Mesmo que Deus pareça demorar em julgar a nossa causa, podemos nos apegar com firmeza à certeza de que Ele o fará. Esse é o cântico da fé – podemos esperar no Senhor. Nele descansa a nossa alma.
***
Participante de Cristo
“Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniqüidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida” (Habacuque 1:2-4).
“Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa” (Habacuque 2:1).
“O SENHOR me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé” (Habacuque 2:2-4).
Habacuque viveu em um tempo de perplexidade. Ele clamava a Deus e aparentemente não via uma resposta, o que o deixava ainda mais atribulado. As injustiças no meio do próprio povo de Deus o incomodavam, e ele insistentemente buscava a Deus. Ao se posicionar em uma torre, Deus lhe responde de forma maravilhosa, lhe mostrando como iria trabalhar no Seu povo. O panorama era ainda mais sombrio do que ele imaginou. Deus disse a Habacuque: escreve a visão! Grava essa visão! Ela se cumprirá no seu tempo… e então vemos aquela frase tão enigmática: se apressa, mas se tardar, espera, ela virá. Na ótica de Deus é rápido, mas na nossa pode parecer demorado. Deus nunca julga apressadamente, como nós fazemos.
Jesus usou palavras muito bonitas, que nos lembram aquelas palavras usadas no texto de Habacuque numa parábola, a do juiz iníquo (Lucas 18:1-8), em uma maravilhosa alusão à Seu retorno. Dias de perplexidade, quando vemos a Igreja, a cada dia, perdendo sua pureza e testemunho no mundo. Também percebemos claramente, pela Palavra, a aproximação dos dias de julgamento.
Jesus mencionou um adversário e uma viúva. O adversário importunava a viúva, e o juiz foi apresentado de forma totalmente contraditória a Deus, para trazer esse contraste ao máximo, nos confrontando com nossa incredulidade. O juiz retratado não desejava julgar a causa, diferente do Deus revelado em Habacuque, que espera, mas que certamente julgará. Entretanto, a viúva importuna o juiz, assim como Habacuque fez com o Senhor, insistindo que Ele julgue sua causa. O nome adversário é muito instrutivo, nos lembrando do conflito universal em que nos encontramos. Jesus disse que ainda que o juiz fosse péssimo, julgaria a causa da viúva, imagine um juiz bom, não é mesmo?
Então temos as célebres palavras:
“Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18:6-8)
O elemento “depressa, embora pareça demorado” entra em cena aqui, assim como temos no texto de Habacuque: “apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o”. Deus fará justiça. Ele é justo sim. Ele é bom.
Hoje precisamos do elemento essencial que nos leva a permanecer nesse contato com o invisível, a fé, que nos permite seguir em frente, independente das aparentes ambiguidades e contradições. A fé se apóia na Palavra de Deus, se alegrando no Senhor. O mais impressionante é observar o cântico de Habacuque, que encerra o seu livro (Hc 3). Esse é um cântico de julgamento, extremamente sombrio, trazendo esperança à Israel de que a nação que seria o agente do seu julgamento seria julgada no futuro. Mas, ao final de todo aquele panorama, é como se Habacuque dissesse: “bem, apesar de tudo, escolho então me apegar ao próprio Deus. Ele é motivo de alegria. Ele irá me capacitar para viver e exultar Nele mesmo nessas circunstâncias. Como as corças, trilharei esses caminhos, porque Ele transformará meus pés”. Esse é um cântico de fé.
Em Apocalipse, o último livro da Bíblia, encontramos um outro cântico, reservado para os 144.000 (acreditamos ser este um número tipológico, representativo), e que só eles aprenderam. Esses são os seguidores do Cordeiro aonde quer que Ele vá e, provavelmente, nessa longa caminhada, no caminho da cruz, eles aprenderam algo especial, que se tornou sua canção. Esse é o Cântico dos Cânticos, essa canção da Noiva, reservada apenas para aqueles que escolheram seguir o Cordeiro Monte Sião acima, a despeito das dificuldades e renúncias. Estar ali é reservado para aqueles que escolheram abrir mão de suas vidas.
Que possamos ter os olhos abertos e não desanimar com as circunstâncias difíceis dos nossos dias. Que possamos, pela fé, exultar em Deus, na Sua beleza e justiça. Então, nem mesmo os panoramas de juízo iminente, que sabemos que virão, nos deixarão perturbados e aflitos.
Só poderemos cantar o cântico de Habacuque e dos 144.000 se escolhermos o caminho da Cruz, se nos esquecermos de nós mesmos e seguirmos o Cordeiro para onde quer que Ele vá.
“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente. Ao mestre de canto. Para instrumentos de cordas” (Habacuque 3:17-19).
Sim, porque como diria o Salmista, “fica-lhe bem o cântico de louvor” (Sl 147:1).
Veja outro texto que selecionamos para você: Os Filhos de Corá