Preparação para encontrar o noivo é uma tradução do folheto “Preparation for Meeting the Bridegroom” de Arlen Chitwood.
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Arlen Chitwood
“Banha-te, e unge-te, e põe os teus melhores vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber” (Rute 3:3).
Como alguém se prepara para o retorno de Cristo?
Todos os Cristãos um dia irão se encontrar com o Noivo, e consequentemente estarão diante de Cristo no Seu tribunal (cf.Mt 25:1). E se desejarmos ouvir “Muito bem, servo bom e fiel…”(Mt 25:19-23; Lc 19:15-19) do nosso amado Senhor, devemos nos preparar para aquele dia.
Durante o seu ministério, João Batista mencionou o Tribunal de Cristo e seu tratamento com os Cristãos. Fazendo isso, usou como exemplo uma eira no final de uma colheita:
“Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível.” (Mt 3:11,12)
A eira era o lugar onde os feixes de grãos eram trazidos para ser debulhados, para separar o trigo do joio. Os feixes de grãos eram trazidos a este lugar e espancados até soltar os grãos. A mistura de grãos, palha e joio era lançada contra o vento, quando o grão era separado da palha. Depois disso, o grão era armazenado na eira e guardado durante a noite por alguém que dormia no local.
Na eira, aquilo que tinha valor (o grão) era separado daquilo que não tinha valor (a palha), o que é exatamente o que vai ocorrer no tribunal de Cristo. As obras dos Cristãos serão provadas “pelo fogo”, e ocorrerá uma separação. As obras comparadas com “ouro, prata e pedras preciosas” vão suportar o fogo; mas as que são comparadas com “madeira, feno e palha” serão queimadas pelo fogo (1 Co 3:11-15).
Isso é o que João preanunciou quando fez referência à separação do trigo e da palha, com o trigo sendo guardado no celeiro e a palha sendo queimada.
O assunto – preparação, eventos na eira e o que se segue – é descrito de forma tipológica no Livro de Rute. Rute se preparou de uma forma tripla para se encontrar com Boaz na sua eira, no final da colheita. Rute se lavou, se ungiu, se vestiu adequadamente antes de encontrar Boaz (Rute 3:3). E encontrando Boaz dessa forma, na eira, tinha em vista duas coisas (vv.9):
1) A redenção de uma herança
2) Se tornar a esposa de Boaz
Esse encontro também ocorreu “à meia-noite” (v.8), prenunciando, tipologicamente, um tempo de julgamento
(isso se nos ativermos à primeira menção de “meia-noite” na Escritura [usada em conexão com julgamento – Ex.11:4] e com o tipo como um todo à luz de Mt 3:11,12).
A preparação de Rute no tipo é a mesma preparação do Cristão no antitipo. Rute se preparou de uma certa maneira para se encontrar com Boaz na eira, à meia-noite, tendo em vista a redenção de uma herança e um casamento; e os Cristãos devem, da mesma forma, se preparar para se encontrar com Cristo na eira, à meia-noite, tendo em vista a redenção de uma herança e um casamento.
“Banha-te”
“Se lavar” não tem a ver com a limpeza de uma contaminação presente. Considerando a abrangência do ministério dos sacerdotes no Velho Testamento, a completa lavagem do corpo ocorria somente na primeira vez em que iniciava seu ofício sacerdotal, na entrada do átrio do tabernáculo, não se repetindo mais (Ex.29:4; 40:12-15). Outras partes do corpo eram lavadas sucessivamente na bacia de bronze, no átrio do tabernáculo, à medida que os sacerdotes ministravam entre o altar de bronze e o Santo Lugar (Ex.30:19-21). Suas mãos e pés se tornavam sujos à medida que exerciam seu ministério, e a bacia de bronze tinha pias altas e baixas, possibilitando lavar essas partes sujas do corpo.
Lavar no Antigo Testamento era visto em dois sentidos – um lavar completo do corpo (feito de forma inicial e de uma única vez), seguido por lavagens de partes do corpo (diversas lavagens subsequentes). Eram esses dois tipos de “lavar” que Jesus se referia quando falava com Pedro em João 13:8,10:
“Se eu não te lavar [Gr.nipto, se referindo a parte do corpo – vide Septuaginta em Ex.30:19,21], não tens parte comigo [note comigo e não em mim].
Quem já se banhou [Gr.louo, se referindo ao corpo todo (a Septuaginta usa essa palavra em Ex.29:4; 40:12)] não necessita de lavar [nipto] senão os pés…”
Pedro já tinha sido lavado uma vez (descrito pela palavra louo [corpo todo]); e agora ele precisava de um contínuo lavar (descrito pela palavra nipto [partes do corpo]). E, sem esse contínuo lavar, ele não teria parte “com” Cristo (contextualmente, o reino e posições com Cristo ali estavam em vista).
Trazendo o ensino tipológico do Antigo Testamento e a afirmação de Cristo a Pedro para nossas vidas como Cristãos hoje, a questão seria essa:
Cristãos, parte do sacerdócio do Novo Testamento (1 Pd.2:5), receberam um lavar completo (louo, corpo todo) no momento que ingressaram no sacerdócio. Ou seja, no momento que foram salvos. Agora, como sacerdotes ministrando ao seu Senhor, devido à contaminação pelo contato com o mundo, precisam de um lavar parcial (nipto, partes do corpo). Sem esse contínuo lavar, os Cristãos não terão parte com Cristo no seu reino futuro.
Todo o lavar é realizado com base no sangue derramado, relacionado à obra passada e presente de Cristo.
Cristo morreu no Calvário, derramando Seu sangue, assim Ele cumpriu a redenção. Os que se apropriam do sangue são lavados (louo) e entram no sacerdócio (correspondendo ao tipo paralelo da morte do cordeiro pascoal e a aplicação do sangue em Ex.12:1).
O sangue de Cristo está hoje no propiciatório do tabernáculo celestial, no Santo dos Santos, com Cristo ministrando na base de Seu sangue derramado em nosso favor. Assim, Ele realiza um lavar contínuo (nipto) dos “reis e sacerdotes” (Ap.1:6; 5:10) que Ele está gerando.
Desta forma, o Senhor já separou um povo limpo (louo), através do qual Ele está cumprindo Seus planos e propósitos. E assim Ele proveu os meios pelos quais Ele pode manter aqueles que Ele separou limpos (nipto).
Mas, o limpar por meio da obra do Sumo Sacerdote Cristo não é algo que ocorre automaticamente. Rute teve que agir ativamente. Ela teve que se preparar para o encontro iminente com Boaz na sua eira. Da mesma maneira, Cristãos devem se preparar para o iminente encontro com Cristo na Sua eira.
Rute se lavou. Hoje, Cristo é quem nos lava. No entanto, os Cristãos, assim como Rute, devem agir. Somente quando “confessamos nossos pecados”, julgando a nós mesmos (1 Co 11:31,32), é que Cristo realiza a limpeza a nosso favor.
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 Jo 1:9)
“Unge-te”
Nas Escrituras do Antigo Testamento era usado “Óleo” para ungir profetas, sacerdotes e reis. Havia uma conexão entre o uso do óleo dessa forma e a vinda do Espírito Santo sobre o indivíduo, a fim de capacitá-lo para o serviço para o qual estava sendo consagrado.
Por exemplo: Saul foi ungido o primeiro rei sobre Israel (1 Sm 10:1,6); e, seguindo-se à recusa de Saul em fazer o que Deus o comandou em relação à Amaleque, Davi foi ungido rei em seu lugar (1 Sm 16:13). E, como claramente indicado, “óleo” era usado em ambas as passagens para simbolizar o Espírito de Deus. O Espírito veio tanto sobre Saul como sobre Davi logo em seguida à sua unção, capacitando a ambos para as tarefas que deviam realizar.
A parábola das dez virgens em Mt 15:1-13, também mostra o “óleo” sendo usado de forma simbólica, exatamente como no Antigo Testamento. Todas as virgens possuíam óleo, mas apenas as cinco virgens sábias possuíam uma porção extra. E quando elas foram chamadas para prestar contas – à “meia noite” – apenas as cinco virgens sábias puderam entrar nas bodas com o Noivo (vv.6).
Isso quer dizer que, no antitipo, todos os Cristãos possuem o Espírito Santo. Ele habita em todo o Cristão. No entanto, nem todo Cristão tem um suprimento extra de óleo. Nem todo o Cristão está cheio do Espírito Santo. E quanto os Cristãos são chamados à prestar contas – à “meia-noite” – apenas aqueles que estão cheios do Espírito poderão entrar nas bodas com o Noivo.
Isso é o que está envolvido no simbolismo da segunda parte da preparação de Rute para encontrar Boaz na eira à meia-noite. Sem se ungir, Rute não poderia estar adequadamente preparada para encontrar Boaz; as dez virgens, da mesma maneira, sem possuir um suprimento extra de óleo, não poderiam estar apropriadamente preparadas para encontrar o Noivo à meia-noite. Sem estar cheios do Espírito, os Cristãos hoje não podem estar preparados para encontrar o Senhor à meia-noite. Isso se tornará evidente quanto a terceira e última parte da preparação de Rute for vislumbrada, porque existe uma conexão inseparável nas três partes.
“Põe os teus melhores vestidos”
Rute não deveria estar apenas limpa e ungida com óleo, mas também deveria estar apropriadamente vestida. Rute estava indo se encontrar com seu noivo. As palavras de Noemi, “põe os teus melhores vestidos”, à luz do que está envolvido (eventos que vão culminar no casamento de Rute com Boaz), podem apenas se referir a um vestuário especial para aquela ocasião. O vestuário que Rute iria usar deveria refletir a ocasião.
Essa faceta da preparação de Rute, apontando para a presente preparação que os Cristãos devem fazer, é vista na parábola das bodas em Mt 22:1-14. Nessa parábola, um homem apareceu impropriamente vestido nas festividades relacionadas ao casamento de “um certo” filho do Rei. Esse homem compareceu sem veste nupcial; e a ele não foi apenas negada a entrada nas festividades, como este foi lançado para fora, nas trevas.
(Temos outra referência às trevas de fora [ou trevas exteriores] na parábola dos talentos [Mt 25:30]. Essa parábola se refere ao mesmo assunto anterior [das dez virgens (vv.1-13)], apesar de tomar uma perspectiva diferente.)
Um “certo rei” e “seu filho”, em Mateus 22:2, não podem fazer referência a nenhum outro a não ser Deus o Pai e Seu Filho, tendo em vista as festividades relacionadas às “bodas do Cordeiro”. Em Ap 19:7,8, nos é dito que a noiva a si mesma já se ataviou [ataviar – ornar, embelezar, adornar], por ter-lhe sido dado vestir-se com “linho finíssimo”; e desse “linho finíssimo” são os “os atos de justiça dos santos.”
Os Cristãos, assim como Rute, devem se ataviar com vestes adequadas para seu futuro encontro com o seu Noivo. Os atos de justiça, formando as vestes nupciais, emanam da fidelidade ao nosso chamado.
Enquanto a veste nupcial está sendo formada, as obras emanam da fidelidade e trazem a fé ao seu alvo adequado (cf. Hb 11:17-19,31; Tiago 2:14-26; 1 Pedro 1:9).
Além disso, é evidente que um Cristão que não está cheio do Espírito – tipificado pela segunda parte da preparação de Rute ao se ungir – não está em posição de executar atos de justiça (obras) que compõem a veste nupcial.
As escrituras claramente revelam que os Cristãos irão aparecer diante de Cristo de duas maneiras. Alguns terão vestes nupciais e outros não. As palavras “vestido” e “nú” são usadas nas Escrituras para distinguir entre a aparência de indivíduos nessas duas diferentes maneiras (Ap.3:17, 18; cf. Rm 8:35). Além disso, os CristãoCristãos de ambos os grupos serão tratados de acordo com Mt 22:10-13. Os Cristãos apropriadamente vestidos (possuindo vestes nupciais) serão tratados de uma maneira, enquanto que os impropriamente vestidos (sem vestes nupciais, nús) serão tratados de uma forma totalmente diferente.
Os do primeiro grupo poderão participar das bodas, com a perspectiva de subsequentemente ocupar posições como co-herdeiros com Cristo no Seu reino, como a noiva do Cordeiro, formando Sua rainha. Os do segundo grupo terão a entrada proibida nas bodas e consequentemente não estarão entre aqueles que formam a noiva do Cordeiro, Sua rainha. Assim, eles não terão parte com Cristo no Seu reino sobre a terra.
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