O Poder da Quietude

Print Friendly, PDF & Email

“O poder da quietude” é a tradução do texto “The Power of Stillness” de A. B. Simpson.

***

A.B. Simpson (1843-1919)

“Aquietai-vos, e sabeis que Eu sou Deus” (Salmo 46:10).

O som de “um cicio tranquilo e suave” ou de uma gentil quietude… Será que existe alguma nota musical tão poderosa quanto a enfática pausa? Será que existe alguma palavra em todo o Saltério mais eloquente que a palavra Selah (Pausa)? Existe algo mais eletrizante e terrível do que o silêncio que precede uma tempestade, ou a estranha quietude que envolve toda a natureza antes que algum fenômeno ou convulsão ocorra? Existe algo que pode tocar mais nossos corações do que o poder da quietude?

Doce Quietude

A mais doce bênção que Cristo nos concede é o repouso Sabático da alma, que é tipificado pelo Sábado da criação. Aquele coração que cessa de fazer as coisas por si mesmo desfruta de uma “paz de Deus que excede todo o entendimento”, de uma quietude e confiança, que são a fonte de toda a força; desfrutam de uma doce paz, “na qual não há tropeço”. No âmago da alma do cristão existe um aposento de paz onde Deus habita, e se nele entrarmos, poderemos ouvir a Sua voz suave, mas para isso precisaremos silenciarmos qualquer outro som.

Alguns anos atrás um amigo me passou um pequeno livro que se tornou um ponto de virada na minha vida. Ele se chama “Verdadeira paz”, e era uma antiga mensagem medieval. Pensei: Deus me espera nas profundezas do meu ser para falar comigo, se eu apenas conseguir me aquietar o suficiente para ouvir a Sua voz.

A Quietude Provada

Imaginei que isso seria algo muito fácil, então comecei a me aquietar. Mas sequer comecei e logo um pandemônio de vozes ressoou em meus ouvidos: milhares de demandas de fora e de dentro, até o ponto de não conseguir ouvir mais nada que não fosse ruído e barulho. Alguns desses sons eram meus próprios questionamentos ou cuidados, outros eram até mesmo orações, sugestões do tentador e vozes tumultuadas do mundo. Nunca antes percebi quanta coisa havia por fazer, a dizer, a pensar. Era sacudido em todas as direções, saudado com barulhentas aclamações e fui tomado por uma inquietação inexplicável. Me parecia necessário ouvir e responder a algumas dessas demandas, mas Deus me disse: “Aquietai-vos, e sabeis que Eu sou Deus” [Sl 46:10].

O Deus da Quietude

Então comecei a passar por um conflito de pensamentos em relação ao amanhã, suas tarefas, seus cuidados… Mas Deus repetiu: “Aquietai-vos”. Então lentamente aprendi a obedecer, fechando meus ouvidos para todo esse burburinho. Assim descobri, depois de um tempo, que quando as outras vozes cessavam, ou quando eu parava de ouvi-las e atentar para elas, havia uma suave e pequena voz nas profundezas do meu ser que começava a falar com uma inexprimível ternura, poder e conforto. À medida que a ouvia, ela se tornava uma voz de oração para mim, uma voz de sabedoria, de dever. Desta forma, não precisava pensar com muito esforço, mas aquela “suave, pequena voz” do Espírito Santo no meu coração era a oração de Deus no secreto de minha alma, a Sua resposta para todas as minhas perguntas, a vida e a força de Deus para meu corpo e alma, e tornou-se na substância de todo conhecimento, oração e bênção. Aquela voz era o Deus vivo como MINHA VIDA e MEU TUDO.

Não poderemos estar fortes e renovados para enfrentar a vida, se estivermos em constantes trens expressos, com apenas dez minutos para almoçar… Precisamos de horas tranquilas, lugares secretos com o Altíssimo, tempo para esperar no Senhor, quando renovaremos nossas forças e aprenderemos a voar alto com asas como águias. Então poderemos retornar para nossos afazeres, correr e não cansar, andar e não desmaiar.

O Caminho da Quietude

A melhor coisa a respeito da quietude é que damos uma chance para o Senhor trabalhar. “Aquele que entrou no descanso de Deus, também ele descansou das suas obras, como Deus das Suas” [Hb 4:10]. Quando deixamos nossas obras, Deus trabalha por nós; quando aquietamos nossos próprios pensamentos, conhecemos os pensamentos de Deus; quando nos aquietamos das incessantes atividades, “Deus opera em nós tanto o querer como o realizar, segundo Sua boa vontade”. A partir daí só precisaremos manifestar essa obra que Ele realizou.

Amados! Vamos tomar Sua quietude; vamos habitar no “lugar secreto do Altíssimo”; vamos entrar no eterno descanso de Deus; silenciemos os outros sons, e então poderemos ouvir aquela “pequena e suave voz”.

Ainda existe um outro tipo de quietude, aquela que permite que Deus trabalhe por nós enquanto nos calamos; a quietude que faz cessar toda a controvérsia, auto-defesa e expedientes de sabedoria e prudência, deixando que Deus, em Seu fiel amor que nunca falha, responda a palavra indelicada e a pancada cruel desferida contra nós. Como deixamos de desfrutar da defesa de Deus por assumir nossas próprias causas e combater em nossa própria defesa!

Não existe espetáculo tão sublime em toda a Bíblia do a visão do silente Salvador, que nada respondeu aos homens que O difamavam, mesmo sendo capaz de levá-los a se prostrarem aos Seus pés com um breve relance do Seu divino poder ou por uma palavra de feroz repreensão. Mas Ele deixou que fizessem o seu pior, permanecendo firme no poder da quietude: o Cordeiro Santo de Deus.

Que Deus nos conceda esse poder silencioso, essa poderosa entrega do eu, esse espírito conquistado, que vai nos tornar “mais que vencedores por meio daquele que nos amou“. Que nossa voz e nossa vida possam falar como a “pequena, suave voz” de Horebe, como o som de “uma brisa suave“. Então, depois que o calor e combates da terra cessarem, os homens se lembrarão do orvalho da manhã, da suave luz, do nascer do sol, da brisa do anoitecer, do Cordeiro do Calvário e da gentil e Santa Pomba Celestial.


Albert Benjamin Simpson (1843-1919) foi um pastor e escritor canadense. Simpson cresceu em meio à rígida tradição puritana e recebeu seu treinamento teológico em Toronto. Logo que concluiu seus estudos, foi ordenado pastor de uma das maiores congregações presbiterianas do Canadá. Aos 30 anos, deixou o Canadá e assumiu o púlpito da maior igreja presbiteriana de Louisville, no Kentucky/USA. Ali seu encargo pelo evangelismo começou a despertar, mas ele sentia que algo ainda lhe faltava, lutava com problemas de amor próprio, egoísmo e auto-confiança, e ansiava por vencer esses pecados em sua vida. Durante uma campanha com Major Whittle, do Exército da Salvação, ele viu e ouviu pregações com poder e manifestação da presença de Cristo, levando-o a experimentar um enorme vazio, algo que preparou o caminho para sua experiência mais marcante: da suficiência de Cristo. Em 1880 foi chamado pela Igreja presbiteriana da Thirteenth Street, em Nova Iorque, quando começou a sentir um encargo forte pelos pobres de seus arredores. Sofrendo enfermidades desde sua infância, era as vezes impedido por elas de até mesmo de concluir uma pregação. Então, Simpson experimentou a cura divina, parte integrante de sua ministração. Seu trabalho missionário cresceu, e com o tempo, ele estabeleceu um lar para pobres, alcoólatras, abrigo para mães solteiras e um orfanato, além de enviar missionários para diversas regiões do mundo.

Simpson foi um escritor prolífico, tendo uma extensa obra literária de aproximadamente 101 livros, além de poemas, hinos, artigos e livretos. Até nossos dias, ainda nos inspira e fortalece no sentido de buscar uma vida profunda e frutífera no Senhor. Para os que desejam conhecer mais de sua obra, os títulos “Jesus Cristo, Ele mesmo!”, “As quatro dimensões do Evangelho” são publicados pela Editora Betânia na língua portuguesa.

 

“Durante muito tempo orei a Deus pedindo a santificação, e muitas vezes achei que a havia recebido. Houve até uma ocasião em que senti algo diferente, e me agarrei àquela experiência, receoso de a perder. Fiquei acordado a noite toda, temendo que ela me escapasse, e é claro que, assim que a emoção e a sensação momentânea se esvaíram, ela desvaneceu também. Perdi-a, porque não me firmara em Jesus. Estivera bebendo pequenos goles de um imenso reservatório, quando poderia estar imerso na plenitude de Cristo… Então, resolvi despreocupar-me da santificação e da bênção em si, e passei a contemplar o próprio Cristo. Assim, em vez de ter uma experiência, entendi que, tendo Cristo, tinha Aquele que era maior do que uma necessidade momentânea, tinha o Cristo, que era tudo de que necessitava. Então O recebi, de uma vez para sempre” (A. B. Simpson, “Jesus Cristo, Ele mesmo!”).

Leia aqui outros textos deste mesmo autor.

 

Post anterior
Contemplando o Senhor
Próximo post
O Verdadeiro Lugar da Criatura

3 Comentários. Deixe novo

  • o autor cita o título ” Verdadeira paz”, qual o autor, editora? gostei do artigo.

    Responder
    • Ei CLeyson! Que bom que esse artigo te edificou. Na verdade tentei encontrar essa referência do autor e não consegui encontrar…

      Acredito que pode ser um livro antigo que está esgotado.

      Deus continue abençoando você!

      Responder
  • Ana Elizabete Teixeira
    26 de julho de 2022 07:41

    Deus abençoe poderosamente esse ministério 🙏
    Nesses últimos dias que antecedem a vinda do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo tem sido um grande encorajamento pra mim.
    Maranata!

    Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.