As Sutilezas da Vida do Ego (Parte 3)

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A.B. Simpson (1843-1919)

“Disse Samuel: Traze-me aqui Agague, rei dos amalequitas. Agague veio a ele, confiante; e disse: Certamente, já se foi a amargura da morte. Disse, porém, Samuel: Assim como a tua espada desfilhou mulheres, assim desfilhada ficará tua mãe entre as mulheres. E Samuel despedaçou a Agague perante o SENHOR, em Gilgal” (1 Samuel 15:32-33).

Indulgência Mascarada com Humildade

As Escrituras nos dizem que Agague se sentiu seguro de que não seria morto, depois que Saul argumentou com Samuel sobre suas ações [1 Sm 15:32]. Ele veio adiante, andando delicadamente, de forma tola e descompromissada, sorrindo, buscando, por sua lisonja, desarmar os opositores, ganhar favor, se parecendo com a encarnação da gentileza e inocência. Verdadeiramente, ele era um perfeito cavalheiro! Certamente ele não poderia causar mal a nenhuma criança! Certamente ninguém poderia sonhar em fazer nenhum mal a ele!

Mas nós podemos reconhecê-lo pelo o que ele é – o ego clamando por sua vida, demonstrando seu refinamento, cultura, seus encantos, o bem que está fazendo e deseja fazer, sua demanda por nossa consideração e favor. Ele vai decorar as igrejas com o melhor gosto, vai cantar em nossos corais com todas as harmonias da música clássica; vai trazer a sociedade para nossas igrejas e vai nos dar uma teologia brilhante e liberal. Ele está cheio de planos humanitários para o alívio do sofrimento e da degradação, e ainda nos oferecerá um vagão especial pré-pago para os portões do céu.

Certamente essa criatura, tão bela e gentil, não deveria ser destruída ferozmente. Mas apesar de seus disfarces e bajulações, o Espírito Santo revela a sua real natureza – a sobrevivência do ego e do mal.

Vivo ou Morto?

Vemos em Agague a carne lutando contra a morte. “Certamente”, disse Agague, “já se foi a amargura da morte” [1 Sm 15:32]. Similarmente, encontramos diversas pessoas nos púlpitos e bancos, nas plataformas e nos cantos obscuros, que nos levariam a crer que estão mortos para si mesmos. Entretanto, quando olhamos bem para eles, nos fazem lembrar de cadáveres andando por todos os lados, com suas vestes de sepulcro. Eles estão tão certos e conscientes de que estão mortos, que nos fazem saber que estão vivos. São tão orgulhosos da sua humildade, que seria preferível que fossem orgulhosos. Estão tão constantemente conscientes em sua própria sombra, que nos provam seu egoísmo religioso.

Certamente, pessoas que estão verdadeiramente mortas não percebem que morreram, não pensam nisso, não ostentam essa realidade, não dão vista, são simples, naturais, livres e, como um bom copo d’água, não tem gosto, cor ou consciência. Oh, por essa abençoada simplicidade e esse lugar de descanso onde o ego é esquecido! Oh, que essa oração se cumpra: “Senhor, deixa-me tão morto, que sequer saberei disso!”

Não existe nada que endureça mais o coração do que, quando se deveria viver uma vida de entrega do ego, vivemos uma vida de indulgência à ele, chamando de santo aquilo que não é, e trazendo o padrão celestial para esse nível baixo da nossa própria experiência carnal. Certamente devemos nos considerar mortos [Rm 6:11], mas não devemos cogitar que estamos mortos. Devemos considerar a realidade e insistir vivendo nela, não tomando nada menos do que isso da parte de Deus ou de nós mesmos. Oh, que pudéssemos chamar as coisas pelos seus nomes corretos e não aceitar uma imitação, nem mesmos de nós mesmos!

O Ego Exposto

Finalmente, vemos o ego exposto e mortificado. Agague não podia enganar Samuel. O velho profeta o atravessa com um olhar do Espírito Santo, e, olhando para a sua figura aduladora, podemos imaginar Samuel dizendo: “Você não pode me enganar. Você é um homicida e um tirano cruel e egoísta. Sua espada já fez muitas mães desfilhadas e muitas vítimas inocentes já foram oprimidas por sua tirania. Por detrás dos seus sorrisos, existe um esqueleto e uma mordedura de serpente”. Então, com uma espada afiada, Samuel cortou suas lisonjas e repartiu-o em pedaços diante do Senhor.

O pecado não pára até que chegue ao seu pior. Aqui, Deus mostra a extensão na qual a menor semente de egoísmo pode amadurecer.

Vamos pedir a Deus para expor isso em nossos corações. Vamos abrir nosso ser para a espada de Samuel, a espada do Espírito Santo.

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4:12).

Tudo o que precisamos para sermos libertos do ego e do pecado é desejar vê-los e chamá-los pelo nome correto, classificá-los pelo seu verdadeiro caráter, trazer uma sentença de morte à eles, dar a Deus o direito de destruí-los e permanecer sobre essa sentença de morte sem transigência. Existe poder suficiente na espada do Espírito, no sangue do Calvário, na fidelidade, amor e graça de Deus para nos fazer mortos para o pecado, mas vivos para Deus por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor! [Rm 6:11].

Tradução do capítulo 6 – “The Subtleties of the Self-Life” (As Sutilezas da Vida do Ego), do livro “Christ in you” (Cristo em vós), de A. B. Simpson.

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