“Os três estágios da caminhada cristã” é um artigo baseado em meditações nos capítulos 3 e 4 da Epístola aos Hebreus.
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“Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na provocação. Ora, quais os que, tendo ouvido, se rebelaram? Não foram, de fato, todos os que saíram do Egito por intermédio de Moisés? E contra quem se indignou por quarenta anos? Não foi contra os que pecaram, cujos cadáveres caíram no deserto? E contra quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão contra os que foram desobedientes? Vemos, pois, que não puderam entrar por causa da incredulidade” (Hebreus 3:14-19).
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Com os Israelitas
A saída do Egito:
Na Páscoa, eles experimentaram o sangue redentor do cordeiro (Êx 12:7) e sua carne que alimenta (Êx 12:8). Assim, foram salvos do julgamento justo de Deus e da escravidão do Egito.
A peregrinação ao longo do deserto:
Agora, os israelitas, em meio ao deserto, tinham que participar e experimentar do maná (Êx 16:31-32) e da água que sacia (Êx 17:6), que tipificam o desfrute de Cristo em meio aos sofrimentos.
A entrada em Canaã:
Depois os Israelitas desfrutaram dos ricos produtos da terra de Canaã (Js 5:11-12), que são tipos das riquezas insondáveis de Cristo. Somente em Canaã é que eles puderam entrar no descanso (Dt 12:9). Todo o rico desfrute de Cristo nos três estágios é para garantir a boa terra e a edificação do templo, para que pudesse haver a expressão de Deus e o governo divino entre os homens na terra, de maneira que Deus pudesse descansar com Seu povo. Embora todos tivessem sido redimidos pelo cordeiro pascal, experimentado a saída do Egito, o maná celestial e a água viva, somente Josué e Calebe (dos que saíram do Egito) entraram na boa terra e participaram de suas riquezas (Nm 14:30; 1 Co 10:1-11). Todos foram redimidos, mas somente dois (Josué e Calebe) receberam o prêmio da boa terra.
Com a Igreja
A saída do mundo:
Fomos justificados pelo sangue de Jesus (Rm 3:22-25) e separados do mundo (Gl 1:4 e 6:14).
A salvação da alma:
Está relacionada à santificação (Rm 6:19, 22) e transformação (Rm 12:2). Precisamos nos despojar do nosso “eu” e nossa alma precisa ser saturada com Cristo que habita em nosso espírito (expansão de Cristo em nós). É a flor de farinha (humanidade) misturada com o azeite batido (divindade) de Nm 15:4. Não se trata de correção moral ou mudança de comportamento ético.
A vida no espírito:
No espírito desfrutamos Cristo como nossa vida (Rm 8:10; 2 Tm 4:22). É ali que devemos viver e andar (Rm 8:4; Gl 5:16,25). No espírito temos a expressão de Deus e o Seu governo. Assim, podemos desfrutar do descanso.
No Tabernáculo
O átrio exterior:
Primeiramente, temos as experiências no átrio exterior, onde somos redimidos no altar de bronze (ou altar do holocausto*) (Lv 4:7) e lavados na bacia de bronze (Êx 30:18-21).
[*] Em Lv 4:20 lemos que no altar do holocausto era feita a EXPIAÇÃO pelo pecado. Expiação quer dizer: encobrir, perdoar, esquecer, reconciliar, tirar.
a) O altar de bronze era feito de madeira de acácia e coberto de bronze. Dentro do altar havia uma grelha, sobre ela se punha a lenha para queimar o sacrifício. Não podemos imaginar quantos animais foram imolados e queimados ali!
Ao longo de toda a Bíblia é-nos explicado o significado do altar e do sacrifício. Eles nos falam de Cristo e de Sua obra de reconciliação na cruz. Esta é a única base para a salvação de pecadores. Tanto o altar como os milhares de sacrifícios oferecidos ao longo de muitos séculos representam um impressionante quadro do sacrifício perfeito de Cristo e de Sua obra de redenção na cruz. De eternidade em eternidade, a cruz do Redentor é o ponto central entre o céu e a terra.
O fogo consumia o sacrifício. De maneira similar, o Senhor Jesus esteve no fogo da ira de Deus, naquelas três horas de trevas enquanto esteve pendurado na cruz.
O material de que era constituído o altar (madeira de acácia) procedia de uma árvore que crescia no deserto. Do Senhor Jesus é dito que “foi subindo como renovo perante Ele (Deus), e como raiz duma terra seca” (Is 53:2 e 11:1). Nessa madeira está, pois, simbolizada Sua humanidade. A madeira cresce da terra; e Ele nasceu de mulher (Gl 4:4). Em outro lugar (Is 4:2) Ele é chamado de “o fruto da terra”. Ele teve que fazer-Se homem para que pudesse sofrer o juízo de Deus que se destinava a nós.
O bronze, de que era coberta a madeira, é uma figura da força (Jó 40:18). Uma força capaz de suportar o fogo do juízo de Deus.
Ele era homem: a madeira. Ele era Deus: o bronze (o poder de suportar o juízo).
b) Entre o altar de bronze (do holocausto) e o Santuário (Santo Lugar), estava a bacia de bronze, cheia de água. Ali os sacerdotes tinham de lavar as suas mãos e pés, antes de entrar no santuário. Eles sempre se contaminavam pelas suas tarefas diárias e caminhadas na areia do deserto. E para poder dar continuidade a seu serviço diante de Deus, tinham de se lavar continuamente na bacia de bronze.
Assim é hoje: alguém que já se ajoelhou diante da cruz, o altar de bronze, é filho de Deus. Na verdade, agora se tornou sacerdote. E, por isso, sempre que tiver se contaminado, deve chegar-se a Deus com sua confissão. Assim, ele novamente se purifica.
A bacia de bronze diz ao cristão: você é filho de Deus. No entanto, você ainda está sujeito a se contaminar pelo pecado. Essas máculas precisam ser eliminadas pelo arrependimento e confissão. Para tal, o Senhor Jesus intercede por nós junto ao Pai. Ele lava as nossas mãos e pés por meio da lavagem da água pela Palavra. É com frequência que carecemos disso.
Ef 5:26 diz que Cristo purifica a Igreja “por meio da lavagem da água pela Palavra”. Jo 15:3 diz: “Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho dado”.
A água aqui representa o poder purificador que a Palavra de Deus exerce sobre uma pessoa. O sangue da expiação se aplica quando da conversão de uma pessoa. Depois disso, o que se faz continuamente necessário é a purificação pela água, e é disso que fala a bacia de bronze.
O lugar santo:
No lugar santo, somos alimentados com os pães da proposição (Êx 25:30), iluminados pelo candelabro (Êx 25:37) e aceitos por meio do altar do incenso (Êx 30:7). Isso corresponde à transformação em nossa alma.
a) A mesa dos pães da proposição ficava no lugar santo, sobre ela ficavam as duas fileiras de seis pães cada (totalizando 12 pães) e no meio das duas fileiras de pães ficava o incenso. Durante sete dias, os 12 pães com o incenso ficavam dispostos na presença do Senhor. Tais pães, feitos de flor de farinha com azeite batido, eram para alimento dos sacerdotes.
• Os 12 pães representam o homem Cristo Jesus.
• Flor de farinha representa a perfeita humanidade de Cristo.
• O incenso indica a inteira consagração dessa humanidade à Deus.
• O azeite batido representa o Espírito Santo.
Se Deus tem os seus sacerdotes ministrando no lugar santo, terá certamente também uma mesa bem provida para eles. Cristo é a mesa e os pães sobre ela. A mesa pura e os pães mostram Cristo, presente incessantemente diante de Deus, em toda excelência da sua imaculada humanidade, e como alimento para a família sacerdotal. Os sete dias mostram a perfeição do gozo Divino em Cristo e os 12 pães exprimem esse gozo no homem pelo homem. É possível que exista também a ideia de ligação de Cristo com as 12 tribos de Israel e os 12 apóstolos do Cordeiro.
b) O candelabro de ouro puro vem a seguir, porque os sacerdotes de Deus têm necessidade não só de alimento, mas também de luz e tanto uma coisa como outra os sacerdotes encontram em Cristo.
As sete lâmpadas, as quais se acenderão para iluminar diante deles, exprimem a perfeição da luz e energia do Espírito Santo, baseadas e ligadas com a eficácia perfeita da obra de Cristo.
A obra do Espírito Santo nunca poderá ser separada da obra de Cristo. Isto é indicado, de um modo duplo, nesta magnifica imagem do candelabro de ouro:
• As sete lâmpadas ,estando ligadas à hástia de ouro batido, indica que a obra cumprida por Cristo é a única base da manifestação do Espírito Santo na Igreja. O Espírito Santo não foi dado antes de Jesus ter sido glorificado (Jo 7:39 e At 19:2-6).
• Uma das funções de Arão era acender e espevitar essas sete lâmpadas. Em Lv 24:1-4 podemos ver como a obra do Espírito Santo na Igreja está ligada com a obra de Cristo na terra e no céu. As sete lâmpadas estavam no tabernáculo, mas a atividade e diligência dos sacerdotes eram necessárias para as manter acesas e espevitadas. O sacerdote necessitava continuamente dos espevitadores e dos apagadores para remover tudo o que pudesse impedir o livre curso do azeite batido. Esses espevitadores e apagadores eram igualmente feitos de ouro batido, porque todas essas coisas eram o resultado imediato da operação Divina. Se a Igreja brilha, é unicamente pela energia do Espírito Santo, e esta energia está fundada em Cristo, que, em virtude do designo eterno de Deus, veio a ser, em Seu sacrifício e sacerdócio, o manancial e poder de todas as coisas para a Sua Igreja.
c. O altar do incenso: Êx 30:34-38 noa fala a respeito do incenso, que deveria ser temperado, santo e puro (v. 35). Esse perfume precioso apresenta-nos as perfeições incomensuráveis e ilimitadas de Cristo.
“Porém o incenso que fareis, segundo a composição deste, não o fareis para vós mesmos; santo será para o Senhor. Quem fizer tal como este para o cheirar será eliminado do seu povo” (Êx 30: 37-38).
Este perfume fragrante estava destinado exclusivamente para o Senhor. O seu lugar estava diante do testemunho. Existe em Jesus alguma coisa que só Deus pode apreciar. De certo, todo o coração crente pode aproximar-se de sua incomparável Pessoa e achar inteira satisfação para os mais ardentes e profundos desejos; contudo, depois de todos os remidos terem esgotado a medida da sua compreensão, depois de os anjos terem contemplado em êxtase as glórias imaculadas do homem Cristo Jesus, tão ardentemente quanto a sua visão lhes permite, existe nEle algo que só Deus pode profundar e apreciar. Nenhuma visão humana ou angélica poderia jamais discernir devidamente cada partícula desse perfume primorosamente pisado. A terra tampouco podia oferecer uma esfera própria à manifestação do Seu divino e celestial poder.
Vemos a mesa pura, o castiçal puro e o altar de incenso puro; mas não existe nada que nos recorde o ego e a sua miséria. Se fosse possível que alguma coisa do ego se apresentasse à nossa vista, isto só serviria para destruir o nosso culto, contaminar o nosso alimento sacerdotal e ofuscar a nossa luz. A natureza não pode ter lugar no santuário de Deus: foi consumida e reduzida a cinzas como tudo quanto lhe pertence; e agora as nossas almas são chamadas para gozar o bom perfume de Cristo, subindo como cheiro agradável a Deus: é nisto que Deus Se deleita. Tudo o que apresenta Cristo na Sua própria excelência é agradável a Deus. Até a mais débil expressão ou adoração de um dos Seus santos, é cheiro agradável, no qual Deus acha o Seu prazer.
O homem, com sua alma, não pode chegar à Deus, porque é imperfeito e incapaz de agradá-lO e cumprir Suas exigências. Mas Deus, através de Cristo, que foi dispensado ao nosso espírito, vai expandindo dentro de nós até a nossa alma, Se misturando a ela (flor de farinha misturada com o azeite batido). Cristo em nós, a esperança da glória.
O santo dos santos:
No santo dos santos, desfrutamos a presença de Deus (Êx 25:22) e compartilhamos da glória de Deus. Aqui no santo dos santos, estamos na habitação de Deus. Aqui estamos no descanso sabático.
“por trás do segundo véu, se encontrava o tabernáculo que se chama Santo dos Santos, ao qual pertencia um altar de ouro para o incenso e a arca da aliança totalmente coberta de ouro, na qual estava uma urna de ouro contendo o maná, o bordão de Arão, que floresceu, e as tábuas da aliança; e sobre ela, os querubins da glória, que, com a sua sombra, cobriam o propiciatório…” (Hb 9:3-5).
Estes eram os objetos que a arca continha durante as suas jornadas no deserto: o vaso de maná era o memorial da fidelidade do Senhor em prover a todas as necessidades dos seus remidos através do deserto, e a vara de Arão era um sinal para os filhos rebeldes para acabar com as suas murmurações.
Porém, quando o templo foi terminado, quando o sol da glória de Israel havia chegado, então os memoriais das necessidades e faltas do deserto desapareceram, e nada ficou senão aquilo que constituía o fundamento eterno do trono do Deus de Israel e de toda a terra. “Na arca nada havia, senão só as duas tábuas de pedra, que Moisés ali pusera junto à Horebe” (1Rs 8:9).
Em João 6, vemos que Cristo é o verdadeiro Maná, o alimento para nossa jornada de peregrinos. Também a vara do Senhor nos corrige (Hb 12:6), nos conduzindo a Canaã, as riquezas insondáveis de Cristo.
A vara de Arão que havia florescido (Nm 17) era de amendoeira, a primeira árvore que floresce na primavera, e por isso também fala da nossa vida após a morte (o inverno). Isso faz com que esta vara seja relacionada à ressureição, a Cristo como o Vencedor ressurreto, o Sumo Sacerdote que vive para sempre.
A arca era uma caixa de madeira, revestida de ouro puro por dentro e por fora. Sobre a arca estava colocada uma grande prancha de ouro (como tampa da arca), o propiciatório e um querubim, também de ouro puro, em cada extremidade do propiciatório. Tanto o propiciatório como os dois querubins eram feitos de uma única peça. Os querubins cobriam com suas asas o propiciatório e suas faces também ficavam voltadas para ele. (Êx 25:17-22).
Mas toda esta glória devia ser obscurecida pelas nuvens carregadas do fracasso humano e o descontentamento de Deus. “Porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá” (Êx 33:20).
Que bom que nós já não vivemos mais debaixo da lei, e sim da graça (Rm 6:14). Os que pertencem a Cristo agora podem contemplar a glória do Senhor com os rostos desvendados (2Co 3:18).
Dali emanavam os Seus mandamentos suavizados e tornados agradáveis pela origem graciosa de onde saíam – à semelhança do sol do meio-dia, cujos raios, ao passarem através de uma nuvem, vivificam e fecundam sem que o seu resplendor nos cegue.
“Os seus mandamentos não são penosos” (1Jo 5:3) quando recebidos do seu propiciatório, porque estão ligados com a graça que dá ouvidos para ouvir e o poder para obedecer.
A arca e o propiciatório, considerados em conjunto como um todo, são para nós uma figura admirável de Cristo, em Sua Pessoa e obra. Havendo engrandecido a lei na Sua vida, e tornando-a honrosa, veio a ser, por meio da morte, a propiciação ou propiciatório para todo aquele que crê.
A misericórdia de Deus só podia repousar numa base de perfeita justiça: “… a graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5:21). O único lugar próprio para o encontro entre Deus e o homem é aquele onde a graça e a justiça se encontram e se harmonizam perfeitamente. Nada senão a justiça perfeita podia agradar a Deus; e nada senão a graça perfeita pode convir ao pecador. Mas onde poderiam estes atributos encontrar-se? Somente na cruz. É ali que a misericórdia e a verdade se encontram; a justiça e a paz se beijaram (Sl 85:10).
É assim que a alma do pecador crente encontra paz. Vê que a justiça de Deus e a sua justificação repousam sobre o mesmo fundamento, isto é: a obra consumada por Cristo. Quando o homem, sob a influência poderosa da verdade de Deus, toma o seu lugar como pecador, Cristo pode, no exercício da graça, tomar o Seu como Salvador, e então toda a questão se acha solucionada, porque havendo a cruz respondido a todas as exigências da justiça Divina, os rios da graça podem correr sem impedimento.
Quando o Deus justo e o pecador se encontram sobre uma plataforma salpicada de sangue (propiciatório), tudo está solucionado para sempre – solucionado de maneira a glorificar perfeitamente a Deus e salvar o pecador para toda a eternidade.
O propiciatório, representando o trono de Deus, deveria ser, na verdade, um trono de juízo*. A lei, transgredida por Israel, jazia debaixo dele. Deus habitava no meio de um povo pecador. De fato, Ele deveria tê-lo destruído, eliminando-o para sempre. Mas, uma vez por ano, o sumo sacerdote aspergia sangue nesse lugar. Esse sangue falava (em antecipação) do sacrifício perfeito. As faces dos querubins estavam voltadas para o propiciatório aspergido por sangue. Então, quando Deus vinha para julgar, Ele via o sangue. Por meio desse sangue, este trono de juízo converteu-se num trono de graça (Rm 3:25).
[*] O propiciatório, como o nome já diz, era para PROPICIAÇÂO, que quer dizer: tornar propício ou favorável. A propiciação era para aplacar a ira e a justiça de Deus. A lei não podia ser cumprida pelo homem, o que o tornava inaceitável pela justiça de Deus. Tal lei ficava escondida dentro da arca pelo propiciatório aspergido de sangue. Os anjos, olhando para o propiciatório, representam a visão de Deus, que não mais via a lei não cumprida, mas o sangue, que faz do homem propício, aceitável à Deus.
Comparação entre o Altar de Bronze e a Arca de Ouro
É inútil procurar exercitar os sentidos naturais de devoção pelos diferentes instrumentos da religião sistemática. É necessário que haja fogo puro e incenso puro (comparar Lv 10:1 com 16:12). Todos os esforços para adorar a Deus por meio das faculdades profanas da natureza humana estão incluídos na categoria de “fogo estranho”. Deus é o verdadeiro objeto de adoração; Cristo é o fundamento e a substância da adoração, e o Espírito Santo é o seu poder.
Propriamente falando, portanto, assim o altar de bronze ** nos apresenta Cristo no valor do Seu sacrifício, e o altar de ouro mostra-nos Cristo no valor da Sua intercessão. Este fato nos dá uma melhor compreensão do motivo por que a ocupação sacerdotal é introduzida entre os dois altares. Existe, como podia esperar-se, uma relação íntima entre os dois altares, pois que a intercessão de Cristo está fundada sobre Seu sacrifício.
[**] Lv 4:20 nos fala que no altar de bronze, o holocausto, era feita a EXPIAÇÃO pelo pecado. Expiação quer dizer: encobrir, perdoar, esquecer, reconciliar, tirar.
A arca de ouro e o altar de bronze apresentam, em certo sentido, dois extremos. A primeira era o trono de Deus estabelecido em “justiça e juízo” (Sl 89:14). A última era o lugar onde o pecador podia aproximar-se, porque “a misericórdia e a verdade” iam do rosto de Jeová. O homem, por si mesmo, não ousava aproximar-se da arca para se encontrar com Deus, porque o caminho do santuário não estava ainda descoberto (Hb 9:8). Porém Deus podia vir ao altar de bronze para encontrar o pecador. “A justiça e o juízo” não podiam admitir o pecador no santuário, mas a “misericórdia e a verdade” podiam fazer sair Deus.
Tudo isto nos pode muito bem recordar o caminho que percorreu Aquele bendito Senhor que é o antítipo de todos estes símbolos – a substância destas sombras. Ele desceu do trono eterno de Deus no céu até a profundidade da cruz do calvário. Deixou toda a glória do céu pela vergonha da cruz, a fim de poder conduzir o Seu povo remido, perdoado e aceito por Si mesmo. NEle, Deus desceu, em perfeita graça até o pecador, e nEle o pecador é conduzido, em perfeita justiça, até Deus.
Todo o caminho, desde a arca ao altar de bronze, está marcado com as pegadas do amor; e todo o caminho desde o altar de bronze até a arca de Deus está salpicado com o sangue da expiação.
Os crentes hebreus tinham sido salvos no primeiro estágio, mas estavam hesitando no segundo. Eles estavam peregrinando na alma, considerando na mente, e corriam o perigo de voltar para o primeiro estágio. A carta aos Hebreus foi escrita para adverti-los e encorajá-los a prosseguir e entrar no terceiro estágio – no descanso da boa terra (Hb 4:11), no santo dos santos, no espírito (Hb 10:19-20). Entrar no descanso da boa terra é entrar no santo dos santos, é estar no nosso espírito, adorando ao Senhor e tendo comunhão com o Espírito Santo que ali habita.
Hoje, o trono de Deus e o santo dos santos, estando ambos nos céus, estão unidos ao nosso espírito. Aqui, no espírito, temos a habitação de Deus, a escada celestial, a porta dos céus, o trono de Deus e o santo dos santos. Aqui, no espírito, estamos no sábado atual que nos introduzirá no descanso sabático do reino vindouro.
Em Hb 4:11 o escritor disse: “Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, seguindo o mesmo exemplo de desobediência”. Como o descanso nesta porção da Palavra é Cristo, conclui-se que cair equivale a cair de Cristo (Gl 5:4: “de Cristo vos desligastes”).
Em Gálatas, o perigo era que os crentes recuassem para o jugo da lei, tendo estado na liberdade da graça (Gl 5:1-4). Paulo os aconselhou a permanecerem firmes na liberdade da graça, isto é, a não se desligarem de Cristo. Aqui em Hebreus, o perigo era que os crentes hebreus não abandonassem sua velha religião, que era segundo a lei, e não avançassem para o desfrute de Cristo como o seu descanso.
No primeiro estágio, recebemos Cristo e fomos redimidos e libertados do mundo. No segundo, nos tornamos peregrinos seguindo o Senhor. Essa peregrinação sempre ocorre em nossa alma. No terceiro estágio, participamos e desfrutamos Cristo de maneira plena. Isso é experimentado em nosso espírito.
Quando buscávamos os prazeres das coisas materiais e pecaminosas, estávamos no mundo, tipificado pelo Egito.
A peregrinação do povo de Israel no deserto foi marcada por constantes murmurações e influência das próprias emoções, pensamentos e vontades.
Ainda que tivessem saído do Egito e experimentado o suprimento do Senhor (coluna de fogo, nuvem, maná, água da rocha, etc.), eles estavam descobrindo no deserto que havia um inimigo dentro deles. Não era apenas o Egito lá fora que precisava ser abandonado, mas internamente havia o próprio ego, o qual eles deviam aprender a se despojar.
Nós também, deixamos o mundo – o Egito, e adentramos para a nossa peregrinação no deserto. Começamos a ver os milagres do Senhor, a água saindo da Rocha e o maná dos céus nos sustentando. Mas ainda tentaremos viver pela lei, achando que podemos cumpri-la na nossa força. Ainda estaremos sujeitos à nossa alma, com suas vontades, emoções e pensamentos. A mesma boca que louva é a mesma que constantemente murmura, não entendendo o que Deus está de fato fazendo.
Entretanto, cedo ou tarde vamos descobrir que “em mim não habita bem algum”, que a alma precisa ser levada à morte, que precisamos tomar a nossa cruz e seguir ao Senhor.
Quando enfim descobrimos isso, saberemos que existe um lugar de desfrute mais profundo de Cristo. Passamos a desfrutar Cristo em nosso espírito. Entramos no descanso, sabendo que toda a obra é feita por Ele. Então, estamos em Canaã.
Os destinatários dessa carta, os crentes hebreus, estavam naquela ocasião conjeturando sobre o que deveriam fazer com sua velha religião judaica. Esse conjeturar em suas mentes era um peregrinar em suas almas, não uma experiência de Cristo em seus espíritos. Por isso, o escritor dessa carta diz que a Palavra de Deus, isto é, aquilo que havia sido citado no Antigo Testamento, poderia penetrar em seus arrazoamentos como uma espada afiada de dois gumes e dividir a alma do espírito.
Portanto, o escritor dessa carta aconselhou os crentes hebreus a não hesitar na peregrinação da alma. Pelo contrário, eles deveriam negar sua alma e avançar para dentro de seu espírito, a fim de partilhar e desfrutar do Cristo celestial, para que pudessem participar do descanso durante o reinado de Cristo no milênio. Se permanecessem peregrinando na alma, eles perderiam o alvo de Deus e sofreriam a perda do desfrute pleno de Cristo e do descanso do reino.