seja alguém cujo progresso seja marcado por conflitos. Sugiro que esta seja a lição especial a ser aprendida com Josué. Não que ele fosse alguém naturalmente agressivo. Longe disso, pois ele era constantemente exortado a não temer e a ser forte (Js 1:9). Mas a partir de Jericó, sua vida foi cheia de batalhas e guerras.

A batalha na qual o crente está envolvido é essencialmente espiritual. Os guerreiros de Deus não podem prevalecer pela força de sua própria alma, mas apenas por meio de uma fé plena em seu Deus forte. Quando o jovem e promissor combatente Josué completou todas as suas batalhas e se tornou um homem idoso prestes a morrer, lembrou ao povo que a vitória só foi possível devido ao poder de Deus: “O Senhor, vosso Deus, é o que pelejou por vós”, “vosso Deus, é quem peleja por vós, como já vos prometeu” (Js 23:3 e 10). Considerando toda a sua longa e bem-sucedida vida, Josué foi um excelente exemplo do que o Novo Testamento chama de “um bom soldado de Cristo Jesus”. Ele caminhou com seu Deus na direção do combate. Vamos considerar algumas lições a serem aprendidas a partir de suas experiências.

1. O Fator Decisivo na Intercessão

A primeira menção de Josué é encontrada em Êxodo 17:9-14. É uma história de guerra, mas sua principal característica é que o resultado da batalha dependeu inteiramente das mãos levantadas de um intercessor oculto (vs 11). Se considerarmos Moisés como um tipo de Cristo, podemos sugerir, com razão, que qualquer vitória nossa depende da Sua intercessão celestial, mas tal ilustração ainda é falha, pois nosso Salvador Ressurreto nunca fica cansado e não precisa de apoio, como aconteceu com Moisés. Provavelmente é melhor aderir à lição simples que foi tão vividamente apresentada a Josué, que o fator decisivo no conflito não é fruto do seu esforço natural (por mais necessário que isso seja), mas da oração respondida.

É impressionante que Josué nos seja apresentado como guerreiro e que a lição desta batalha vitoriosa seja dirigida a ele pessoalmente: “Repete-o a Josué” (vs 14). Além disso, o nome do altar era especificamente pessoal: “Jeová-Nissi” – O Senhor é minha bandeira (vs 15). Sem dúvida, o ataque dos amalequitas teve um sentido mais amplo, mas é razoável o suficiente em nossa argumentação que esse momento tenha estabelecido a tônica para todo o futuro de Josué. Deus está em guerra; portanto, o homem que anda com Ele deve enfrentar inevitavelmente o conflito “de geração em geração” (vs 16). No entanto, ele pode entrar confiantemente na batalha espiritual, pois Jeová é sua bandeira, mas sempre se lembrando que a condição decisiva para a vitória é a oração permanente de fé.

O Senhor escreveu isso não apenas para Josué, mas também para ser repetido para nossos ouvidos. A vida cristã não é uma tarefa fácil. Não se trata apenas de desfiles entusiasmados ou marchas musicais. É uma experiência contínua de combater “o bom combate da fé”. Ao mesmo tempo, deve haver um trabalho oculto de intercessão para apoiar e igualar a atividade visível do interessado. Não é um caso de oração em vez de ação; menos ainda, de atividade sem oração, pois é aí que reside a derrota, como Josué percebia sempre que os braços de Moisés eram abaixados. Se quisermos caminhar com Deus em direção à batalha, devemos ter certeza que damos pleno lugar ao altar e à bandeira, e fazemos isso por meio da oração.

2. O Contexto do Serviço Abnegado

A próxima referência a Josué mostra que ele havia se apegado a Moisés como seu servo pessoal (Êx 24:13). Ele parece ter continuado nessa tarefa importante, mas humilde, durante todos aqueles quarenta anos (Dt 1:38). Isso foi parte de sua preparação para liderar o povo na vitória.

Quando o Senhor Jesus fez uma referência aos triunfos dos crentes em Laodicéia, comparou as experiências deles com as Suas: “assim como também Eu venci” (Ap 3:21). Em outras palavras, os cristãos obtêm a vitória espiritual em suas circunstâncias, assim como o Senhor recebeu a Sua, e sabemos que a característica de toda a Sua vida terrena foi de serviço abnegado. Ele obteve a vitória Se humilhando.

Essa é uma das lições que podemos aprender com Josué. Por fim, ele estava destinado a liderar o povo de Deus na conquista vitoriosa da terra, mas o longo trabalho de preparação parece ter consistido principalmente no fato de Josué ter se contentado em desempenhar o papel de servo. O que ele fez durante aqueles dois longos períodos de quarenta dias no Monte? Nós não sabemos. Sabemos apenas que ele subiu com Moisés, e de uma forma quase que incidental ele foi mencionado quando o servo de Deus desceu furiosamente do Monte (Êx 32:17). Sabemos que ele atuou como assistente de Moisés na Tenda do Congregação e que permaneceu ali como uma espécie de zelador sempre que a coluna de nuvens se elevava e Moisés retornava ao acampamento (Êx 33:11). Observamos também que, nesse contexto, ele é classificado como “jovem”, uma descrição que sugere que ele não tinha uma posição especial entre os líderes mais proeminentes.

Pode surpreender-nos descobrir que o aprendizado de Josué como guerreiro consistia em responder aos constantes apelos de uma obra servil. Naquela época ele não ocupava uma posição oficial; mas era apenas o ajudante leal que estava sempre à mão quando necessário. Em seu artigo sobre Liderança, em nossa edição de janeiro, Alec Motyer observa que a Bíblia insiste no fato de que os homens devem ser abatidos, antes que lhes possa ser confiada a liderança. Ele observa: “Dos três grandes líderes, Moisés, Josué e Davi, apenas Josué foi poupado dessas humilhações preliminares, e a provável razão é que não havia necessidade de derrubar Josué – ele já estava humilhado”. Por quarenta longos anos de provas, Josué seguiu com humilde fidelidade nas tarefas diárias do serviço. Esse foi o pano de fundo do homem que andou com Deus em vitória, que seja também o nosso.

Alguns se perguntam se o próprio Moisés apreciava completamente o valor desse seu servo. Não foi ele quem propôs o nome de Josué como seu sucessor. Tudo o que ele pôde fazer foi pedir a Deus que designasse “um homem sobre esta congregação… para que a congregação do Senhor não seja como ovelhas que não têm pastor” (Nm 27:16-17). Talvez ele tenha até ficado surpreso quando Deus respondeu que já tinha escolhido essa pessoa (a quem talvez o velho Moisés ainda considerava um “jovem”) e disse a Moisés para ordenar Josué como o novo líder. Será que ele foi pego de surpresa? Nós não sabemos. Tudo o que sabemos é que mais uma vez: “fez Moisés como lhe ordenara o Senhor” (Nm 27:22-23). O Senhor descreveu Josué como “homem em quem há o Espírito” (vs 18). Que espírito? Bem, certamente, o espírito do Servo.

3. A Necessidade de Grandeza de Coração

A próxima referência a Josué é encontrada em Números 11:28. A passagem conta como Moisés separou setenta homens como anciãos e essa ação foi confirmada pelo Espírito derramado sobre todo o grupo. Dois desse grupo, no entanto, por motivos conhecidos, não foram à Tenda, mas permaneceram no acampamento. O Espírito nunca se limita a locais especiais, então ainda assim Ele caiu sobre esses dois, assim como fez com os outros sessenta e oito. Ciumento da autoridade de seu mestre Moisés, Josué apelou pela imposição de uma proibição aos dois que não estavam em conformidade com o padrão demandado. Se Moisés poderia ter impedido a manifestação especial do Espírito ou não, não importa, pois ele não tinha intenção de fazê-lo. Sua resposta a Josué demonstrou uma amplitude de entendimento que concede toda a atenção ao Espírito de Deus para agir de maneira soberana. Portanto, Josué teve outra lição para sua caminhada com Deus, a saber, que o Espírito de Deus nunca causará divisão – e nem devemos nós.

Muitos dos pretensos guerreiros de Cristo gastam seu tempo e força discutindo entre si. Não foi o próprio Senhor Jesus Quem respondeu ao pedido de João de proibir um homem que agia em Seu nome, mas não seguia “com eles”, dizendo: “Não proibais; pois quem não é contra vós outros é por vós”? (Lc 9:50). E não foi o grande apóstolo Paulo quem determinou: “Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente”? (Rm 14:5). Se não tomarmos cuidado, o calor da batalha pode nos tornar intolerantes um ao outro. Nós devemos vigiar contra as artimanhas de Satanás. O Maligno sabe como Deus muitas vezes destruiu o poder dos inimigos de Israel, colocando-os um contra o outro, então tenta imitar os métodos de Deus e atenuar a eficácia do Seu povo contra o reino das trevas, provocando dissensões entre eles. Curiosamente, a dissensão muitas vezes se refere a assuntos espirituais.

Sem dúvida, Josué sinceramente estava preocupado com a honra de Deus, mas na verdade  estava com ciúmes do homem, não de Deus, como Moisés lhe indicou. Esse espírito deve ser repudiado, uma vez que o importante não é que os homens discutam sobre procedimentos, mas que aceitem o direito soberano de Deus de glorificar a Si mesmo à Sua maneira. Para Josué liderar o povo de Deus em uma batalha vitoriosa, ele deveria aceitar a soberania do Espírito sobre eles, mesmo que isso não estivesse de acordo com suas idéias ou desejos pessoais. A grandeza do coração é essencial para entrar na batalha com Deus.

4. O Equilíbrio entre a Fé e a Paciência

A próxima referência a Josué é encontrada em Números 13, onde ele e Calebe são os únicos dois homens de fé preparados para aceitar o desafio de seguir em frente com Deus para Canaã. Obviamente esses dois eram homens de fé. Afinal, “a vitória que vence o mundo é a nossa fé”. No caso deles, porém, a fé precisou que ser sustentada por longos períodos de provação, para que fosse equilibrada com a paciência. Podemos preferir provas breves e vitórias rápidas, mas na guerra espiritual a paciência é um atributo essencial.

Dois pontos podem ser enfatizados a respeito da fé que marcou Josué e seu companheiro, Calebe. A primeira é que, embora eles estivessem ansiosos por marchar adiante, eles mostraram uma capacidade de restrição notável. Quando o povo viu que os dez espias incrédulos haviam morrido por uma praga de Deus, estavam prontos para reconhecer seu pecado, mas planejaram corrigi-lo e se justificarem por meio de um ataque tardio contra os cananeus na montanha. Isso não teria sido um ato de obediência da fé, mas uma tentativa carnal de remediar sua incredulidade. Josué e Calebe não teriam nada a ver com isso. Eles foram os homens que adomestaram o povo a avançar em primeiro lugar, e poderia ter sido fácil para eles sucumbir a esse impulso de incredulidade, mas Moisés e a arca permaneceram no acampamento e eles fizeram o mesmo, demonstrando que a fé não é entusiasmo carnal, mas obediência à palavra de Deus.

A palavra central que descreveu a ação do povo foi que “tentaram subir ao cimo do monte” (14:44). Há um mundo de diferença entre aventurar-se na fé e assumir posições baseados em autoconfiança. Josué se recusou a “assumir” – e nós também devemos, se quisermos entrar em batalha junto com Deus.

Não podemos imaginar o desalento de Josué ao ter ouvido o pronunciamento Divino de que todo o povo estava condenado a passar quarenta anos no deserto. Quarenta anos! Algum de nós poderia enfrentar tal atraso sem se desesperar? Era certo que toda uma geração morreria sem jamais herdar a promessa, enquanto Josué e Calebe tinham que viver, marchar, sofrer e esperar pacientemente com eles pela maturidade do tempo de Deus. Este é um exemplo de como a fé e a paciência foram equilibradas na caminhada de Josué com Deus.

Os trinta e oito anos seguintes lhe deram ampla oportunidade de mostrar paciência ativa, isto é, a persistência da fé em esperar o tempo de Deus. Será que Josué sentiu que seria chamado à liderança? Será que Calebe esperou por essa honra, apenas para se decepcionar quando Josué foi nomeado? Isso nós não sabemos, mas somos informados que os dois homens não tinham dúvidas sobre o triunfo final. Entre outras coisas, eles tinham o lembrete constante dos ossos de José. Ao longo dos séculos, esses ossos testemunharam das expectativas da fé (Hb 11:22). Moisés teve se certificar de que aquele caixão sagrado fosse carregado pelo Mar Vermelho (Êx 13:19) e o ato quase final da longa vida de Josué foi dar a esses ossos um enterro honrado (Js 24:32). Assim, com as palavras de Deus guardadas na memória e o constante testemunho desses ossos preciosos, Josué continuou andando com Deus em fé e paciência, pronto para quando chegasse a hora, pisar a sola de seus pés ali para tomar posse das promessas.

De fato, seu erro mais grave durante a longa campanha em Canaã estava relacionado a essa questão de paciência. Ele foi enganado pelos gibeonitas porque agiu impulsivamente, sem esperar pela orientação de Deus (Js 9:14-15). Essa foi uma exceção ao seu comportamento normal, e serve para enfatizar seu equilíbrio habitual de fé e paciência. Como vimos no caso de Abraão, o homem que está andando com Deus deve sempre tomar cuidado para não avançar impulsivamente, mas deve se manter sensível à voz mansa e delicada do Espírito.

5. A Capacitação do Espírito

Quando Deus primeiro indicou que Josué deveria suceder a Moisés, Ele o descreveu como um “homem em quem há o Espírito” (Nm 27:18), mas ao mesmo tempo instruiu Moisés a impor suas mãos sobre ele. Quando chegou a hora de Josué ser separado com esse fim, somos informados de que “Josué, filho de Num, estava cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés impôs sobre ele as mãos” (Dt 34:9). Essa dupla experiência do Espírito não precisa ser usada para suportar nenhum argumento doutrinário, mas nos lembra do fato do Novo Testamento de que, embora tenhamos a presença do Espírito dentro de nós como possessão permanente, precisamos de Sua perspicácia especial para o serviço e a batalha. Nossa grande arma é “a espada do Espírito”.

Talvez o efeito óbvio dessa experiência que ocorreu com Josué foi que, de uma maneira nova, Deus estava “com ele”. Esse é certamente o cerne da questão. No caso de Josué, a ênfase é colocada no fato de que, como Deus havia estado com Moisés, ele também estaria com Josué. Os guerreiros das duas tribos e meia enfatizaram isso como a base de sua confiança: “Tão-somente seja o SENHOR, teu Deus, contigo, como foi com Moisés” (Js 1:17). Mesmo os mais fracos dentre nós podem enfrentar o conflito e triunfar nele, quando temos a capacitação do Espírito Santo de Deus para nos levar adiante.

Não é minha intenção iniciar um estudo do livro de Josué. Se fizéssemos isso, descobriríamos que esses cinco princípios o governaram durante toda a sua vida de campanha pelo Senhor. Ele usou o poder da oração (Js 7:6; 8:26; 10:14). Ele se dedicou ao serviço altruísta (Js 24:18). Ele demonstrou grandeza de coração, não apenas em relação a dois anciãos incomuns, mas também em relação às duas tribos e meia que preferiam o lado errado da Jordânia (Js 22:6). Sua fé e paciência são vislumbradas em toda a sua história, com a única exceção da experiência gibeonita, que já mencionamos anteriormente. Esses princípios não apenas o trouxeram para as experiências iniciais do capítulo 1, mas também foram característicos de sua persistência constante, até que ele foi capaz de mandar o povo embora: “Cada um para a sua herança” (Js 24:28). Josué não apenas travou um bom combate: ele terminou o percurso.

Encerramos esta série com um lembrete de que, quanto mais próximo estivermos de Deus, mais graves serão os conflitos que nos confrontarão. Vamos, então, nos apropriar do que foi dito a Josué: “Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares” (Js 1:9).

Texto homônimo de Harry Foster, publicado na Revista “Toward The Mark”, Vol 11, no. 6, Nov-Dez de 1982.

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