A Cruz e a Libertação da Mente 


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A Cruz e a Libertação da mente é uma tradução de extratos selecionados do texto The Cross and the Deliverance of the Mind de T. Austin-Sparks, primeiramente publicado pela editora Testemunha e Testemunho como livreto em 1928.

T. Austin-Sparks (1888 – 1971)

“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão” (2 Coríntios 10:4-6).

***

Uma das causas mais malignas da paralisia espiritual é uma mente não renovada ou desprotegida. Aprendemos, por meio de amargas experiências, que o principal objeto do adversário é a conquista da mente, por ela ser o meio mais importante que ele atinja seus objetivos. Noventa por cento dos problemas dos filhos de Deus, tanto individuais como coletivos, são derivados de mentes não renovadas e carnais, ou de mentes desprotegidas que se tornam o parque de diversões do “príncipe das potestades do ar”. Podemos destacar três aspectos de sua atividade mórbida: (i) em relação a Deus, (ii) em relação ao homem e (iii) em relação a nós mesmos. Usando outras palavras para ilustrar esses três aspectos poderíamos dizer também: para cima, para fora e para dentro.

A Paralisia de um Conceito Mental Duvidoso para com o Homem

Nesta esfera, temos uma diversidade de sintomas infelizes. Cristãos, ainda que possuam um verdadeiro conhecimento de Deus e tenham trilhando uma caminhada verdadeira com Ele, acabam tornando-se vítimas de todo tipo de pensamentos a respeito dos outros: juízos errados, preconceitos, criticas e imaginações.

Uma sugestão ardente e inextinguível é feita à mente, envolvendo-a imediatamente. A consequência é a disseminação disso a outras mentes, resultando num fogo de devastação espiritual de severas proporções.

A atividade da nossa mente natural, à parte da verdadeira revelação do Espírito Santo, pode compreender: a observação, sugestão, interpretação, análise, descrição, insinuação, perspectiva; o “julgar segundo o que se vê e o que se ouve” (que é algo que o Senhor nunca faria), e o raciocínio da razão. Todas essas atividades nos conduzem a um estado de aprisionamento, deixa-nos inflamados, desenvolvemos desafetos, e não só com relação pessoa em questão, mas com todo o corpo, devido à quebra da lei do relacionamento espiritual.

Quando relacionamentos estão infectados, tornam uma ação coordenada e o funcionamento corporativo do corpo impossíveis. Assim o objetivo do diabo é alcançado.

A Paralisia de uma Mente em Questionamento

Este é um perigo peculiar aos filhos de Deus que estão sendo severamente provados, e os espreita em momentos e situações de adversidade. Uma dúvida é lançada em relação ao amor, a sabedoria, ao poder ou à fidelidade de Deus. Poucos são os que passam por momentos difíceis sem ter a consciência deste espectro de tentação. É difícil passar pelas águas profundas da provação, atravessar suas intensas labaredas sem proferir um “por quê?” para com Deus, ainda que seja nos mais íntimos pensamentos. “Por que eu?”. “Por que sempre eu?”.

A ruína da raça humana resultou de uma aceitação de uma insinuação de Satanás de que Deus, afinal de contas, não era tão favorável ao bem-estar do homem; que havia algo que Ele estava retendo. A desconfiança para com Deus tem sido sempre o golpe de mestre contra a lei primária da união com Deus – a fé.

Quando a semente de dúvida é plantada na mente, e a ela é permitido permanecer, não se passará muito tempo até que cada etapa da vitalidade espiritual seja paralisada: a oração, a comunhão, a Palavra, o ministério, o serviço, o testemunho. Deus não pode fazer nada com aquele que duvida.

A Paralisia de uma Contemplação Introspectiva

Existem muitas pessoas cujos olhos estão sempre se voltando para dentro; para o autoexame, a auto-análise e a autoavaliação. Elas estão sempre examinando suas próprias línguas e tomando seus próprios pulsos ‘espirituais’; se comparando desfavoravelmente com outros conhecidos. Que acusações e condenações o inimigo é capaz de direcionar e colocar sobre essas pessoas!

Não é de se maravilhar que logo essas pessoas passem a alimentar dúvidas quanto à verdade da sua própria salvação e aceitação em Deus. Isto pode até mesmo levar ao pesadelo de se acreditar ter cometido o pecado imperdoável. É claro que esta morbidez introspectiva resulta muito rapidamente em paralisia, e a alegria e a paz não serão encontradas mais ali.

O Caminho para a Libertação

Bem, tendo diagnosticado o problema, chegamos ao ponto de aplicarmos o remédio.

1. Um reconhecimento básico.

Antes que possa haver qualquer esperança de uma cura, deve haver o claro, definido, deliberado e conclusivo reconhecimento do FATO de que todo este problema origina-se e é perpetuado pelas “hostes de espíritos malignos nas regiões celestiais”, “o príncipe das potestades do ar”, “o deus deste século” (Ef 6:12, 2:2; 2Co 4:4).

Estas potestades das trevas estão sempre tentando conseguir um alojamento na mente por meio de um pensamento ou ideia, a partir daí procuram colorir ou preencher todo o horizonte com ela. Eles insistirão em tal sugestão, mantendo a mente entretida com essa ideia.

Não é de se admirar que termos militares sejam usados pelo Espírito Santo nesse sentido. “As armas de nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus para a destruição de fortalezas, destruindo imaginações e toda a altivez… e levantando cativo todo o pensamento à obediência” (2Co 10:4). “A palavra de Deus é… mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito… e é apta para discernir os pensamentos…” (Hb 4:12). “A paz de Deus guardará sua… mente” (Fp 4:7).

Portanto, quanto o assunto é a mente, uma intensa guerra é claramente descortinada, e forças defensivas e conquistadoras se fazem necessárias. A provisão de Deus não foca na proteção da nossa carne, porque o Senhor já tratou com isso, Ele já demandou que nos considerássemos mortos para ela. 

É também necessário termos em mente que as potestades do mal se interpõem entre nós e os outros, e vice versa, estabelecendo situações falsas, distorcendo coisas ditas, trazendo interpretações erradas, e até mesmo criando ou sugerindo um senso de tensão e desafeição, quando de fato isso não existe. O reconhecimento destes fatos, à medida que a vida espiritual e obra se intensificam (explicando por que o mais espiritual torna-se geralmente o mais profundamente envolvido), é básico para qualquer libertação.

2. A localização do problema

Um passo a mais em direção à vitória é o rastreamento da localização do problema. Temos que nos assegurar da razão básica e da causa primária do mal. Afinal de contas, esse motivo estaria em nós mesmos? Não existe uma revolta em nosso interior contra esses pensamentos? Será que nós temos interesses pessoais em vista? Temos ambições, preocupações, direitos a defender? Realmente nos incomoda se perdemos tudo, e se apenas Cristo aparecer? Temos “aprendido tanto a ser humilhados como a ser honrados”?

Se pudermos responder essas perguntas claramente ao Senhor, será que não chegaremos à conclusão de que estes pensamentos e sentimentos que constantemente nos preocupam são fruto de nossa escolha e tem o nosso consentimento? Seríamos gratificados ou magoados se nossos pensamentos sobre os outros fossem provados verdadeiros? Esse é um bom teste.

3. Uma necessidade vital

Ora, sejam independente de sua origem ser de fora ou de dentro, precisa haver um instrumento e uma base DENTRO e FORA nós para ser a base da vitória. Estes são o espírito e a mente renovados. A mente natural e a mente carnal são terreno de Satanás.

Não precisamos aqui citar as Escrituras que sustentam isso; é suficiente dizer que o Espírito Santo reside dentro do espírito renovado de cada crente “nascido do Espírito”. A obra do Espírito é fazer com que a Cruz de Cristo se torne real e eficaz na vida dele. Mas o Espírito faz isto de forma cooperativa, ou seja, Ele dá testemunho a favor da verdade e contra a mentira. Ele julga as coisas por nós, e enquanto andarmos segundo o espírito e não segundo a carne, seremos rápidos em discernir o que o Espírito diz.

Quando, portanto, Ele dá testemunho a respeito de algo e registra Seu juízo, Ele chama nosso espírito renovado para tomar Sua capacitação. Devemos levar aquilo que foi julgado, positiva e deliberadamente, à Cruz e ao terreno da vitória do Calvário, para que possamos recusar e repudiar imediatamente essas sugestões. Assim aprenderemos a ser fortes no espírito, na medida que atuarmos em fé, dependendo da força do Espírito Santo. Mas tudo vai ser baseado na Sua força, isso nunca se tornará nosso, de forma independente dEle.

Descobriremos que esse caminho traz libertação. Ainda assim, pode ser que o inimigo volte outras vezes com a velha artimanha, até que perceba que nós aprendemos como “resistir” de forma eficaz, assim ele mudará seu método. O Corpo de Cristo e seu testemunho corporativo estão envolvidos nessa guerra, e é extremamente necessário um reconhecimento disto. Assim poderemos ser capacitados a resistir às sugestões do inimigo.

Veja outro texto relacionado que selecionamos para você: A Conquista da Mente de Cristo


T. Austin Sparks (1888-1971) nasceu em Londres e estudou na Inglaterra e na Escócia. Aos 25 anos, iniciou seu ministério pastoral, que perdurou por alguns anos, até que, depois de uma crise espiritual, o Senhor o direcionou a abandonar aquela forma de ministério, passando a segui-Lo integralmente naquilo que parecia ser “o melhor que Deus tinha para ele”. Sparks foi um homem peculiar, que priorizava os interesses do Senhor em vez do sucesso do seu próprio ministério. Sua preocupação não era atrair grandes multidões, mas ansiava desesperadamente por Cristo como a realidade de sua pregação. Por isso, suas mensagens eram frutos de sua visão e intensas experiências pessoais. Ele falava daquilo que vivenciava, e sofria dores de parto para que aquela visão se concretizasse primeiramente em sua própria vida. Pelo menos quatro linhas gerais podem ser percebidas em suas mensagens: (a) o grandioso Cristo celestial; (b) O propósito de Deus focado em ganhar uma expressão corporativa para Seu Filho; (c) a Igreja celestial – a base da operação de Deus na terra e (d) a Cruz – o único meio usado pelo Espírito para tornar as riquezas de Cristo parte da nossa experiência. Sparks também acreditava que os princípios espirituais precisavam ser estabelecidos por meio da experiência e do conflito, quando finalmente seriam interiorizados no crente, tornando-se parte de sua vida. Sparks desejava que aquilo que recebeu gratuitamente fosse também assim repartido, e não vendido com fins lucrativos, contanto que suas mensagens fossem reproduzidas palavra por palavra. Seu anseio era que aquilo que o Senhor havia lhe concedido pudesse servir de alimento e edificação para os seus irmãos. Suas mensagens são publicadas ainda hoje no site www.austin-sparks.net e seus livros são distribuídos gratuitamente pela Emmanuel Church.
“Nenhum homem é infalível e ninguém ainda ”obteve a perfeição”. Muitos homens piedosos precisaram se ajustar, seguindo um senso de necessidade, após Deus lhes haver concedido mais luz.” (De uma Carta do Editor publicada pela primeira vez na revista “A Witness and A Testimony“, julho-agosto de 1946).
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