F.B. Meyer (1847 – 1929)
“Pela fé, Moisés…” (Hebreus 11:24).
O escritor da Epístola aos Hebreus desnuda o segredo das maravilhas realizadas pelos heróis da história dos hebreus. Obedientes ao chamado, eles se posicionam em um grande batalhão, em uma só voz, e clamam: Por que se maravilham conosco? Por que olham tão seriamente para nós, como se pelo nosso próprio poder e santidade tivéssemos realizado todas essas coisas? O Deus de Abraão, Isaque e Jacó, o Deus de nossos pais, estendeu Sua destra santa e fez tudo isso por meio de nós. Seu nome, por meio da fé no Seu nome, essas coisas maravilhosas foram feitas!
Nós cometemos um profundo erro em atribuir a tais homens qualidades extraordinárias de coragem e força no corpo e na alma. Fazer isso é perder todo o reiterado ensino da Escritura: eles não foram diferentes dos homens comuns, exceto pela sua fé.
Em muitos aspectos é bem possível que eles fossem até inferiores a nós. Poderíamos ficar muito surpresos se os encontrássemos em nossas caminhadas diárias da vida moderna, e acharíamos quase impossível acreditar que eles realizaram tais prodígios de valor, perseverança e libertação.
Gideão, Baraque, Sansão e Jefté talvez fossem aqueles tipos mais vigorosos da antiguidade, cujos feitos selvagens mantinham nossos contatos com o norte em constante agitação, muito diferentes dos atuais clérigos e filantropos cristãos modernos. Mas havia uma característica comum a todos eles, o que os erguia acima dos homens comuns e assegurava a eles um nicho no Templo das Escrituras. Eles tiveram a maravilhosa faculdade da fé; a qual, verdadeiramente, é a mera capacidade do coração humano em direção à Deus. Quatro vezes seguidas isso é citado como o segredo de tudo o que Moisés fez por seu povo.
A mesma verdade é repetidamente corroborada no ensino do Senhor Jesus. Ele nunca perguntou qual era a específica quantidade de poder, sabedoria e entusiasmo que existia nos discípulos. Em Seu julgamento, essas coisas eram algo pequeno para ser tomado em séria consideração, e não afetaria os resultados da vida de um homem. Mas vemos Sua incessante demanda por Fé. Se apenas houvesse fé, mesmo que fosse do tamanho de um grão de mostarda, amoreiras poderiam ser tiradas pela raiz; montanhas poderiam ser lançadas no meio do mar; e demônios seriam exorcizados de suas vítimas.
Certa vez Ele disse a um pai: “Se podes! Tudo é possível ao que crê” (Mc 9:23).
E o que é fé? Não seria um poder inerente ou qualidade de certos homens, uma virtude pela qual eles são capazes de realizar coisas especiais não realizadas pelos outros? É o poder de colocar o ego de lado, de forma que Deus possa trabalhar sem empecilhos por meio da natureza. Esta é a atitude do coração que, tendo descoberto a vontade de Deus, e estando desejoso de se tornar um instrumento para esta vontade, vai em frente para esperar que Deus opere Seus propósitos por esse meio. Isto é, resumidamente, a capacidade para Deus que dá a Ele o limite máximo, e se torna o canal ou veículo através do qual Ele passa adiante para abençoar a humanidade.
O crente é cheio de Deus, movido e possuído por Ele, e a obra que ele realiza no mundo não é propriamente sua, mas é de Deus por meio dele.
Existem, portanto, condições necessárias para a verdadeira fé. O senso de desamparo e insignificância, uma absoluta certeza de estar no plano de Deus, uma inteira consagração, para que Ele possa operar Sua vontade por meio da vida e do coração. Também deve haver uma vida diária baseada nas promessas, uma ousadia de agir, em total independência dos sentimentos, em uma fé que considera absolutamente a fidelidade de Deus.
Apesar de Moisés ter tido características elevadas de mente e corpo, e ter sido versado em toda a sabedoria de seu tempo, todas as coisas maravilhosas realizadas em sua vida não foram causadas por nenhuma dessas qualidades, mas pela fé que amarrou sua alma a Deus. Sua fé foi suficiente para fazer o que todas as suas outras qualidades, sem sua fé, teriam falhado em realizar.
Todas as bênçãos que Deus, que em Sua plena consciência concedeu em aliança à Israel, àquele povo rebelde e obstinado, foram por meio do canal da fé de Moisés. É o método de Deus buscar cooperação com o homem na realização de Seus propósitos, e para cumprir Seu propósito Ele usou a fé de Seu servo. Nesse caso, foi Moisés quem foi chamado para uma parceria com o Senhor, e foi por meio de sua fé que Deus cumpriu a promessa feita a Abraão, Isaque e Jacó.
Cada uma das condições citadas acima para uma fé poderosa foram cumpridas na história de Moisés.
A ele foi permitido fazer seus primeiros esforços pela emancipação de seu povo na energia de sua própria carne, falhando de forma notória, o que o impulsionou a fugiu para Midiã. Abandonando toda a esperança de libertá-los, e gastando seus anos em solidão e exílio, até que fosse sua maior dificuldade ser induzido a aceitar a comissão Divina. Ele foi reduzido ao extremo da incapacidade e insignificância, quando a sarça ardente apareceu em seu caminho, um símbolo da completa fraqueza – possuído e habitado, ainda não consumido por Deus, que é fogo consumidor.
Ele não poderia ter dúvidas a respeito do plano de Deus, porque aquilo estava descortinado diante dele na promessa dada a Abraão muitos anos antes, quando Deus fixou o tempo de quatrocentos anos para a peregrinação no Egito. E, em adição, Deus lhe disse distintamente que Ele mesmo tinha vindo para libertar o povo.
Ele foi completamente entregue ao propósito de Deus, da mesma maneira que aquele cajado que ele segurava na mão estava sujeito à sua própria vontade. Por isso, o nome escolhido para ele foi “o servo do Senhor”; e a constante recorrência da frase “assim como o Senhor ordenou a Moisés”.
Ele se alimentou diariamente das promessas de Deus, suplicando com base nelas em oração e apoiando todo o seu peso sobre elas. Ele frequentemente sabia o que era deixar para trás o familiar e o conhecido, pelo desconhecido e novo. Pelo mandamento de Deus, ele seguia em frente, apesar de parecer não haver um caminho por onde trilhar, lançando a si mesmo e a três milhões de pessoas com ele absolutamente aos cuidados de Deus, seguro de que a fidelidade de Deus não falharia.
Sua fé tornou Moisés o que ele foi. É o nosso profundo desejo aprender exatamente como tal fé como a dele foi produzia. Por que não podemos tê-la? Os métodos de Deus nunca saem de moda. É certo que teremos a sua fé, se estivermos dispostos a pagar o preço de perseverar na disciplina. E se apenas possuíssemos a sua fé, por que não ver um outro Êxodo? – mares abertos com caminhos para a salvação, inimigos desafiados, cadeias quebradas, cativos liberados e o Senhor adorado em cânticos de triunfo? Certamente não há limite para as possibilidades da fé que se torna um canal por meio do qual Deus pode Se derramar.
Você está disposto a morrer para sua própria força, esquecendo-se de seus próprios planos por Deus, a fim de buscar e fazer apenas Sua vontade e tomar uma atitude de inteira e absoluta entrega aos Seus propósitos, se alimentando diariamente das promessas de Deus, como uma moça comprometida com o seu amado que está ausente, dando passos de fé, confiando, sem nenhum tipo de emoção, na fidelidade de Deus, apenas persuadido de que Ele realizará tudo o que prometeu? Então, certamente, por meio de você Deus vai, aqui ou no futuro, operar como nos tempos antigos, dos quais nossos pais nos falaram.
É certo que, assim como a presente era se aproxima de seu fim, Deus tem grandes esquemas à mão que devem brevemente se realizar.
De acordo com seu invariável método, Ele irá realizá-los por meio da instrumentalidade e fé de homens. A pergunta então é: Será que estamos nessas condições? Nossa fé é de tal natureza? Ele pode agir em nós para a glória de Seu Santo Nome? Vamos ponderar bem as lições ensinadas pela vida e caráter de Moisés, para que, no tempo oportuno, nós também possamos nos tornar vasos de honra, preparados para o uso do Mestre, e preparados para toda a boa obra.
Tradução do Capítulo 1 (Our Standpoint) do livro “Moses: The Servant of God” – de F. B. Meyer.