Arlen Chitwood
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3:16,17).
O texto de 2 Timóteo 3:16 na versão King James, diz:
“Toda Escritura é dada por inspiração de Deus e é proveitosa para ensinar [‘ensino’], para repreender, para corrigir, para instruir em justiça”
O termo “dada por inspiração de Deus” é uma tradução da palavra Grega, theopneustos, que significa “Soprada por Deus”. Esta palavra é formada por: Theos (“Deus”) e pneuma (“sopro” no seu uso particular [traduzida também como “Espírito” no N.T. – o Espírito Santo, o espírito do homem e espírito em geral; assim como “vento” em João 3:8]).
As implicações e o significado de as Escrituras terem sido Sopradas por Deus são dados de maneira simples na Bíblia, mas temos que olhar e comparar partes relacionadas tanto do Novo como do Antigo Testamento, antes que possamos realmente começar a ver e entender o que isso envolve. Devemos buscar referências de passagens, estudando uma passagem à luz da outra. Deve-se comparar Escritura com Escritura, i.e., comparar “coisas espirituais com espirituais”.
Notemos, primeiramente, Hebreus 4:12a:
“A palavra de Deus é rápida [lit.’viva’] e poderosa, e mais afiada que uma espada de dois gumes.”
Então surge a questão: Porque a Palavra de Deus é “viva”, “poderosa” e “mais cortante que uma espada de dois gumes”?
A resposta é: Por causa da sua origem. A Palavra é “theopneustos”; A Palavra é “Soprada por Deus”.
Mas o que isso significa? Será que é porque a Palavra é “viva” devido a sua origem? Nesse momento, devemos voltar aos pontos iniciais no Velho Testamento, e achar a primeira menção de Deus fazendo algo através do uso de Seu sopro nas Escrituras.
Isto é necessário não apenas pela necessidade de comparar Escritura com Escritura, mas também devido a um princípio de interpretação Bíblica, chamado, “Princípio da Primeira Menção”.
Este princípio é baseado no caráter imutável da Palavra, e se apoia sobre uma estrutura imutável dada por um Deus imutável. Por causa da natureza inerente da Palavra, a primeira vez que um assunto é mencionado na Escritura, um padrão, um molde é estabelecido. A partir desse ponto, então, o seu sentido permanece inalterado através do restante das Escrituras.
Permanecendo neste princípio, o primeiro momento onde encontramos o sopro de Deus mencionado nas Escrituras é em Gên.2:7, em conexão com a vida comunicada ao homem. Consequentemente, neste ponto inicial, este verso conecta a vida com o sopro de Deus de uma maneira imutável. Deus formou e modelou o homem do pó da terra, mas o homem não foi criado vivo. Vida foi transmitida posteriormente, através do sopro de Deus nas narinas do homem com o “fôlego da vida”, resultando então no homem se tornar uma “alma vivente”.
Assim, neste ponto das Escrituras foi estabelecida a conexão imutável entre o sopro de Deus e a vida. Apenas Deus pode produzir vida, e sempre que a vida é produzida deve ser sobre esse meio revelado no início em Gn.2:7.
O todo deste assunto pode ser ilustrado usando um modelo simples, tomando por base uma passagem posterior do Velho Testamento: a visão do vale de ossos secos em Ezequiel capítulo 37.
Os ossos são apresentados como sem vida, e a questão é levantada no versículo três: “Filho do homem, podem esses ossos viver?” Então note no versículo cinco como a vida deveria surgir: “Eis que farei entrar em vós fôlego de vida, e vivereis”.
No versículo oito são reveladas suas condições: vemos “tendões”, a seguir “carne”, e então “pele” os cobriram, mas antes da ação de Deus, é mencionado: “não havia vida neles”. Então ouve um clamor no versículo nove por um “sopro”, para que estes “mortos… possam viver”. E o final dessa demanda é apresentado no versículo dez: “… fôlego de vida entrou neles, e eles viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo.”
Essa informação do Velho Testamento nos mostra o que quer dizer a afirmação de 1Tm.3:16 (“Toda a escritura é soprada por Deus..”), mostrando a conexão entre esse versículo e Heb.4:12 (“Porque a palavra de Deus é viva…”), e as implicações envolvidas no que é indicado depois ao longo das Escrituras.
(Veja também Lucas 8:55; Tiago 2:26; Apocalipse 13:15. A palavra pneuma aparece em cada um desses versos, referindo-se a “vida”; e a palavra deveria ser entendida como “sopro” nestas passagens.)
Surge a inseparável conexão entre “o Espírito” (o Pneuma) e “a Palavra”:
“Porque a profecia [referindo-se a revelação escrita (v.20)] nunca foi produzida por vontade de homens; mas os homens santos [separados] de Deus falaram como inspirados [movidos] pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:21).
A Palavra é “Soprada por Deus”, portanto ela é “viva”, uma vez que o Espírito tem conexão inseparável com a Palavra. Ele é Aquele que deu a Palavra ao homem, através do homem; e Ele é Aquele que está atualmente no mundo para guiar o homem “a toda a verdade” através do uso desta Palavra (João 16:13).
O Pneuma (Espírito/Sopro) não é apenas Aquele que deu a Palavra desta maneira no passado, mas é ainda Aquele que efetua a regeneração do homem desta mesma maneira durante o tempo presente. É a presente obra do Pneuma (Espírito/Sopro) no homem regenerado que produz vida (deve haver um sopro dentro do homem para “passar da morte para a vida” [cf.Gn.1:2; 2:7; João 3:6-8; 5:24]). E o Pneuma (Espírito/Sopro) não apenas produz esta vida (baseado na obra completa de Cristo no Calvário), mas Ele habita naquele para quem transmitiu vida para lidera-lo e guia-lo ao entendimento – da imaturidade para a maturidade – por meio da palavra soprada por Deus que Ele mesmo comunicou ao homem, através do homem.
Então, este é o sopro de Deus produzindo vida no homem não regenerado hoje, através da instrumentalidade do Espírito, baseado na obra consumada do Filho. E esta nova vida é nutrida e sustentada por uma obra contínua do Espírito, através do uso daquilo que é propriamente o sopro de Deus, e, logo, vivo.
O Espírito Santo usa apenas o que é vivo para nutrir e alimentar aquilo que foi tornado vivo. Crescimento espiritual da imaturidade para a maturidade requer alimento espiritual, que é derivado de apenas uma fonte. Não há outro caminho para o crescimento espiritual ocorrer.
Por isso os pastores-mestres foram exortados a “Pregar a palavra”, e é por isso que Cristãos são exortados a “Estudar” a mesma Palavra (2 Tm.2:15; 4:2). A habilidade de uma pessoa para operar no reino espiritual está conectada inseparavelmente com o conhecimento e habilidade dessa pessoa em usar a Palavra de Deus.
É a PALAVRA, a PALAVRA, a PALAVRA! Aos Cristãos não foi dado nada mais, e eles não precisam de qualquer outra coisa.
Extraído do livro “O Estudo das Escrituras” (Arlen Chitwood)