A Fé em Alargamento pela Adversidade – Parte 3

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T. Austin-Sparks

“Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze para aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Depois, lhe disse o servo: Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar. Respondeu-lhe o senhor: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa” (Lc 14:21-23).

A Reação de Deus contra o Esvaziamento

Vamos analisar a questão relacionada ao alargamento. Podemos usar a palavra alternativa “plenitude” – e faremos isso extensamente – mas tenho aqui um motivo especial em preferir esta palavra “alargamento”. O alargamento é um pensamento governante de Deus. Por toda a Bíblia, como já vimos, o propósito de Deus é o alargamento. Deus está sempre pensando em termos de alargamento, aumento, plenitude final. Deus nunca encontra nenhum prazer no vazio e na pequenez. Deus não gosta de vazio, e sempre reage contra ele.

Quando abrimos nossas Bíblias na primeira página de Gênesis, o que é quase a primeira coisa que lemos? “No princípio Deus…”, e, em seguida, lemos: “E a terra estava sem forma e vazia” – isto é, “desperdiçada e desocupada” – “e o Espírito de Deus…” A terra estava vazia, e o que fez o Espírito de Deus? Ele reagiu contra o estado de vazio. Era como se Deus dissesse: “Isso não é o que Eu tenho em mente, é absolutamente contrário a Meu pensamento. Eu sou contra isso, e Eu vou fazer algo sobre isso.” Deus deveria ter tudo em plenitude, isto é, em abundância. Esse é o Seu pensamento para a terra e para o Seu povo. E assim, o Espírito de Deus, pairando sobre esse vácuo, esse vazio, começa a trabalhar, e cada etapa e fase da atividade Divina é para encher. Ele enche a terra com toda a vasta gama do reino vegetal, sementes em abundância e vida dentro das sementes, capazes de produzir sem fim e reproduzir. Ele enche a terra com a imensa variedade do reino animal. Ele enche o mar e diz: “Que as águas fiquem cheias de enxames e enxames de seres viventes” (Gn 1:20). E, em seguida, ao criar o homem, Ele diz: “Sede fecundos e multiplicai-vos e enchei a terra” (v.28). “Eu sou contra esse vazio, esse vácuo”. E Ele se move em tal princípio, regido por esse pensamento. Alcançando Abraão, Ele diz: “Eu multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar” (Gn 22:17). Compreenda isto, se você puder! Esse é o pensamento Divino. Além de toda a compreensão, Deus pensa em termos de alargamento.

Quanto pode ser coletado na Bíblia sobre este assunto! O Senhor Jesus, por exemplo, chegou a expressar os pensamentos de Deus em termos práticos e, entre muitas outras coisas, falou de uma grande festa. Os convidados foram chamados, mas eles não vieram. Eles se escusaram. E assim, o homem que deu a festa disse a seu servo: “Saí pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar para que fique cheia a minha casa” (Lc 14:15-24). Aqui vemos Cristo trazendo o propósito de Deus a este mundo – “Que a minha casa se encha”. Mas talvez, no Novo Testamento, o dia de Pentecostes é o maior exemplo e expressão desse pensamento Divino. Quando o Espírito veio, um poderoso vento impetuoso “encheu toda a casa onde estavam assentados” (At 2:2). A partir dai, isto deve ser aplicado a cada crente: “Enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18).

O Perigo da Passividade

Fica claro, então, que o alargamento é um pensamento governante de Deus. Mas, o Senhor Jesus não apenas mostrou que este era o Seu propósito, mas também disse que, por outro lado, é extremamente perigoso estar vazio. Ele falou de uma certa “casa”, que era um homem, possuído por um demônio, um espírito imundo, e Ele visualizou a expulsão do espírito impuro, mas, embora a casa estivesse “varrida e ornamentada”, foi deixada vazia e, porque nenhum outro ocupante tomou posse, o espírito imundo volta para sua antiga casa, levando outros sete piores do que ele, e enche a casa vazia (Mt 12:43-45). É perigoso estar vazio, deixar um vácuo. Se Deus não preencher, o diabo o fará. Cuidado com as condições negativas, de não ser positivo e não ser definitivo. Cuidado com os vácuos em seu coração, em sua mente, em sua vida. Davi estava um dia no topo do palácio, em um estado de “vácuo”, numa época em que os reis costumavam sair para a guerra (2 Sm 11:1-2) – e ele era um rei, um rei em guerra. Mas, em vez de se ocupar de forma positiva, ele estava em um estado passivo, e sabemos o desastre que lhe alcançou, do qual nunca se recuperou por toda a sua vida. É uma coisa perigosa estar vazio. O diabo vai enxergar qualquer espaço que possa ocupar. O Senhor quer encher, até que não haja mais nada além Dele.

A Plenitude de Deus

A palavra final nesta matéria na Bíblia é: “para que sejais cheios até a plenitude de Deus” (Ef 3:19). Pense nisso! Isto é dito para os crentes juntos, em sua vida corporativa, vida relacional – para a Igreja, que é “a plenitude daquele que tudo enche em todas as coisas” (Ef.1:23). Pense nisso: a plenitude de Deus! Isto é, Deus vindo de tal forma, que não deixa espaço para mais nada. Foi assim na dedicação do templo de Salomão, no Antigo Testamento. Quando os sacerdotes saíram do santuário, a glória do Senhor se moveu e encheu a casa, e os sacerdotes não podiam mais ficar para ministrar (1 Rs 8:10-11; 2 Cr 5:11-14). Quando o Senhor enche, não há espaço para qualquer coisa ou qualquer outra pessoa. Essa é a plenitude de Deus.

Vazio – O Resultado do Julgamento

Voltando a essa palavra “vazio” ou “vácuo”, encontramos no início do livro de Gênesis algo que me parece representar o resultado de um julgamento. Isso, é claro, foi suposto por outras razões. As seguintes considerações talvez sejam uma confirmação. Quando o Senhor enviou o Seu povo de Israel para o cativeiro na Babilônia por setenta anos, a terra tornou-se vazia. A terra caiu em um estado, que poderia muito bem ser descrito nos mesmos termos que foram usados ​​para descrever a terra em seu estado inicial – vácuo, sem forma e vazio. O cativeiro babilônico de Israel foi um julgamento pela sua incredulidade e sua idolatria, e o estado de desperdício em que a terra caiu era certamente uma parte do referido julgamento. Portanto, parece que “no princípio”, a desolação também foi o resultado de um julgamento sobre uma prévia criação.

Mas qual é a questão aqui? A questão deve ter sido essa – como sempre foi – que Deus não tinha permissão para encher todas as coisas. O lugar de Deus pode ter sido compartilhado com outras coisas ou Deus havia sido expulso. O fim do presente mundo, como nos é mostrado no Novo Testamento, será assim. Haverá um ponto em que Deus será finalmente rejeitado por este mundo, e não terá mais lugar nele. Estamos nos movendo rapidamente em direção a esse tempo. Qual será o resultado? Será a destruição deste mundo pelo fogo – julgamento, destruição – e um período curto ou longo de desolação, antes que haja um novo céu e uma nova terra, e todas as coisas sejam criadas de novo. O julgamento é sempre sobre este ponto – se Deus é tudo em todos ou não. Portanto, alargamento – a plenitude que está no propósito de Deus – repousa sobre esta questão de Deus ter todo o lugar preenchido, e esta é a base para todos os testes de fé. Deus pressiona este ponto cada vez mais, à medida que avançamos: se vamos crer em Deus o suficiente para deixá-Lo ter Seu lugar em uma situação impossível.

Continua no próximo post.

Extraído do livro “Fé em Alargamento pela Adversidade” (cap.2), de T. Austin-Sparks.

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