O artigo “Um Homem Inteiramente à disposição de Deus” foi extraído do capítulo 12 do livro “Salvos pela Vida de Cristo“, de Major W.Ian Thomas, publicado no Brasil pela editora Leitor Cristão (esgotado).
Major W. Ian Thomas (1914-2007)
“Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente” (João 5:19).
Um Homem com a vida inteiramente à disposição de Deus
Jamais houve um momento destituído de significado Divino na vida do nosso Senhor Jesus Cristo, porquanto Ele nunca fez ou disse coisa alguma, tampouco deu um passo sequer que não tivesse brotado da vontade Divina.
Por que o Pai entregou todas as coisas em Suas mãos? Porque Jesus Cristo era Homem completo, em sua inteireza. Ele era completamente Homem por ter-se posto inteiramente à disposição do Pai! Pela primeira vez, desde que Adão caíra em pecado, havia na terra um Homem conforme Deus havia intencionado!
Qual das atividades de Cristo foi a mais espiritual, o Sermão da Montanha, a ressurreição de Lázaro ou a lavagem dos pés dos discípulos? A resposta, muito naturalmente, é que nenhuma de Suas atividades foi mais espiritual do que as demais, porquanto todas elas tiveram sua origem no Pai, que agia por meio do Filho. “Eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8:29). Deus depende da disponibilidade do homem para com Ele, para que assim, nesse homem, Ele possa mostrar Sua ação Divina. Entretanto, a maneira pela qual essa ação tomará forma é de importância secundária. Se o que te agrada é fazer sempre o que agrada a Deus, então você poderá fazer tudo o que te agrada!
Perfeito e Aperfeiçoado
Consideremos duas passagens na epístola aos Hebreus, que à primeira vista parecem um tanto estranhas. Diz Hebreus 2:9,10: “…Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem. Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as cousas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse por meio de sofrimentos o Autor da salvação deles”.
Tendo isso em mente, voltemos agora para Hebreus 5:8,9, que diz: “…Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu, e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem…”. No segundo capítulo de Hebreus lemos que era necessário que o Pai O aperfeiçoasse; e no quinto capítulo da mesma epístola lemos que Ele, “tendo sido aperfeiçoado”, “tornou-se o Autor da salvação eterna”. Em outras palavras, o fato de ter-se “tornado” o Autor da nossa eterna salvação parece ter dependido da conclusão bem sucedida de um processo, mediante o qual Ele mesmo foi “aperfeiçoado”.
Cristo foi “aperfeiçoado” a fim de “tornar-se”. Isso não te impressiona com algo bastante estranho? Será que o Senhor Jesus não era perfeito, para que precisasse ser aperfeiçoado? Afinal de contas, haveria no Senhor Jesus alguma mácula que precisasse ser retificada, alguma imperfeição que exigisse ser remediada, a fim de que pudesse tornar-se o “Autor da Salvação eterna para todos os que lhe obedecem”?
Perfeito em Sua Pessoa e Aperfeiçoado em Sua Vocação
Acha-se envolvido aqui outro princípio básico. A perfeição do Senhor Jesus tinha dois aspectos. As Escrituras não deixam o menor traço de dúvida quanto à perfeição absoluta da Pessoa de Cristo. Somos informados na Bíblia que “Aquele que não conheceu pecado, Ele (Deus) o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21). Também nos é dito que quando o Pai olhou dos céus, antes do início do ministério público de Jesus Cristo, como que passando em revista os primeiros trinta anos que Jesus vivera sobre a face da terra como Homem – como criança pequena, como filho, como aprendiz, como carpinteiro, como vizinho, como cidadão – declarou Deus Pai: “Este é o meu Filho amado, em quem (em todas as áreas das relações humanas) me comprazo (Mt 3:17).
Perfeito! Perfeito em Sua Pessoa. Todavia, embora fosse perfeito em Sua Pessoa, tinha de ser aperfeiçoado em Sua vocação – mediante o processo da obediência, através do tempo, porque, como Homem, ainda que perfeito em Sua Pessoa, Ele só podia ser aperfeiçoado em Sua vocação no cumprimento daquele propósito para o qual havia encarnado – em atitude de total dependência ao Pai, expressa em total obediência ao Pai. Sendo perfeito em Sua Pessoa, foi “aperfeiçoado” em Sua vocação.
Seria Ele perfeito em Sua vocação – naquele propósito para o qual encarnou e veio ao mundo – como bebê, em Belém? Se pudesse ter falado como bebê, poderia Ele ter proferido aquelas palavras: “Está consumado!” Como menino de doze anos de idade, quando a Sua mãe O encontrou no templo e Ele lhe disse: “Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu pai?” – estaria Ele já aperfeiçoado em Sua vocação? Quando pregou o sermão da montanha, quando ressuscitou Lázaro de entre os mortos, ou mesmo quando lavou os pés dos discípulos – estaria Ele já aperfeiçoado em Sua vocação? Ou quando se encontrava no jardim do Getsêmani, orando tão intensamente que o suor lhe caía como gotas de sangue – estaria Ele aperfeiçoado em Sua vocação?
Um Homem inteiramente à disposição de Deus – Está consumado
Não foi por vanglória que Jesus disse a Pedro, na presença de Judas Iscariotes e daqueles que O tinham vindo prender: “Acaso pensas que não posso rogar ao meu Pai, e Ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26:53) – porém, se Ele tivesse feito essa solicitação, e o Pai lhe houvesse enviado mais de doze legiões de anjos, e Ele tivesse evitado assim a cruz – teria sido aperfeiçoado na vocação por causa da qual Se fez carne? Não, de fato, você e eu seríamos hoje os mais miseráveis de todos os homens, pois não teria sido estabelecido qualquer fundamento sólido para a redenção que pudesse satisfazer as exigências eternas, inflexíveis e absolutas da santidade de Deus. Contudo, somos informados que o Seu rosto se fez como pederneira, não se voltando nem para a direita nem para a esquerda, e foi “…obediente, até a morte, e morte de cruz” (Fp 2:8).
Jesus Cristo foi completamente submisso àquele propósito ao qual o Pai tinha dedicado o Filho e, enquanto pendia na cruz, os céus se escureceram como que em angústia pelo Filho de Deus, pelo espaço de três horas; e imediatamente, antes de inclinar a cabeça e expirar, Jesus pôde exclamar (sabendo que expressava a verdade), com uma voz que ecoou triunfalmente por toda a cidade de Jerusalém: “Está consumado!” (Jo 19:30). Naquele momento Cristo foi “aperfeiçoado” em Sua vocação, tal como sempre fora perfeito em Sua Pessoa, e assim “…tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hb 5:9). Essa foi a natureza da vitória de Cristo, e essa é a natureza de toda a vitória cristã! Trata-se do cumprimento positivo do propósito Divino, através de um Homem inteiramente à disposição de Deus!