A Fé em Alargamento pela Adversidade – Parte 1

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T. Austin-Sparks

“Do meio da angústia invoquei o Senhor; o Senhor me ouviu, e me pôs em um lugar largo. O Senhor é por mim, não recearei; que me pode fazer o homem? O Senhor é por mim entre os que me ajudam; pelo que verei cumprido o meu desejo sobre os que me odeiam. É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar no homem. É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar nos príncipes. Todas as nações me cercaram, mas em nome do Senhor eu as exterminei. Cercaram-me, sim, cercaram-me; mas em nome do Senhor eu as exterminei. Cercaram-me como abelhas, mas apagaram-se como fogo de espinhos; pois em nome do Senhor as exterminei. Com força me impeliste para me fazeres cair, mas o Senhor me ajudou. O Senhor é a minha força e o meu cântico; tornou-se a minha salvação. Nas tendas dos justos há jubiloso cântico de vitória; a destra do Senhor faz proezas. A destra do Senhor se exalta, a destra do Senhor faz proezas” (Sl 118:5-16).

Um fato importante sobre o Salmo 118 é que se acredita que tenha sido o Salmo cantado pelo próprio Senhor e Seus discípulos na noite da Páscoa. Não há dúvida de que este Salmo é, em grande parte, se não totalmente, relacionado com o Senhor Jesus, porque ele é citado em conexão imediata com Ele em vários lugares no Novo Testamento. Por exemplo: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor: da casa do Senhor vos bendizemos” (v.26). Vemos também em várias ocasiões no Novo Testamento trechos dele sendo citado: “A pedra que os construtores rejeitaram esta foi posta como pedra angular” (v.22). O Senhor Jesus esse trecho se referindo a Si mesmo (Mt.21:42), e Pedro também o usou, referindo-se a Cristo (1 Pd.2:7). Então, este salmo é, em um grande sentido, aquilo que chamamos de Salmo “Messiânico”, pois está relacionado com o Senhor Jesus.

O Triunfo da Fé

Então, se o Senhor cantou este salmo na noite escura da Páscoa e da traição, que triunfo de fé isto representou! “Eu não morrerei, mas viverei, e contarei as obras do Senhor” (v.17). Indo imediatamente ao Getsêmani, depois em direção ao julgamento e à Cruz, ainda assim Ele cantou: “Eu não morrerei, mas viverei”. Pela fé Ele conseguiu saltar os eventos  do jardim, do julgamento, da Cruz, diretamente em direção à ressurreição. “Eu não morrerei, mas viverei”. Que triunfo da fé sobre a adversidade, sobre o sofrimento! Olhe para a Páscoa:

“Este é o meu corpo, que é para vós” (1 Co.11:24).

“Este é o meu sangue… que é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26:28).

Eles cantaram um hino e, após o hino, seguiu-se o Getsêmani. Veja: “atai a vítima da festa com cordas, até às pontas do altar” (v.27). O que foi o Getsêmani? Eles O amarraram e levaram do jardim, mas, na interpretação Divina, essas amarras eram de “um sacrifício… até às pontas do altar”. Não apenas ligado às pontas do altar, mas limitado, com vistas a ser conduzido em direção ao altar. Esse é o significado aqui: “Amarrado e levado ao altar”.

Isso coloca uma nova luz sobre o Getsêmani, sobre as amarras, o cativeiro, não é mesmo? Este não é o homem prevalecendo, não é o homem vencendo, este não é o triunfo do homem. Este é o Cordeiro de Deus, se deixando ser levado ao altar. Ele cantou: “atai a vítima do sacrifício… até às pontas do altar”, e logo em seguida, foi isso que aconteceu com Ele. Ele foi ao Getsêmani, logo após a traição, depois, para a sala de julgamento, e posteriormente para a cruz.

Alargamento do Senhor por meio da cruz

No versículo 5 lemos: “No meio da minha angústia invoquei o Senhor: o Senhor me ouviu, e me pôs em um lugar largo”. São estas as palavras do Senhor Jesus? Sim: de Seu sofrimento, Ele clamou: “Meu Pai, se é possível, passa de mim esse cálice”.

“E, posto em agonia, orava mais intensamente…”

“Pai, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, seja feita a Tua vontade”

(Mt.26:39,42; Lc.22:44).

“No meio da minha angústia invoquei…”, e, apesar de não parecer que O Senhor respondeu e livrou, um apóstolo diz que Ele foi ouvido (Hb.5:7). E como Ele foi ouvido? Temos a resposta e a prova de que Ele foi ouvido e respondido: “O Senhor me respondeu, e me pôs em um lugar largo” (vs 5 – “me deu folga” na versão JFA). Um lugar largo? Sim, hoje Ele está em um lugar muito grande. Quão alargado foi o Senhor através da Sua cruz! Ele disse: “como me angustio até que venha a cumprir-se!” (Lc.12:50). Foi alargamento através do sofrimento: Sua paixão significava alargamento, a liberação da limitação. Mas essa é a voz da fé. À medida que Ele segue para a Cruz, a fé segue além da cruz e afirma a resposta da vida e não da morte, de alargamento e não limitação.

Vida, liberdade e alargamento para nós em Cristo

Ele não se envergonha de lhes chamar irmãos” (Hb 2:11). Este glorioso Salmo nos inclui, com seu pano de fundo maravilhoso na vida do Senhor Jesus e Sua Cruz. Fazemos parte deste “eu” coletivo. Nós recebemos o benefício dele. “Eu não morrerei, mas viverei”. “O Senhor me ouviu, e me pôs em um lugar largo”. É verdade, não é? É verdade. Nós temos aquela vida triunfante sobre a morte. Ele nos deu essa vida! Ela é nossa. Não é nossa de uma maneira geral apenas – “o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm.6:23), mas é um testemunho para toda a nossa vida, algo para o agora. É uma vida que saiu da morte Dele e venceu a morte Nele. É para nós. Não vamos perder a força disto pela familiaridade. Deve ser um testemunho para cada dia. O que temos em Cristo deve ser vivido e manifestado a cada dia.

Apesar das nossas limitações, em Cristo, somos alargados! Quão infinitamente grande é o lugar para o qual fomos trazidos, quão imensuráveis são os recursos, quão vastos são os limites, quão potentes são as forças nas quais temos adentrado em Cristo através de Sua morte!

Termino te lembrando que, embora tudo seja consumado Nele, e nada daquilo que atravessarmos pode acrescentar ou tirar nada nesta matéria, o sacrifício foi completo e final, e Ele entrou no Seu descanso, sentando-se à direita da Majestade nos céus; em um certo sentido de comunhão com Ele e sua humilhação, enquanto ainda é rejeitado neste mundo, o princípio permanece o mesmo, isto é, que a vida e o alargamento vem pela adversidade e triunfo da fé. Esta é a lei da vida. O triunfo de fé na adversidade resulta na vida e no alargamento.

A Bíblia está simplesmente cheia deste princípio. Dado um verdadeiro teste de fé, muita adversidade e oposição, tudo cercando, circulando ao redor – “todas as nações me cercaram, elas me cercaram, elas me cercaram” – isto apenas constitui o desafio da fé. A fé olha para isso como sua oportunidade, e quando a fé faz sua declaração sobre tudo isso, e diz: “Eu não morrerei, mas viverei, e contarei as obras do Senhor”, esta é a estrada para uma nova experiência de vida e uma nova gama de plenitude – com o alargamento por meio do desafio da fé e da sua vitória.

Continua no próximo post.

Extraído do livro “Fé em Alargamento pela Adversidade” (cap.1), de T. Austin-Sparks.

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