Uma Vida Amadurecida é a tradução do livreto homônimo (A Ripened Life) publicado pela Algiers Mission Band e North Agrica Mission, de Lilias Trotter.
Isabella Lilias Trotter (1853-1928)
“Naquele dia, até nos sininhos das rédeas dos cavalos será escrito isto: “Separado para o SENHOR”, e as panelas do Templo serão tão sagradas como as bacias que estão em frente do altar. Em Jerusalém e em Judá, todas as panelas serão separadas para o SENHOR Todo-Poderoso.” (Zacarias 14:20,21 – NTLH)
Além da interpretação profética, não podemos ver nesses versículos uma imagem divina da vida Cristã em sua maturidade – uma vida madura?
Vamos tomar isso ponto a ponto, e vamos pausar em cada etapa com os corações atentos e inclinados para ouvir, para que o Espírito Santo possa nos gerar a convicção se esta é ou não é a nossa vida.
“Naquele dia, até… das rédeas dos cavalos, haverá: Separado para o Senhor.” (santidade ao Senhor – ARA). O cavalo parece representar, em todo o Antigo Testamento, o nosso poder natural. Em cada um de nós existe um ponto forte; pode ser o poder mental, ou alguma habilidade, como a música, por exemplo, ou a capacidade de planejar, a influência, o poder de amar. E, seja qual for esse ponto forte, certamente será um ponto de tentação, assim como os cavalos foram uma tentação para Israel.
Trace a história. Apesar da advertência de Deus (Dt 17:16), eles os “multiplicaram” (1Rs 4:26; 10:28) e “confiaram neles” (Is 31:1), e devido a essa multiplicação, o poder deles foi colocado nas mãos de seus inimigos (1Rs 10:29), que depois foi usado contra eles mesmos para sua própria ruína (Jr 6:23; 8:16).
Não podemos nós, alguns de nós, ler nossa própria história nessas entrelinhas? Será que não temos dado vazão a essas faculdades, “multiplicando-as”, por assim dizer, em nome da exultante sensação de um crescente poder, e não para Deus? Temos confiado em nossos cavalos? No “tema” bem elaborado, por exemplo, em vez de no poder do Espírito? Não temos sido levados ao cativeiro da alma por meio da autoindulgência nessas faculdades, embora sejam criadas por Deus? E, portanto, a maioria de nós, à medida que avançamos, descobre que a mão de Deus toca as nossas partes mais fortes, como pesou a mão sobre os cavalos de Israel (Zc 12:4; Os 1:7).
Por meio de circunstâncias exteriores ordenadas pela Sua providência ou por meio de tratos interiores, Ele as conduz a um lugar da morte e onde perdemos o controle e a confiança nelas, e dizemos com Efraim: “Não iremos montados em cavalos” (Os 14:3).
E nesse lugar de morte, Deus pode deixar-nos por meses e anos até que o antigo brilho da vida realmente se apague, o encanto desapareça, e não se torne mais difícil viver sem elas, porque a corrente da vida entrou na corrente da vontade de Deus.
Então chega o dia, como aconteceu com Israel, em que o Senhor pode nos devolver nossos cavalos com “Santidade ao Senhor” inscrito neles, refreados com a contenção de Cristo.
Onde estão nossos cavalos? Estamos cavalgando neles em sua antiga força natural, eles estão enrijecidos e inúteis no lugar da morte, ou nos foram devolvidos com suas rédeas sagradas?”
Que nossas almas possam responder: “as panelas do Templo serão tão sagradas como as bacias que estão em frente do altar“. Essas panelas eram provavelmente usadas para óleo e refeições. Elas prestaram um bom serviço para a casa do Senhor, mas foram promovidas agora – promovidas para o lugar do sacrifício.
Nosso serviço passou por essa promoção? Não há muito dele que é ótimo e é útil à sua maneira, mas não contém nenhum elemento de sacrifício? Outros, observando, podem dizer: “Que vida abnegada!”, mas nossos corações nos dizem que o sacrifício desapareceu, pois as energias do nosso ser fluíram para a obra de Deus e nós a amamos pelo que ela é; e o espírito de rendição ainda não penetrou em seus detalhes. Mas que oportunidades ilimitadas para “amadurecimento” residem nesses detalhes.
Quando nossos planos são frustrados, quando o tempo que havíamos planejado é desperdiçado por interrupções, quando uma parte querida de trabalho tem que ser cedido a outra pessoa; essas coisas, e outras semelhantes, são as oportunidades de Deus para a promoção, a promoção do nosso serviço ao sacrifício; elas são as oportunidades para trazermos nossas panelas para ficarem como bacias diante do altar, erguendo a Ele o sangue vital derramado. Será que nossos corações se elevam a elas com um Amém?
Sim, “Em Jerusalém e em Judá, todas as panelas serão separadas para o SENHOR Todo-Poderoso.“
Isso não significa que, em uma vida madura, todas as coisas comuns da vida sobem na escala em igual proporção, em seu próprio grau, e são igualmente promovidas ao sacrifício, estando prontas para que este, que é o mais nobre fim de Deus, possa ser cumprido nelas a qualquer momento?
“Se, em nosso curso diário, nossa mente
for disposta a santificar tudo o que encontramos,
Novos tesouros, de incontável valor,
Deus proverá para o sacrifício.”
Aqui está o segredo de santificar as coisas comuns; “Tome-as”, pois elas estão ali, prontas diante da sua mão, e você não precisa se esforçar para procurar panelas mais caras ou obviamente sagradas, mas pode usar silenciosamente apenas as panelas de barro comuns da vida cotidiana, selando-os para o serviço de Deus, enchendo-os com o espírito de sacrifício. “Sim, cada panela“, eis a medida das possibilidades que Deus colocou diante de nós, e usamos talvez uma ou duas por dia!
“Não haverá mais cananeu [mercador – ARA] na Casa do SENHOR dos Exércitos, naquele dia.” (Zacarias 14:21)
Isso não significa que todo o espírito de barganha deve ser banido de nossas vidas à medida que o amadurecimento se concretiza? Há muitos filhos de Deus cuja atitude em relação a Ele é muito semelhante à de Jacó. “Se o Senhor estiver comigo… então o Senhor será o meu Deus.” (Gn 28:20,21). Veja o contraste o clamor de Habacuque: “Ainda que a figueira não floresça… todavia, eu me alegro no Senhor” (Hc 3:17). Aqui está um coração do qual o espírito de barganha foi banido, pois encontrou Deus.
Estava conversando há alguns meses com uma amiga cujo caminho a conduziu de forma muito definida ao caminho da cruz.
Falando de sua jornada, ela disse: “Faço isso por Deus, não por sucesso no trabalho, ou pela felicidade da minha alma, ou por qualquer outra coisa, estou aqui por Deus”. Como essas palavras “por Deus” ecoaram em meu coração por semanas!
A vida é imensamente simples quando chegamos nesse ponto, quando o espírito de calcular resultados e consequências, até mesmo resultados e consequências espirituais foi deixado para trás, quando a obediência é a única coisa que importa, quando o próprio Deus, e não a mera “experiência”, é nossa imensa recompensa. Chegamos lá?
“Se te servi, Senhor, por salário,
pagamento que Tua beleza demonstrou,
Oh, deixa-me servir-te agora de graça
E somente como meu Deus.” – Faber.
Gostou? É possível que você goste também…
Isabella Lilias Trotter (1853-1928) era uma amante da beleza e de Deus, e isso foi demonstrado em sua vida como artista, autora e missionária. Nascida em 1853 em uma família rica de Londres, seu talento foi notado pelo famoso crítico de arte John Ruskin. No entanto, em vez de seguir uma carreira artística, sentiu-se comissionada para ir à Argélia como missionária. Após ter sido rejeitada por uma sociedade missionária, seguiu para aquele país de forma independente, junto com outras duas mulheres solteiras. Ali viveu até sua morte, em 1928. A mensagem do livro “The Parables of the Cross” é simples e, ainda assim, de grande profundidade espiritual. Todas as imagens anexadas aos posts são de sua autoria. Mas a grande contribuição de Lilias Trotter não se resumiu em fazer belas ilustrações, mas principalmente pela capacidade de ilustrar verdades espirituais profundas que lhe eram percebidas a partir da natureza e da vida ao seu redor.
Mais informações sobre sua vida podem ser lidas na Wikipedia e em outros sítios na Internet, também em diversos livros escritos sobre sua vida.